Como as economias globais conseguiram controlar a inflação sem entrar em recessão; entenda


De modo geral, os bancos centrais foram capazes de aumentar os juros, mantê-los num patamar elevado e iniciar um movimento de corte sem uma desaceleração muito forte da atividade

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

Ao menos por ora, a economia global parece ter virado a página de um cenário de maior preocupação. De modo geral, os bancos centrais foram capazes de aumentar os juros, mantê-los num patamar elevado e iniciar um movimento de corte, com a inflação caminhando para a meta definida e sem colocar os países em recessão.

O chamado pouso suave não costuma ser comum após apertos monetários. Em geral, o ciclo de alta de juros, ao encarecer o crédito para consumidores e empresas com o objetivo de controlar a inflação, busca provocar uma desaceleração da economia – em muitos casos, os países entram em recessão.

“A economia global parece que conseguiu fazer um pouso suave, mas tem um pouco de heterogeneidade entre os países”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “Observando o mundo como todo, o (crescimento dos países do) G-20 está rodando ao redor de 3% anualizado. É um pouco abaixo do observado no período pré-pandemia, mas longe de ser um cenário ruim.”

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A economia americana é o exemplo que melhor ilustra esse movimento. Em setembro, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou a primeira queda de juros em quatro anos. O BC americano cortou a taxa dos Fed Funds em 0,50 ponto porcentual, para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano. Foi um movimento que surpreendeu boa parte do mercado, cuja aposta era de uma redução de 0,25 ponto porcentual.

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Na dura batalha para controlar a inflação e fazê-la caminhar para a meta de 2%, o Fed precisou elevar as taxas de juros ao maior patamar em 22 anos - o ciclo de alta teve início em 2022. Mas, ao contrário do que se esperava, os Estados Unidos não entraram em recessão. Ao longo desses meses, a resiliência da economia americana surpreendeu, e os cenários mais sombrios traçados pelos analistas para atividade do país acabavam sempre postergados.

Os economistas apontam vários fatores para explicar a força da economia dos Estados Unidos e do mercado de trabalho - apesar dos juros elevados. Nesse último ciclo de alta, famílias e empresas estavam menos endividadas do que no passado e houve um grande estímulo fiscal que compensou o aperto monetário.

“Houve, inclusive, a revisão do PIB de vários anos para trás e foram todos mais fortes. As indicações para esse segundo semestre também são de um crescimento forte nos EUA”, afirma Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management. “A economia (dos EUA) cresceu mais do que a gente imaginava e aponta para uma desaceleração suave.”

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Jerome Powell, do Fed; banco central dos EUA começou a reduzir os juros Foto: Ben Curtis/AP

O UBS estima que o Fed deve reduzir as taxas de juros em mais 0,50 ponto porcentual este ano e projeta um crescimento para a economia americana de 2,6% em 2024 e 1,6% em 2025.

Na segunda-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que o BC dos EUA deve promover mais dois cortes de 0,25 ponto porcentual neste ano. “Os indicadores mostram que o mercado de trabalho continua sólido. Nós vamos tomar decisões para garantir que o nível de emprego permaneça exatamente onde está”, disse.

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Diversidade na Europa

Na Europa, o cenário é bastante diverso entre os países, mas, ainda assim, não há uma recessão prevista para o bloco. De um lado, as economias da Espanha e da Itália mostram força, mas, de outro, a Alemanha - maior potência europeia - tem preocupado com um crescimento mais fraco.

“Na Alemanha, existe um questionamento do modelo econômico composto por três pilares. Era uma produção industrial, principalmente focada em automóveis, para exportar para a China com base em insumos de energias vindos da Rússia”, afirma André Diniz, economista-chefe de internacional da Kinea.

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“Esses três pilares foram solapados com a crise de energia gerada pela guerra entre Rússia e Ucrânia e com a China mudando os motores de crescimento e provendo uma exportação enorme para o mundo de veículos elétricos, em grande medida subsidiado pelo governo. Isso coloca em questão o modelo de desenvolvimento da Alemanha”, acrescenta.

BCE reduziu os juros em 0,25 ponto; ciclo de corte começou em junho Foto: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP

Em setembro, o Banco Central Europeu voltou a reduzir os juros em 0,25 ponto porcentual. O BCE já havia feito um corte em junho de mesma magnitude. A leitura dos analistas é de que ocorra mais uma queda em dezembro, mas eles não descartam uma nova redução antes disso.

