Empresas brasileiras de varejo perderam um ‘PIB do Uruguai’ em dois anos na Bolsa


Juros altos, inflação resistente e renda estagnada esfriaram as vendas e, com queda de ações na Bolsa, tiraram do setor R$ 339,6 bilhões em valor de mercado no período

Por Márcia De Chiara
Atualização:

Empresas de varejo perderam R$ 339,6 bilhões de valor de mercado nos últimos dois anos. O tombo, com a desvalorização de ações na Bolsa, equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) do Uruguai. Juros altos, inflação resistente em níveis elevados e renda estagnada tiraram o poder de compra dos brasileiros, enfraqueceram as vendas e fizeram o varejo cair na real.

Nem mesmo o suspiro de vendas que houve na pandemia, devido à explosão do e-commerce, conseguiu atenuar o enfraquecimento do comércio nos últimos tempos. Isso tem reflexos na atividade como um todo.

O consumo das famílias responde por 60% do PIB e o varejo é uma fatia importante. O comércio impacta diretamente a produção da indústria e taxa de desemprego do País. Tradicionalmente, o setor é a porta de entrada do jovem para o mercado de trabalho e emprega cerca de 20% do trabalhadores formais da economia brasileira. Isso sem falar nos desdobramentos que provoca na arrecadação, especialmente do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

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A pedido do Estadão, Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), calculou o valor de mercado de um grupo de 20 varejistas com papéis na Bolsa. Juntas, ao final de 2020, essas empresas valiam R$ 527,810 bilhões. Mas, em dezembro do ano passado, essa cifra tinha recuado para R$ 188,149 bilhões, acumulando uma perda de quase dois terços (64%).

“É um cenário desolador do comércio no pós-pandemia”, afirma o economista, comparando o desempenho recente do varejo com o que houve no passado. Entre 2004 e 2014, por exemplo, o comércio viveu um “ciclo de ouro”, quando o volume de vendas crescia, em média, 7% ao ano. Mas, no período seguinte, de 2015 até o final do ano passado, o que se viu foi estagnação. As vendas recuaram, em média, 0,1% ao ano.

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A deterioração das condições de consumo, como inflação e endividamento em alta, renda e emprego estagnados e, sobretudo, o juro básico, atualmente em 13,75% ao ano,fixado pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central é, na avaliação de Bentes, o pano de fundo que explica o derretimento do valor papéis das varejistas na Bolsa.

O resultado foi influenciado pela crise na Americanas, mas vai bem além. Em 24 meses até março deste ano, as ações de um grupo ainda maior, de 23 varejistas, incluindo mais três companhias –Assaí, Mobly e Westwing, que não estavam na Bolsa no final de 2020 –, recuaram, em média, 59,3% no período, aponta o estudo feito pelo economista. Os cálculos consideraram os volumes negociados das ações.

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Em recuperação judicial desde início do ano e com dívidas de R$ 42,5 bilhões, turbinadas por problemas contábeis, a Americanas lidera o ranking das companhias com maiores tombos nas ações. Os papéis da empresa caíram 98,3% no período, seguidos pelos da Mobly (-91,6%), de móveis; Westwing (-87,3%), de decoração; Marisa (-87,2%), de vestuário; Via (-84,4%) e Magazine Luiza (-83,3%).

A Mobly, do varejo de móveis, está fazendo gestão de caixa e cuidando da rentabilidade Foto: Werther Santana/Estadão

Victor Chunques, chefe de Relações com Investidores da Mobly, diz que a companhia, que abriu capital em fevereiro de 2021, não tem problemas de solidez. A empresa de tecnologia que atua no comércio eletrônico de móveis foi muito beneficiada pela pandemia. Segundo o executivo, entre 2019 e 2021, ampliou em 50% as vendas.

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“A pandemia adiantou muito a demanda por móveis e, por sermos uma loja online, havia muita facilidade para comprar”, observa o executivo. Com a volta à normalidade das atividades, essa situação se reverteu e o valor da ação da empresa foi impactado nos últimos dois anos.

Chunques argumenta que móveis é um segmento com valor médio de vendas alto e muito suscetível a crédito. “O mercado depende da queda da taxa de juros para voltar ao normal”, afirma. No curtíssimo prazo, a empresa não tem expectativas positivas em relação ao varejo como um todo. Por isso, a companhia está empenhada em manter a rentabilidade e administrar o caixa. “Temos focado na parte que conseguimos controlar, enquanto o cenário não muda.”

