Copom: atividade econômica mais forte que a esperada traz dúvida sobre ritmo de queda dos juros


Mercado é unânime em apontar corte de 0,5 ponto na Selic nesta semana, mas economia aquecida deve exigir que o BC diminua o ritmo de cortes

Por Cícero Cotrim e Thaís Barcellos

SÃO PAULO E BRASÍLIA - O mercado financeiro não tem dúvidas sobre mais um corte de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que começa nesta terça-feira, 19, e termina na quarta. Mas as atenções do mercado estão focadas em descobrir por quantas reuniões o colegiado pretende manter no “piloto automático” a dose atual de corte de juros.

Uma parte dos analistas acredita que o Copom provavelmente vai alterar, nesta reunião, o seu “forward guidance” (ferramenta usada pelos BCs para sinalizar os próximos passos da política monetária). Segundo os economistas que creem nessa mudança, a tendência é que o colegiado busque mais graus de liberdade no ciclo de redução de juros, em meio à incerteza com o cenário externo, às repetidas surpresas na inflação de serviços e a dados que mostraram a economia mais forte em janeiro.

O BC tem trabalhado com um “forward guidance” desde que começou a cortar juros, em agosto do ano passado. Em linhas gerais, além de reduzir a Selic em 0,5 ponto porcentual, a autoridade monetária tem optado por sinalizar “novos cortes de mesma magnitude nas próximas reuniões”, no plural — sinalizando para as duas próximas reuniões —, caso tudo ocorra como esperado.

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No último encontro, de 31 de janeiro, o Copom diminuiu os juros de 11,75% para 11,25% e manteve o forward guidance — o que significa que se comprometeu com mais dois cortes de 0,5 ponto, nas reuniões de março e maio. E, se mantiver a sinalização também no encontro desta semana, vai ter se comprometido a reduzir a taxa nessa magnitude até junho, quando a Selic chegaria a 9,75%.

Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne novamente nesta quarta Foto: André Dusek / Estadão

O economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, lembra que, na última reunião, o Copom tinha à mão apenas dados de atividade relativos a dezembro, quando a economia brasileira dava sinais de estagnação. Agora, vai ter de avaliar o forte crescimento das vendas do varejo ampliado e dos serviços em janeiro, ambos acima do esperado, assim como a criação de 180 mil empregos formais, também mais do que o previsto.

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“Ele entra o ano de 2024 com uma economia, pelo lado da demanda, muito mais forte do que se esperava”, explica. “Isso só reforça o cenário de que ele vai tirar o plural do forward guidance. É importante, num momento em que há várias dúvidas com relação à inflação e à atividade mais forte, você ter graus de liberdade.”

Ele diz que as surpresas de janeiro só vão indicar um cenário de atividade mais forte se forem seguidas por resultados melhores também em fevereiro. Mas pondera que o aumento da incerteza sobre o timing de redução dos juros nos Estados Unidos também recomenda mais cautela na condução da política monetária doméstica, especialmente em um momento no qual a taxa Selic já caiu mais de dois pontos porcentuais.

“O ‘forward guidance’ é uma forma de diminuir a volatilidade, para os juros não variarem muito de acordo com cada dado que muda a percepção sobre se o próximo passo é de 0,5 ou 0,25 ponto. Mas, com uma taxa de 13,75%, você tem muito mais espaço para surpresas que não vão afetar a trajetória de queda. Com 10,25%, que vai ser o juro depois de um corte de 0,5 ponto em maio, a taxa já não aguenta mais tanto desaforo”, afirma.

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Para o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, os últimos dados econômicos corroboram um cenário de economia mais forte, que vai dificultar a convergência da inflação para o centro da meta, de 3%. Ele diz que o IPCA resiliente, combinado à preocupação fiscal, à expectativa de turbulências no cenário de crescimento externo e à desancoragem das expectativas, deve exigir que o BC diminua o ritmo de cortes a 0,25 ponto porcentual já em junho.

“Esses fatores não vão acelerar a inflação, mas vão tornar mais difícil para o BC jogá-la para a meta”, diz Padovani. “Isso significa diminuir o ritmo para 0,25 ponto em junho, derrubar os juros nominais de maneira mais lenta, porque, como a inflação cai de maneira mais lenta, você precisa de um juro real ainda elevado por um tempo.”

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Tudo isso, segundo o analista, joga a favor da perspectiva de mudança do “forward guidance” nesta reunião. “Se ele tirar a sinalização agora, todo mundo vai entender que o risco é de mais inflação, e não de menos. Os dados econômicos já estão ajudando o BC a coordenar as expectativas, a realinhar os preços e, portanto, a poder tirar o ‘guidance’”, afirma.

O economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam, por sua vez, considera que cortes de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic esta semana e em maio são certos, e que uma nova redução desta magnitude em junho também é bastante provável. Mesmo assim, ele diz que o BC ganharia espaço na condução da política monetária se alterasse a sinalização agora, já que o custo de fazer esse movimento em outro momento do ciclo seria maior.

“O BC pode preferir, especialmente se a economia estiver mais forte, optar por cortes de 0,25 ponto, com o mérito de continuar sinalizando uma postura monetária mais forte e sem tomar muito risco, porque lá na frente, a cada 45 dias, vai ter mais informações”, diz o analista, que espera redução da Selic a 9,5% no fim do ciclo.

