Como as mudanças na economia estão transformando o ensino nas universidades e escolas de negócios


Alterações realizadas são muito mais constantes e focadas em fortalecer o ensino em torno da inteligência artificial e análise dados

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

A nova economia tem provocado uma transformação intensa nos cursos de graduação e pós-graduação do País. As mudanças são amplas. Englobam revisões nos conteúdos das grades curriculares, maior preocupação com a sustentabilidade, e fortalecimento de competências - as chamadas soft skills – com o objetivo de preparar os alunos para cargos de lideranças no mundo dos negócios.

Diante desse novo cenário, as escolas passaram a repensar os cursos com muito mais rapidez, e as alterações realizadas são focadas em fortalecer o ensino em torno da análise de dados e inteligência artificial.

“Os cursos precisam ser muito mais renováveis, adaptáveis em relação ao que eram no passado. Antigamente, você conseguia ficar por 10 anos com um mesmo currículo, fazendo adaptações no nível da disciplina. Hoje, é preciso um olhar mais atento para o que está acontecendo”, afirma Guilherme Martins, coordenador executivo da graduação do Insper.

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Na escola, a análise de dados passou a ser um tema transversal em todos os cursos para que o aluno tenha a capacidade de lidar com uma grande base de dados e saiba trabalhar com modelos analíticos usando a inteligência artificial.

“Vários modelos de negócios nascem de um processamento absurdo de dados. O coração de todo curso de graduação é garantir que os alunos saibam trabalhar com dados, a programar. No nosso caso, não só um engenheiro sabe programar. O administrador, o economista e o advogado sabem programar”, afirma Martins. “Quando a gente olha para engenharia, a grade é toda voltada para a nova economia, para a indústria 4.0. Os laboratórios estão preparados para isso.”

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TechLab, do Insper, é utilizado pelo curso de engenharia e voltado para a indústria 4.0 Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

Para manter os cursos de graduação atualizados, o Insper têm um conselho formado por profissionais considerados notáveis e que não são acadêmicos. A missão desse grupo é debater o que é ensinado na sala de aula e qual pode ser a tendência de cada profissão.

O Insper já promoveu um workshop interno com professores para compartilhar experiências e possibilidades de como utilizar do ChatGPT em sala de aula. “Tem até um piloto para usá-lo, para fazer um jogo de negociação. Vai mudar muito. E a gente não pode ficar para trás”, diz David Kallás, coordenador executivo da pós-graduação Lato Sensu.

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A graduação de economia da Universidade de São Paulo promoveu a maior reforma curricular em 15 anos. As mudanças foram aprovadas em 2020 e passaram a valer para os alunos que ingressaram no ano passado. “O curso está se modernizando para incorporar novas habilidades”, afirma Rafael Ferreira, presidente da comissão de graduação do curso de economia da FEA/USP.

Na reforma realizada, a instituição criou e eliminou disciplinas e tornou outras optativas. A aula direito para economistas foi transformada em eletiva. O curso contemplava duas disciplinas de formação econômica e social do Brasil, mas, agora, há apenas uma. “Hoje em dia, a gente também tem uma disciplina obrigatória na qual os alunos aprendem as principais técnicas de programação, algo que não estava no currículo”, afirma Rafael.

A mudança realizada ainda passa por pequenas alterações. Uma das intenções é incorporar disciplinas de outros departamentos da USP para adicionar aulas de machine learning e inteligência artificial. A ideia é que os alunos dos próximos anos já sejam contemplados com essa mudança.

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Na Escola Brasileira de Economia e Finanças, da Fundação Getúlio Vargas (EPGE/FGV), também houve um reforçou do ensino da ciência dos dados aplicada à economia. Um dos objetivos é que os alunos consigam usar uma grande quantidade de informações para precificar o valor de um ativo, por exemplo.

