Diretor do Banco Central diz que Copom é coeso, mas cada membro tem um olhar


Diogo Guillen, diretor de Política Econômica do BC, afirma que trabalho da autoridade monetária é ‘puxar’ as expectativas do mercado para o ‘lado certo’

Por Célia Froufe e Cícero Cotrim

BRASÍLIA - O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta quinta-feira, 22, que a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) continua refletindo adequadamente o seu diagnóstico sobre a economia. Segundo ele, um ponto relevante continua sendo a “coesão” dos membros do colegiado.

“A ata traz, em vários momentos, a unidade, tanto nos diagnósticos quanto na questão prospectiva”, afirmou Guillen, em evento organizado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio. Ele argumentou que essa unidade de diagnósticos diminui os ruídos em torno da comunicação do comitê.

Guillen destacou que, embora haja coesão no comitê, cada um dos diretores tende a observar um conjunto de dados mais de perto.

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O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen Foto: Felipe Rau/Estadão

“Eu sempre chamo a atenção de alguns diretores que olham muito a parte de crédito, que estão olhando muito a questão dos bancos. Eu sou, naquela formação, pela faculdade, olho muito a questão de projeção, como é que estão os fundamentos da economia, o que é que determina a inflação, como é que está a expectativa, como é que está a inflação corrente”, afirmou.

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Ele reiterou que as expectativas de inflação do mercado estão desancoradas e que o trabalho da autoridade monetária é “puxá-las” para o lado certo, já que elas são relevantes para a formação dos preços. “Já comentei no passado que uma expectativa desancorada é como se fosse um farol para o lado errado: você vai levando os preços para um outro lado e você tem de puxar de volta os preços, para menos”, afirmou.

Guillen disse que existe um debate sobre as causas da desancoragem, mas ressaltou que esse motivo é irrelevante do ponto de vista da política monetária. “Qualquer que seja a causa, você tem de combater isso para conseguir levar a inflação para a meta”, afirmou.

O diretor disse que o Copom mencionou que “monitora com atenção” os desenvolvimentos da política fiscal porque, usualmente, ela tem impacto na demanda agregada. “Então, vai puxar a inflação, vai puxar a atividade para cima. E o que acontece, quando você tem um país com dívida elevada, é que você tem um impacto via condições financeiras”, afirmou. Guillen acrescentou que, nas últimas duas reuniões, o questionário pré-Copom (QPC) captou uma piora da percepção fiscal dos agentes econômicos.

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Balanço de riscos

Segundo o diretor do BC, existe um “excesso” do mercado ao tentar interpretar o balanço de riscos do Copom como um guidance (orientação) para os próximos passos. “Eu acho que tem um pouco de excesso de tentar transformar o balanço de riscos no guidance quando ele não deveria ser visto como um guidance de política monetária, ele é o balanço de riscos sobre a projeção de inflação”, disse.

Ele destacou que, na última reunião, todos os membros do comitê já concordavam que havia mais riscos de alta do que de baixa para as projeções de inflação, e por isso o balanço trouxe três vetores para cima e apenas dois de queda. E lembrou que vários membros já consideram que o balanço é assimétrico para cima.

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“A gente está vendo no cenário, e eu sigo vendo assim, projeções mais elevadas e com mais riscos, levando a um cenário mais desafiador para o comitê. E vai ser importante acompanhar esses dados. Então, a gente optou por não dar guidance”, disse. Ele acrescentou ser necessário ser mais cauteloso na calibragem da política monetária.

Guillen disse que está muito confortável com a comunicação da ata do Copom, que reflete uma visão consensual de mais riscos para cima, de vários membros falando de forma semelhante. “Acho que deveria ser lido como um instrumento de você aprender sobre como os membros estão pensando sobre a dinâmica inflacionária”, defendeu.

O diretor afirmou ainda que, na última reunião, foram discutidas tanto estratégias de manutenção da taxa Selic, como de um eventual aumento, mas que ela não representa o próximo encontro. No cenário corrente, o diretor observou que existe um arrefecimento da inflação e que o crédito tem evoluído conforme o esperado pelo BC.