Essa também é a estratégia da Westwing. Andres Mutschler, CEO da empresa, diz que a companhia, que abriu o capital também em fevereiro de 2021, não tem dívidas e está capitalizada.

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Desde final de 2021, com a mudança do cenário do varejo, a empresa reduziu drasticamente os investimentos. “Estamos preservando o caixa e não estamos fazendo projeto mirabolantes”, afirma. A intenção neste momento é se preparar para enfrentar o cenário de incertezas dos próximos meses. “A perspectiva é que 2023 seja difícil para o varejo: não achamos que os juros vão cair rapidamente e o consumidor deve continuar segurando gastos em categorias menos essenciais.”

Andres Mutschler, CEO da Westwing, diz que no momento não tem projetos mirabolantes Foto: Fernando Banzi

A Marisa, que encerrou o ano passado com dívidas de R$ 560,4 milhões e forte queda nas ações, informa, por meio de nota, que “acredita que os resultados do plano de reestruturação da companhia já em curso deverão ajudar a destravar o valor do ativo AMAR3 (ação)”. Procuradas, Via e Magazine Luiza, que também registram fortes retrações no valor das suas ações, não retornaram os pedidos de esclarecimentos da reportagem.

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Perspectivas desfavoráveis

O cenário econômico atual não é favorável a mudanças significativas no comércio no curto prazo, especialmente para venda de itens de maior valor e dependentes de crédito, avaliam economistas.

Viviane Seda, coordenadora das Sondagens do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, diz que os resultados da sondagem do comércio para os próximos três meses não indicam perspectivas de recuperação do varejo. “Nos últimos meses, a demanda está muito fraca de forma geral, especialmente para produtos que necessitam de financiamento.”

No entanto, ela ressalta que, num horizonte maior, para os próximos seis meses, a sondagem feita com empresários do comércio já indica um cenário mais positivo. A perspectiva de recuperação está concentrada em segmentos como o de vestuário, calçados, móveis e eletrodomésticos, que dependem do crédito, porém de forma menos intensiva do que veículos, motos e materiais de construção.

“Lá pelo segundo semestre deve começar a ter uma recuperação mais evidente do comércio, mas ainda dependente de fatores condicionantes, como taxa de juros, endividamento das famílias e mercado de trabalho”, afirma a economista.

Fabio Bentes, da CNC, vê 2023 como mais um ano de estagnação. As suas projeções para varejo restrito, que não inclui veículos e materiais de construção, é de crescimento de apenas 0,6% no volume de vendas. Será a menor marca em sete anos e abaixo do avanço de 1% alcançado no ano passado, que foi um crescimento equivalente ao crescimento vegetativo da população.

O que falta para o varejo deslanchar, na opinião do economista da CNC, é uma perspectiva de mudança nas condições de consumo. Isto é, aquecimento do mercado de trabalho, inflação em forte desaceleração ou com queda significativa e crédito muito mais barato. “Hoje não é possível vislumbrar esse cenário”, afirma.

Empresas de varejo perderam R$ 339,6 bilhões de valor de mercado nos últimos dois anos. O tombo, com a desvalorização de ações na Bolsa, equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) do Uruguai. Juros altos, inflação resistente em níveis elevados e renda estagnada tiraram o poder de compra dos brasileiros, enfraqueceram as vendas e fizeram o varejo cair na real.

Nem mesmo o suspiro de vendas que houve na pandemia, devido à explosão do e-commerce, conseguiu atenuar o enfraquecimento do comércio nos últimos tempos. Isso tem reflexos na atividade como um todo.

O consumo das famílias responde por 60% do PIB e o varejo é uma fatia importante. O comércio impacta diretamente a produção da indústria e taxa de desemprego do País. Tradicionalmente, o setor é a porta de entrada do jovem para o mercado de trabalho e emprega cerca de 20% do trabalhadores formais da economia brasileira. Isso sem falar nos desdobramentos que provoca na arrecadação, especialmente do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

A pedido do Estadão, Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), calculou o valor de mercado de um grupo de 20 varejistas com papéis na Bolsa. Juntas, ao final de 2020, essas empresas valiam R$ 527,810 bilhões. Mas, em dezembro do ano passado, essa cifra tinha recuado para R$ 188,149 bilhões, acumulando uma perda de quase dois terços (64%).