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Japão e China

Com impactos para todo o mundo, os analistas, claro, se debruçam sobre os próximos passos do Banco Central da China e do Japão. Ao contrário de outros países, o BC japonês subiu os juros este ano para 0,25%, enquanto o da China tem adotado uma série de estímulos numa tentativa de acelerar o crescimento do país – a meta de crescimento chinês é de 5% este ano.

“A China ficou por 20 anos gerando ciclos econômicos a partir da construção, de uma expectativa das pessoas de que os preços de casa sempre subiriam. No momento em que isso chegou ao fim, gerou-se uma crise de confiança em um setor relevante”, diz Diniz, da Kinea. “Desde 2021, estamos vendo a China tentando achar outros motores de crescimento, sem ainda ter conseguido estabilizar a economia.”

No fim de setembro, o Banco Popular da China (PBOC) reduziu a taxa de juros de referência de 1,7% para 1,5%.

Fim do sincronismo

Hoje, o que também se observa na condução da política monetária pelos principais bancos centrais é que chegou ao fim a sincronia entre eles. Na pandemia de covid-19, os principais BCs cortaram os juros de forma agressiva - quase que ao mesmo tempo - para tentar mitigar os efeitos recessivos provocados pela crise sanitária. Em seguida, com a força da inflação, tiveram de promover um aperto monetário em conjunto.

Na pandemia, houve uma interrupção das cadeias de produção, o que levou a escassez de produtos e, consequentemente, a um aumento de preços de bens em todo o mundo. Após superada a fase mais aguda da pandemia, a retomada da economia provocou uma alta de preços das commodities, o que agravou ainda mais o quadro inflacionário.

“Essa sincronia econômica foi se perdendo”, afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners. “Hoje, em dia, cada país tem a sua peculiaridade. Estamos falando do Brasil subindo os juros, e os Estados Unidos reduzindo. Temos agora o que é o normal.”

E o impacto para o Brasil?

Em tese, esse alívio no cenário global tende a beneficiar os países emergentes, como o Brasil. Mas, de novo, os cenários locais é que vão dizer como cada economia deve se beneficiar.

“É um cenário bom para economias emergentes. Os juros estão caindo no mundo inteiro, sobretudo nos Estados Unidos. A China está crescendo aos trancos e barranco, mas, agora, tem notícias de um novo estímulo, e os preços de commodities estão em um patamar alto”, diz Sobral. “Mas o Brasil e outros emergentes têm peculiaridades que acabam fazendo com que não se beneficiem desse ciclo.”

No Brasil, há uma grande incerteza com o rumo das contas públicas e o ritmo de endividamento da economia brasileira ao longo dos próximos anos, o que acaba afastando os investidores. No México, há um impasse institucional – o país aprovou uma reforma constitucional que permite a eleição popular de juízes - um caso único no mundo.

BC brasileiro subiu os juros na sua última reunião Foto: Wilton Junior/Estadão

“As moedas, no geral, se valorizaram, as bolsas subiram, os juros caíram. Mas tem muita heterogeneidade e acho que ela está ligada a histórias específicas de cada país”, acrescenta o economista-chefe da Neo Investimentos.

No Brasil, na sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano.

Ao menos por ora, a economia global parece ter virado a página de um cenário de maior preocupação. De modo geral, os bancos centrais foram capazes de aumentar os juros, mantê-los num patamar elevado e iniciar um movimento de corte, com a inflação caminhando para a meta definida e sem colocar os países em recessão.

O chamado pouso suave não costuma ser comum após apertos monetários. Em geral, o ciclo de alta de juros, ao encarecer o crédito para consumidores e empresas com o objetivo de controlar a inflação, busca provocar uma desaceleração da economia – em muitos casos, os países entram em recessão.

“A economia global parece que conseguiu fazer um pouso suave, mas tem um pouco de heterogeneidade entre os países”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “Observando o mundo como todo, o (crescimento dos países do) G-20 está rodando ao redor de 3% anualizado. É um pouco abaixo do observado no período pré-pandemia, mas longe de ser um cenário ruim.”

A economia americana é o exemplo que melhor ilustra esse movimento. Em setembro, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou a primeira queda de juros em quatro anos. O BC americano cortou a taxa dos Fed Funds em 0,50 ponto porcentual, para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano. Foi um movimento que surpreendeu boa parte do mercado, cuja aposta era de uma redução de 0,25 ponto porcentual.

Na dura batalha para controlar a inflação e fazê-la caminhar para a meta de 2%, o Fed precisou elevar as taxas de juros ao maior patamar em 22 anos - o ciclo de alta teve início em 2022. Mas, ao contrário do que se esperava, os Estados Unidos não entraram em recessão. Ao longo desses meses, a resiliência da economia americana surpreendeu, e os cenários mais sombrios traçados pelos analistas para atividade do país acabavam sempre postergados.

