Debate sobre teto da dívida emperra no Congresso dos EUA e leva temor ao mercado


Déficit orçamentário do país é estimado em US$ 1,4 trilhão neste ano; sem ampliação do teto, capacidade de o governo obter empréstimos pode se esgotar a partir de julho

Por Aline Bronzati
Atualização:

NOVA YORK - Com o Congresso norte-americano dividido, o impasse em torno das discussões sobre o aumento do teto da dívida dos Estados Unidos deve se estender até o limite, com um desfecho somente após esgotadas as medidas extraordinárias que o Tesouro tem em mãos, o que é esperado para ocorrer entre a segunda metade de julho e o início de agosto. Mais do que uma crise fiscal, o que preocupa Wall Street é o pano de fundo ao imbróglio: a redução do balanço de ativos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), como parte do processo de aperto monetário em curso no país, que poderia respingar no sistema bancário. Há ainda os eventuais impactos econômicos, em meio à incógnita de uma recessão à vista.

O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), que é uma entidade apartidária, alertou esta semana para o risco de os EUA entrarem em default no verão do Hemisfério Norte pela primeira vez na história, caso o teto da dívida não seja ampliado. Conforme suas projeções, o déficit orçamentário dos EUA será de US$ 1,4 trilhão neste ano. Se nada for feito, a capacidade de o governo norte-americano obter empréstimos por meio de medidas extraordinárias deve se esgotar entre julho e setembro, na visão do CBO.

Elevado pela última vez em dezembro do ano passado, o teto da dívida dos EUA atingiu o limite de US$ 31,4 trilhões em 19 de janeiro. Desde então, o Tesouro norte-americano passou a adotar medidas extraordinárias para tomar empréstimos e continuar honrando suas obrigações sem violar o teto da dívida. A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse que o espaço para manobras se esgota em junho ou imediatamente depois e tem alertado para os riscos caso nada seja feito. Segundo ela, um default nas dívidas dos EUA pode levar a maior economia do mundo a “uma catástrofe”.

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Apesar de esse risco não ser descartado, não é o cenário base considerado por Wall Street. O que mais preocupa, conforme economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, é o desenrolar das discussões para que se evite uma crise fiscal nos EUA sob dois aspectos: o prazo para um desfecho e, em paralelo, o aperto monetário do Fed para voltar a inflação de volta à meta de 2% ao ano.

O economista sênior do UBS para os EUA, Pablo Villanueva, avalia que mais importante do que o risco de o Congresso não caminhar para uma solução, é o cenário por trás do impasse e que torna a discussão mais importante do que em episódios anteriores. Segundo ele, a redução do balanço de ativos do Fed (QT, na sigla em inglês), como parte do processo de aperto monetário em curso nos EUA, ao mesmo tempo em que o Tesouro reduz o seu caixa para honrar os compromissos dos EUA, coloca pressão sobre as reservas bancárias norte-americanas.

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Redução do balanço de ativos do Fed no processo de aperto monetário, enquanto Tesouro reduz seu caixa para honrar compromissos, coloca pressão sobre as reservas bancárias norte-americanas.  Foto: Jason Reed/Reuters

“Estamos mais preocupados com essas possibilidades, quando o Tesouro faz isso [consome caixa]... E, em um curto período de tempo, certamente, não há muito mais reservas e o Fed continuará com a redução do balanço e isso levará a um tipo de estresse nos mercados de financiamento”, diz Villanueva, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

De acordo com ele, o risco de um estresse no sistema financeiro é maior do que o Congresso não aprovar uma solução para o impasse da dívida norte-americana. O especialista espera ainda que o limite para um desfecho, a chamada x-date, seja a segunda metade de julho.

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O economista do BNP Paribas para os EUA, Andy Schneider, diz que, diante de um Congresso dividido, com os republicanos controlando a Câmara dos Representantes como resultado das eleições de meio de mandato, as midterms, uma solução deve aparecer somente na última hora. Sob a ótica política, ele não vê, porém, um cenário tão ruim quanto em 2011, quando os EUA ficaram à beira de um default. Na ocasião, em que os republicanos também estavam à frente da Câmara, a agência de classificação de risco S&P chegou a rebaixar o rating do país pela primeira vez na história.

