Consórcios vão agora dos drones à cirurgia plástica, atraem grandes bancos e têm boom de vendas


Subutilizado, produto vem sendo turbinado com campanhas publicitárias, prêmios, alongamento de prazos e entrada em novos segmentos; tentativa é compensar perdas de receitas provocadas pelo avanço dos bancos digitais e do Pix

Por Márcia De Chiara
Atualização:

Grandes bancos comerciais redescobriram os consórcios e estão turbinando o mercado dessa espécie de “vaquinha” organizada, uma invenção brasileira que completa 60 anos, usada hoje para comprar de tudo. Os grupos de autofinanciamento vão de imóveis, veículos, tratores, drones, equipamentos para jogos eletrônicos a serviços, como cirurgia plástica, por exemplo. Com isso, as vendas do setor encerraram o primeiro semestre com o melhor desempenho dos últimos dez anos.

Entre janeiro e junho, foram comercializadas 1,850 milhão de novas cotas, com crescimento de 12,1% ante o mesmo período de 2021, apontam dados da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (Abac). “O desempenho do primeiro semestre equivale a mais da metade (62%) do que foi vendido no ano passado inteiro”, afirma Edna Maria Honorato, presidente do Conselho da Abac e diretora-executiva do Consórcio Magalu.

Leia dos Santos, contadora, contratou consórcio para arcar com honorários advocatícios Foto: Marcelo Chello/Estadão
continua após a publicidade

Esse aumento expressivo resulta, segundo a executiva, de uma combinação de fatores. São as altas taxas de juros cobradas no financiamento – o concorrente direto do consórcio –, o avanço da educação financeira entre os consumidores que não conseguem poupar e o fato de várias instituições financeiras terem entrando nesse mercado de forma mais assertiva.

Os cinco grandes bancos do País – Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Caixa e Banco do Brasil – têm demonstrado maior apetite pelo consórcio, com campanhas específicas mostrando os benefícios, patrocinando eventos, fazendo sorteios, passando a atuar em novos segmentos e alongando prazos de pagamento também.

“Anteriormente, o jeito que os bancos vendiam consórcio era muito goela abaixo”, lembra Pablo Alencar, diretor da corretora Valor Capital. O cliente ia fazer uma outra operação bancária e acabava levando, em contrapartida, também um consórcio.

continua após a publicidade

No entanto, quando os bancos começaram a perder receita com serviços por causa do avanço das fintechs e do Pix, eles saíram em busca de compensação em outros mercados, explica Alencar. E o consórcio foi um dos caminhos encontrados.

Ele pondera que os “bancões” já estavam muito bem posicionados nesse setor, porém viram que o consórcio era subutilizado. Isso ocorreu especialmente num momento em que a taxa básica de juros (Selic) – o parâmetro das operações de crédito – está no maior nível dos últimos anos (13,75% ano). E o brasileiro está endividado ou inadimplente e tem dificuldade de obter financiamento. “Foi a tempestade perfeita para impulsionar o consórcio”, resume o executivo.

continua após a publicidade

Sorteios e publicidade para atrair consumidores

Líder do setor em número de consorciados e há 19 anos nesse mercado, o Bradesco, por exemplo, pela primeira vez está sorteando um crédito de R$ 200 mil entre os que compraram cotas do seu consórcio nos últimos dois meses. “Este ano intensificamos a mídia mais até pelo momento da Selic elevada e para apresentar o consórcio como uma solução”, afirma o diretor do consórcio Bradesco, Henrique Fernandes.

continua após a publicidade

A iniciativa veio depois de o banco ter encerrado o primeiro semestre com crescimento de 15% na quantidade de novas cotas vendidas ante o mesmo período de 2021. O diretor diz que foi um dos melhores desempenhos dos últimos anos, puxado por imóveis e veículos pesados para o agronegócio.

No primeiro semestre deste ano, além de superarmos nossos próprios resultados de 2021, também crescemos acima da média de mercado e ganhamos market share (participação de mercado).”

Thales Ferreira Silva, responsável pela área de consórcios no Itaú

Também turbinado por esses dois segmentos, o Santander conseguiu expandir as vendas de cotas, em valor, 37% no primeiro semestre deste ano ante os mesmos meses de 2021. Segundo a superintendente executiva, Claudia Sampaio, a marca supera a média do mercado, que foi de 15,7% no período.

continua após a publicidade

Ela diz que o consórcio estava “adormecido” e o banco voltou a apostar nesse segmento em 2017. “Agora pisamos no acelerador.” O banco, que antes vendia consórcio só nas agências, está investindo no canal digital e externo. No mês que vem, começa a vender planos nas concessionárias de veículos.

Outra frente para alavancar os negócios foi fazer a prestação “caber” na renda. Por isso, o prazo foi ampliado de 180 para 240 meses nos grupos para compra de imóveis e de 72 para 84 meses em veículos. Além disso, passou a atender empresas, que já respondem pela metade das cotas comercializadas.