“A ciência está se movendo cada vez mais rapidamente, e você precisa incorporar as mudanças com mais regularidade”, afirma Rubens Penha Cysne, diretor da FGV EPGE. “Na EPGE, fazemos isso constantemente, ouvindo os pesquisadores que nos visitam e quando visitamos outros centros, mas sempre olhando para as questões mais importantes do mercado de trabalho brasileiro, já que ele é responsável por boa parte da contratação dos nossos alunos”, diz.

Nos últimos anos, a EPGE recebeu a visita de 12 vencedores de Prêmio Nobel.

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Aprender a aprender

Com uma economia em constante transformação, cresceu a preocupação para que os alunos deixem a vida acadêmica e consigam aprender por conta própria.

“A coisa mais valiosa que a gente pode entregar para os nossos alunos não é apenas um conteúdo técnico, que é muito importante hoje, também temos o desafio de preparar o jovem para aprender sozinho quando ele precisar”, afirma Gabriela Fonseca, coordenadora do curso de graduação em Economia da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV).

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Nesse contexto, a instituição tem trabalhado bastante com o chamado método ativo, sem giz e lousa. Para melhor aproveitamento, há poucos alunos em sala de aula interagindo com um professor, em busca de soluções para resolver problemas.

Todas essas mudanças levaram a escola a fazer uma “mudança de chave” e a reforçar a formação de competências, como pensamento crítico, liderança para o mundo do trabalho, criatividade para resolver problemas de forma inovadora. “Nós queremos que as pessoas formadas vejam a saída de algo que vem de inteligência artificial, mas que saibam criticar, julgar o que é verídico”, diz Fonseca.

Parcerias das escolas com as empresas

No Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), a criação do Centro de Projetos de Inovação (PI) em meados de 2021 colocou em prática o uso da inteligência artificial para resolver entraves para várias empresas que buscam o conhecimento da instituição.

Para a rede de medicina diagnóstica Dasa, alunos de mestrado e doutorado e pesquisadores do Impa desenvolveram um projeto de imagens fetais, cujo objetivo é calcular o volume de líquido amniótico em grávidas, que pode ser um bom indicativo para as chances de o bebê desenvolver algum tipo de problema.

“Isso já era realizado por médicos, mas desenvolvemos um sistema que faz isso em segundos e que quantifica essa incerteza”, diz Lucas Nissenbaum, cientista de projetos do Impa. “A inteligência artificial é uma área muito grande da matemática, precisa de conhecimento matemático, e há uma demanda alta de profissionais para trabalharem com isso.”

No Impa, Centro Pi desenvolve projetos em parceria com as empresas Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa do IMPA

No próximo ano, o Impa espera dar um passo a mais e oferecer o seu primeiro curso de graduação - uma discussão que se dá há anos na instituição. O instituto terá uma unidade num empreendimento batizado de Porto Maravalley (Pomar), idealizado pela prefeitura do Rio e localizado na região portuária da cidade. “É um centro de inovação em que vão coexistir diversos atores do processo econômico, como empresas, startups, agências de promoção de inovação”, afirma Marcelo Viana, diretor-geral do Impa.

A ideia é que os alunos de graduação tenham um ciclo básico inicial de um ano e meio com disciplinas de matemática, física, ciência da computação e de dados, e humanas. Ao final do período, cada aluno deve escolher a ênfase para o restante do curso. “É uma situação de ganha-ganha. As empresas parceiras podem ter uma mão de obra de altíssimo nível disponível e, para os alunos, é uma formação e uma construção do percurso profissional”, diz Viana.

Veja a nova ênfase dos cursos

  • Programação. Alunos de diferentes cursos e áreas se debruçam sobre o tema para conseguir lidar com uma grande quantidade de dados;
  • Inteligência artificial. Passou a ser incorporada nos debates internos e seu uso nas atividades práticas se tornou mais comum;
  • Caos concreto. Dentro das salas de aula, há um debate maior sobre a busca de soluções para casos concretos de problemas empresariais;
  • Novo perfil. As escolas passaram a trabalhar um perfil mais crítico dos alunos para que eles possam desempenhar um papel de liderança na nova economia e tenham em mente temas atuais importantes, como a sustentabilidade;
  • Autonomia. Com uma economia em plena transformação, há ainda uma preocupação para que o aluno consiga aprender por conta própria.