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Ele relatou que o cenário externo foi “muito discutido” pelo Copom na última reunião, quando os membros decidiram continuar classificando o quadro como “adverso”. Segundo o diretor, os discursos de membros do colegiado servem para complementar as comunicações oficiais da autoridade monetária.

Incerteza nos EUA

O diretor do Banco Central disse ainda que a incerteza sobre a política monetária americana deixou, recentemente, de se referir ao início do ciclo de cortes e passou a orbitar os impactos do corte de juros sobre a economia.

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“Quais são os impactos sobre a inflação, quais são os impactos sobre a atividade, você tem uma flexibilização na política monetária, e claro, a extensão desse ciclo”, afirmou.

Ele lembrou que, na ata da sua última reunião, o Copom continuou classificando o cenário externo como “adverso” e chamou atenção para as condições financeiras globais, que têm se mantido apertadas, segundo o diretor. Guillen acrescentou que a política monetária global está dessincronizada, o que tem contribuído para a volatilidade dos mercados.

O diretor afirmou ainda que o câmbio tem se mantido volátil e lembrou da depreciação do real entre as duas últimas reuniões do comitê, mas disse que não existe relação mecânica entre a condução da política monetária no Brasil e a cotação do dólar ou as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Mercado de trabalho

O ritmo de crescimento da atividade econômica e a robustez do mercado de trabalho brasileiro continuam surpreendendo, e isso levou o Banco Central a atualizar as suas estimativas de hiato do produto (indicador que mensura as oscilações cíclicas da economia) no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), disse Guillen.

Ele afirmou que todas as pesquisas setoriais de atividade têm mostrado maior resistência e reforçado a percepção de dinamismo da economia. “Quando você olha por que está havendo essa resiliência, por que está havendo esse dinamismo nessas pesquisas todas, tem uma parte que é, claro, do mercado de trabalho”, disse. “O mercado de trabalho tem renda crescendo e volume crescendo, e tem também transferências puxando a renda.”

O diretor destacou que o bom desempenho do mercado de trabalho é disseminado, e não concentrado em um ou outro setor. Segundo Guillen, a combinação entre aumento da taxa de participação e queda do desemprego também mostra que o segmento está dinâmico, e isso tem levado a questionamentos sobre a taxa neutra de desemprego (Nairu, na sigla em inglês).

BRASÍLIA - O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta quinta-feira, 22, que a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) continua refletindo adequadamente o seu diagnóstico sobre a economia. Segundo ele, um ponto relevante continua sendo a “coesão” dos membros do colegiado.

“A ata traz, em vários momentos, a unidade, tanto nos diagnósticos quanto na questão prospectiva”, afirmou Guillen, em evento organizado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio. Ele argumentou que essa unidade de diagnósticos diminui os ruídos em torno da comunicação do comitê.

Guillen destacou que, embora haja coesão no comitê, cada um dos diretores tende a observar um conjunto de dados mais de perto.

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen Foto: Felipe Rau/Estadão

“Eu sempre chamo a atenção de alguns diretores que olham muito a parte de crédito, que estão olhando muito a questão dos bancos. Eu sou, naquela formação, pela faculdade, olho muito a questão de projeção, como é que estão os fundamentos da economia, o que é que determina a inflação, como é que está a expectativa, como é que está a inflação corrente”, afirmou.

Ele reiterou que as expectativas de inflação do mercado estão desancoradas e que o trabalho da autoridade monetária é “puxá-las” para o lado certo, já que elas são relevantes para a formação dos preços. “Já comentei no passado que uma expectativa desancorada é como se fosse um farol para o lado errado: você vai levando os preços para um outro lado e você tem de puxar de volta os preços, para menos”, afirmou.

Guillen disse que existe um debate sobre as causas da desancoragem, mas ressaltou que esse motivo é irrelevante do ponto de vista da política monetária. “Qualquer que seja a causa, você tem de combater isso para conseguir levar a inflação para a meta”, afirmou.

O diretor disse que o Copom mencionou que “monitora com atenção” os desenvolvimentos da política fiscal porque, usualmente, ela tem impacto na demanda agregada. “Então, vai puxar a inflação, vai puxar a atividade para cima. E o que acontece, quando você tem um país com dívida elevada, é que você tem um impacto via condições financeiras”, afirmou. Guillen acrescentou que, nas últimas duas reuniões, o questionário pré-Copom (QPC) captou uma piora da percepção fiscal dos agentes econômicos.