No Itaú Unibanco, o consórcio tem ganhando tanta relevância que o banco acaba de estrear campanha publicitária envolvendo filme na TV aberta, conteúdo nas redes sociais, mídias digitais e de rua. O objetivo é esclarecer as principais dúvidas.

continua após a publicidade

O diretor responsável pela operação de consórcio do Itaú Unibanco, Thales Ferreira Silva, diz, por meio de nota, que desde o ano passado tem acelerado e investido muito nos consórcios. “No primeiro semestre deste ano, além de superarmos nossos próprios resultados de 2021, também crescemos acima da média de mercado e ganhamos market share.”

Nos bancos públicos, o interesse pelo consórcio se repete. A Caixa ampliou em 140% o volume de cotas vendidas no segundo trimestre ante o mesmo período de 2021 e atingiu o melhor desempenho da história da companhia, puxado por imóveis, com alta de 263,4% e veículos (116,2% ), conforme aponta o relatório de divulgação de resultados.

Desde março a instituição lançou o consórcio de veículos pesados, que respondeu por 12% das vendas totais de cotas no semestre, que somaram R$ 7,2 bilhões, alta de 119,1% ante primeiro semestre de 2021.

O Banco do Brasil fechou o primeiro semestre de 2022 com um total de R$ 13,5 bilhões em vendas de cotas, um avanço de 45% em relação aos mesmos meses de 2021, informa o banco em nota.

O avanço dos bancos no consórcio é claro, quando se avalia o desempenho do Banco do Brasil e Santander, segundo Alencar, da Valor Capital. “Nos últimos dois anos, esses dois bancos cresceram cinco vezes mais do que a média de mercado”, observa.

Administradoras buscam nichos de mercado

Apesar do grande apetite dos bancos pelos consórcios, administradoras independentes têm avançado e procurado explorar nichos. O consórcio Magalu, por exemplo, encerrou 2021– último dado disponível – com crescimento 51% nas vendas ante 2020, muito acima da média do mercado (14,6%).

A empresa não divulga informações parciais do ano em curso, mas a diretora-executiva, Edna Maria Honorato, diz que o segmento que mais cresceu na companhia este ano foi o consórcio de serviços. A empresa também tem buscado o público mais jovem, com a venda de consórcio para equipamentos destinados a jogos eletrônicos.

A contadora Léia dos Santos, de 55 anos, casada e mãe de dois filhos, procurou pela primeira vez um consórcio de serviços para pagar as custas de advogados no processo de aposentadoria. Para cobrir os honorários estimados em R$ 10 mil, ela precisava fazer um empréstimo de R$ 8 mil.

Léia conta que recorreu aos bancos, mas, como trabalha como freelancer, não conseguiu o empréstimo. A saída foi ingressar num consórcio de serviços. Para obter uma carta de crédito de R$ 8 mil, entrou num grupo de 36 meses com prestações mensais de R$ 236.

Sonhava colocar uma prótese (de silicone), mas não é uma cirurgia barata.”

Ariella Lopes Amaral, gerente de vendas

A contadora começou a pagar o consórcio e novembro de 2021 e em julho deu um lance e obteve carta de crédito, que foi direto para o escritório de advocacia. “Acho vantajoso o consórcio, se não há urgência do dinheiro e, além disso, é possível antecipar o saque por meio de lance.”

Léia conta que não tem disciplina para guardar dinheiro e prefere pagar alguma coisa para conseguir poupar. Depois do consórcio de serviços, ela já ingressou num consórcio imobiliário com carta de crédito de R$ 100 mil para reformar a casa.

A gerente de vendas Ariella Lopes Amaral, de 28 anos, que mora em Votuporanga (SP) também ingressou em junho num consórcios de serviços. Mas teve mais sorte do que Léia. No segundo mês já foi sorteada e conseguiu levantar o crédito de R$ 20 mil que será usado numa cirurgia plástica nos seios. Anos atrás, Ariella retirou sete nódulos benignos “Sonhava colocar uma prótese, mas não é uma cirurgia barata”, diz.

Consórcio já financia até cirurgias plásticas e próteses mamárias Foto: Eric Gaillard/Reuters

Depois de pesquisar quando sairia um financiamento para fazer a cirurgia, optou pelo consórcio. Para levantar R$ 20 mil no banco, teria de parcelar em 48 meses – o prazo mínimo oferecido–, com prestações de quase R$ 800. Ou seja o desembolso total seria de R$ 38,4 mil. No consórcio, vai pagar 36 prestações mensais de R$ 683, com um gasto total estimado hoje de R$ 24,588 mil, sem contar a correção anual pela inflação. “Estou preparada para essa correção, estudei muito as condições e me senti segura.”

Consumidor deve ficar atento antes de aderir

A dificuldade do brasileiro de poupar, tanto pela falta de educação financeira como pela insuficiência de renda, explica o sucesso do consórcio. “O Brasil é um dos poucos países do mundo que têm consórcio porque falta educação financeira: as pessoas precisam de um boleto para pagar para conseguir guardar dinheiro”, afirma Pablo Alencar, diretor da corretora Valor Capital.

Atraídos exatamente por essa facilidade de fazer uma “poupança forçada” que será o passaporte para realizar um sonho de consumo, muitos compram um consórcio sem saber exatamente onde estão pisando e sem comparar as condições do contrato com as de um financiamento tradicional.