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Manutenção da comunicação

A economista-chefe e fundadora da Buysidebrazil, Andrea Damico, está no grupo que acredita que, neste momento, o BC tem incentivo para manter a comunicação atual, até porque uma mudança poderia causar um movimento do mercado indesejado. “Não vemos razão para o BC mudar o ritmo nem o guidance neste momento. Tem tempo (para mudar). Fazer isso agora pode gerar um ruído e comprometer o fim do ciclo. O mercado poderia começar a precificar queda de 0,25 ponto na próxima reunião. O BC poderia perder graus de liberdade.”

O entendimento de Damico foi fortalecido após o IPCA - índice de inflação oficial - de fevereiro. O indicador trouxe uma leitura mais positiva dos preços de serviços subjacentes (que exclui os itens mais voláteis), cujo comportamento vem sendo alvo de alertas do mercado e do próprio BC, conforme informado na ata do Copom de janeiro. “O último IPCA, com serviços subjacentes, deu mais confiança em um cenário mais construtivo para a inflação.”

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Nesta segunda-feira, 18, uma nova informação sobre a atividade colocou mais lenha na fogueira do debate do Copom: o avanço de 0,60% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em janeiro. O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, reforça, porém, que o melhor desempenho do crescimento econômico não está gerando aumento das projeções de inflação. “Ao contrário, as revisões de inflação têm sido para baixo. A atividade será um problema para o BC quando colocar empecilhos para alcançar a meta. Desde a última reunião, não parece ser o caso.”

Olivares também acredita que o BC deve continuar a sinalizar queda de 0,50 ponto da Selic nos próximos encontros. Em sua avaliação, há um mal entendido em ler o forward guidance como um compromisso do BC, especialmente porque o comitê afirma que a prescrição é válida caso o cenário esperado se confirme. “Se já existe a condicionalidade, não vejo porque mudar a não ser que o BC esteja vendo um cenário diferente. A avaliação que eu faço é que as coisas têm acontecido conforme o Copom está sinalizando.”

Sobre a preocupação com os serviços, Olivares também acredita que as melhores notícias do último IPCA, junto com a indicação do colegiado de que a Selic deve continuar contracionista no fim do ciclo, fazem com que o argumento não seja suficiente para uma mudança de guidance agora.

Por fim, o economista argumenta que o debate sobre um possível adiamento no início da queda de juros nos Estados Unidos tampouco é motivo suficiente para que o Copom altere a sinalização de mais cortes de 0,50 ponto em pelo menos mais duas reuniões, já que, antes, seria necessário verificar efeitos no câmbio - o principal canal de transmissão nesse caso.

Olivares não descarta, contudo, que a autoridade monetária comece a discutir neste encontro o momento em que a prescrição futura deveria ser alterada. Ele lembra que o comitê tem mantido o hábito saudável de debater as decisões por várias reuniões, como fizeram antes de definir a elevação da estimativa de juro neutro de 4% para 4,5%.

Ciclo de cortes

Pesquisa feita pelo Estadão/Broadcast aponta uma unanimidade - todas as 55 instituições consultadas esperam o quinto corte seguido de 0,50 ponto porcentual da Selic no Copom desta semana, de 11,25% para 10,75% ao ano. Além disso, 80% das casas (44) ainda aguardam mais duas quedas do mesmo tamanho nos encontros de maio e junho. Outras 11 preveem alteração no ritmo de cortes na reunião de junho: dez (18%) para 0,25 ponto e uma para 0,75 ponto.

Com a baixa esperada da Selic nesta quarta-feira, o afrouxamento monetário chegaria a 3 pontos porcentuais - de 13,75% -, mais da metade do caminho previsto pelo Boletim Focus, que projeta juro de 8,5% no fim do ciclo.

SÃO PAULO E BRASÍLIA - O mercado financeiro não tem dúvidas sobre mais um corte de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que começa nesta terça-feira, 19, e termina na quarta. Mas as atenções do mercado estão focadas em descobrir por quantas reuniões o colegiado pretende manter no “piloto automático” a dose atual de corte de juros.

Uma parte dos analistas acredita que o Copom provavelmente vai alterar, nesta reunião, o seu “forward guidance” (ferramenta usada pelos BCs para sinalizar os próximos passos da política monetária). Segundo os economistas que creem nessa mudança, a tendência é que o colegiado busque mais graus de liberdade no ciclo de redução de juros, em meio à incerteza com o cenário externo, às repetidas surpresas na inflação de serviços e a dados que mostraram a economia mais forte em janeiro.

O BC tem trabalhado com um “forward guidance” desde que começou a cortar juros, em agosto do ano passado. Em linhas gerais, além de reduzir a Selic em 0,5 ponto porcentual, a autoridade monetária tem optado por sinalizar “novos cortes de mesma magnitude nas próximas reuniões”, no plural — sinalizando para as duas próximas reuniões —, caso tudo ocorra como esperado.

No último encontro, de 31 de janeiro, o Copom diminuiu os juros de 11,75% para 11,25% e manteve o forward guidance — o que significa que se comprometeu com mais dois cortes de 0,5 ponto, nas reuniões de março e maio. E, se mantiver a sinalização também no encontro desta semana, vai ter se comprometido a reduzir a taxa nessa magnitude até junho, quando a Selic chegaria a 9,75%.

Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne novamente nesta quarta Foto: André Dusek / Estadão

O economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, lembra que, na última reunião, o Copom tinha à mão apenas dados de atividade relativos a dezembro, quando a economia brasileira dava sinais de estagnação. Agora, vai ter de avaliar o forte crescimento das vendas do varejo ampliado e dos serviços em janeiro, ambos acima do esperado, assim como a criação de 180 mil empregos formais, também mais do que o previsto.