Balanço de riscos

Segundo o diretor do BC, existe um “excesso” do mercado ao tentar interpretar o balanço de riscos do Copom como um guidance (orientação) para os próximos passos. “Eu acho que tem um pouco de excesso de tentar transformar o balanço de riscos no guidance quando ele não deveria ser visto como um guidance de política monetária, ele é o balanço de riscos sobre a projeção de inflação”, disse.

Ele destacou que, na última reunião, todos os membros do comitê já concordavam que havia mais riscos de alta do que de baixa para as projeções de inflação, e por isso o balanço trouxe três vetores para cima e apenas dois de queda. E lembrou que vários membros já consideram que o balanço é assimétrico para cima.

“A gente está vendo no cenário, e eu sigo vendo assim, projeções mais elevadas e com mais riscos, levando a um cenário mais desafiador para o comitê. E vai ser importante acompanhar esses dados. Então, a gente optou por não dar guidance”, disse. Ele acrescentou ser necessário ser mais cauteloso na calibragem da política monetária.

Guillen disse que está muito confortável com a comunicação da ata do Copom, que reflete uma visão consensual de mais riscos para cima, de vários membros falando de forma semelhante. “Acho que deveria ser lido como um instrumento de você aprender sobre como os membros estão pensando sobre a dinâmica inflacionária”, defendeu.

O diretor afirmou ainda que, na última reunião, foram discutidas tanto estratégias de manutenção da taxa Selic, como de um eventual aumento, mas que ela não representa o próximo encontro. No cenário corrente, o diretor observou que existe um arrefecimento da inflação e que o crédito tem evoluído conforme o esperado pelo BC.

Ele relatou que o cenário externo foi “muito discutido” pelo Copom na última reunião, quando os membros decidiram continuar classificando o quadro como “adverso”. Segundo o diretor, os discursos de membros do colegiado servem para complementar as comunicações oficiais da autoridade monetária.

Incerteza nos EUA

O diretor do Banco Central disse ainda que a incerteza sobre a política monetária americana deixou, recentemente, de se referir ao início do ciclo de cortes e passou a orbitar os impactos do corte de juros sobre a economia.

“Quais são os impactos sobre a inflação, quais são os impactos sobre a atividade, você tem uma flexibilização na política monetária, e claro, a extensão desse ciclo”, afirmou.

Ele lembrou que, na ata da sua última reunião, o Copom continuou classificando o cenário externo como “adverso” e chamou atenção para as condições financeiras globais, que têm se mantido apertadas, segundo o diretor. Guillen acrescentou que a política monetária global está dessincronizada, o que tem contribuído para a volatilidade dos mercados.

O diretor afirmou ainda que o câmbio tem se mantido volátil e lembrou da depreciação do real entre as duas últimas reuniões do comitê, mas disse que não existe relação mecânica entre a condução da política monetária no Brasil e a cotação do dólar ou as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Mercado de trabalho

O ritmo de crescimento da atividade econômica e a robustez do mercado de trabalho brasileiro continuam surpreendendo, e isso levou o Banco Central a atualizar as suas estimativas de hiato do produto (indicador que mensura as oscilações cíclicas da economia) no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), disse Guillen.

Ele afirmou que todas as pesquisas setoriais de atividade têm mostrado maior resistência e reforçado a percepção de dinamismo da economia. “Quando você olha por que está havendo essa resiliência, por que está havendo esse dinamismo nessas pesquisas todas, tem uma parte que é, claro, do mercado de trabalho”, disse. “O mercado de trabalho tem renda crescendo e volume crescendo, e tem também transferências puxando a renda.”

O diretor destacou que o bom desempenho do mercado de trabalho é disseminado, e não concentrado em um ou outro setor. Segundo Guillen, a combinação entre aumento da taxa de participação e queda do desemprego também mostra que o segmento está dinâmico, e isso tem levado a questionamentos sobre a taxa neutra de desemprego (Nairu, na sigla em inglês).