“É um cenário desolador do comércio no pós-pandemia”, afirma o economista, comparando o desempenho recente do varejo com o que houve no passado. Entre 2004 e 2014, por exemplo, o comércio viveu um “ciclo de ouro”, quando o volume de vendas crescia, em média, 7% ao ano. Mas, no período seguinte, de 2015 até o final do ano passado, o que se viu foi estagnação. As vendas recuaram, em média, 0,1% ao ano.

A deterioração das condições de consumo, como inflação e endividamento em alta, renda e emprego estagnados e, sobretudo, o juro básico, atualmente em 13,75% ao ano,fixado pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central é, na avaliação de Bentes, o pano de fundo que explica o derretimento do valor papéis das varejistas na Bolsa.

O resultado foi influenciado pela crise na Americanas, mas vai bem além. Em 24 meses até março deste ano, as ações de um grupo ainda maior, de 23 varejistas, incluindo mais três companhias –Assaí, Mobly e Westwing, que não estavam na Bolsa no final de 2020 –, recuaram, em média, 59,3% no período, aponta o estudo feito pelo economista. Os cálculos consideraram os volumes negociados das ações.

Em recuperação judicial desde início do ano e com dívidas de R$ 42,5 bilhões, turbinadas por problemas contábeis, a Americanas lidera o ranking das companhias com maiores tombos nas ações. Os papéis da empresa caíram 98,3% no período, seguidos pelos da Mobly (-91,6%), de móveis; Westwing (-87,3%), de decoração; Marisa (-87,2%), de vestuário; Via (-84,4%) e Magazine Luiza (-83,3%).

A Mobly, do varejo de móveis, está fazendo gestão de caixa e cuidando da rentabilidade Foto: Werther Santana/Estadão

Victor Chunques, chefe de Relações com Investidores da Mobly, diz que a companhia, que abriu capital em fevereiro de 2021, não tem problemas de solidez. A empresa de tecnologia que atua no comércio eletrônico de móveis foi muito beneficiada pela pandemia. Segundo o executivo, entre 2019 e 2021, ampliou em 50% as vendas.

“A pandemia adiantou muito a demanda por móveis e, por sermos uma loja online, havia muita facilidade para comprar”, observa o executivo. Com a volta à normalidade das atividades, essa situação se reverteu e o valor da ação da empresa foi impactado nos últimos dois anos.

Chunques argumenta que móveis é um segmento com valor médio de vendas alto e muito suscetível a crédito. “O mercado depende da queda da taxa de juros para voltar ao normal”, afirma. No curtíssimo prazo, a empresa não tem expectativas positivas em relação ao varejo como um todo. Por isso, a companhia está empenhada em manter a rentabilidade e administrar o caixa. “Temos focado na parte que conseguimos controlar, enquanto o cenário não muda.”

Essa também é a estratégia da Westwing. Andres Mutschler, CEO da empresa, diz que a companhia, que abriu o capital também em fevereiro de 2021, não tem dívidas e está capitalizada.

Desde final de 2021, com a mudança do cenário do varejo, a empresa reduziu drasticamente os investimentos. “Estamos preservando o caixa e não estamos fazendo projeto mirabolantes”, afirma. A intenção neste momento é se preparar para enfrentar o cenário de incertezas dos próximos meses. “A perspectiva é que 2023 seja difícil para o varejo: não achamos que os juros vão cair rapidamente e o consumidor deve continuar segurando gastos em categorias menos essenciais.”

Andres Mutschler, CEO da Westwing, diz que no momento não tem projetos mirabolantes Foto: Fernando Banzi

A Marisa, que encerrou o ano passado com dívidas de R$ 560,4 milhões e forte queda nas ações, informa, por meio de nota, que “acredita que os resultados do plano de reestruturação da companhia já em curso deverão ajudar a destravar o valor do ativo AMAR3 (ação)”. Procuradas, Via e Magazine Luiza, que também registram fortes retrações no valor das suas ações, não retornaram os pedidos de esclarecimentos da reportagem.

Perspectivas desfavoráveis

O cenário econômico atual não é favorável a mudanças significativas no comércio no curto prazo, especialmente para venda de itens de maior valor e dependentes de crédito, avaliam economistas.

Viviane Seda, coordenadora das Sondagens do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, diz que os resultados da sondagem do comércio para os próximos três meses não indicam perspectivas de recuperação do varejo. “Nos últimos meses, a demanda está muito fraca de forma geral, especialmente para produtos que necessitam de financiamento.”