Os economistas apontam vários fatores para explicar a força da economia dos Estados Unidos e do mercado de trabalho - apesar dos juros elevados. Nesse último ciclo de alta, famílias e empresas estavam menos endividadas do que no passado e houve um grande estímulo fiscal que compensou o aperto monetário.

“Houve, inclusive, a revisão do PIB de vários anos para trás e foram todos mais fortes. As indicações para esse segundo semestre também são de um crescimento forte nos EUA”, afirma Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management. “A economia (dos EUA) cresceu mais do que a gente imaginava e aponta para uma desaceleração suave.”

Jerome Powell, do Fed; banco central dos EUA começou a reduzir os juros Foto: Ben Curtis/AP

O UBS estima que o Fed deve reduzir as taxas de juros em mais 0,50 ponto porcentual este ano e projeta um crescimento para a economia americana de 2,6% em 2024 e 1,6% em 2025.

Na segunda-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que o BC dos EUA deve promover mais dois cortes de 0,25 ponto porcentual neste ano. “Os indicadores mostram que o mercado de trabalho continua sólido. Nós vamos tomar decisões para garantir que o nível de emprego permaneça exatamente onde está”, disse.

Diversidade na Europa

Na Europa, o cenário é bastante diverso entre os países, mas, ainda assim, não há uma recessão prevista para o bloco. De um lado, as economias da Espanha e da Itália mostram força, mas, de outro, a Alemanha - maior potência europeia - tem preocupado com um crescimento mais fraco.

“Na Alemanha, existe um questionamento do modelo econômico composto por três pilares. Era uma produção industrial, principalmente focada em automóveis, para exportar para a China com base em insumos de energias vindos da Rússia”, afirma André Diniz, economista-chefe de internacional da Kinea.

“Esses três pilares foram solapados com a crise de energia gerada pela guerra entre Rússia e Ucrânia e com a China mudando os motores de crescimento e provendo uma exportação enorme para o mundo de veículos elétricos, em grande medida subsidiado pelo governo. Isso coloca em questão o modelo de desenvolvimento da Alemanha”, acrescenta.

BCE reduziu os juros em 0,25 ponto; ciclo de corte começou em junho Foto: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP

Em setembro, o Banco Central Europeu voltou a reduzir os juros em 0,25 ponto porcentual. O BCE já havia feito um corte em junho de mesma magnitude. A leitura dos analistas é de que ocorra mais uma queda em dezembro, mas eles não descartam uma nova redução antes disso.

Japão e China

Com impactos para todo o mundo, os analistas, claro, se debruçam sobre os próximos passos do Banco Central da China e do Japão. Ao contrário de outros países, o BC japonês subiu os juros este ano para 0,25%, enquanto o da China tem adotado uma série de estímulos numa tentativa de acelerar o crescimento do país – a meta de crescimento chinês é de 5% este ano.

“A China ficou por 20 anos gerando ciclos econômicos a partir da construção, de uma expectativa das pessoas de que os preços de casa sempre subiriam. No momento em que isso chegou ao fim, gerou-se uma crise de confiança em um setor relevante”, diz Diniz, da Kinea. “Desde 2021, estamos vendo a China tentando achar outros motores de crescimento, sem ainda ter conseguido estabilizar a economia.”

No fim de setembro, o Banco Popular da China (PBOC) reduziu a taxa de juros de referência de 1,7% para 1,5%.

Fim do sincronismo

Hoje, o que também se observa na condução da política monetária pelos principais bancos centrais é que chegou ao fim a sincronia entre eles. Na pandemia de covid-19, os principais BCs cortaram os juros de forma agressiva - quase que ao mesmo tempo - para tentar mitigar os efeitos recessivos provocados pela crise sanitária. Em seguida, com a força da inflação, tiveram de promover um aperto monetário em conjunto.

Na pandemia, houve uma interrupção das cadeias de produção, o que levou a escassez de produtos e, consequentemente, a um aumento de preços de bens em todo o mundo. Após superada a fase mais aguda da pandemia, a retomada da economia provocou uma alta de preços das commodities, o que agravou ainda mais o quadro inflacionário.

“Essa sincronia econômica foi se perdendo”, afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners. “Hoje, em dia, cada país tem a sua peculiaridade. Estamos falando do Brasil subindo os juros, e os Estados Unidos reduzindo. Temos agora o que é o normal.”

E o impacto para o Brasil?

Em tese, esse alívio no cenário global tende a beneficiar os países emergentes, como o Brasil. Mas, de novo, os cenários locais é que vão dizer como cada economia deve se beneficiar.