A nova economia tem provocado uma transformação intensa nos cursos de graduação e pós-graduação do País. As mudanças são amplas. Englobam revisões nos conteúdos das grades curriculares, maior preocupação com a sustentabilidade, e fortalecimento de competências - as chamadas soft skills – com o objetivo de preparar os alunos para cargos de lideranças no mundo dos negócios.

Diante desse novo cenário, as escolas passaram a repensar os cursos com muito mais rapidez, e as alterações realizadas são focadas em fortalecer o ensino em torno da análise de dados e inteligência artificial.

“Os cursos precisam ser muito mais renováveis, adaptáveis em relação ao que eram no passado. Antigamente, você conseguia ficar por 10 anos com um mesmo currículo, fazendo adaptações no nível da disciplina. Hoje, é preciso um olhar mais atento para o que está acontecendo”, afirma Guilherme Martins, coordenador executivo da graduação do Insper.

Na escola, a análise de dados passou a ser um tema transversal em todos os cursos para que o aluno tenha a capacidade de lidar com uma grande base de dados e saiba trabalhar com modelos analíticos usando a inteligência artificial.

“Vários modelos de negócios nascem de um processamento absurdo de dados. O coração de todo curso de graduação é garantir que os alunos saibam trabalhar com dados, a programar. No nosso caso, não só um engenheiro sabe programar. O administrador, o economista e o advogado sabem programar”, afirma Martins. “Quando a gente olha para engenharia, a grade é toda voltada para a nova economia, para a indústria 4.0. Os laboratórios estão preparados para isso.”

TechLab, do Insper, é utilizado pelo curso de engenharia e voltado para a indústria 4.0 Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

Para manter os cursos de graduação atualizados, o Insper têm um conselho formado por profissionais considerados notáveis e que não são acadêmicos. A missão desse grupo é debater o que é ensinado na sala de aula e qual pode ser a tendência de cada profissão.

O Insper já promoveu um workshop interno com professores para compartilhar experiências e possibilidades de como utilizar do ChatGPT em sala de aula. “Tem até um piloto para usá-lo, para fazer um jogo de negociação. Vai mudar muito. E a gente não pode ficar para trás”, diz David Kallás, coordenador executivo da pós-graduação Lato Sensu.

A graduação de economia da Universidade de São Paulo promoveu a maior reforma curricular em 15 anos. As mudanças foram aprovadas em 2020 e passaram a valer para os alunos que ingressaram no ano passado. “O curso está se modernizando para incorporar novas habilidades”, afirma Rafael Ferreira, presidente da comissão de graduação do curso de economia da FEA/USP.

Na reforma realizada, a instituição criou e eliminou disciplinas e tornou outras optativas. A aula direito para economistas foi transformada em eletiva. O curso contemplava duas disciplinas de formação econômica e social do Brasil, mas, agora, há apenas uma. “Hoje em dia, a gente também tem uma disciplina obrigatória na qual os alunos aprendem as principais técnicas de programação, algo que não estava no currículo”, afirma Rafael.

A mudança realizada ainda passa por pequenas alterações. Uma das intenções é incorporar disciplinas de outros departamentos da USP para adicionar aulas de machine learning e inteligência artificial. A ideia é que os alunos dos próximos anos já sejam contemplados com essa mudança.

Na Escola Brasileira de Economia e Finanças, da Fundação Getúlio Vargas (EPGE/FGV), também houve um reforçou do ensino da ciência dos dados aplicada à economia. Um dos objetivos é que os alunos consigam usar uma grande quantidade de informações para precificar o valor de um ativo, por exemplo.

“A ciência está se movendo cada vez mais rapidamente, e você precisa incorporar as mudanças com mais regularidade”, afirma Rubens Penha Cysne, diretor da FGV EPGE. “Na EPGE, fazemos isso constantemente, ouvindo os pesquisadores que nos visitam e quando visitamos outros centros, mas sempre olhando para as questões mais importantes do mercado de trabalho brasileiro, já que ele é responsável por boa parte da contratação dos nossos alunos”, diz.