“Ele entra o ano de 2024 com uma economia, pelo lado da demanda, muito mais forte do que se esperava”, explica. “Isso só reforça o cenário de que ele vai tirar o plural do forward guidance. É importante, num momento em que há várias dúvidas com relação à inflação e à atividade mais forte, você ter graus de liberdade.”

Ele diz que as surpresas de janeiro só vão indicar um cenário de atividade mais forte se forem seguidas por resultados melhores também em fevereiro. Mas pondera que o aumento da incerteza sobre o timing de redução dos juros nos Estados Unidos também recomenda mais cautela na condução da política monetária doméstica, especialmente em um momento no qual a taxa Selic já caiu mais de dois pontos porcentuais.

“O ‘forward guidance’ é uma forma de diminuir a volatilidade, para os juros não variarem muito de acordo com cada dado que muda a percepção sobre se o próximo passo é de 0,5 ou 0,25 ponto. Mas, com uma taxa de 13,75%, você tem muito mais espaço para surpresas que não vão afetar a trajetória de queda. Com 10,25%, que vai ser o juro depois de um corte de 0,5 ponto em maio, a taxa já não aguenta mais tanto desaforo”, afirma.

Para o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, os últimos dados econômicos corroboram um cenário de economia mais forte, que vai dificultar a convergência da inflação para o centro da meta, de 3%. Ele diz que o IPCA resiliente, combinado à preocupação fiscal, à expectativa de turbulências no cenário de crescimento externo e à desancoragem das expectativas, deve exigir que o BC diminua o ritmo de cortes a 0,25 ponto porcentual já em junho.

“Esses fatores não vão acelerar a inflação, mas vão tornar mais difícil para o BC jogá-la para a meta”, diz Padovani. “Isso significa diminuir o ritmo para 0,25 ponto em junho, derrubar os juros nominais de maneira mais lenta, porque, como a inflação cai de maneira mais lenta, você precisa de um juro real ainda elevado por um tempo.”

Tudo isso, segundo o analista, joga a favor da perspectiva de mudança do “forward guidance” nesta reunião. “Se ele tirar a sinalização agora, todo mundo vai entender que o risco é de mais inflação, e não de menos. Os dados econômicos já estão ajudando o BC a coordenar as expectativas, a realinhar os preços e, portanto, a poder tirar o ‘guidance’”, afirma.

O economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam, por sua vez, considera que cortes de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic esta semana e em maio são certos, e que uma nova redução desta magnitude em junho também é bastante provável. Mesmo assim, ele diz que o BC ganharia espaço na condução da política monetária se alterasse a sinalização agora, já que o custo de fazer esse movimento em outro momento do ciclo seria maior.

“O BC pode preferir, especialmente se a economia estiver mais forte, optar por cortes de 0,25 ponto, com o mérito de continuar sinalizando uma postura monetária mais forte e sem tomar muito risco, porque lá na frente, a cada 45 dias, vai ter mais informações”, diz o analista, que espera redução da Selic a 9,5% no fim do ciclo.

Manutenção da comunicação

A economista-chefe e fundadora da Buysidebrazil, Andrea Damico, está no grupo que acredita que, neste momento, o BC tem incentivo para manter a comunicação atual, até porque uma mudança poderia causar um movimento do mercado indesejado. “Não vemos razão para o BC mudar o ritmo nem o guidance neste momento. Tem tempo (para mudar). Fazer isso agora pode gerar um ruído e comprometer o fim do ciclo. O mercado poderia começar a precificar queda de 0,25 ponto na próxima reunião. O BC poderia perder graus de liberdade.”

O entendimento de Damico foi fortalecido após o IPCA - índice de inflação oficial - de fevereiro. O indicador trouxe uma leitura mais positiva dos preços de serviços subjacentes (que exclui os itens mais voláteis), cujo comportamento vem sendo alvo de alertas do mercado e do próprio BC, conforme informado na ata do Copom de janeiro. “O último IPCA, com serviços subjacentes, deu mais confiança em um cenário mais construtivo para a inflação.”

Nesta segunda-feira, 18, uma nova informação sobre a atividade colocou mais lenha na fogueira do debate do Copom: o avanço de 0,60% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em janeiro. O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, reforça, porém, que o melhor desempenho do crescimento econômico não está gerando aumento das projeções de inflação. “Ao contrário, as revisões de inflação têm sido para baixo. A atividade será um problema para o BC quando colocar empecilhos para alcançar a meta. Desde a última reunião, não parece ser o caso.”

Olivares também acredita que o BC deve continuar a sinalizar queda de 0,50 ponto da Selic nos próximos encontros. Em sua avaliação, há um mal entendido em ler o forward guidance como um compromisso do BC, especialmente porque o comitê afirma que a prescrição é válida caso o cenário esperado se confirme. “Se já existe a condicionalidade, não vejo porque mudar a não ser que o BC esteja vendo um cenário diferente. A avaliação que eu faço é que as coisas têm acontecido conforme o Copom está sinalizando.”

Sobre a preocupação com os serviços, Olivares também acredita que as melhores notícias do último IPCA, junto com a indicação do colegiado de que a Selic deve continuar contracionista no fim do ciclo, fazem com que o argumento não seja suficiente para uma mudança de guidance agora.

Por fim, o economista argumenta que o debate sobre um possível adiamento no início da queda de juros nos Estados Unidos tampouco é motivo suficiente para que o Copom altere a sinalização de mais cortes de 0,50 ponto em pelo menos mais duas reuniões, já que, antes, seria necessário verificar efeitos no câmbio - o principal canal de transmissão nesse caso.