“É um cenário bom para economias emergentes. Os juros estão caindo no mundo inteiro, sobretudo nos Estados Unidos. A China está crescendo aos trancos e barranco, mas, agora, tem notícias de um novo estímulo, e os preços de commodities estão em um patamar alto”, diz Sobral. “Mas o Brasil e outros emergentes têm peculiaridades que acabam fazendo com que não se beneficiem desse ciclo.”

No Brasil, há uma grande incerteza com o rumo das contas públicas e o ritmo de endividamento da economia brasileira ao longo dos próximos anos, o que acaba afastando os investidores. No México, há um impasse institucional – o país aprovou uma reforma constitucional que permite a eleição popular de juízes - um caso único no mundo.

BC brasileiro subiu os juros na sua última reunião Foto: Wilton Junior/Estadão

“As moedas, no geral, se valorizaram, as bolsas subiram, os juros caíram. Mas tem muita heterogeneidade e acho que ela está ligada a histórias específicas de cada país”, acrescenta o economista-chefe da Neo Investimentos.

No Brasil, na sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano.

Ao menos por ora, a economia global parece ter virado a página de um cenário de maior preocupação. De modo geral, os bancos centrais foram capazes de aumentar os juros, mantê-los num patamar elevado e iniciar um movimento de corte, com a inflação caminhando para a meta definida e sem colocar os países em recessão.

O chamado pouso suave não costuma ser comum após apertos monetários. Em geral, o ciclo de alta de juros, ao encarecer o crédito para consumidores e empresas com o objetivo de controlar a inflação, busca provocar uma desaceleração da economia – em muitos casos, os países entram em recessão.

“A economia global parece que conseguiu fazer um pouso suave, mas tem um pouco de heterogeneidade entre os países”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “Observando o mundo como todo, o (crescimento dos países do) G-20 está rodando ao redor de 3% anualizado. É um pouco abaixo do observado no período pré-pandemia, mas longe de ser um cenário ruim.”

A economia americana é o exemplo que melhor ilustra esse movimento. Em setembro, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou a primeira queda de juros em quatro anos. O BC americano cortou a taxa dos Fed Funds em 0,50 ponto porcentual, para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano. Foi um movimento que surpreendeu boa parte do mercado, cuja aposta era de uma redução de 0,25 ponto porcentual.

Na dura batalha para controlar a inflação e fazê-la caminhar para a meta de 2%, o Fed precisou elevar as taxas de juros ao maior patamar em 22 anos - o ciclo de alta teve início em 2022. Mas, ao contrário do que se esperava, os Estados Unidos não entraram em recessão. Ao longo desses meses, a resiliência da economia americana surpreendeu, e os cenários mais sombrios traçados pelos analistas para atividade do país acabavam sempre postergados.

Os economistas apontam vários fatores para explicar a força da economia dos Estados Unidos e do mercado de trabalho - apesar dos juros elevados. Nesse último ciclo de alta, famílias e empresas estavam menos endividadas do que no passado e houve um grande estímulo fiscal que compensou o aperto monetário.

“Houve, inclusive, a revisão do PIB de vários anos para trás e foram todos mais fortes. As indicações para esse segundo semestre também são de um crescimento forte nos EUA”, afirma Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management. “A economia (dos EUA) cresceu mais do que a gente imaginava e aponta para uma desaceleração suave.”

Jerome Powell, do Fed; banco central dos EUA começou a reduzir os juros Foto: Ben Curtis/AP

O UBS estima que o Fed deve reduzir as taxas de juros em mais 0,50 ponto porcentual este ano e projeta um crescimento para a economia americana de 2,6% em 2024 e 1,6% em 2025.

Na segunda-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que o BC dos EUA deve promover mais dois cortes de 0,25 ponto porcentual neste ano. “Os indicadores mostram que o mercado de trabalho continua sólido. Nós vamos tomar decisões para garantir que o nível de emprego permaneça exatamente onde está”, disse.

Diversidade na Europa

Na Europa, o cenário é bastante diverso entre os países, mas, ainda assim, não há uma recessão prevista para o bloco. De um lado, as economias da Espanha e da Itália mostram força, mas, de outro, a Alemanha - maior potência europeia - tem preocupado com um crescimento mais fraco.

“Na Alemanha, existe um questionamento do modelo econômico composto por três pilares. Era uma produção industrial, principalmente focada em automóveis, para exportar para a China com base em insumos de energias vindos da Rússia”, afirma André Diniz, economista-chefe de internacional da Kinea.