“O partido Republicano ganhou a Câmara, mas têm uma maioria muito menor do que o projetado e do que em 2011. Então, o que isso significa? Bem, isso significa que eles não têm necessariamente tanto poder de negociação... E os democratas podem ter uma mente um pouco mais aberta para uma consolidação fiscal após a covid e a inflação resultante”, explica Schneider, ao Broadcast.

O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, iniciaram as discussões presenciais sobre o teto da dívida no começo do mês. Ambos deixaram o encontro com sinalizações de um “terreno comum”, nas palavras do republicano.

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Assim como Yellen, Biden tem dito que um calote seria uma catástrofe e que a economia dos EUA seria “jogada no caos”. O chefe da Casa Branca acusa ainda os republicanos de tentarem tomar a economia norte-americana como refém em troca da aprovação de seu plano econômico. Durante discurso do Estado da União, na semana passada, Biden disse que o seu plano fiscal reduzirá o déficit do país em US$ 2 trilhões, mas não cortará benefícios sociais e de saúde, e pediu que os republicanos também apresentem sua proposta. “Deixei claro no [discurso do] Estado da União que não vou negociar se pagamos ou não nossa dívida. Não permitirei que esta nação seja inadimplente”, disse, esta semana.

Por sua vez, o presidente do Fed, Jerome Powell, tem alertado que a autoridade não poderá proteger a economia dos EUA sem o aumento do teto da dívida. Para ele, existe só “um caminho a ser seguido” e qualquer alternativa à elevação do limite seria “altamente arriscada”.

Para além de eventuais impactos econômicos, em meio aos temores ainda presentes de uma possível recessão à frente, Wall Street teme os reflexos dos desdobramentos em torno do teto da dívida norte-americana nos mercados financeiros já bastante voláteis diante da subida de juros nos EUA. Dados que apontam uma economia mais forte que o esperado no início deste ano fizeram com que bancos como Goldman Sachs, UBS, Credit Suisse e Bank of America adicionassem mais altas de juros em suas previsões, estendendo o processo de aperto monetário do Fed até junho - antes um último aumento era previsto para março ou maio.

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“Tem um risco muito maior, a nosso ver, para os mercados financeiros... Para a confiança nos negócios. Vimos em 2011 o que aconteceu com a confiança do consumidor quando o rating dos EUA foi rebaixado porque quase chegamos perto de violar o teto da dívida. Não acho que realmente fizemos certo”, avalia o economista do Bank of America para os EUA, Stephen Juneau, em entrevista ao Broadcast.

Para ele, há “risco material” de os EUA romperem com o teto da dívida agora até mais elevado do que em 2011, mas caso ocorra seria “um grande choque”. No fim do dia, as coisas acontecem apesar do “barulho”, diz o economista, esperançoso de que um novo limite seja aprovado e o impasse superado.

NOVA YORK - Com o Congresso norte-americano dividido, o impasse em torno das discussões sobre o aumento do teto da dívida dos Estados Unidos deve se estender até o limite, com um desfecho somente após esgotadas as medidas extraordinárias que o Tesouro tem em mãos, o que é esperado para ocorrer entre a segunda metade de julho e o início de agosto. Mais do que uma crise fiscal, o que preocupa Wall Street é o pano de fundo ao imbróglio: a redução do balanço de ativos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), como parte do processo de aperto monetário em curso no país, que poderia respingar no sistema bancário. Há ainda os eventuais impactos econômicos, em meio à incógnita de uma recessão à vista.

O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), que é uma entidade apartidária, alertou esta semana para o risco de os EUA entrarem em default no verão do Hemisfério Norte pela primeira vez na história, caso o teto da dívida não seja ampliado. Conforme suas projeções, o déficit orçamentário dos EUA será de US$ 1,4 trilhão neste ano. Se nada for feito, a capacidade de o governo norte-americano obter empréstimos por meio de medidas extraordinárias deve se esgotar entre julho e setembro, na visão do CBO.

Elevado pela última vez em dezembro do ano passado, o teto da dívida dos EUA atingiu o limite de US$ 31,4 trilhões em 19 de janeiro. Desde então, o Tesouro norte-americano passou a adotar medidas extraordinárias para tomar empréstimos e continuar honrando suas obrigações sem violar o teto da dívida. A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse que o espaço para manobras se esgota em junho ou imediatamente depois e tem alertado para os riscos caso nada seja feito. Segundo ela, um default nas dívidas dos EUA pode levar a maior economia do mundo a “uma catástrofe”.