No entanto, ela ressalta que, num horizonte maior, para os próximos seis meses, a sondagem feita com empresários do comércio já indica um cenário mais positivo. A perspectiva de recuperação está concentrada em segmentos como o de vestuário, calçados, móveis e eletrodomésticos, que dependem do crédito, porém de forma menos intensiva do que veículos, motos e materiais de construção.

“Lá pelo segundo semestre deve começar a ter uma recuperação mais evidente do comércio, mas ainda dependente de fatores condicionantes, como taxa de juros, endividamento das famílias e mercado de trabalho”, afirma a economista.

Fabio Bentes, da CNC, vê 2023 como mais um ano de estagnação. As suas projeções para varejo restrito, que não inclui veículos e materiais de construção, é de crescimento de apenas 0,6% no volume de vendas. Será a menor marca em sete anos e abaixo do avanço de 1% alcançado no ano passado, que foi um crescimento equivalente ao crescimento vegetativo da população.

O que falta para o varejo deslanchar, na opinião do economista da CNC, é uma perspectiva de mudança nas condições de consumo. Isto é, aquecimento do mercado de trabalho, inflação em forte desaceleração ou com queda significativa e crédito muito mais barato. “Hoje não é possível vislumbrar esse cenário”, afirma.

Empresas de varejo perderam R$ 339,6 bilhões de valor de mercado nos últimos dois anos. O tombo, com a desvalorização de ações na Bolsa, equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) do Uruguai. Juros altos, inflação resistente em níveis elevados e renda estagnada tiraram o poder de compra dos brasileiros, enfraqueceram as vendas e fizeram o varejo cair na real.

Nem mesmo o suspiro de vendas que houve na pandemia, devido à explosão do e-commerce, conseguiu atenuar o enfraquecimento do comércio nos últimos tempos. Isso tem reflexos na atividade como um todo.

O consumo das famílias responde por 60% do PIB e o varejo é uma fatia importante. O comércio impacta diretamente a produção da indústria e taxa de desemprego do País. Tradicionalmente, o setor é a porta de entrada do jovem para o mercado de trabalho e emprega cerca de 20% do trabalhadores formais da economia brasileira. Isso sem falar nos desdobramentos que provoca na arrecadação, especialmente do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

A pedido do Estadão, Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), calculou o valor de mercado de um grupo de 20 varejistas com papéis na Bolsa. Juntas, ao final de 2020, essas empresas valiam R$ 527,810 bilhões. Mas, em dezembro do ano passado, essa cifra tinha recuado para R$ 188,149 bilhões, acumulando uma perda de quase dois terços (64%).

“É um cenário desolador do comércio no pós-pandemia”, afirma o economista, comparando o desempenho recente do varejo com o que houve no passado. Entre 2004 e 2014, por exemplo, o comércio viveu um “ciclo de ouro”, quando o volume de vendas crescia, em média, 7% ao ano. Mas, no período seguinte, de 2015 até o final do ano passado, o que se viu foi estagnação. As vendas recuaram, em média, 0,1% ao ano.

A deterioração das condições de consumo, como inflação e endividamento em alta, renda e emprego estagnados e, sobretudo, o juro básico, atualmente em 13,75% ao ano,fixado pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central é, na avaliação de Bentes, o pano de fundo que explica o derretimento do valor papéis das varejistas na Bolsa.

O resultado foi influenciado pela crise na Americanas, mas vai bem além. Em 24 meses até março deste ano, as ações de um grupo ainda maior, de 23 varejistas, incluindo mais três companhias –Assaí, Mobly e Westwing, que não estavam na Bolsa no final de 2020 –, recuaram, em média, 59,3% no período, aponta o estudo feito pelo economista. Os cálculos consideraram os volumes negociados das ações.

Em recuperação judicial desde início do ano e com dívidas de R$ 42,5 bilhões, turbinadas por problemas contábeis, a Americanas lidera o ranking das companhias com maiores tombos nas ações. Os papéis da empresa caíram 98,3% no período, seguidos pelos da Mobly (-91,6%), de móveis; Westwing (-87,3%), de decoração; Marisa (-87,2%), de vestuário; Via (-84,4%) e Magazine Luiza (-83,3%).

A Mobly, do varejo de móveis, está fazendo gestão de caixa e cuidando da rentabilidade Foto: Werther Santana/Estadão

Victor Chunques, chefe de Relações com Investidores da Mobly, diz que a companhia, que abriu capital em fevereiro de 2021, não tem problemas de solidez. A empresa de tecnologia que atua no comércio eletrônico de móveis foi muito beneficiada pela pandemia. Segundo o executivo, entre 2019 e 2021, ampliou em 50% as vendas.