“Esses três pilares foram solapados com a crise de energia gerada pela guerra entre Rússia e Ucrânia e com a China mudando os motores de crescimento e provendo uma exportação enorme para o mundo de veículos elétricos, em grande medida subsidiado pelo governo. Isso coloca em questão o modelo de desenvolvimento da Alemanha”, acrescenta.

BCE reduziu os juros em 0,25 ponto; ciclo de corte começou em junho Foto: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP

Em setembro, o Banco Central Europeu voltou a reduzir os juros em 0,25 ponto porcentual. O BCE já havia feito um corte em junho de mesma magnitude. A leitura dos analistas é de que ocorra mais uma queda em dezembro, mas eles não descartam uma nova redução antes disso.

Japão e China

Com impactos para todo o mundo, os analistas, claro, se debruçam sobre os próximos passos do Banco Central da China e do Japão. Ao contrário de outros países, o BC japonês subiu os juros este ano para 0,25%, enquanto o da China tem adotado uma série de estímulos numa tentativa de acelerar o crescimento do país – a meta de crescimento chinês é de 5% este ano.

“A China ficou por 20 anos gerando ciclos econômicos a partir da construção, de uma expectativa das pessoas de que os preços de casa sempre subiriam. No momento em que isso chegou ao fim, gerou-se uma crise de confiança em um setor relevante”, diz Diniz, da Kinea. “Desde 2021, estamos vendo a China tentando achar outros motores de crescimento, sem ainda ter conseguido estabilizar a economia.”

No fim de setembro, o Banco Popular da China (PBOC) reduziu a taxa de juros de referência de 1,7% para 1,5%.

Fim do sincronismo

Hoje, o que também se observa na condução da política monetária pelos principais bancos centrais é que chegou ao fim a sincronia entre eles. Na pandemia de covid-19, os principais BCs cortaram os juros de forma agressiva - quase que ao mesmo tempo - para tentar mitigar os efeitos recessivos provocados pela crise sanitária. Em seguida, com a força da inflação, tiveram de promover um aperto monetário em conjunto.

Na pandemia, houve uma interrupção das cadeias de produção, o que levou a escassez de produtos e, consequentemente, a um aumento de preços de bens em todo o mundo. Após superada a fase mais aguda da pandemia, a retomada da economia provocou uma alta de preços das commodities, o que agravou ainda mais o quadro inflacionário.

“Essa sincronia econômica foi se perdendo”, afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners. “Hoje, em dia, cada país tem a sua peculiaridade. Estamos falando do Brasil subindo os juros, e os Estados Unidos reduzindo. Temos agora o que é o normal.”

E o impacto para o Brasil?

Em tese, esse alívio no cenário global tende a beneficiar os países emergentes, como o Brasil. Mas, de novo, os cenários locais é que vão dizer como cada economia deve se beneficiar.

“É um cenário bom para economias emergentes. Os juros estão caindo no mundo inteiro, sobretudo nos Estados Unidos. A China está crescendo aos trancos e barranco, mas, agora, tem notícias de um novo estímulo, e os preços de commodities estão em um patamar alto”, diz Sobral. “Mas o Brasil e outros emergentes têm peculiaridades que acabam fazendo com que não se beneficiem desse ciclo.”

No Brasil, há uma grande incerteza com o rumo das contas públicas e o ritmo de endividamento da economia brasileira ao longo dos próximos anos, o que acaba afastando os investidores. No México, há um impasse institucional – o país aprovou uma reforma constitucional que permite a eleição popular de juízes - um caso único no mundo.

BC brasileiro subiu os juros na sua última reunião Foto: Wilton Junior/Estadão

“As moedas, no geral, se valorizaram, as bolsas subiram, os juros caíram. Mas tem muita heterogeneidade e acho que ela está ligada a histórias específicas de cada país”, acrescenta o economista-chefe da Neo Investimentos.

No Brasil, na sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano.

Ao menos por ora, a economia global parece ter virado a página de um cenário de maior preocupação. De modo geral, os bancos centrais foram capazes de aumentar os juros, mantê-los num patamar elevado e iniciar um movimento de corte, com a inflação caminhando para a meta definida e sem colocar os países em recessão.

O chamado pouso suave não costuma ser comum após apertos monetários. Em geral, o ciclo de alta de juros, ao encarecer o crédito para consumidores e empresas com o objetivo de controlar a inflação, busca provocar uma desaceleração da economia – em muitos casos, os países entram em recessão.

“A economia global parece que conseguiu fazer um pouso suave, mas tem um pouco de heterogeneidade entre os países”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “Observando o mundo como todo, o (crescimento dos países do) G-20 está rodando ao redor de 3% anualizado. É um pouco abaixo do observado no período pré-pandemia, mas longe de ser um cenário ruim.”