Apesar de esse risco não ser descartado, não é o cenário base considerado por Wall Street. O que mais preocupa, conforme economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, é o desenrolar das discussões para que se evite uma crise fiscal nos EUA sob dois aspectos: o prazo para um desfecho e, em paralelo, o aperto monetário do Fed para voltar a inflação de volta à meta de 2% ao ano.

O economista sênior do UBS para os EUA, Pablo Villanueva, avalia que mais importante do que o risco de o Congresso não caminhar para uma solução, é o cenário por trás do impasse e que torna a discussão mais importante do que em episódios anteriores. Segundo ele, a redução do balanço de ativos do Fed (QT, na sigla em inglês), como parte do processo de aperto monetário em curso nos EUA, ao mesmo tempo em que o Tesouro reduz o seu caixa para honrar os compromissos dos EUA, coloca pressão sobre as reservas bancárias norte-americanas.

Redução do balanço de ativos do Fed no processo de aperto monetário, enquanto Tesouro reduz seu caixa para honrar compromissos, coloca pressão sobre as reservas bancárias norte-americanas.  Foto: Jason Reed/Reuters

“Estamos mais preocupados com essas possibilidades, quando o Tesouro faz isso [consome caixa]... E, em um curto período de tempo, certamente, não há muito mais reservas e o Fed continuará com a redução do balanço e isso levará a um tipo de estresse nos mercados de financiamento”, diz Villanueva, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

De acordo com ele, o risco de um estresse no sistema financeiro é maior do que o Congresso não aprovar uma solução para o impasse da dívida norte-americana. O especialista espera ainda que o limite para um desfecho, a chamada x-date, seja a segunda metade de julho.

O economista do BNP Paribas para os EUA, Andy Schneider, diz que, diante de um Congresso dividido, com os republicanos controlando a Câmara dos Representantes como resultado das eleições de meio de mandato, as midterms, uma solução deve aparecer somente na última hora. Sob a ótica política, ele não vê, porém, um cenário tão ruim quanto em 2011, quando os EUA ficaram à beira de um default. Na ocasião, em que os republicanos também estavam à frente da Câmara, a agência de classificação de risco S&P chegou a rebaixar o rating do país pela primeira vez na história.

“O partido Republicano ganhou a Câmara, mas têm uma maioria muito menor do que o projetado e do que em 2011. Então, o que isso significa? Bem, isso significa que eles não têm necessariamente tanto poder de negociação... E os democratas podem ter uma mente um pouco mais aberta para uma consolidação fiscal após a covid e a inflação resultante”, explica Schneider, ao Broadcast.

O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, iniciaram as discussões presenciais sobre o teto da dívida no começo do mês. Ambos deixaram o encontro com sinalizações de um “terreno comum”, nas palavras do republicano.

Assim como Yellen, Biden tem dito que um calote seria uma catástrofe e que a economia dos EUA seria “jogada no caos”. O chefe da Casa Branca acusa ainda os republicanos de tentarem tomar a economia norte-americana como refém em troca da aprovação de seu plano econômico. Durante discurso do Estado da União, na semana passada, Biden disse que o seu plano fiscal reduzirá o déficit do país em US$ 2 trilhões, mas não cortará benefícios sociais e de saúde, e pediu que os republicanos também apresentem sua proposta. “Deixei claro no [discurso do] Estado da União que não vou negociar se pagamos ou não nossa dívida. Não permitirei que esta nação seja inadimplente”, disse, esta semana.

Por sua vez, o presidente do Fed, Jerome Powell, tem alertado que a autoridade não poderá proteger a economia dos EUA sem o aumento do teto da dívida. Para ele, existe só “um caminho a ser seguido” e qualquer alternativa à elevação do limite seria “altamente arriscada”.