Na prática, não é possível afirmar que o consórcio é melhor do que um financiamento ou vice-versa. Tudo depende da análise das variáveis envolvidas no momento da compra do bem ou serviço e dos objetivos de quem o adquire, lembrando que no financiamento o bem é recebido na hora e no consórcio depende da sorte, ou seja, do sorteio ou lance. Mas o importante é conhecer as “pegadinhas” do consórcio para fazer a melhor escolha.

O primeiro ponto que o consumidor tem que ter em mente é que consórcio não é investimento, mas uma compra programada. “Investimento é quando se coloca um dinheiro e, ao final de um período, é possível sair do negócio com mais dinheiro do que o colocado inicialmente”, diz o especialista. No consórcio, é cobrada uma taxa de administração, que será abatida dos recursos aportados.

O argumento central a favor do consórcio em relação ao financiamento é que não há juros. No entanto, além da taxa de administração, embutida na prestação, existe um fundo de reserva usado para cobrir eventuais inadimplências e a correção anual da mensalidade por um índice previamente acordado no contrato. O objetivo da correção é atualizar o valor do bem para garantir que todos os participantes do grupo possam adquiri-lo, mesmo com o passar do tempo. No caso de imóveis, por exemplo, o indexador costuma ser o Índice Nacional da Construção Civil (INCC).

Você não pode comprar consórcio, se não ler o contrato, entender e fazer contas.”

Henrique Fernandes, diretor do Consórcio Bradesco

“Não é porque o juro é zero que a prestação não vai subir nunca”, afirma Alencar. Por isso, quem entra no consórcio tem que estar ciente de que assume um compromisso de pagamento com uma taxa pós-fixada, que depende da correção do preço do bem que o grupo pretende comprar. No caso do financiamento tradicional, onde incidem juros, a prestação não varia e se sabe exatamente quando será pago a cada mês.

Por isso, a simples comparação entre a taxa de administração do consórcio, por exemplo, de 0,16% ao mês para veículos pesados, com os juros mensais de 2% no caso de um financiamento, não é suficiente para saber qual a melhor alternativa.

O especialista recomenda que se calcule o Custo Efetivo Total, a CET, no jargão financeiro, em ambos os casos. No consórcio, a CET é composta pela taxa de administração, fundo de reserva e uma projeção do índice usado para corrigir a parcela. No financiamento, entram na CET a taxa de juros e a taxa de cadastro. A depender da conjuntura, isto é, do nível de juros e das projeções dos índices de inflação que corrigem os preços dos bens, essas taxas podem variar e afetar diferentemente os custos dos consórcios e dos financiamentos.

O diretor do Consórcio Bradesco, Henrique Fernandes, pondera que, se o preço do bem cair, a prestação do consórcio também diminui. “Você não pode comprar consórcio, se não ler o contrato, entender e fazer contas”, recomenda o executivo. Se a pessoa deixar de pagar a mensalidade do consórcio, por exemplo, ela só recebe os recursos de volta no encerramento do grupo, a menos que venda a cota para um terceiro.

Outro ponto a ser considerado é facilidade de entrar num consórcio. Há administradoras que não fazem uma análise de crédito do cliente, verificando se ele está inadimplente com o sistema financeiro ou se tem capacidade de bancar o pagamento do bem até o fim do grupo. No entanto, isso pode mudar a partir do momento que o consorciado for contemplado em sorteio.

Alencar explica que, caso o contemplado esteja inadimplente com sistema financeiro, há administradoras que exigem um avalista para entregar a carta de crédito. Ou, em casos extremos, adiam a entrega da carta para quando o grupo for encerrado. “Ninguém fala sobre isso na hora de vender a cota”, diz o especialista.

É também muito importante é conhecer o perfil da administradora, observa Fernandes. Isto é, a sua capacidade de manter o grupo superavitário, substituindo consorciados em caso de desistência. Além disso, qual é a média de contemplação da administradora, feita por meio de sorteio e lances. São informações relevantes que podem ser obtidas no contrato ou no site da administradora.

Grandes bancos comerciais redescobriram os consórcios e estão turbinando o mercado dessa espécie de “vaquinha” organizada, uma invenção brasileira que completa 60 anos, usada hoje para comprar de tudo. Os grupos de autofinanciamento vão de imóveis, veículos, tratores, drones, equipamentos para jogos eletrônicos a serviços, como cirurgia plástica, por exemplo. Com isso, as vendas do setor encerraram o primeiro semestre com o melhor desempenho dos últimos dez anos.

Entre janeiro e junho, foram comercializadas 1,850 milhão de novas cotas, com crescimento de 12,1% ante o mesmo período de 2021, apontam dados da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (Abac). “O desempenho do primeiro semestre equivale a mais da metade (62%) do que foi vendido no ano passado inteiro”, afirma Edna Maria Honorato, presidente do Conselho da Abac e diretora-executiva do Consórcio Magalu.

Leia dos Santos, contadora, contratou consórcio para arcar com honorários advocatícios Foto: Marcelo Chello/Estadão

Esse aumento expressivo resulta, segundo a executiva, de uma combinação de fatores. São as altas taxas de juros cobradas no financiamento – o concorrente direto do consórcio –, o avanço da educação financeira entre os consumidores que não conseguem poupar e o fato de várias instituições financeiras terem entrando nesse mercado de forma mais assertiva.