A economia americana é o exemplo que melhor ilustra esse movimento. Em setembro, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou a primeira queda de juros em quatro anos. O BC americano cortou a taxa dos Fed Funds em 0,50 ponto porcentual, para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano. Foi um movimento que surpreendeu boa parte do mercado, cuja aposta era de uma redução de 0,25 ponto porcentual.

Na dura batalha para controlar a inflação e fazê-la caminhar para a meta de 2%, o Fed precisou elevar as taxas de juros ao maior patamar em 22 anos - o ciclo de alta teve início em 2022. Mas, ao contrário do que se esperava, os Estados Unidos não entraram em recessão. Ao longo desses meses, a resiliência da economia americana surpreendeu, e os cenários mais sombrios traçados pelos analistas para atividade do país acabavam sempre postergados.

Os economistas apontam vários fatores para explicar a força da economia dos Estados Unidos e do mercado de trabalho - apesar dos juros elevados. Nesse último ciclo de alta, famílias e empresas estavam menos endividadas do que no passado e houve um grande estímulo fiscal que compensou o aperto monetário.

“Houve, inclusive, a revisão do PIB de vários anos para trás e foram todos mais fortes. As indicações para esse segundo semestre também são de um crescimento forte nos EUA”, afirma Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management. “A economia (dos EUA) cresceu mais do que a gente imaginava e aponta para uma desaceleração suave.”

Jerome Powell, do Fed; banco central dos EUA começou a reduzir os juros Foto: Ben Curtis/AP

O UBS estima que o Fed deve reduzir as taxas de juros em mais 0,50 ponto porcentual este ano e projeta um crescimento para a economia americana de 2,6% em 2024 e 1,6% em 2025.

Na segunda-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que o BC dos EUA deve promover mais dois cortes de 0,25 ponto porcentual neste ano. “Os indicadores mostram que o mercado de trabalho continua sólido. Nós vamos tomar decisões para garantir que o nível de emprego permaneça exatamente onde está”, disse.

Diversidade na Europa

Na Europa, o cenário é bastante diverso entre os países, mas, ainda assim, não há uma recessão prevista para o bloco. De um lado, as economias da Espanha e da Itália mostram força, mas, de outro, a Alemanha - maior potência europeia - tem preocupado com um crescimento mais fraco.

“Na Alemanha, existe um questionamento do modelo econômico composto por três pilares. Era uma produção industrial, principalmente focada em automóveis, para exportar para a China com base em insumos de energias vindos da Rússia”, afirma André Diniz, economista-chefe de internacional da Kinea.

“Esses três pilares foram solapados com a crise de energia gerada pela guerra entre Rússia e Ucrânia e com a China mudando os motores de crescimento e provendo uma exportação enorme para o mundo de veículos elétricos, em grande medida subsidiado pelo governo. Isso coloca em questão o modelo de desenvolvimento da Alemanha”, acrescenta.

BCE reduziu os juros em 0,25 ponto; ciclo de corte começou em junho Foto: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP

Em setembro, o Banco Central Europeu voltou a reduzir os juros em 0,25 ponto porcentual. O BCE já havia feito um corte em junho de mesma magnitude. A leitura dos analistas é de que ocorra mais uma queda em dezembro, mas eles não descartam uma nova redução antes disso.

Japão e China

Com impactos para todo o mundo, os analistas, claro, se debruçam sobre os próximos passos do Banco Central da China e do Japão. Ao contrário de outros países, o BC japonês subiu os juros este ano para 0,25%, enquanto o da China tem adotado uma série de estímulos numa tentativa de acelerar o crescimento do país – a meta de crescimento chinês é de 5% este ano.

“A China ficou por 20 anos gerando ciclos econômicos a partir da construção, de uma expectativa das pessoas de que os preços de casa sempre subiriam. No momento em que isso chegou ao fim, gerou-se uma crise de confiança em um setor relevante”, diz Diniz, da Kinea. “Desde 2021, estamos vendo a China tentando achar outros motores de crescimento, sem ainda ter conseguido estabilizar a economia.”

No fim de setembro, o Banco Popular da China (PBOC) reduziu a taxa de juros de referência de 1,7% para 1,5%.

Fim do sincronismo

Hoje, o que também se observa na condução da política monetária pelos principais bancos centrais é que chegou ao fim a sincronia entre eles. Na pandemia de covid-19, os principais BCs cortaram os juros de forma agressiva - quase que ao mesmo tempo - para tentar mitigar os efeitos recessivos provocados pela crise sanitária. Em seguida, com a força da inflação, tiveram de promover um aperto monetário em conjunto.