Para além de eventuais impactos econômicos, em meio aos temores ainda presentes de uma possível recessão à frente, Wall Street teme os reflexos dos desdobramentos em torno do teto da dívida norte-americana nos mercados financeiros já bastante voláteis diante da subida de juros nos EUA. Dados que apontam uma economia mais forte que o esperado no início deste ano fizeram com que bancos como Goldman Sachs, UBS, Credit Suisse e Bank of America adicionassem mais altas de juros em suas previsões, estendendo o processo de aperto monetário do Fed até junho - antes um último aumento era previsto para março ou maio.

“Tem um risco muito maior, a nosso ver, para os mercados financeiros... Para a confiança nos negócios. Vimos em 2011 o que aconteceu com a confiança do consumidor quando o rating dos EUA foi rebaixado porque quase chegamos perto de violar o teto da dívida. Não acho que realmente fizemos certo”, avalia o economista do Bank of America para os EUA, Stephen Juneau, em entrevista ao Broadcast.

Para ele, há “risco material” de os EUA romperem com o teto da dívida agora até mais elevado do que em 2011, mas caso ocorra seria “um grande choque”. No fim do dia, as coisas acontecem apesar do “barulho”, diz o economista, esperançoso de que um novo limite seja aprovado e o impasse superado.

NOVA YORK - Com o Congresso norte-americano dividido, o impasse em torno das discussões sobre o aumento do teto da dívida dos Estados Unidos deve se estender até o limite, com um desfecho somente após esgotadas as medidas extraordinárias que o Tesouro tem em mãos, o que é esperado para ocorrer entre a segunda metade de julho e o início de agosto. Mais do que uma crise fiscal, o que preocupa Wall Street é o pano de fundo ao imbróglio: a redução do balanço de ativos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), como parte do processo de aperto monetário em curso no país, que poderia respingar no sistema bancário. Há ainda os eventuais impactos econômicos, em meio à incógnita de uma recessão à vista.

O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), que é uma entidade apartidária, alertou esta semana para o risco de os EUA entrarem em default no verão do Hemisfério Norte pela primeira vez na história, caso o teto da dívida não seja ampliado. Conforme suas projeções, o déficit orçamentário dos EUA será de US$ 1,4 trilhão neste ano. Se nada for feito, a capacidade de o governo norte-americano obter empréstimos por meio de medidas extraordinárias deve se esgotar entre julho e setembro, na visão do CBO.

Elevado pela última vez em dezembro do ano passado, o teto da dívida dos EUA atingiu o limite de US$ 31,4 trilhões em 19 de janeiro. Desde então, o Tesouro norte-americano passou a adotar medidas extraordinárias para tomar empréstimos e continuar honrando suas obrigações sem violar o teto da dívida. A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse que o espaço para manobras se esgota em junho ou imediatamente depois e tem alertado para os riscos caso nada seja feito. Segundo ela, um default nas dívidas dos EUA pode levar a maior economia do mundo a “uma catástrofe”.

Apesar de esse risco não ser descartado, não é o cenário base considerado por Wall Street. O que mais preocupa, conforme economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, é o desenrolar das discussões para que se evite uma crise fiscal nos EUA sob dois aspectos: o prazo para um desfecho e, em paralelo, o aperto monetário do Fed para voltar a inflação de volta à meta de 2% ao ano.

O economista sênior do UBS para os EUA, Pablo Villanueva, avalia que mais importante do que o risco de o Congresso não caminhar para uma solução, é o cenário por trás do impasse e que torna a discussão mais importante do que em episódios anteriores. Segundo ele, a redução do balanço de ativos do Fed (QT, na sigla em inglês), como parte do processo de aperto monetário em curso nos EUA, ao mesmo tempo em que o Tesouro reduz o seu caixa para honrar os compromissos dos EUA, coloca pressão sobre as reservas bancárias norte-americanas.

Redução do balanço de ativos do Fed no processo de aperto monetário, enquanto Tesouro reduz seu caixa para honrar compromissos, coloca pressão sobre as reservas bancárias norte-americanas.  Foto: Jason Reed/Reuters

“Estamos mais preocupados com essas possibilidades, quando o Tesouro faz isso [consome caixa]... E, em um curto período de tempo, certamente, não há muito mais reservas e o Fed continuará com a redução do balanço e isso levará a um tipo de estresse nos mercados de financiamento”, diz Villanueva, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

De acordo com ele, o risco de um estresse no sistema financeiro é maior do que o Congresso não aprovar uma solução para o impasse da dívida norte-americana. O especialista espera ainda que o limite para um desfecho, a chamada x-date, seja a segunda metade de julho.