Os cinco grandes bancos do País – Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Caixa e Banco do Brasil – têm demonstrado maior apetite pelo consórcio, com campanhas específicas mostrando os benefícios, patrocinando eventos, fazendo sorteios, passando a atuar em novos segmentos e alongando prazos de pagamento também.

“Anteriormente, o jeito que os bancos vendiam consórcio era muito goela abaixo”, lembra Pablo Alencar, diretor da corretora Valor Capital. O cliente ia fazer uma outra operação bancária e acabava levando, em contrapartida, também um consórcio.

No entanto, quando os bancos começaram a perder receita com serviços por causa do avanço das fintechs e do Pix, eles saíram em busca de compensação em outros mercados, explica Alencar. E o consórcio foi um dos caminhos encontrados.

Ele pondera que os “bancões” já estavam muito bem posicionados nesse setor, porém viram que o consórcio era subutilizado. Isso ocorreu especialmente num momento em que a taxa básica de juros (Selic) – o parâmetro das operações de crédito – está no maior nível dos últimos anos (13,75% ano). E o brasileiro está endividado ou inadimplente e tem dificuldade de obter financiamento. “Foi a tempestade perfeita para impulsionar o consórcio”, resume o executivo.

Sorteios e publicidade para atrair consumidores

Líder do setor em número de consorciados e há 19 anos nesse mercado, o Bradesco, por exemplo, pela primeira vez está sorteando um crédito de R$ 200 mil entre os que compraram cotas do seu consórcio nos últimos dois meses. “Este ano intensificamos a mídia mais até pelo momento da Selic elevada e para apresentar o consórcio como uma solução”, afirma o diretor do consórcio Bradesco, Henrique Fernandes.

A iniciativa veio depois de o banco ter encerrado o primeiro semestre com crescimento de 15% na quantidade de novas cotas vendidas ante o mesmo período de 2021. O diretor diz que foi um dos melhores desempenhos dos últimos anos, puxado por imóveis e veículos pesados para o agronegócio.

No primeiro semestre deste ano, além de superarmos nossos próprios resultados de 2021, também crescemos acima da média de mercado e ganhamos market share (participação de mercado).”

Thales Ferreira Silva, responsável pela área de consórcios no Itaú

Também turbinado por esses dois segmentos, o Santander conseguiu expandir as vendas de cotas, em valor, 37% no primeiro semestre deste ano ante os mesmos meses de 2021. Segundo a superintendente executiva, Claudia Sampaio, a marca supera a média do mercado, que foi de 15,7% no período.

Ela diz que o consórcio estava “adormecido” e o banco voltou a apostar nesse segmento em 2017. “Agora pisamos no acelerador.” O banco, que antes vendia consórcio só nas agências, está investindo no canal digital e externo. No mês que vem, começa a vender planos nas concessionárias de veículos.

Outra frente para alavancar os negócios foi fazer a prestação “caber” na renda. Por isso, o prazo foi ampliado de 180 para 240 meses nos grupos para compra de imóveis e de 72 para 84 meses em veículos. Além disso, passou a atender empresas, que já respondem pela metade das cotas comercializadas.

No Itaú Unibanco, o consórcio tem ganhando tanta relevância que o banco acaba de estrear campanha publicitária envolvendo filme na TV aberta, conteúdo nas redes sociais, mídias digitais e de rua. O objetivo é esclarecer as principais dúvidas.

O diretor responsável pela operação de consórcio do Itaú Unibanco, Thales Ferreira Silva, diz, por meio de nota, que desde o ano passado tem acelerado e investido muito nos consórcios. “No primeiro semestre deste ano, além de superarmos nossos próprios resultados de 2021, também crescemos acima da média de mercado e ganhamos market share.”

Nos bancos públicos, o interesse pelo consórcio se repete. A Caixa ampliou em 140% o volume de cotas vendidas no segundo trimestre ante o mesmo período de 2021 e atingiu o melhor desempenho da história da companhia, puxado por imóveis, com alta de 263,4% e veículos (116,2% ), conforme aponta o relatório de divulgação de resultados.

Desde março a instituição lançou o consórcio de veículos pesados, que respondeu por 12% das vendas totais de cotas no semestre, que somaram R$ 7,2 bilhões, alta de 119,1% ante primeiro semestre de 2021.

O Banco do Brasil fechou o primeiro semestre de 2022 com um total de R$ 13,5 bilhões em vendas de cotas, um avanço de 45% em relação aos mesmos meses de 2021, informa o banco em nota.

O avanço dos bancos no consórcio é claro, quando se avalia o desempenho do Banco do Brasil e Santander, segundo Alencar, da Valor Capital. “Nos últimos dois anos, esses dois bancos cresceram cinco vezes mais do que a média de mercado”, observa.

Administradoras buscam nichos de mercado

Apesar do grande apetite dos bancos pelos consórcios, administradoras independentes têm avançado e procurado explorar nichos. O consórcio Magalu, por exemplo, encerrou 2021– último dado disponível – com crescimento 51% nas vendas ante 2020, muito acima da média do mercado (14,6%).

A empresa não divulga informações parciais do ano em curso, mas a diretora-executiva, Edna Maria Honorato, diz que o segmento que mais cresceu na companhia este ano foi o consórcio de serviços. A empresa também tem buscado o público mais jovem, com a venda de consórcio para equipamentos destinados a jogos eletrônicos.