Olivares não descarta, contudo, que a autoridade monetária comece a discutir neste encontro o momento em que a prescrição futura deveria ser alterada. Ele lembra que o comitê tem mantido o hábito saudável de debater as decisões por várias reuniões, como fizeram antes de definir a elevação da estimativa de juro neutro de 4% para 4,5%.

Ciclo de cortes

Pesquisa feita pelo Estadão/Broadcast aponta uma unanimidade - todas as 55 instituições consultadas esperam o quinto corte seguido de 0,50 ponto porcentual da Selic no Copom desta semana, de 11,25% para 10,75% ao ano. Além disso, 80% das casas (44) ainda aguardam mais duas quedas do mesmo tamanho nos encontros de maio e junho. Outras 11 preveem alteração no ritmo de cortes na reunião de junho: dez (18%) para 0,25 ponto e uma para 0,75 ponto.

Com a baixa esperada da Selic nesta quarta-feira, o afrouxamento monetário chegaria a 3 pontos porcentuais - de 13,75% -, mais da metade do caminho previsto pelo Boletim Focus, que projeta juro de 8,5% no fim do ciclo.

SÃO PAULO E BRASÍLIA - O mercado financeiro não tem dúvidas sobre mais um corte de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que começa nesta terça-feira, 19, e termina na quarta. Mas as atenções do mercado estão focadas em descobrir por quantas reuniões o colegiado pretende manter no “piloto automático” a dose atual de corte de juros.

Uma parte dos analistas acredita que o Copom provavelmente vai alterar, nesta reunião, o seu “forward guidance” (ferramenta usada pelos BCs para sinalizar os próximos passos da política monetária). Segundo os economistas que creem nessa mudança, a tendência é que o colegiado busque mais graus de liberdade no ciclo de redução de juros, em meio à incerteza com o cenário externo, às repetidas surpresas na inflação de serviços e a dados que mostraram a economia mais forte em janeiro.

O BC tem trabalhado com um “forward guidance” desde que começou a cortar juros, em agosto do ano passado. Em linhas gerais, além de reduzir a Selic em 0,5 ponto porcentual, a autoridade monetária tem optado por sinalizar “novos cortes de mesma magnitude nas próximas reuniões”, no plural — sinalizando para as duas próximas reuniões —, caso tudo ocorra como esperado.

No último encontro, de 31 de janeiro, o Copom diminuiu os juros de 11,75% para 11,25% e manteve o forward guidance — o que significa que se comprometeu com mais dois cortes de 0,5 ponto, nas reuniões de março e maio. E, se mantiver a sinalização também no encontro desta semana, vai ter se comprometido a reduzir a taxa nessa magnitude até junho, quando a Selic chegaria a 9,75%.

Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne novamente nesta quarta Foto: André Dusek / Estadão

O economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, lembra que, na última reunião, o Copom tinha à mão apenas dados de atividade relativos a dezembro, quando a economia brasileira dava sinais de estagnação. Agora, vai ter de avaliar o forte crescimento das vendas do varejo ampliado e dos serviços em janeiro, ambos acima do esperado, assim como a criação de 180 mil empregos formais, também mais do que o previsto.

“Ele entra o ano de 2024 com uma economia, pelo lado da demanda, muito mais forte do que se esperava”, explica. “Isso só reforça o cenário de que ele vai tirar o plural do forward guidance. É importante, num momento em que há várias dúvidas com relação à inflação e à atividade mais forte, você ter graus de liberdade.”

Ele diz que as surpresas de janeiro só vão indicar um cenário de atividade mais forte se forem seguidas por resultados melhores também em fevereiro. Mas pondera que o aumento da incerteza sobre o timing de redução dos juros nos Estados Unidos também recomenda mais cautela na condução da política monetária doméstica, especialmente em um momento no qual a taxa Selic já caiu mais de dois pontos porcentuais.

“O ‘forward guidance’ é uma forma de diminuir a volatilidade, para os juros não variarem muito de acordo com cada dado que muda a percepção sobre se o próximo passo é de 0,5 ou 0,25 ponto. Mas, com uma taxa de 13,75%, você tem muito mais espaço para surpresas que não vão afetar a trajetória de queda. Com 10,25%, que vai ser o juro depois de um corte de 0,5 ponto em maio, a taxa já não aguenta mais tanto desaforo”, afirma.

Para o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, os últimos dados econômicos corroboram um cenário de economia mais forte, que vai dificultar a convergência da inflação para o centro da meta, de 3%. Ele diz que o IPCA resiliente, combinado à preocupação fiscal, à expectativa de turbulências no cenário de crescimento externo e à desancoragem das expectativas, deve exigir que o BC diminua o ritmo de cortes a 0,25 ponto porcentual já em junho.

“Esses fatores não vão acelerar a inflação, mas vão tornar mais difícil para o BC jogá-la para a meta”, diz Padovani. “Isso significa diminuir o ritmo para 0,25 ponto em junho, derrubar os juros nominais de maneira mais lenta, porque, como a inflação cai de maneira mais lenta, você precisa de um juro real ainda elevado por um tempo.”

Tudo isso, segundo o analista, joga a favor da perspectiva de mudança do “forward guidance” nesta reunião. “Se ele tirar a sinalização agora, todo mundo vai entender que o risco é de mais inflação, e não de menos. Os dados econômicos já estão ajudando o BC a coordenar as expectativas, a realinhar os preços e, portanto, a poder tirar o ‘guidance’”, afirma.

O economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam, por sua vez, considera que cortes de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic esta semana e em maio são certos, e que uma nova redução desta magnitude em junho também é bastante provável. Mesmo assim, ele diz que o BC ganharia espaço na condução da política monetária se alterasse a sinalização agora, já que o custo de fazer esse movimento em outro momento do ciclo seria maior.

“O BC pode preferir, especialmente se a economia estiver mais forte, optar por cortes de 0,25 ponto, com o mérito de continuar sinalizando uma postura monetária mais forte e sem tomar muito risco, porque lá na frente, a cada 45 dias, vai ter mais informações”, diz o analista, que espera redução da Selic a 9,5% no fim do ciclo.

Manutenção da comunicação

A economista-chefe e fundadora da Buysidebrazil, Andrea Damico, está no grupo que acredita que, neste momento, o BC tem incentivo para manter a comunicação atual, até porque uma mudança poderia causar um movimento do mercado indesejado. “Não vemos razão para o BC mudar o ritmo nem o guidance neste momento. Tem tempo (para mudar). Fazer isso agora pode gerar um ruído e comprometer o fim do ciclo. O mercado poderia começar a precificar queda de 0,25 ponto na próxima reunião. O BC poderia perder graus de liberdade.”

O entendimento de Damico foi fortalecido após o IPCA - índice de inflação oficial - de fevereiro. O indicador trouxe uma leitura mais positiva dos preços de serviços subjacentes (que exclui os itens mais voláteis), cujo comportamento vem sendo alvo de alertas do mercado e do próprio BC, conforme informado na ata do Copom de janeiro. “O último IPCA, com serviços subjacentes, deu mais confiança em um cenário mais construtivo para a inflação.”

Nesta segunda-feira, 18, uma nova informação sobre a atividade colocou mais lenha na fogueira do debate do Copom: o avanço de 0,60% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em janeiro. O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, reforça, porém, que o melhor desempenho do crescimento econômico não está gerando aumento das projeções de inflação. “Ao contrário, as revisões de inflação têm sido para baixo. A atividade será um problema para o BC quando colocar empecilhos para alcançar a meta. Desde a última reunião, não parece ser o caso.”

Olivares também acredita que o BC deve continuar a sinalizar queda de 0,50 ponto da Selic nos próximos encontros. Em sua avaliação, há um mal entendido em ler o forward guidance como um compromisso do BC, especialmente porque o comitê afirma que a prescrição é válida caso o cenário esperado se confirme. “Se já existe a condicionalidade, não vejo porque mudar a não ser que o BC esteja vendo um cenário diferente. A avaliação que eu faço é que as coisas têm acontecido conforme o Copom está sinalizando.”

Sobre a preocupação com os serviços, Olivares também acredita que as melhores notícias do último IPCA, junto com a indicação do colegiado de que a Selic deve continuar contracionista no fim do ciclo, fazem com que o argumento não seja suficiente para uma mudança de guidance agora.

Por fim, o economista argumenta que o debate sobre um possível adiamento no início da queda de juros nos Estados Unidos tampouco é motivo suficiente para que o Copom altere a sinalização de mais cortes de 0,50 ponto em pelo menos mais duas reuniões, já que, antes, seria necessário verificar efeitos no câmbio - o principal canal de transmissão nesse caso.

Olivares não descarta, contudo, que a autoridade monetária comece a discutir neste encontro o momento em que a prescrição futura deveria ser alterada. Ele lembra que o comitê tem mantido o hábito saudável de debater as decisões por várias reuniões, como fizeram antes de definir a elevação da estimativa de juro neutro de 4% para 4,5%.

Ciclo de cortes

Pesquisa feita pelo Estadão/Broadcast aponta uma unanimidade - todas as 55 instituições consultadas esperam o quinto corte seguido de 0,50 ponto porcentual da Selic no Copom desta semana, de 11,25% para 10,75% ao ano. Além disso, 80% das casas (44) ainda aguardam mais duas quedas do mesmo tamanho nos encontros de maio e junho. Outras 11 preveem alteração no ritmo de cortes na reunião de junho: dez (18%) para 0,25 ponto e uma para 0,75 ponto.

Com a baixa esperada da Selic nesta quarta-feira, o afrouxamento monetário chegaria a 3 pontos porcentuais - de 13,75% -, mais da metade do caminho previsto pelo Boletim Focus, que projeta juro de 8,5% no fim do ciclo.

SÃO PAULO E BRASÍLIA - O mercado financeiro não tem dúvidas sobre mais um corte de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que começa nesta terça-feira, 19, e termina na quarta. Mas as atenções do mercado estão focadas em descobrir por quantas reuniões o colegiado pretende manter no “piloto automático” a dose atual de corte de juros.

Uma parte dos analistas acredita que o Copom provavelmente vai alterar, nesta reunião, o seu “forward guidance” (ferramenta usada pelos BCs para sinalizar os próximos passos da política monetária). Segundo os economistas que creem nessa mudança, a tendência é que o colegiado busque mais graus de liberdade no ciclo de redução de juros, em meio à incerteza com o cenário externo, às repetidas surpresas na inflação de serviços e a dados que mostraram a economia mais forte em janeiro.