Na pandemia, houve uma interrupção das cadeias de produção, o que levou a escassez de produtos e, consequentemente, a um aumento de preços de bens em todo o mundo. Após superada a fase mais aguda da pandemia, a retomada da economia provocou uma alta de preços das commodities, o que agravou ainda mais o quadro inflacionário.

“Essa sincronia econômica foi se perdendo”, afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners. “Hoje, em dia, cada país tem a sua peculiaridade. Estamos falando do Brasil subindo os juros, e os Estados Unidos reduzindo. Temos agora o que é o normal.”

E o impacto para o Brasil?

Em tese, esse alívio no cenário global tende a beneficiar os países emergentes, como o Brasil. Mas, de novo, os cenários locais é que vão dizer como cada economia deve se beneficiar.

“É um cenário bom para economias emergentes. Os juros estão caindo no mundo inteiro, sobretudo nos Estados Unidos. A China está crescendo aos trancos e barranco, mas, agora, tem notícias de um novo estímulo, e os preços de commodities estão em um patamar alto”, diz Sobral. “Mas o Brasil e outros emergentes têm peculiaridades que acabam fazendo com que não se beneficiem desse ciclo.”

No Brasil, há uma grande incerteza com o rumo das contas públicas e o ritmo de endividamento da economia brasileira ao longo dos próximos anos, o que acaba afastando os investidores. No México, há um impasse institucional – o país aprovou uma reforma constitucional que permite a eleição popular de juízes - um caso único no mundo.

BC brasileiro subiu os juros na sua última reunião Foto: Wilton Junior/Estadão

“As moedas, no geral, se valorizaram, as bolsas subiram, os juros caíram. Mas tem muita heterogeneidade e acho que ela está ligada a histórias específicas de cada país”, acrescenta o economista-chefe da Neo Investimentos.

No Brasil, na sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano.

Ao menos por ora, a economia global parece ter virado a página de um cenário de maior preocupação. De modo geral, os bancos centrais foram capazes de aumentar os juros, mantê-los num patamar elevado e iniciar um movimento de corte, com a inflação caminhando para a meta definida e sem colocar os países em recessão.

O chamado pouso suave não costuma ser comum após apertos monetários. Em geral, o ciclo de alta de juros, ao encarecer o crédito para consumidores e empresas com o objetivo de controlar a inflação, busca provocar uma desaceleração da economia – em muitos casos, os países entram em recessão.

“A economia global parece que conseguiu fazer um pouso suave, mas tem um pouco de heterogeneidade entre os países”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “Observando o mundo como todo, o (crescimento dos países do) G-20 está rodando ao redor de 3% anualizado. É um pouco abaixo do observado no período pré-pandemia, mas longe de ser um cenário ruim.”

A economia americana é o exemplo que melhor ilustra esse movimento. Em setembro, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou a primeira queda de juros em quatro anos. O BC americano cortou a taxa dos Fed Funds em 0,50 ponto porcentual, para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano. Foi um movimento que surpreendeu boa parte do mercado, cuja aposta era de uma redução de 0,25 ponto porcentual.

Na dura batalha para controlar a inflação e fazê-la caminhar para a meta de 2%, o Fed precisou elevar as taxas de juros ao maior patamar em 22 anos - o ciclo de alta teve início em 2022. Mas, ao contrário do que se esperava, os Estados Unidos não entraram em recessão. Ao longo desses meses, a resiliência da economia americana surpreendeu, e os cenários mais sombrios traçados pelos analistas para atividade do país acabavam sempre postergados.

Os economistas apontam vários fatores para explicar a força da economia dos Estados Unidos e do mercado de trabalho - apesar dos juros elevados. Nesse último ciclo de alta, famílias e empresas estavam menos endividadas do que no passado e houve um grande estímulo fiscal que compensou o aperto monetário.

“Houve, inclusive, a revisão do PIB de vários anos para trás e foram todos mais fortes. As indicações para esse segundo semestre também são de um crescimento forte nos EUA”, afirma Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management. “A economia (dos EUA) cresceu mais do que a gente imaginava e aponta para uma desaceleração suave.”

Jerome Powell, do Fed; banco central dos EUA começou a reduzir os juros Foto: Ben Curtis/AP

O UBS estima que o Fed deve reduzir as taxas de juros em mais 0,50 ponto porcentual este ano e projeta um crescimento para a economia americana de 2,6% em 2024 e 1,6% em 2025.