Nos últimos anos, a EPGE recebeu a visita de 12 vencedores de Prêmio Nobel.

Aprender a aprender

Com uma economia em constante transformação, cresceu a preocupação para que os alunos deixem a vida acadêmica e consigam aprender por conta própria.

“A coisa mais valiosa que a gente pode entregar para os nossos alunos não é apenas um conteúdo técnico, que é muito importante hoje, também temos o desafio de preparar o jovem para aprender sozinho quando ele precisar”, afirma Gabriela Fonseca, coordenadora do curso de graduação em Economia da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV).

Nesse contexto, a instituição tem trabalhado bastante com o chamado método ativo, sem giz e lousa. Para melhor aproveitamento, há poucos alunos em sala de aula interagindo com um professor, em busca de soluções para resolver problemas.

Todas essas mudanças levaram a escola a fazer uma “mudança de chave” e a reforçar a formação de competências, como pensamento crítico, liderança para o mundo do trabalho, criatividade para resolver problemas de forma inovadora. “Nós queremos que as pessoas formadas vejam a saída de algo que vem de inteligência artificial, mas que saibam criticar, julgar o que é verídico”, diz Fonseca.

Parcerias das escolas com as empresas

No Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), a criação do Centro de Projetos de Inovação (PI) em meados de 2021 colocou em prática o uso da inteligência artificial para resolver entraves para várias empresas que buscam o conhecimento da instituição.

Para a rede de medicina diagnóstica Dasa, alunos de mestrado e doutorado e pesquisadores do Impa desenvolveram um projeto de imagens fetais, cujo objetivo é calcular o volume de líquido amniótico em grávidas, que pode ser um bom indicativo para as chances de o bebê desenvolver algum tipo de problema.

“Isso já era realizado por médicos, mas desenvolvemos um sistema que faz isso em segundos e que quantifica essa incerteza”, diz Lucas Nissenbaum, cientista de projetos do Impa. “A inteligência artificial é uma área muito grande da matemática, precisa de conhecimento matemático, e há uma demanda alta de profissionais para trabalharem com isso.”

No Impa, Centro Pi desenvolve projetos em parceria com as empresas Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa do IMPA

No próximo ano, o Impa espera dar um passo a mais e oferecer o seu primeiro curso de graduação - uma discussão que se dá há anos na instituição. O instituto terá uma unidade num empreendimento batizado de Porto Maravalley (Pomar), idealizado pela prefeitura do Rio e localizado na região portuária da cidade. “É um centro de inovação em que vão coexistir diversos atores do processo econômico, como empresas, startups, agências de promoção de inovação”, afirma Marcelo Viana, diretor-geral do Impa.

A ideia é que os alunos de graduação tenham um ciclo básico inicial de um ano e meio com disciplinas de matemática, física, ciência da computação e de dados, e humanas. Ao final do período, cada aluno deve escolher a ênfase para o restante do curso. “É uma situação de ganha-ganha. As empresas parceiras podem ter uma mão de obra de altíssimo nível disponível e, para os alunos, é uma formação e uma construção do percurso profissional”, diz Viana.

Veja a nova ênfase dos cursos

  • Programação. Alunos de diferentes cursos e áreas se debruçam sobre o tema para conseguir lidar com uma grande quantidade de dados;
  • Inteligência artificial. Passou a ser incorporada nos debates internos e seu uso nas atividades práticas se tornou mais comum;
  • Caos concreto. Dentro das salas de aula, há um debate maior sobre a busca de soluções para casos concretos de problemas empresariais;
  • Novo perfil. As escolas passaram a trabalhar um perfil mais crítico dos alunos para que eles possam desempenhar um papel de liderança na nova economia e tenham em mente temas atuais importantes, como a sustentabilidade;
  • Autonomia. Com uma economia em plena transformação, há ainda uma preocupação para que o aluno consiga aprender por conta própria.