A contadora Léia dos Santos, de 55 anos, casada e mãe de dois filhos, procurou pela primeira vez um consórcio de serviços para pagar as custas de advogados no processo de aposentadoria. Para cobrir os honorários estimados em R$ 10 mil, ela precisava fazer um empréstimo de R$ 8 mil.

Léia conta que recorreu aos bancos, mas, como trabalha como freelancer, não conseguiu o empréstimo. A saída foi ingressar num consórcio de serviços. Para obter uma carta de crédito de R$ 8 mil, entrou num grupo de 36 meses com prestações mensais de R$ 236.

Sonhava colocar uma prótese (de silicone), mas não é uma cirurgia barata.”

Ariella Lopes Amaral, gerente de vendas

A contadora começou a pagar o consórcio e novembro de 2021 e em julho deu um lance e obteve carta de crédito, que foi direto para o escritório de advocacia. “Acho vantajoso o consórcio, se não há urgência do dinheiro e, além disso, é possível antecipar o saque por meio de lance.”

Léia conta que não tem disciplina para guardar dinheiro e prefere pagar alguma coisa para conseguir poupar. Depois do consórcio de serviços, ela já ingressou num consórcio imobiliário com carta de crédito de R$ 100 mil para reformar a casa.

A gerente de vendas Ariella Lopes Amaral, de 28 anos, que mora em Votuporanga (SP) também ingressou em junho num consórcios de serviços. Mas teve mais sorte do que Léia. No segundo mês já foi sorteada e conseguiu levantar o crédito de R$ 20 mil que será usado numa cirurgia plástica nos seios. Anos atrás, Ariella retirou sete nódulos benignos “Sonhava colocar uma prótese, mas não é uma cirurgia barata”, diz.

Consórcio já financia até cirurgias plásticas e próteses mamárias Foto: Eric Gaillard/Reuters

Depois de pesquisar quando sairia um financiamento para fazer a cirurgia, optou pelo consórcio. Para levantar R$ 20 mil no banco, teria de parcelar em 48 meses – o prazo mínimo oferecido–, com prestações de quase R$ 800. Ou seja o desembolso total seria de R$ 38,4 mil. No consórcio, vai pagar 36 prestações mensais de R$ 683, com um gasto total estimado hoje de R$ 24,588 mil, sem contar a correção anual pela inflação. “Estou preparada para essa correção, estudei muito as condições e me senti segura.”

Consumidor deve ficar atento antes de aderir

A dificuldade do brasileiro de poupar, tanto pela falta de educação financeira como pela insuficiência de renda, explica o sucesso do consórcio. “O Brasil é um dos poucos países do mundo que têm consórcio porque falta educação financeira: as pessoas precisam de um boleto para pagar para conseguir guardar dinheiro”, afirma Pablo Alencar, diretor da corretora Valor Capital.

Atraídos exatamente por essa facilidade de fazer uma “poupança forçada” que será o passaporte para realizar um sonho de consumo, muitos compram um consórcio sem saber exatamente onde estão pisando e sem comparar as condições do contrato com as de um financiamento tradicional.

Na prática, não é possível afirmar que o consórcio é melhor do que um financiamento ou vice-versa. Tudo depende da análise das variáveis envolvidas no momento da compra do bem ou serviço e dos objetivos de quem o adquire, lembrando que no financiamento o bem é recebido na hora e no consórcio depende da sorte, ou seja, do sorteio ou lance. Mas o importante é conhecer as “pegadinhas” do consórcio para fazer a melhor escolha.

O primeiro ponto que o consumidor tem que ter em mente é que consórcio não é investimento, mas uma compra programada. “Investimento é quando se coloca um dinheiro e, ao final de um período, é possível sair do negócio com mais dinheiro do que o colocado inicialmente”, diz o especialista. No consórcio, é cobrada uma taxa de administração, que será abatida dos recursos aportados.

O argumento central a favor do consórcio em relação ao financiamento é que não há juros. No entanto, além da taxa de administração, embutida na prestação, existe um fundo de reserva usado para cobrir eventuais inadimplências e a correção anual da mensalidade por um índice previamente acordado no contrato. O objetivo da correção é atualizar o valor do bem para garantir que todos os participantes do grupo possam adquiri-lo, mesmo com o passar do tempo. No caso de imóveis, por exemplo, o indexador costuma ser o Índice Nacional da Construção Civil (INCC).

Você não pode comprar consórcio, se não ler o contrato, entender e fazer contas.”

Henrique Fernandes, diretor do Consórcio Bradesco

“Não é porque o juro é zero que a prestação não vai subir nunca”, afirma Alencar. Por isso, quem entra no consórcio tem que estar ciente de que assume um compromisso de pagamento com uma taxa pós-fixada, que depende da correção do preço do bem que o grupo pretende comprar. No caso do financiamento tradicional, onde incidem juros, a prestação não varia e se sabe exatamente quando será pago a cada mês.

Por isso, a simples comparação entre a taxa de administração do consórcio, por exemplo, de 0,16% ao mês para veículos pesados, com os juros mensais de 2% no caso de um financiamento, não é suficiente para saber qual a melhor alternativa.