“A pandemia adiantou muito a demanda por móveis e, por sermos uma loja online, havia muita facilidade para comprar”, observa o executivo. Com a volta à normalidade das atividades, essa situação se reverteu e o valor da ação da empresa foi impactado nos últimos dois anos.

Chunques argumenta que móveis é um segmento com valor médio de vendas alto e muito suscetível a crédito. “O mercado depende da queda da taxa de juros para voltar ao normal”, afirma. No curtíssimo prazo, a empresa não tem expectativas positivas em relação ao varejo como um todo. Por isso, a companhia está empenhada em manter a rentabilidade e administrar o caixa. “Temos focado na parte que conseguimos controlar, enquanto o cenário não muda.”

Essa também é a estratégia da Westwing. Andres Mutschler, CEO da empresa, diz que a companhia, que abriu o capital também em fevereiro de 2021, não tem dívidas e está capitalizada.

Desde final de 2021, com a mudança do cenário do varejo, a empresa reduziu drasticamente os investimentos. “Estamos preservando o caixa e não estamos fazendo projeto mirabolantes”, afirma. A intenção neste momento é se preparar para enfrentar o cenário de incertezas dos próximos meses. “A perspectiva é que 2023 seja difícil para o varejo: não achamos que os juros vão cair rapidamente e o consumidor deve continuar segurando gastos em categorias menos essenciais.”

Andres Mutschler, CEO da Westwing, diz que no momento não tem projetos mirabolantes Foto: Fernando Banzi

A Marisa, que encerrou o ano passado com dívidas de R$ 560,4 milhões e forte queda nas ações, informa, por meio de nota, que “acredita que os resultados do plano de reestruturação da companhia já em curso deverão ajudar a destravar o valor do ativo AMAR3 (ação)”. Procuradas, Via e Magazine Luiza, que também registram fortes retrações no valor das suas ações, não retornaram os pedidos de esclarecimentos da reportagem.

Perspectivas desfavoráveis

O cenário econômico atual não é favorável a mudanças significativas no comércio no curto prazo, especialmente para venda de itens de maior valor e dependentes de crédito, avaliam economistas.

Viviane Seda, coordenadora das Sondagens do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, diz que os resultados da sondagem do comércio para os próximos três meses não indicam perspectivas de recuperação do varejo. “Nos últimos meses, a demanda está muito fraca de forma geral, especialmente para produtos que necessitam de financiamento.”

No entanto, ela ressalta que, num horizonte maior, para os próximos seis meses, a sondagem feita com empresários do comércio já indica um cenário mais positivo. A perspectiva de recuperação está concentrada em segmentos como o de vestuário, calçados, móveis e eletrodomésticos, que dependem do crédito, porém de forma menos intensiva do que veículos, motos e materiais de construção.

“Lá pelo segundo semestre deve começar a ter uma recuperação mais evidente do comércio, mas ainda dependente de fatores condicionantes, como taxa de juros, endividamento das famílias e mercado de trabalho”, afirma a economista.

Fabio Bentes, da CNC, vê 2023 como mais um ano de estagnação. As suas projeções para varejo restrito, que não inclui veículos e materiais de construção, é de crescimento de apenas 0,6% no volume de vendas. Será a menor marca em sete anos e abaixo do avanço de 1% alcançado no ano passado, que foi um crescimento equivalente ao crescimento vegetativo da população.

O que falta para o varejo deslanchar, na opinião do economista da CNC, é uma perspectiva de mudança nas condições de consumo. Isto é, aquecimento do mercado de trabalho, inflação em forte desaceleração ou com queda significativa e crédito muito mais barato. “Hoje não é possível vislumbrar esse cenário”, afirma.

Empresas de varejo perderam R$ 339,6 bilhões de valor de mercado nos últimos dois anos. O tombo, com a desvalorização de ações na Bolsa, equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) do Uruguai. Juros altos, inflação resistente em níveis elevados e renda estagnada tiraram o poder de compra dos brasileiros, enfraqueceram as vendas e fizeram o varejo cair na real.

Nem mesmo o suspiro de vendas que houve na pandemia, devido à explosão do e-commerce, conseguiu atenuar o enfraquecimento do comércio nos últimos tempos. Isso tem reflexos na atividade como um todo.