O BC tem trabalhado com um “forward guidance” desde que começou a cortar juros, em agosto do ano passado. Em linhas gerais, além de reduzir a Selic em 0,5 ponto porcentual, a autoridade monetária tem optado por sinalizar “novos cortes de mesma magnitude nas próximas reuniões”, no plural — sinalizando para as duas próximas reuniões —, caso tudo ocorra como esperado.

No último encontro, de 31 de janeiro, o Copom diminuiu os juros de 11,75% para 11,25% e manteve o forward guidance — o que significa que se comprometeu com mais dois cortes de 0,5 ponto, nas reuniões de março e maio. E, se mantiver a sinalização também no encontro desta semana, vai ter se comprometido a reduzir a taxa nessa magnitude até junho, quando a Selic chegaria a 9,75%.

Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne novamente nesta quarta Foto: André Dusek / Estadão

O economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, lembra que, na última reunião, o Copom tinha à mão apenas dados de atividade relativos a dezembro, quando a economia brasileira dava sinais de estagnação. Agora, vai ter de avaliar o forte crescimento das vendas do varejo ampliado e dos serviços em janeiro, ambos acima do esperado, assim como a criação de 180 mil empregos formais, também mais do que o previsto.

“Ele entra o ano de 2024 com uma economia, pelo lado da demanda, muito mais forte do que se esperava”, explica. “Isso só reforça o cenário de que ele vai tirar o plural do forward guidance. É importante, num momento em que há várias dúvidas com relação à inflação e à atividade mais forte, você ter graus de liberdade.”

Ele diz que as surpresas de janeiro só vão indicar um cenário de atividade mais forte se forem seguidas por resultados melhores também em fevereiro. Mas pondera que o aumento da incerteza sobre o timing de redução dos juros nos Estados Unidos também recomenda mais cautela na condução da política monetária doméstica, especialmente em um momento no qual a taxa Selic já caiu mais de dois pontos porcentuais.

“O ‘forward guidance’ é uma forma de diminuir a volatilidade, para os juros não variarem muito de acordo com cada dado que muda a percepção sobre se o próximo passo é de 0,5 ou 0,25 ponto. Mas, com uma taxa de 13,75%, você tem muito mais espaço para surpresas que não vão afetar a trajetória de queda. Com 10,25%, que vai ser o juro depois de um corte de 0,5 ponto em maio, a taxa já não aguenta mais tanto desaforo”, afirma.

Para o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, os últimos dados econômicos corroboram um cenário de economia mais forte, que vai dificultar a convergência da inflação para o centro da meta, de 3%. Ele diz que o IPCA resiliente, combinado à preocupação fiscal, à expectativa de turbulências no cenário de crescimento externo e à desancoragem das expectativas, deve exigir que o BC diminua o ritmo de cortes a 0,25 ponto porcentual já em junho.

“Esses fatores não vão acelerar a inflação, mas vão tornar mais difícil para o BC jogá-la para a meta”, diz Padovani. “Isso significa diminuir o ritmo para 0,25 ponto em junho, derrubar os juros nominais de maneira mais lenta, porque, como a inflação cai de maneira mais lenta, você precisa de um juro real ainda elevado por um tempo.”

Tudo isso, segundo o analista, joga a favor da perspectiva de mudança do “forward guidance” nesta reunião. “Se ele tirar a sinalização agora, todo mundo vai entender que o risco é de mais inflação, e não de menos. Os dados econômicos já estão ajudando o BC a coordenar as expectativas, a realinhar os preços e, portanto, a poder tirar o ‘guidance’”, afirma.

O economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam, por sua vez, considera que cortes de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic esta semana e em maio são certos, e que uma nova redução desta magnitude em junho também é bastante provável. Mesmo assim, ele diz que o BC ganharia espaço na condução da política monetária se alterasse a sinalização agora, já que o custo de fazer esse movimento em outro momento do ciclo seria maior.

“O BC pode preferir, especialmente se a economia estiver mais forte, optar por cortes de 0,25 ponto, com o mérito de continuar sinalizando uma postura monetária mais forte e sem tomar muito risco, porque lá na frente, a cada 45 dias, vai ter mais informações”, diz o analista, que espera redução da Selic a 9,5% no fim do ciclo.

Manutenção da comunicação

A economista-chefe e fundadora da Buysidebrazil, Andrea Damico, está no grupo que acredita que, neste momento, o BC tem incentivo para manter a comunicação atual, até porque uma mudança poderia causar um movimento do mercado indesejado. “Não vemos razão para o BC mudar o ritmo nem o guidance neste momento. Tem tempo (para mudar). Fazer isso agora pode gerar um ruído e comprometer o fim do ciclo. O mercado poderia começar a precificar queda de 0,25 ponto na próxima reunião. O BC poderia perder graus de liberdade.”

O entendimento de Damico foi fortalecido após o IPCA - índice de inflação oficial - de fevereiro. O indicador trouxe uma leitura mais positiva dos preços de serviços subjacentes (que exclui os itens mais voláteis), cujo comportamento vem sendo alvo de alertas do mercado e do próprio BC, conforme informado na ata do Copom de janeiro. “O último IPCA, com serviços subjacentes, deu mais confiança em um cenário mais construtivo para a inflação.”

Nesta segunda-feira, 18, uma nova informação sobre a atividade colocou mais lenha na fogueira do debate do Copom: o avanço de 0,60% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em janeiro. O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, reforça, porém, que o melhor desempenho do crescimento econômico não está gerando aumento das projeções de inflação. “Ao contrário, as revisões de inflação têm sido para baixo. A atividade será um problema para o BC quando colocar empecilhos para alcançar a meta. Desde a última reunião, não parece ser o caso.”