O especialista recomenda que se calcule o Custo Efetivo Total, a CET, no jargão financeiro, em ambos os casos. No consórcio, a CET é composta pela taxa de administração, fundo de reserva e uma projeção do índice usado para corrigir a parcela. No financiamento, entram na CET a taxa de juros e a taxa de cadastro. A depender da conjuntura, isto é, do nível de juros e das projeções dos índices de inflação que corrigem os preços dos bens, essas taxas podem variar e afetar diferentemente os custos dos consórcios e dos financiamentos.

O diretor do Consórcio Bradesco, Henrique Fernandes, pondera que, se o preço do bem cair, a prestação do consórcio também diminui. “Você não pode comprar consórcio, se não ler o contrato, entender e fazer contas”, recomenda o executivo. Se a pessoa deixar de pagar a mensalidade do consórcio, por exemplo, ela só recebe os recursos de volta no encerramento do grupo, a menos que venda a cota para um terceiro.

Outro ponto a ser considerado é facilidade de entrar num consórcio. Há administradoras que não fazem uma análise de crédito do cliente, verificando se ele está inadimplente com o sistema financeiro ou se tem capacidade de bancar o pagamento do bem até o fim do grupo. No entanto, isso pode mudar a partir do momento que o consorciado for contemplado em sorteio.

Alencar explica que, caso o contemplado esteja inadimplente com sistema financeiro, há administradoras que exigem um avalista para entregar a carta de crédito. Ou, em casos extremos, adiam a entrega da carta para quando o grupo for encerrado. “Ninguém fala sobre isso na hora de vender a cota”, diz o especialista.

É também muito importante é conhecer o perfil da administradora, observa Fernandes. Isto é, a sua capacidade de manter o grupo superavitário, substituindo consorciados em caso de desistência. Além disso, qual é a média de contemplação da administradora, feita por meio de sorteio e lances. São informações relevantes que podem ser obtidas no contrato ou no site da administradora.

Grandes bancos comerciais redescobriram os consórcios e estão turbinando o mercado dessa espécie de “vaquinha” organizada, uma invenção brasileira que completa 60 anos, usada hoje para comprar de tudo. Os grupos de autofinanciamento vão de imóveis, veículos, tratores, drones, equipamentos para jogos eletrônicos a serviços, como cirurgia plástica, por exemplo. Com isso, as vendas do setor encerraram o primeiro semestre com o melhor desempenho dos últimos dez anos.

Entre janeiro e junho, foram comercializadas 1,850 milhão de novas cotas, com crescimento de 12,1% ante o mesmo período de 2021, apontam dados da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (Abac). “O desempenho do primeiro semestre equivale a mais da metade (62%) do que foi vendido no ano passado inteiro”, afirma Edna Maria Honorato, presidente do Conselho da Abac e diretora-executiva do Consórcio Magalu.

Leia dos Santos, contadora, contratou consórcio para arcar com honorários advocatícios Foto: Marcelo Chello/Estadão

Esse aumento expressivo resulta, segundo a executiva, de uma combinação de fatores. São as altas taxas de juros cobradas no financiamento – o concorrente direto do consórcio –, o avanço da educação financeira entre os consumidores que não conseguem poupar e o fato de várias instituições financeiras terem entrando nesse mercado de forma mais assertiva.

Os cinco grandes bancos do País – Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Caixa e Banco do Brasil – têm demonstrado maior apetite pelo consórcio, com campanhas específicas mostrando os benefícios, patrocinando eventos, fazendo sorteios, passando a atuar em novos segmentos e alongando prazos de pagamento também.

“Anteriormente, o jeito que os bancos vendiam consórcio era muito goela abaixo”, lembra Pablo Alencar, diretor da corretora Valor Capital. O cliente ia fazer uma outra operação bancária e acabava levando, em contrapartida, também um consórcio.

No entanto, quando os bancos começaram a perder receita com serviços por causa do avanço das fintechs e do Pix, eles saíram em busca de compensação em outros mercados, explica Alencar. E o consórcio foi um dos caminhos encontrados.

Ele pondera que os “bancões” já estavam muito bem posicionados nesse setor, porém viram que o consórcio era subutilizado. Isso ocorreu especialmente num momento em que a taxa básica de juros (Selic) – o parâmetro das operações de crédito – está no maior nível dos últimos anos (13,75% ano). E o brasileiro está endividado ou inadimplente e tem dificuldade de obter financiamento. “Foi a tempestade perfeita para impulsionar o consórcio”, resume o executivo.

Sorteios e publicidade para atrair consumidores

Líder do setor em número de consorciados e há 19 anos nesse mercado, o Bradesco, por exemplo, pela primeira vez está sorteando um crédito de R$ 200 mil entre os que compraram cotas do seu consórcio nos últimos dois meses. “Este ano intensificamos a mídia mais até pelo momento da Selic elevada e para apresentar o consórcio como uma solução”, afirma o diretor do consórcio Bradesco, Henrique Fernandes.

A iniciativa veio depois de o banco ter encerrado o primeiro semestre com crescimento de 15% na quantidade de novas cotas vendidas ante o mesmo período de 2021. O diretor diz que foi um dos melhores desempenhos dos últimos anos, puxado por imóveis e veículos pesados para o agronegócio.