O consumo das famílias responde por 60% do PIB e o varejo é uma fatia importante. O comércio impacta diretamente a produção da indústria e taxa de desemprego do País. Tradicionalmente, o setor é a porta de entrada do jovem para o mercado de trabalho e emprega cerca de 20% do trabalhadores formais da economia brasileira. Isso sem falar nos desdobramentos que provoca na arrecadação, especialmente do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

A pedido do Estadão, Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), calculou o valor de mercado de um grupo de 20 varejistas com papéis na Bolsa. Juntas, ao final de 2020, essas empresas valiam R$ 527,810 bilhões. Mas, em dezembro do ano passado, essa cifra tinha recuado para R$ 188,149 bilhões, acumulando uma perda de quase dois terços (64%).

“É um cenário desolador do comércio no pós-pandemia”, afirma o economista, comparando o desempenho recente do varejo com o que houve no passado. Entre 2004 e 2014, por exemplo, o comércio viveu um “ciclo de ouro”, quando o volume de vendas crescia, em média, 7% ao ano. Mas, no período seguinte, de 2015 até o final do ano passado, o que se viu foi estagnação. As vendas recuaram, em média, 0,1% ao ano.

A deterioração das condições de consumo, como inflação e endividamento em alta, renda e emprego estagnados e, sobretudo, o juro básico, atualmente em 13,75% ao ano,fixado pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central é, na avaliação de Bentes, o pano de fundo que explica o derretimento do valor papéis das varejistas na Bolsa.

O resultado foi influenciado pela crise na Americanas, mas vai bem além. Em 24 meses até março deste ano, as ações de um grupo ainda maior, de 23 varejistas, incluindo mais três companhias –Assaí, Mobly e Westwing, que não estavam na Bolsa no final de 2020 –, recuaram, em média, 59,3% no período, aponta o estudo feito pelo economista. Os cálculos consideraram os volumes negociados das ações.

Em recuperação judicial desde início do ano e com dívidas de R$ 42,5 bilhões, turbinadas por problemas contábeis, a Americanas lidera o ranking das companhias com maiores tombos nas ações. Os papéis da empresa caíram 98,3% no período, seguidos pelos da Mobly (-91,6%), de móveis; Westwing (-87,3%), de decoração; Marisa (-87,2%), de vestuário; Via (-84,4%) e Magazine Luiza (-83,3%).

A Mobly, do varejo de móveis, está fazendo gestão de caixa e cuidando da rentabilidade Foto: Werther Santana/Estadão

Victor Chunques, chefe de Relações com Investidores da Mobly, diz que a companhia, que abriu capital em fevereiro de 2021, não tem problemas de solidez. A empresa de tecnologia que atua no comércio eletrônico de móveis foi muito beneficiada pela pandemia. Segundo o executivo, entre 2019 e 2021, ampliou em 50% as vendas.

“A pandemia adiantou muito a demanda por móveis e, por sermos uma loja online, havia muita facilidade para comprar”, observa o executivo. Com a volta à normalidade das atividades, essa situação se reverteu e o valor da ação da empresa foi impactado nos últimos dois anos.

Chunques argumenta que móveis é um segmento com valor médio de vendas alto e muito suscetível a crédito. “O mercado depende da queda da taxa de juros para voltar ao normal”, afirma. No curtíssimo prazo, a empresa não tem expectativas positivas em relação ao varejo como um todo. Por isso, a companhia está empenhada em manter a rentabilidade e administrar o caixa. “Temos focado na parte que conseguimos controlar, enquanto o cenário não muda.”

Essa também é a estratégia da Westwing. Andres Mutschler, CEO da empresa, diz que a companhia, que abriu o capital também em fevereiro de 2021, não tem dívidas e está capitalizada.

Desde final de 2021, com a mudança do cenário do varejo, a empresa reduziu drasticamente os investimentos. “Estamos preservando o caixa e não estamos fazendo projeto mirabolantes”, afirma. A intenção neste momento é se preparar para enfrentar o cenário de incertezas dos próximos meses. “A perspectiva é que 2023 seja difícil para o varejo: não achamos que os juros vão cair rapidamente e o consumidor deve continuar segurando gastos em categorias menos essenciais.”

Andres Mutschler, CEO da Westwing, diz que no momento não tem projetos mirabolantes Foto: Fernando Banzi

A Marisa, que encerrou o ano passado com dívidas de R$ 560,4 milhões e forte queda nas ações, informa, por meio de nota, que “acredita que os resultados do plano de reestruturação da companhia já em curso deverão ajudar a destravar o valor do ativo AMAR3 (ação)”. Procuradas, Via e Magazine Luiza, que também registram fortes retrações no valor das suas ações, não retornaram os pedidos de esclarecimentos da reportagem.