A nova economia tem provocado uma transformação intensa nos cursos de graduação e pós-graduação do País. As mudanças são amplas. Englobam revisões nos conteúdos das grades curriculares, maior preocupação com a sustentabilidade, e fortalecimento de competências - as chamadas soft skills – com o objetivo de preparar os alunos para cargos de lideranças no mundo dos negócios.

Diante desse novo cenário, as escolas passaram a repensar os cursos com muito mais rapidez, e as alterações realizadas são focadas em fortalecer o ensino em torno da análise de dados e inteligência artificial.

“Os cursos precisam ser muito mais renováveis, adaptáveis em relação ao que eram no passado. Antigamente, você conseguia ficar por 10 anos com um mesmo currículo, fazendo adaptações no nível da disciplina. Hoje, é preciso um olhar mais atento para o que está acontecendo”, afirma Guilherme Martins, coordenador executivo da graduação do Insper.

Na escola, a análise de dados passou a ser um tema transversal em todos os cursos para que o aluno tenha a capacidade de lidar com uma grande base de dados e saiba trabalhar com modelos analíticos usando a inteligência artificial.

“Vários modelos de negócios nascem de um processamento absurdo de dados. O coração de todo curso de graduação é garantir que os alunos saibam trabalhar com dados, a programar. No nosso caso, não só um engenheiro sabe programar. O administrador, o economista e o advogado sabem programar”, afirma Martins. “Quando a gente olha para engenharia, a grade é toda voltada para a nova economia, para a indústria 4.0. Os laboratórios estão preparados para isso.”

TechLab, do Insper, é utilizado pelo curso de engenharia e voltado para a indústria 4.0 Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

Para manter os cursos de graduação atualizados, o Insper têm um conselho formado por profissionais considerados notáveis e que não são acadêmicos. A missão desse grupo é debater o que é ensinado na sala de aula e qual pode ser a tendência de cada profissão.

O Insper já promoveu um workshop interno com professores para compartilhar experiências e possibilidades de como utilizar do ChatGPT em sala de aula. “Tem até um piloto para usá-lo, para fazer um jogo de negociação. Vai mudar muito. E a gente não pode ficar para trás”, diz David Kallás, coordenador executivo da pós-graduação Lato Sensu.

A graduação de economia da Universidade de São Paulo promoveu a maior reforma curricular em 15 anos. As mudanças foram aprovadas em 2020 e passaram a valer para os alunos que ingressaram no ano passado. “O curso está se modernizando para incorporar novas habilidades”, afirma Rafael Ferreira, presidente da comissão de graduação do curso de economia da FEA/USP.

Na reforma realizada, a instituição criou e eliminou disciplinas e tornou outras optativas. A aula direito para economistas foi transformada em eletiva. O curso contemplava duas disciplinas de formação econômica e social do Brasil, mas, agora, há apenas uma. “Hoje em dia, a gente também tem uma disciplina obrigatória na qual os alunos aprendem as principais técnicas de programação, algo que não estava no currículo”, afirma Rafael.

A mudança realizada ainda passa por pequenas alterações. Uma das intenções é incorporar disciplinas de outros departamentos da USP para adicionar aulas de machine learning e inteligência artificial. A ideia é que os alunos dos próximos anos já sejam contemplados com essa mudança.

Na Escola Brasileira de Economia e Finanças, da Fundação Getúlio Vargas (EPGE/FGV), também houve um reforçou do ensino da ciência dos dados aplicada à economia. Um dos objetivos é que os alunos consigam usar uma grande quantidade de informações para precificar o valor de um ativo, por exemplo.

“A ciência está se movendo cada vez mais rapidamente, e você precisa incorporar as mudanças com mais regularidade”, afirma Rubens Penha Cysne, diretor da FGV EPGE. “Na EPGE, fazemos isso constantemente, ouvindo os pesquisadores que nos visitam e quando visitamos outros centros, mas sempre olhando para as questões mais importantes do mercado de trabalho brasileiro, já que ele é responsável por boa parte da contratação dos nossos alunos”, diz.