O economista do BNP Paribas para os EUA, Andy Schneider, diz que, diante de um Congresso dividido, com os republicanos controlando a Câmara dos Representantes como resultado das eleições de meio de mandato, as midterms, uma solução deve aparecer somente na última hora. Sob a ótica política, ele não vê, porém, um cenário tão ruim quanto em 2011, quando os EUA ficaram à beira de um default. Na ocasião, em que os republicanos também estavam à frente da Câmara, a agência de classificação de risco S&P chegou a rebaixar o rating do país pela primeira vez na história.

“O partido Republicano ganhou a Câmara, mas têm uma maioria muito menor do que o projetado e do que em 2011. Então, o que isso significa? Bem, isso significa que eles não têm necessariamente tanto poder de negociação... E os democratas podem ter uma mente um pouco mais aberta para uma consolidação fiscal após a covid e a inflação resultante”, explica Schneider, ao Broadcast.

O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, iniciaram as discussões presenciais sobre o teto da dívida no começo do mês. Ambos deixaram o encontro com sinalizações de um “terreno comum”, nas palavras do republicano.

Assim como Yellen, Biden tem dito que um calote seria uma catástrofe e que a economia dos EUA seria “jogada no caos”. O chefe da Casa Branca acusa ainda os republicanos de tentarem tomar a economia norte-americana como refém em troca da aprovação de seu plano econômico. Durante discurso do Estado da União, na semana passada, Biden disse que o seu plano fiscal reduzirá o déficit do país em US$ 2 trilhões, mas não cortará benefícios sociais e de saúde, e pediu que os republicanos também apresentem sua proposta. “Deixei claro no [discurso do] Estado da União que não vou negociar se pagamos ou não nossa dívida. Não permitirei que esta nação seja inadimplente”, disse, esta semana.

Por sua vez, o presidente do Fed, Jerome Powell, tem alertado que a autoridade não poderá proteger a economia dos EUA sem o aumento do teto da dívida. Para ele, existe só “um caminho a ser seguido” e qualquer alternativa à elevação do limite seria “altamente arriscada”.

Para além de eventuais impactos econômicos, em meio aos temores ainda presentes de uma possível recessão à frente, Wall Street teme os reflexos dos desdobramentos em torno do teto da dívida norte-americana nos mercados financeiros já bastante voláteis diante da subida de juros nos EUA. Dados que apontam uma economia mais forte que o esperado no início deste ano fizeram com que bancos como Goldman Sachs, UBS, Credit Suisse e Bank of America adicionassem mais altas de juros em suas previsões, estendendo o processo de aperto monetário do Fed até junho - antes um último aumento era previsto para março ou maio.

“Tem um risco muito maior, a nosso ver, para os mercados financeiros... Para a confiança nos negócios. Vimos em 2011 o que aconteceu com a confiança do consumidor quando o rating dos EUA foi rebaixado porque quase chegamos perto de violar o teto da dívida. Não acho que realmente fizemos certo”, avalia o economista do Bank of America para os EUA, Stephen Juneau, em entrevista ao Broadcast.

Para ele, há “risco material” de os EUA romperem com o teto da dívida agora até mais elevado do que em 2011, mas caso ocorra seria “um grande choque”. No fim do dia, as coisas acontecem apesar do “barulho”, diz o economista, esperançoso de que um novo limite seja aprovado e o impasse superado.

NOVA YORK - Com o Congresso norte-americano dividido, o impasse em torno das discussões sobre o aumento do teto da dívida dos Estados Unidos deve se estender até o limite, com um desfecho somente após esgotadas as medidas extraordinárias que o Tesouro tem em mãos, o que é esperado para ocorrer entre a segunda metade de julho e o início de agosto. Mais do que uma crise fiscal, o que preocupa Wall Street é o pano de fundo ao imbróglio: a redução do balanço de ativos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), como parte do processo de aperto monetário em curso no país, que poderia respingar no sistema bancário. Há ainda os eventuais impactos econômicos, em meio à incógnita de uma recessão à vista.