Na segunda-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que o BC dos EUA deve promover mais dois cortes de 0,25 ponto porcentual neste ano. “Os indicadores mostram que o mercado de trabalho continua sólido. Nós vamos tomar decisões para garantir que o nível de emprego permaneça exatamente onde está”, disse.

Diversidade na Europa

Na Europa, o cenário é bastante diverso entre os países, mas, ainda assim, não há uma recessão prevista para o bloco. De um lado, as economias da Espanha e da Itália mostram força, mas, de outro, a Alemanha - maior potência europeia - tem preocupado com um crescimento mais fraco.

“Na Alemanha, existe um questionamento do modelo econômico composto por três pilares. Era uma produção industrial, principalmente focada em automóveis, para exportar para a China com base em insumos de energias vindos da Rússia”, afirma André Diniz, economista-chefe de internacional da Kinea.

“Esses três pilares foram solapados com a crise de energia gerada pela guerra entre Rússia e Ucrânia e com a China mudando os motores de crescimento e provendo uma exportação enorme para o mundo de veículos elétricos, em grande medida subsidiado pelo governo. Isso coloca em questão o modelo de desenvolvimento da Alemanha”, acrescenta.

BCE reduziu os juros em 0,25 ponto; ciclo de corte começou em junho Foto: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP

Em setembro, o Banco Central Europeu voltou a reduzir os juros em 0,25 ponto porcentual. O BCE já havia feito um corte em junho de mesma magnitude. A leitura dos analistas é de que ocorra mais uma queda em dezembro, mas eles não descartam uma nova redução antes disso.

Japão e China

Com impactos para todo o mundo, os analistas, claro, se debruçam sobre os próximos passos do Banco Central da China e do Japão. Ao contrário de outros países, o BC japonês subiu os juros este ano para 0,25%, enquanto o da China tem adotado uma série de estímulos numa tentativa de acelerar o crescimento do país – a meta de crescimento chinês é de 5% este ano.

“A China ficou por 20 anos gerando ciclos econômicos a partir da construção, de uma expectativa das pessoas de que os preços de casa sempre subiriam. No momento em que isso chegou ao fim, gerou-se uma crise de confiança em um setor relevante”, diz Diniz, da Kinea. “Desde 2021, estamos vendo a China tentando achar outros motores de crescimento, sem ainda ter conseguido estabilizar a economia.”

No fim de setembro, o Banco Popular da China (PBOC) reduziu a taxa de juros de referência de 1,7% para 1,5%.

Fim do sincronismo

Hoje, o que também se observa na condução da política monetária pelos principais bancos centrais é que chegou ao fim a sincronia entre eles. Na pandemia de covid-19, os principais BCs cortaram os juros de forma agressiva - quase que ao mesmo tempo - para tentar mitigar os efeitos recessivos provocados pela crise sanitária. Em seguida, com a força da inflação, tiveram de promover um aperto monetário em conjunto.

Na pandemia, houve uma interrupção das cadeias de produção, o que levou a escassez de produtos e, consequentemente, a um aumento de preços de bens em todo o mundo. Após superada a fase mais aguda da pandemia, a retomada da economia provocou uma alta de preços das commodities, o que agravou ainda mais o quadro inflacionário.

“Essa sincronia econômica foi se perdendo”, afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners. “Hoje, em dia, cada país tem a sua peculiaridade. Estamos falando do Brasil subindo os juros, e os Estados Unidos reduzindo. Temos agora o que é o normal.”

E o impacto para o Brasil?

Em tese, esse alívio no cenário global tende a beneficiar os países emergentes, como o Brasil. Mas, de novo, os cenários locais é que vão dizer como cada economia deve se beneficiar.

“É um cenário bom para economias emergentes. Os juros estão caindo no mundo inteiro, sobretudo nos Estados Unidos. A China está crescendo aos trancos e barranco, mas, agora, tem notícias de um novo estímulo, e os preços de commodities estão em um patamar alto”, diz Sobral. “Mas o Brasil e outros emergentes têm peculiaridades que acabam fazendo com que não se beneficiem desse ciclo.”

No Brasil, há uma grande incerteza com o rumo das contas públicas e o ritmo de endividamento da economia brasileira ao longo dos próximos anos, o que acaba afastando os investidores. No México, há um impasse institucional – o país aprovou uma reforma constitucional que permite a eleição popular de juízes - um caso único no mundo.

BC brasileiro subiu os juros na sua última reunião Foto: Wilton Junior/Estadão

“As moedas, no geral, se valorizaram, as bolsas subiram, os juros caíram. Mas tem muita heterogeneidade e acho que ela está ligada a histórias específicas de cada país”, acrescenta o economista-chefe da Neo Investimentos.

No Brasil, na sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano.

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