Nos últimos anos, a EPGE recebeu a visita de 12 vencedores de Prêmio Nobel.

Aprender a aprender

Com uma economia em constante transformação, cresceu a preocupação para que os alunos deixem a vida acadêmica e consigam aprender por conta própria.

“A coisa mais valiosa que a gente pode entregar para os nossos alunos não é apenas um conteúdo técnico, que é muito importante hoje, também temos o desafio de preparar o jovem para aprender sozinho quando ele precisar”, afirma Gabriela Fonseca, coordenadora do curso de graduação em Economia da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV).

Nesse contexto, a instituição tem trabalhado bastante com o chamado método ativo, sem giz e lousa. Para melhor aproveitamento, há poucos alunos em sala de aula interagindo com um professor, em busca de soluções para resolver problemas.

Todas essas mudanças levaram a escola a fazer uma “mudança de chave” e a reforçar a formação de competências, como pensamento crítico, liderança para o mundo do trabalho, criatividade para resolver problemas de forma inovadora. “Nós queremos que as pessoas formadas vejam a saída de algo que vem de inteligência artificial, mas que saibam criticar, julgar o que é verídico”, diz Fonseca.

Parcerias das escolas com as empresas

No Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), a criação do Centro de Projetos de Inovação (PI) em meados de 2021 colocou em prática o uso da inteligência artificial para resolver entraves para várias empresas que buscam o conhecimento da instituição.

Para a rede de medicina diagnóstica Dasa, alunos de mestrado e doutorado e pesquisadores do Impa desenvolveram um projeto de imagens fetais, cujo objetivo é calcular o volume de líquido amniótico em grávidas, que pode ser um bom indicativo para as chances de o bebê desenvolver algum tipo de problema.

“Isso já era realizado por médicos, mas desenvolvemos um sistema que faz isso em segundos e que quantifica essa incerteza”, diz Lucas Nissenbaum, cientista de projetos do Impa. “A inteligência artificial é uma área muito grande da matemática, precisa de conhecimento matemático, e há uma demanda alta de profissionais para trabalharem com isso.”

No Impa, Centro Pi desenvolve projetos em parceria com as empresas Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa do IMPA

No próximo ano, o Impa espera dar um passo a mais e oferecer o seu primeiro curso de graduação - uma discussão que se dá há anos na instituição. O instituto terá uma unidade num empreendimento batizado de Porto Maravalley (Pomar), idealizado pela prefeitura do Rio e localizado na região portuária da cidade. “É um centro de inovação em que vão coexistir diversos atores do processo econômico, como empresas, startups, agências de promoção de inovação”, afirma Marcelo Viana, diretor-geral do Impa.

A ideia é que os alunos de graduação tenham um ciclo básico inicial de um ano e meio com disciplinas de matemática, física, ciência da computação e de dados, e humanas. Ao final do período, cada aluno deve escolher a ênfase para o restante do curso. “É uma situação de ganha-ganha. As empresas parceiras podem ter uma mão de obra de altíssimo nível disponível e, para os alunos, é uma formação e uma construção do percurso profissional”, diz Viana.

Veja a nova ênfase dos cursos

  • Programação. Alunos de diferentes cursos e áreas se debruçam sobre o tema para conseguir lidar com uma grande quantidade de dados;
  • Inteligência artificial. Passou a ser incorporada nos debates internos e seu uso nas atividades práticas se tornou mais comum;
  • Caos concreto. Dentro das salas de aula, há um debate maior sobre a busca de soluções para casos concretos de problemas empresariais;
  • Novo perfil. As escolas passaram a trabalhar um perfil mais crítico dos alunos para que eles possam desempenhar um papel de liderança na nova economia e tenham em mente temas atuais importantes, como a sustentabilidade;
  • Autonomia. Com uma economia em plena transformação, há ainda uma preocupação para que o aluno consiga aprender por conta própria.

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