O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), que é uma entidade apartidária, alertou esta semana para o risco de os EUA entrarem em default no verão do Hemisfério Norte pela primeira vez na história, caso o teto da dívida não seja ampliado. Conforme suas projeções, o déficit orçamentário dos EUA será de US$ 1,4 trilhão neste ano. Se nada for feito, a capacidade de o governo norte-americano obter empréstimos por meio de medidas extraordinárias deve se esgotar entre julho e setembro, na visão do CBO.

Elevado pela última vez em dezembro do ano passado, o teto da dívida dos EUA atingiu o limite de US$ 31,4 trilhões em 19 de janeiro. Desde então, o Tesouro norte-americano passou a adotar medidas extraordinárias para tomar empréstimos e continuar honrando suas obrigações sem violar o teto da dívida. A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse que o espaço para manobras se esgota em junho ou imediatamente depois e tem alertado para os riscos caso nada seja feito. Segundo ela, um default nas dívidas dos EUA pode levar a maior economia do mundo a “uma catástrofe”.

Apesar de esse risco não ser descartado, não é o cenário base considerado por Wall Street. O que mais preocupa, conforme economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, é o desenrolar das discussões para que se evite uma crise fiscal nos EUA sob dois aspectos: o prazo para um desfecho e, em paralelo, o aperto monetário do Fed para voltar a inflação de volta à meta de 2% ao ano.

O economista sênior do UBS para os EUA, Pablo Villanueva, avalia que mais importante do que o risco de o Congresso não caminhar para uma solução, é o cenário por trás do impasse e que torna a discussão mais importante do que em episódios anteriores. Segundo ele, a redução do balanço de ativos do Fed (QT, na sigla em inglês), como parte do processo de aperto monetário em curso nos EUA, ao mesmo tempo em que o Tesouro reduz o seu caixa para honrar os compromissos dos EUA, coloca pressão sobre as reservas bancárias norte-americanas.

Redução do balanço de ativos do Fed no processo de aperto monetário, enquanto Tesouro reduz seu caixa para honrar compromissos, coloca pressão sobre as reservas bancárias norte-americanas.  Foto: Jason Reed/Reuters

“Estamos mais preocupados com essas possibilidades, quando o Tesouro faz isso [consome caixa]... E, em um curto período de tempo, certamente, não há muito mais reservas e o Fed continuará com a redução do balanço e isso levará a um tipo de estresse nos mercados de financiamento”, diz Villanueva, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

De acordo com ele, o risco de um estresse no sistema financeiro é maior do que o Congresso não aprovar uma solução para o impasse da dívida norte-americana. O especialista espera ainda que o limite para um desfecho, a chamada x-date, seja a segunda metade de julho.

O economista do BNP Paribas para os EUA, Andy Schneider, diz que, diante de um Congresso dividido, com os republicanos controlando a Câmara dos Representantes como resultado das eleições de meio de mandato, as midterms, uma solução deve aparecer somente na última hora. Sob a ótica política, ele não vê, porém, um cenário tão ruim quanto em 2011, quando os EUA ficaram à beira de um default. Na ocasião, em que os republicanos também estavam à frente da Câmara, a agência de classificação de risco S&P chegou a rebaixar o rating do país pela primeira vez na história.

“O partido Republicano ganhou a Câmara, mas têm uma maioria muito menor do que o projetado e do que em 2011. Então, o que isso significa? Bem, isso significa que eles não têm necessariamente tanto poder de negociação... E os democratas podem ter uma mente um pouco mais aberta para uma consolidação fiscal após a covid e a inflação resultante”, explica Schneider, ao Broadcast.

O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, iniciaram as discussões presenciais sobre o teto da dívida no começo do mês. Ambos deixaram o encontro com sinalizações de um “terreno comum”, nas palavras do republicano.

Assim como Yellen, Biden tem dito que um calote seria uma catástrofe e que a economia dos EUA seria “jogada no caos”. O chefe da Casa Branca acusa ainda os republicanos de tentarem tomar a economia norte-americana como refém em troca da aprovação de seu plano econômico. Durante discurso do Estado da União, na semana passada, Biden disse que o seu plano fiscal reduzirá o déficit do país em US$ 2 trilhões, mas não cortará benefícios sociais e de saúde, e pediu que os republicanos também apresentem sua proposta. “Deixei claro no [discurso do] Estado da União que não vou negociar se pagamos ou não nossa dívida. Não permitirei que esta nação seja inadimplente”, disse, esta semana.