Olivares também acredita que o BC deve continuar a sinalizar queda de 0,50 ponto da Selic nos próximos encontros. Em sua avaliação, há um mal entendido em ler o forward guidance como um compromisso do BC, especialmente porque o comitê afirma que a prescrição é válida caso o cenário esperado se confirme. “Se já existe a condicionalidade, não vejo porque mudar a não ser que o BC esteja vendo um cenário diferente. A avaliação que eu faço é que as coisas têm acontecido conforme o Copom está sinalizando.”

Sobre a preocupação com os serviços, Olivares também acredita que as melhores notícias do último IPCA, junto com a indicação do colegiado de que a Selic deve continuar contracionista no fim do ciclo, fazem com que o argumento não seja suficiente para uma mudança de guidance agora.

Por fim, o economista argumenta que o debate sobre um possível adiamento no início da queda de juros nos Estados Unidos tampouco é motivo suficiente para que o Copom altere a sinalização de mais cortes de 0,50 ponto em pelo menos mais duas reuniões, já que, antes, seria necessário verificar efeitos no câmbio - o principal canal de transmissão nesse caso.

Olivares não descarta, contudo, que a autoridade monetária comece a discutir neste encontro o momento em que a prescrição futura deveria ser alterada. Ele lembra que o comitê tem mantido o hábito saudável de debater as decisões por várias reuniões, como fizeram antes de definir a elevação da estimativa de juro neutro de 4% para 4,5%.

Ciclo de cortes

Pesquisa feita pelo Estadão/Broadcast aponta uma unanimidade - todas as 55 instituições consultadas esperam o quinto corte seguido de 0,50 ponto porcentual da Selic no Copom desta semana, de 11,25% para 10,75% ao ano. Além disso, 80% das casas (44) ainda aguardam mais duas quedas do mesmo tamanho nos encontros de maio e junho. Outras 11 preveem alteração no ritmo de cortes na reunião de junho: dez (18%) para 0,25 ponto e uma para 0,75 ponto.

Com a baixa esperada da Selic nesta quarta-feira, o afrouxamento monetário chegaria a 3 pontos porcentuais - de 13,75% -, mais da metade do caminho previsto pelo Boletim Focus, que projeta juro de 8,5% no fim do ciclo.

SÃO PAULO E BRASÍLIA - O mercado financeiro não tem dúvidas sobre mais um corte de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que começa nesta terça-feira, 19, e termina na quarta. Mas as atenções do mercado estão focadas em descobrir por quantas reuniões o colegiado pretende manter no “piloto automático” a dose atual de corte de juros.

Uma parte dos analistas acredita que o Copom provavelmente vai alterar, nesta reunião, o seu “forward guidance” (ferramenta usada pelos BCs para sinalizar os próximos passos da política monetária). Segundo os economistas que creem nessa mudança, a tendência é que o colegiado busque mais graus de liberdade no ciclo de redução de juros, em meio à incerteza com o cenário externo, às repetidas surpresas na inflação de serviços e a dados que mostraram a economia mais forte em janeiro.

O BC tem trabalhado com um “forward guidance” desde que começou a cortar juros, em agosto do ano passado. Em linhas gerais, além de reduzir a Selic em 0,5 ponto porcentual, a autoridade monetária tem optado por sinalizar “novos cortes de mesma magnitude nas próximas reuniões”, no plural — sinalizando para as duas próximas reuniões —, caso tudo ocorra como esperado.

No último encontro, de 31 de janeiro, o Copom diminuiu os juros de 11,75% para 11,25% e manteve o forward guidance — o que significa que se comprometeu com mais dois cortes de 0,5 ponto, nas reuniões de março e maio. E, se mantiver a sinalização também no encontro desta semana, vai ter se comprometido a reduzir a taxa nessa magnitude até junho, quando a Selic chegaria a 9,75%.

Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne novamente nesta quarta Foto: André Dusek / Estadão

O economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, lembra que, na última reunião, o Copom tinha à mão apenas dados de atividade relativos a dezembro, quando a economia brasileira dava sinais de estagnação. Agora, vai ter de avaliar o forte crescimento das vendas do varejo ampliado e dos serviços em janeiro, ambos acima do esperado, assim como a criação de 180 mil empregos formais, também mais do que o previsto.

“Ele entra o ano de 2024 com uma economia, pelo lado da demanda, muito mais forte do que se esperava”, explica. “Isso só reforça o cenário de que ele vai tirar o plural do forward guidance. É importante, num momento em que há várias dúvidas com relação à inflação e à atividade mais forte, você ter graus de liberdade.”

Ele diz que as surpresas de janeiro só vão indicar um cenário de atividade mais forte se forem seguidas por resultados melhores também em fevereiro. Mas pondera que o aumento da incerteza sobre o timing de redução dos juros nos Estados Unidos também recomenda mais cautela na condução da política monetária doméstica, especialmente em um momento no qual a taxa Selic já caiu mais de dois pontos porcentuais.

“O ‘forward guidance’ é uma forma de diminuir a volatilidade, para os juros não variarem muito de acordo com cada dado que muda a percepção sobre se o próximo passo é de 0,5 ou 0,25 ponto. Mas, com uma taxa de 13,75%, você tem muito mais espaço para surpresas que não vão afetar a trajetória de queda. Com 10,25%, que vai ser o juro depois de um corte de 0,5 ponto em maio, a taxa já não aguenta mais tanto desaforo”, afirma.