No primeiro semestre deste ano, além de superarmos nossos próprios resultados de 2021, também crescemos acima da média de mercado e ganhamos market share (participação de mercado).”

Thales Ferreira Silva, responsável pela área de consórcios no Itaú

Também turbinado por esses dois segmentos, o Santander conseguiu expandir as vendas de cotas, em valor, 37% no primeiro semestre deste ano ante os mesmos meses de 2021. Segundo a superintendente executiva, Claudia Sampaio, a marca supera a média do mercado, que foi de 15,7% no período.

Ela diz que o consórcio estava “adormecido” e o banco voltou a apostar nesse segmento em 2017. “Agora pisamos no acelerador.” O banco, que antes vendia consórcio só nas agências, está investindo no canal digital e externo. No mês que vem, começa a vender planos nas concessionárias de veículos.

Outra frente para alavancar os negócios foi fazer a prestação “caber” na renda. Por isso, o prazo foi ampliado de 180 para 240 meses nos grupos para compra de imóveis e de 72 para 84 meses em veículos. Além disso, passou a atender empresas, que já respondem pela metade das cotas comercializadas.

No Itaú Unibanco, o consórcio tem ganhando tanta relevância que o banco acaba de estrear campanha publicitária envolvendo filme na TV aberta, conteúdo nas redes sociais, mídias digitais e de rua. O objetivo é esclarecer as principais dúvidas.

O diretor responsável pela operação de consórcio do Itaú Unibanco, Thales Ferreira Silva, diz, por meio de nota, que desde o ano passado tem acelerado e investido muito nos consórcios. “No primeiro semestre deste ano, além de superarmos nossos próprios resultados de 2021, também crescemos acima da média de mercado e ganhamos market share.”

Nos bancos públicos, o interesse pelo consórcio se repete. A Caixa ampliou em 140% o volume de cotas vendidas no segundo trimestre ante o mesmo período de 2021 e atingiu o melhor desempenho da história da companhia, puxado por imóveis, com alta de 263,4% e veículos (116,2% ), conforme aponta o relatório de divulgação de resultados.

Desde março a instituição lançou o consórcio de veículos pesados, que respondeu por 12% das vendas totais de cotas no semestre, que somaram R$ 7,2 bilhões, alta de 119,1% ante primeiro semestre de 2021.

O Banco do Brasil fechou o primeiro semestre de 2022 com um total de R$ 13,5 bilhões em vendas de cotas, um avanço de 45% em relação aos mesmos meses de 2021, informa o banco em nota.

O avanço dos bancos no consórcio é claro, quando se avalia o desempenho do Banco do Brasil e Santander, segundo Alencar, da Valor Capital. “Nos últimos dois anos, esses dois bancos cresceram cinco vezes mais do que a média de mercado”, observa.

Administradoras buscam nichos de mercado

Apesar do grande apetite dos bancos pelos consórcios, administradoras independentes têm avançado e procurado explorar nichos. O consórcio Magalu, por exemplo, encerrou 2021– último dado disponível – com crescimento 51% nas vendas ante 2020, muito acima da média do mercado (14,6%).

A empresa não divulga informações parciais do ano em curso, mas a diretora-executiva, Edna Maria Honorato, diz que o segmento que mais cresceu na companhia este ano foi o consórcio de serviços. A empresa também tem buscado o público mais jovem, com a venda de consórcio para equipamentos destinados a jogos eletrônicos.

A contadora Léia dos Santos, de 55 anos, casada e mãe de dois filhos, procurou pela primeira vez um consórcio de serviços para pagar as custas de advogados no processo de aposentadoria. Para cobrir os honorários estimados em R$ 10 mil, ela precisava fazer um empréstimo de R$ 8 mil.

Léia conta que recorreu aos bancos, mas, como trabalha como freelancer, não conseguiu o empréstimo. A saída foi ingressar num consórcio de serviços. Para obter uma carta de crédito de R$ 8 mil, entrou num grupo de 36 meses com prestações mensais de R$ 236.

Sonhava colocar uma prótese (de silicone), mas não é uma cirurgia barata.”

Ariella Lopes Amaral, gerente de vendas

A contadora começou a pagar o consórcio e novembro de 2021 e em julho deu um lance e obteve carta de crédito, que foi direto para o escritório de advocacia. “Acho vantajoso o consórcio, se não há urgência do dinheiro e, além disso, é possível antecipar o saque por meio de lance.”

Léia conta que não tem disciplina para guardar dinheiro e prefere pagar alguma coisa para conseguir poupar. Depois do consórcio de serviços, ela já ingressou num consórcio imobiliário com carta de crédito de R$ 100 mil para reformar a casa.

A gerente de vendas Ariella Lopes Amaral, de 28 anos, que mora em Votuporanga (SP) também ingressou em junho num consórcios de serviços. Mas teve mais sorte do que Léia. No segundo mês já foi sorteada e conseguiu levantar o crédito de R$ 20 mil que será usado numa cirurgia plástica nos seios. Anos atrás, Ariella retirou sete nódulos benignos “Sonhava colocar uma prótese, mas não é uma cirurgia barata”, diz.

