São Paulo - Um novo corte de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic, hoje em 13,25%, na reunião que se encerra nesta quarta-feira, 20, do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central é um consenso no mercado. Essa é a expectativa unânime de 69 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast. Os dados recentes mais benignos da inflação, porém, recolocaram no radar uma possível aceleração do ritmo de redução dos juros, para 0,75 ponto, nas reuniões seguintes antes do fim de 2023, ainda que essa seja uma posição minoritária.
O Itaú Unibanco, que antes projetava três cortes de 0,5 ponto até o fim do ano, passou a prever redução de 0,75 ponto nos juros em dezembro após o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, que ficou abaixo do esperado. Além da reunião desta semana, na terça e quarta-feiras, o Copom também ter encontros nos dias 31 de outubro e 1º de novembro e nos dias 12 e 13 de dezembro.
Em relatório, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, atribuiu a revisão à dinâmica mais benigna da inflação de serviços e à desaceleração da atividade econômica - que, na avaliação dele, deve ficar mais evidente ao longo do segundo semestre. O Itaú reduziu as projeções para a Selic no fim de 2023 (11,75% para 11,5%) e de 2024 (9,5% para 9,0%).
Em agosto, o IPCA, o índice oficial de inflação do País, registrou um avanço de 0,23%, abaixo das estimativas do mercado, de 0,28%. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses subiu pelo segundo mês consecutivo, passando de 3,99% em julho para 4,61% em agosto de 2023, mas ainda no intervalo da meta de inflação para este ano perseguida pelo Banco Central, que tem teto de tolerância de 4,75%.
Das 69 instituições consultadas, 55 esperam cortes sequenciais de 0,5 ponto nos juros até o fim de 2023, enquanto 12 preveem aceleração do ritmo de baixa, com ao menos uma redução de 0,75 ponto este ano. Uma das instituições prevê um corte de 0,5 e outro de 0,25 ponto, e outra informou apenas a projeção para a reunião desta semana.
Olho em 2025
O estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, também espera aceleração dos cortes na Selic a partir de dezembro. Além da desinflação dos serviços e da desaceleração da atividade econômica, ele cita o ganho de relevância do ano de 2025 no horizonte relevante da política monetária (ou seja, o cenário a ser levado em consideração pelo BC) como um fator que deve levar à intensificação do ciclo.
“Na medida em que avançamos no tempo, 2025 vai ganhando peso no horizonte relevante. É importante lembrar que, já no último Copom, a projeção para inflação do comitê para 2025 estava cravada em 3%, em linha com a meta”, afirma Goldenstein.
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Um corte de 0,75 ponto ainda este ano não é corroborado, porém, pelo economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Sousa Leal, embora ele avalie que a inflação mais benigna de serviços mantém essa possibilidade na mesa.
Por enquanto, Leal conserva a perspectiva de manutenção do ritmo de cortes até o fim do ano, levando a Selic a 11,75% na reunião de dezembro. Para uma aceleração, seria necessário também uma mudança de tom na comunicação do Banco Central, avalia.
“Ela teria de dar mais ênfase à desinflação de serviços como vetor que possibilitaria essa aceleração”, afirma. “Entre as três condicionantes mencionadas pelo BC na última ata, é a que eu vejo com mais chance de seguir acontecendo.”
O economista da XP Investimentos Rodolfo Margato pondera que, apesar da leitura mais benigna da inflação corrente, outros vetores jogam contra uma possível aceleração do ritmo de cortes da Selic este ano: a depreciação recente do câmbio e a elevação dos preços internacionais do petróleo. Por isso, a casa prevê manutenção do ritmo de 0,5 ponto para os cortes da Selic, chegando a 11,75% no fim de 2023.
Margato projeta uma Selic de 10% no fim do ciclo de cortes, a ser atingido em meados de 2024 - acima do previsto pela maioria do mercado, por conta das incertezas na conjuntura doméstica e internacional. “Se chegarmos no segundo trimestre do ano que vem com um cenário externo mais favorável, um câmbio mais próximo de R$ 4,50, recuo nos preços do petróleo e alguma acomodação das discussões fiscais no Brasil, pode haver espaço para níveis abaixo de 10% para a Selic”, diz.