Perspectivas desfavoráveis

O cenário econômico atual não é favorável a mudanças significativas no comércio no curto prazo, especialmente para venda de itens de maior valor e dependentes de crédito, avaliam economistas.

Viviane Seda, coordenadora das Sondagens do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, diz que os resultados da sondagem do comércio para os próximos três meses não indicam perspectivas de recuperação do varejo. “Nos últimos meses, a demanda está muito fraca de forma geral, especialmente para produtos que necessitam de financiamento.”

No entanto, ela ressalta que, num horizonte maior, para os próximos seis meses, a sondagem feita com empresários do comércio já indica um cenário mais positivo. A perspectiva de recuperação está concentrada em segmentos como o de vestuário, calçados, móveis e eletrodomésticos, que dependem do crédito, porém de forma menos intensiva do que veículos, motos e materiais de construção.

“Lá pelo segundo semestre deve começar a ter uma recuperação mais evidente do comércio, mas ainda dependente de fatores condicionantes, como taxa de juros, endividamento das famílias e mercado de trabalho”, afirma a economista.

Fabio Bentes, da CNC, vê 2023 como mais um ano de estagnação. As suas projeções para varejo restrito, que não inclui veículos e materiais de construção, é de crescimento de apenas 0,6% no volume de vendas. Será a menor marca em sete anos e abaixo do avanço de 1% alcançado no ano passado, que foi um crescimento equivalente ao crescimento vegetativo da população.

O que falta para o varejo deslanchar, na opinião do economista da CNC, é uma perspectiva de mudança nas condições de consumo. Isto é, aquecimento do mercado de trabalho, inflação em forte desaceleração ou com queda significativa e crédito muito mais barato. “Hoje não é possível vislumbrar esse cenário”, afirma.

Empresas de varejo perderam R$ 339,6 bilhões de valor de mercado nos últimos dois anos. O tombo, com a desvalorização de ações na Bolsa, equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) do Uruguai. Juros altos, inflação resistente em níveis elevados e renda estagnada tiraram o poder de compra dos brasileiros, enfraqueceram as vendas e fizeram o varejo cair na real.

Nem mesmo o suspiro de vendas que houve na pandemia, devido à explosão do e-commerce, conseguiu atenuar o enfraquecimento do comércio nos últimos tempos. Isso tem reflexos na atividade como um todo.

O consumo das famílias responde por 60% do PIB e o varejo é uma fatia importante. O comércio impacta diretamente a produção da indústria e taxa de desemprego do País. Tradicionalmente, o setor é a porta de entrada do jovem para o mercado de trabalho e emprega cerca de 20% do trabalhadores formais da economia brasileira. Isso sem falar nos desdobramentos que provoca na arrecadação, especialmente do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

A pedido do Estadão, Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), calculou o valor de mercado de um grupo de 20 varejistas com papéis na Bolsa. Juntas, ao final de 2020, essas empresas valiam R$ 527,810 bilhões. Mas, em dezembro do ano passado, essa cifra tinha recuado para R$ 188,149 bilhões, acumulando uma perda de quase dois terços (64%).

“É um cenário desolador do comércio no pós-pandemia”, afirma o economista, comparando o desempenho recente do varejo com o que houve no passado. Entre 2004 e 2014, por exemplo, o comércio viveu um “ciclo de ouro”, quando o volume de vendas crescia, em média, 7% ao ano. Mas, no período seguinte, de 2015 até o final do ano passado, o que se viu foi estagnação. As vendas recuaram, em média, 0,1% ao ano.

A deterioração das condições de consumo, como inflação e endividamento em alta, renda e emprego estagnados e, sobretudo, o juro básico, atualmente em 13,75% ao ano,fixado pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central é, na avaliação de Bentes, o pano de fundo que explica o derretimento do valor papéis das varejistas na Bolsa.

O resultado foi influenciado pela crise na Americanas, mas vai bem além. Em 24 meses até março deste ano, as ações de um grupo ainda maior, de 23 varejistas, incluindo mais três companhias –Assaí, Mobly e Westwing, que não estavam na Bolsa no final de 2020 –, recuaram, em média, 59,3% no período, aponta o estudo feito pelo economista. Os cálculos consideraram os volumes negociados das ações.