Por sua vez, o presidente do Fed, Jerome Powell, tem alertado que a autoridade não poderá proteger a economia dos EUA sem o aumento do teto da dívida. Para ele, existe só “um caminho a ser seguido” e qualquer alternativa à elevação do limite seria “altamente arriscada”.

Para além de eventuais impactos econômicos, em meio aos temores ainda presentes de uma possível recessão à frente, Wall Street teme os reflexos dos desdobramentos em torno do teto da dívida norte-americana nos mercados financeiros já bastante voláteis diante da subida de juros nos EUA. Dados que apontam uma economia mais forte que o esperado no início deste ano fizeram com que bancos como Goldman Sachs, UBS, Credit Suisse e Bank of America adicionassem mais altas de juros em suas previsões, estendendo o processo de aperto monetário do Fed até junho - antes um último aumento era previsto para março ou maio.

“Tem um risco muito maior, a nosso ver, para os mercados financeiros... Para a confiança nos negócios. Vimos em 2011 o que aconteceu com a confiança do consumidor quando o rating dos EUA foi rebaixado porque quase chegamos perto de violar o teto da dívida. Não acho que realmente fizemos certo”, avalia o economista do Bank of America para os EUA, Stephen Juneau, em entrevista ao Broadcast.

Para ele, há “risco material” de os EUA romperem com o teto da dívida agora até mais elevado do que em 2011, mas caso ocorra seria “um grande choque”. No fim do dia, as coisas acontecem apesar do “barulho”, diz o economista, esperançoso de que um novo limite seja aprovado e o impasse superado.

NOVA YORK - Com o Congresso norte-americano dividido, o impasse em torno das discussões sobre o aumento do teto da dívida dos Estados Unidos deve se estender até o limite, com um desfecho somente após esgotadas as medidas extraordinárias que o Tesouro tem em mãos, o que é esperado para ocorrer entre a segunda metade de julho e o início de agosto. Mais do que uma crise fiscal, o que preocupa Wall Street é o pano de fundo ao imbróglio: a redução do balanço de ativos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), como parte do processo de aperto monetário em curso no país, que poderia respingar no sistema bancário. Há ainda os eventuais impactos econômicos, em meio à incógnita de uma recessão à vista.

O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), que é uma entidade apartidária, alertou esta semana para o risco de os EUA entrarem em default no verão do Hemisfério Norte pela primeira vez na história, caso o teto da dívida não seja ampliado. Conforme suas projeções, o déficit orçamentário dos EUA será de US$ 1,4 trilhão neste ano. Se nada for feito, a capacidade de o governo norte-americano obter empréstimos por meio de medidas extraordinárias deve se esgotar entre julho e setembro, na visão do CBO.

Elevado pela última vez em dezembro do ano passado, o teto da dívida dos EUA atingiu o limite de US$ 31,4 trilhões em 19 de janeiro. Desde então, o Tesouro norte-americano passou a adotar medidas extraordinárias para tomar empréstimos e continuar honrando suas obrigações sem violar o teto da dívida. A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse que o espaço para manobras se esgota em junho ou imediatamente depois e tem alertado para os riscos caso nada seja feito. Segundo ela, um default nas dívidas dos EUA pode levar a maior economia do mundo a “uma catástrofe”.

Apesar de esse risco não ser descartado, não é o cenário base considerado por Wall Street. O que mais preocupa, conforme economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, é o desenrolar das discussões para que se evite uma crise fiscal nos EUA sob dois aspectos: o prazo para um desfecho e, em paralelo, o aperto monetário do Fed para voltar a inflação de volta à meta de 2% ao ano.

O economista sênior do UBS para os EUA, Pablo Villanueva, avalia que mais importante do que o risco de o Congresso não caminhar para uma solução, é o cenário por trás do impasse e que torna a discussão mais importante do que em episódios anteriores. Segundo ele, a redução do balanço de ativos do Fed (QT, na sigla em inglês), como parte do processo de aperto monetário em curso nos EUA, ao mesmo tempo em que o Tesouro reduz o seu caixa para honrar os compromissos dos EUA, coloca pressão sobre as reservas bancárias norte-americanas.