Para o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, os últimos dados econômicos corroboram um cenário de economia mais forte, que vai dificultar a convergência da inflação para o centro da meta, de 3%. Ele diz que o IPCA resiliente, combinado à preocupação fiscal, à expectativa de turbulências no cenário de crescimento externo e à desancoragem das expectativas, deve exigir que o BC diminua o ritmo de cortes a 0,25 ponto porcentual já em junho.

“Esses fatores não vão acelerar a inflação, mas vão tornar mais difícil para o BC jogá-la para a meta”, diz Padovani. “Isso significa diminuir o ritmo para 0,25 ponto em junho, derrubar os juros nominais de maneira mais lenta, porque, como a inflação cai de maneira mais lenta, você precisa de um juro real ainda elevado por um tempo.”

Tudo isso, segundo o analista, joga a favor da perspectiva de mudança do “forward guidance” nesta reunião. “Se ele tirar a sinalização agora, todo mundo vai entender que o risco é de mais inflação, e não de menos. Os dados econômicos já estão ajudando o BC a coordenar as expectativas, a realinhar os preços e, portanto, a poder tirar o ‘guidance’”, afirma.

O economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam, por sua vez, considera que cortes de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic esta semana e em maio são certos, e que uma nova redução desta magnitude em junho também é bastante provável. Mesmo assim, ele diz que o BC ganharia espaço na condução da política monetária se alterasse a sinalização agora, já que o custo de fazer esse movimento em outro momento do ciclo seria maior.

“O BC pode preferir, especialmente se a economia estiver mais forte, optar por cortes de 0,25 ponto, com o mérito de continuar sinalizando uma postura monetária mais forte e sem tomar muito risco, porque lá na frente, a cada 45 dias, vai ter mais informações”, diz o analista, que espera redução da Selic a 9,5% no fim do ciclo.

Manutenção da comunicação

A economista-chefe e fundadora da Buysidebrazil, Andrea Damico, está no grupo que acredita que, neste momento, o BC tem incentivo para manter a comunicação atual, até porque uma mudança poderia causar um movimento do mercado indesejado. “Não vemos razão para o BC mudar o ritmo nem o guidance neste momento. Tem tempo (para mudar). Fazer isso agora pode gerar um ruído e comprometer o fim do ciclo. O mercado poderia começar a precificar queda de 0,25 ponto na próxima reunião. O BC poderia perder graus de liberdade.”

O entendimento de Damico foi fortalecido após o IPCA - índice de inflação oficial - de fevereiro. O indicador trouxe uma leitura mais positiva dos preços de serviços subjacentes (que exclui os itens mais voláteis), cujo comportamento vem sendo alvo de alertas do mercado e do próprio BC, conforme informado na ata do Copom de janeiro. “O último IPCA, com serviços subjacentes, deu mais confiança em um cenário mais construtivo para a inflação.”

Nesta segunda-feira, 18, uma nova informação sobre a atividade colocou mais lenha na fogueira do debate do Copom: o avanço de 0,60% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em janeiro. O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, reforça, porém, que o melhor desempenho do crescimento econômico não está gerando aumento das projeções de inflação. “Ao contrário, as revisões de inflação têm sido para baixo. A atividade será um problema para o BC quando colocar empecilhos para alcançar a meta. Desde a última reunião, não parece ser o caso.”

Olivares também acredita que o BC deve continuar a sinalizar queda de 0,50 ponto da Selic nos próximos encontros. Em sua avaliação, há um mal entendido em ler o forward guidance como um compromisso do BC, especialmente porque o comitê afirma que a prescrição é válida caso o cenário esperado se confirme. “Se já existe a condicionalidade, não vejo porque mudar a não ser que o BC esteja vendo um cenário diferente. A avaliação que eu faço é que as coisas têm acontecido conforme o Copom está sinalizando.”

Sobre a preocupação com os serviços, Olivares também acredita que as melhores notícias do último IPCA, junto com a indicação do colegiado de que a Selic deve continuar contracionista no fim do ciclo, fazem com que o argumento não seja suficiente para uma mudança de guidance agora.

Por fim, o economista argumenta que o debate sobre um possível adiamento no início da queda de juros nos Estados Unidos tampouco é motivo suficiente para que o Copom altere a sinalização de mais cortes de 0,50 ponto em pelo menos mais duas reuniões, já que, antes, seria necessário verificar efeitos no câmbio - o principal canal de transmissão nesse caso.

Olivares não descarta, contudo, que a autoridade monetária comece a discutir neste encontro o momento em que a prescrição futura deveria ser alterada. Ele lembra que o comitê tem mantido o hábito saudável de debater as decisões por várias reuniões, como fizeram antes de definir a elevação da estimativa de juro neutro de 4% para 4,5%.

Ciclo de cortes

Pesquisa feita pelo Estadão/Broadcast aponta uma unanimidade - todas as 55 instituições consultadas esperam o quinto corte seguido de 0,50 ponto porcentual da Selic no Copom desta semana, de 11,25% para 10,75% ao ano. Além disso, 80% das casas (44) ainda aguardam mais duas quedas do mesmo tamanho nos encontros de maio e junho. Outras 11 preveem alteração no ritmo de cortes na reunião de junho: dez (18%) para 0,25 ponto e uma para 0,75 ponto.

Com a baixa esperada da Selic nesta quarta-feira, o afrouxamento monetário chegaria a 3 pontos porcentuais - de 13,75% -, mais da metade do caminho previsto pelo Boletim Focus, que projeta juro de 8,5% no fim do ciclo.

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