Em recuperação judicial desde início do ano e com dívidas de R$ 42,5 bilhões, turbinadas por problemas contábeis, a Americanas lidera o ranking das companhias com maiores tombos nas ações. Os papéis da empresa caíram 98,3% no período, seguidos pelos da Mobly (-91,6%), de móveis; Westwing (-87,3%), de decoração; Marisa (-87,2%), de vestuário; Via (-84,4%) e Magazine Luiza (-83,3%).

A Mobly, do varejo de móveis, está fazendo gestão de caixa e cuidando da rentabilidade Foto: Werther Santana/Estadão

Victor Chunques, chefe de Relações com Investidores da Mobly, diz que a companhia, que abriu capital em fevereiro de 2021, não tem problemas de solidez. A empresa de tecnologia que atua no comércio eletrônico de móveis foi muito beneficiada pela pandemia. Segundo o executivo, entre 2019 e 2021, ampliou em 50% as vendas.

“A pandemia adiantou muito a demanda por móveis e, por sermos uma loja online, havia muita facilidade para comprar”, observa o executivo. Com a volta à normalidade das atividades, essa situação se reverteu e o valor da ação da empresa foi impactado nos últimos dois anos.

Chunques argumenta que móveis é um segmento com valor médio de vendas alto e muito suscetível a crédito. “O mercado depende da queda da taxa de juros para voltar ao normal”, afirma. No curtíssimo prazo, a empresa não tem expectativas positivas em relação ao varejo como um todo. Por isso, a companhia está empenhada em manter a rentabilidade e administrar o caixa. “Temos focado na parte que conseguimos controlar, enquanto o cenário não muda.”

Essa também é a estratégia da Westwing. Andres Mutschler, CEO da empresa, diz que a companhia, que abriu o capital também em fevereiro de 2021, não tem dívidas e está capitalizada.

Desde final de 2021, com a mudança do cenário do varejo, a empresa reduziu drasticamente os investimentos. “Estamos preservando o caixa e não estamos fazendo projeto mirabolantes”, afirma. A intenção neste momento é se preparar para enfrentar o cenário de incertezas dos próximos meses. “A perspectiva é que 2023 seja difícil para o varejo: não achamos que os juros vão cair rapidamente e o consumidor deve continuar segurando gastos em categorias menos essenciais.”

Andres Mutschler, CEO da Westwing, diz que no momento não tem projetos mirabolantes Foto: Fernando Banzi

A Marisa, que encerrou o ano passado com dívidas de R$ 560,4 milhões e forte queda nas ações, informa, por meio de nota, que “acredita que os resultados do plano de reestruturação da companhia já em curso deverão ajudar a destravar o valor do ativo AMAR3 (ação)”. Procuradas, Via e Magazine Luiza, que também registram fortes retrações no valor das suas ações, não retornaram os pedidos de esclarecimentos da reportagem.

Perspectivas desfavoráveis

O cenário econômico atual não é favorável a mudanças significativas no comércio no curto prazo, especialmente para venda de itens de maior valor e dependentes de crédito, avaliam economistas.

Viviane Seda, coordenadora das Sondagens do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, diz que os resultados da sondagem do comércio para os próximos três meses não indicam perspectivas de recuperação do varejo. “Nos últimos meses, a demanda está muito fraca de forma geral, especialmente para produtos que necessitam de financiamento.”

No entanto, ela ressalta que, num horizonte maior, para os próximos seis meses, a sondagem feita com empresários do comércio já indica um cenário mais positivo. A perspectiva de recuperação está concentrada em segmentos como o de vestuário, calçados, móveis e eletrodomésticos, que dependem do crédito, porém de forma menos intensiva do que veículos, motos e materiais de construção.

“Lá pelo segundo semestre deve começar a ter uma recuperação mais evidente do comércio, mas ainda dependente de fatores condicionantes, como taxa de juros, endividamento das famílias e mercado de trabalho”, afirma a economista.

Fabio Bentes, da CNC, vê 2023 como mais um ano de estagnação. As suas projeções para varejo restrito, que não inclui veículos e materiais de construção, é de crescimento de apenas 0,6% no volume de vendas. Será a menor marca em sete anos e abaixo do avanço de 1% alcançado no ano passado, que foi um crescimento equivalente ao crescimento vegetativo da população.

O que falta para o varejo deslanchar, na opinião do economista da CNC, é uma perspectiva de mudança nas condições de consumo. Isto é, aquecimento do mercado de trabalho, inflação em forte desaceleração ou com queda significativa e crédito muito mais barato. “Hoje não é possível vislumbrar esse cenário”, afirma.

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