Consórcio já financia até cirurgias plásticas e próteses mamárias Foto: Eric Gaillard/Reuters

Depois de pesquisar quando sairia um financiamento para fazer a cirurgia, optou pelo consórcio. Para levantar R$ 20 mil no banco, teria de parcelar em 48 meses – o prazo mínimo oferecido–, com prestações de quase R$ 800. Ou seja o desembolso total seria de R$ 38,4 mil. No consórcio, vai pagar 36 prestações mensais de R$ 683, com um gasto total estimado hoje de R$ 24,588 mil, sem contar a correção anual pela inflação. “Estou preparada para essa correção, estudei muito as condições e me senti segura.”

Consumidor deve ficar atento antes de aderir

A dificuldade do brasileiro de poupar, tanto pela falta de educação financeira como pela insuficiência de renda, explica o sucesso do consórcio. “O Brasil é um dos poucos países do mundo que têm consórcio porque falta educação financeira: as pessoas precisam de um boleto para pagar para conseguir guardar dinheiro”, afirma Pablo Alencar, diretor da corretora Valor Capital.

Atraídos exatamente por essa facilidade de fazer uma “poupança forçada” que será o passaporte para realizar um sonho de consumo, muitos compram um consórcio sem saber exatamente onde estão pisando e sem comparar as condições do contrato com as de um financiamento tradicional.

Na prática, não é possível afirmar que o consórcio é melhor do que um financiamento ou vice-versa. Tudo depende da análise das variáveis envolvidas no momento da compra do bem ou serviço e dos objetivos de quem o adquire, lembrando que no financiamento o bem é recebido na hora e no consórcio depende da sorte, ou seja, do sorteio ou lance. Mas o importante é conhecer as “pegadinhas” do consórcio para fazer a melhor escolha.

O primeiro ponto que o consumidor tem que ter em mente é que consórcio não é investimento, mas uma compra programada. “Investimento é quando se coloca um dinheiro e, ao final de um período, é possível sair do negócio com mais dinheiro do que o colocado inicialmente”, diz o especialista. No consórcio, é cobrada uma taxa de administração, que será abatida dos recursos aportados.

O argumento central a favor do consórcio em relação ao financiamento é que não há juros. No entanto, além da taxa de administração, embutida na prestação, existe um fundo de reserva usado para cobrir eventuais inadimplências e a correção anual da mensalidade por um índice previamente acordado no contrato. O objetivo da correção é atualizar o valor do bem para garantir que todos os participantes do grupo possam adquiri-lo, mesmo com o passar do tempo. No caso de imóveis, por exemplo, o indexador costuma ser o Índice Nacional da Construção Civil (INCC).

Você não pode comprar consórcio, se não ler o contrato, entender e fazer contas.”

Henrique Fernandes, diretor do Consórcio Bradesco

“Não é porque o juro é zero que a prestação não vai subir nunca”, afirma Alencar. Por isso, quem entra no consórcio tem que estar ciente de que assume um compromisso de pagamento com uma taxa pós-fixada, que depende da correção do preço do bem que o grupo pretende comprar. No caso do financiamento tradicional, onde incidem juros, a prestação não varia e se sabe exatamente quando será pago a cada mês.

Por isso, a simples comparação entre a taxa de administração do consórcio, por exemplo, de 0,16% ao mês para veículos pesados, com os juros mensais de 2% no caso de um financiamento, não é suficiente para saber qual a melhor alternativa.

O especialista recomenda que se calcule o Custo Efetivo Total, a CET, no jargão financeiro, em ambos os casos. No consórcio, a CET é composta pela taxa de administração, fundo de reserva e uma projeção do índice usado para corrigir a parcela. No financiamento, entram na CET a taxa de juros e a taxa de cadastro. A depender da conjuntura, isto é, do nível de juros e das projeções dos índices de inflação que corrigem os preços dos bens, essas taxas podem variar e afetar diferentemente os custos dos consórcios e dos financiamentos.

O diretor do Consórcio Bradesco, Henrique Fernandes, pondera que, se o preço do bem cair, a prestação do consórcio também diminui. “Você não pode comprar consórcio, se não ler o contrato, entender e fazer contas”, recomenda o executivo. Se a pessoa deixar de pagar a mensalidade do consórcio, por exemplo, ela só recebe os recursos de volta no encerramento do grupo, a menos que venda a cota para um terceiro.

Outro ponto a ser considerado é facilidade de entrar num consórcio. Há administradoras que não fazem uma análise de crédito do cliente, verificando se ele está inadimplente com o sistema financeiro ou se tem capacidade de bancar o pagamento do bem até o fim do grupo. No entanto, isso pode mudar a partir do momento que o consorciado for contemplado em sorteio.

Alencar explica que, caso o contemplado esteja inadimplente com sistema financeiro, há administradoras que exigem um avalista para entregar a carta de crédito. Ou, em casos extremos, adiam a entrega da carta para quando o grupo for encerrado. “Ninguém fala sobre isso na hora de vender a cota”, diz o especialista.

É também muito importante é conhecer o perfil da administradora, observa Fernandes. Isto é, a sua capacidade de manter o grupo superavitário, substituindo consorciados em caso de desistência. Além disso, qual é a média de contemplação da administradora, feita por meio de sorteio e lances. São informações relevantes que podem ser obtidas no contrato ou no site da administradora.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.