Redução do balanço de ativos do Fed no processo de aperto monetário, enquanto Tesouro reduz seu caixa para honrar compromissos, coloca pressão sobre as reservas bancárias norte-americanas.  Foto: Jason Reed/Reuters

“Estamos mais preocupados com essas possibilidades, quando o Tesouro faz isso [consome caixa]... E, em um curto período de tempo, certamente, não há muito mais reservas e o Fed continuará com a redução do balanço e isso levará a um tipo de estresse nos mercados de financiamento”, diz Villanueva, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

De acordo com ele, o risco de um estresse no sistema financeiro é maior do que o Congresso não aprovar uma solução para o impasse da dívida norte-americana. O especialista espera ainda que o limite para um desfecho, a chamada x-date, seja a segunda metade de julho.

O economista do BNP Paribas para os EUA, Andy Schneider, diz que, diante de um Congresso dividido, com os republicanos controlando a Câmara dos Representantes como resultado das eleições de meio de mandato, as midterms, uma solução deve aparecer somente na última hora. Sob a ótica política, ele não vê, porém, um cenário tão ruim quanto em 2011, quando os EUA ficaram à beira de um default. Na ocasião, em que os republicanos também estavam à frente da Câmara, a agência de classificação de risco S&P chegou a rebaixar o rating do país pela primeira vez na história.

“O partido Republicano ganhou a Câmara, mas têm uma maioria muito menor do que o projetado e do que em 2011. Então, o que isso significa? Bem, isso significa que eles não têm necessariamente tanto poder de negociação... E os democratas podem ter uma mente um pouco mais aberta para uma consolidação fiscal após a covid e a inflação resultante”, explica Schneider, ao Broadcast.

O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, iniciaram as discussões presenciais sobre o teto da dívida no começo do mês. Ambos deixaram o encontro com sinalizações de um “terreno comum”, nas palavras do republicano.

Assim como Yellen, Biden tem dito que um calote seria uma catástrofe e que a economia dos EUA seria “jogada no caos”. O chefe da Casa Branca acusa ainda os republicanos de tentarem tomar a economia norte-americana como refém em troca da aprovação de seu plano econômico. Durante discurso do Estado da União, na semana passada, Biden disse que o seu plano fiscal reduzirá o déficit do país em US$ 2 trilhões, mas não cortará benefícios sociais e de saúde, e pediu que os republicanos também apresentem sua proposta. “Deixei claro no [discurso do] Estado da União que não vou negociar se pagamos ou não nossa dívida. Não permitirei que esta nação seja inadimplente”, disse, esta semana.

Por sua vez, o presidente do Fed, Jerome Powell, tem alertado que a autoridade não poderá proteger a economia dos EUA sem o aumento do teto da dívida. Para ele, existe só “um caminho a ser seguido” e qualquer alternativa à elevação do limite seria “altamente arriscada”.

Para além de eventuais impactos econômicos, em meio aos temores ainda presentes de uma possível recessão à frente, Wall Street teme os reflexos dos desdobramentos em torno do teto da dívida norte-americana nos mercados financeiros já bastante voláteis diante da subida de juros nos EUA. Dados que apontam uma economia mais forte que o esperado no início deste ano fizeram com que bancos como Goldman Sachs, UBS, Credit Suisse e Bank of America adicionassem mais altas de juros em suas previsões, estendendo o processo de aperto monetário do Fed até junho - antes um último aumento era previsto para março ou maio.

“Tem um risco muito maior, a nosso ver, para os mercados financeiros... Para a confiança nos negócios. Vimos em 2011 o que aconteceu com a confiança do consumidor quando o rating dos EUA foi rebaixado porque quase chegamos perto de violar o teto da dívida. Não acho que realmente fizemos certo”, avalia o economista do Bank of America para os EUA, Stephen Juneau, em entrevista ao Broadcast.

Para ele, há “risco material” de os EUA romperem com o teto da dívida agora até mais elevado do que em 2011, mas caso ocorra seria “um grande choque”. No fim do dia, as coisas acontecem apesar do “barulho”, diz o economista, esperançoso de que um novo limite seja aprovado e o impasse superado.

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