BRASÍLIA - O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta quinta-feira, 22, que a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) continua refletindo adequadamente o seu diagnóstico sobre a economia. Segundo ele, um ponto relevante continua sendo a “coesão” dos membros do colegiado.

“A ata traz, em vários momentos, a unidade, tanto nos diagnósticos quanto na questão prospectiva”, afirmou Guillen, em evento organizado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio. Ele argumentou que essa unidade de diagnósticos diminui os ruídos em torno da comunicação do comitê.

Guillen destacou que, embora haja coesão no comitê, cada um dos diretores tende a observar um conjunto de dados mais de perto.

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen Foto: Felipe Rau/Estadão

“Eu sempre chamo a atenção de alguns diretores que olham muito a parte de crédito, que estão olhando muito a questão dos bancos. Eu sou, naquela formação, pela faculdade, olho muito a questão de projeção, como é que estão os fundamentos da economia, o que é que determina a inflação, como é que está a expectativa, como é que está a inflação corrente”, afirmou.

Ele reiterou que as expectativas de inflação do mercado estão desancoradas e que o trabalho da autoridade monetária é “puxá-las” para o lado certo, já que elas são relevantes para a formação dos preços. “Já comentei no passado que uma expectativa desancorada é como se fosse um farol para o lado errado: você vai levando os preços para um outro lado e você tem de puxar de volta os preços, para menos”, afirmou.

Guillen disse que existe um debate sobre as causas da desancoragem, mas ressaltou que esse motivo é irrelevante do ponto de vista da política monetária. “Qualquer que seja a causa, você tem de combater isso para conseguir levar a inflação para a meta”, afirmou.

O diretor disse que o Copom mencionou que “monitora com atenção” os desenvolvimentos da política fiscal porque, usualmente, ela tem impacto na demanda agregada. “Então, vai puxar a inflação, vai puxar a atividade para cima. E o que acontece, quando você tem um país com dívida elevada, é que você tem um impacto via condições financeiras”, afirmou. Guillen acrescentou que, nas últimas duas reuniões, o questionário pré-Copom (QPC) captou uma piora da percepção fiscal dos agentes econômicos.

Balanço de riscos

Segundo o diretor do BC, existe um “excesso” do mercado ao tentar interpretar o balanço de riscos do Copom como um guidance (orientação) para os próximos passos. “Eu acho que tem um pouco de excesso de tentar transformar o balanço de riscos no guidance quando ele não deveria ser visto como um guidance de política monetária, ele é o balanço de riscos sobre a projeção de inflação”, disse.

Ele destacou que, na última reunião, todos os membros do comitê já concordavam que havia mais riscos de alta do que de baixa para as projeções de inflação, e por isso o balanço trouxe três vetores para cima e apenas dois de queda. E lembrou que vários membros já consideram que o balanço é assimétrico para cima.

“A gente está vendo no cenário, e eu sigo vendo assim, projeções mais elevadas e com mais riscos, levando a um cenário mais desafiador para o comitê. E vai ser importante acompanhar esses dados. Então, a gente optou por não dar guidance”, disse. Ele acrescentou ser necessário ser mais cauteloso na calibragem da política monetária.

Guillen disse que está muito confortável com a comunicação da ata do Copom, que reflete uma visão consensual de mais riscos para cima, de vários membros falando de forma semelhante. “Acho que deveria ser lido como um instrumento de você aprender sobre como os membros estão pensando sobre a dinâmica inflacionária”, defendeu.

O diretor afirmou ainda que, na última reunião, foram discutidas tanto estratégias de manutenção da taxa Selic, como de um eventual aumento, mas que ela não representa o próximo encontro. No cenário corrente, o diretor observou que existe um arrefecimento da inflação e que o crédito tem evoluído conforme o esperado pelo BC.

Ele relatou que o cenário externo foi “muito discutido” pelo Copom na última reunião, quando os membros decidiram continuar classificando o quadro como “adverso”. Segundo o diretor, os discursos de membros do colegiado servem para complementar as comunicações oficiais da autoridade monetária.

Incerteza nos EUA

O diretor do Banco Central disse ainda que a incerteza sobre a política monetária americana deixou, recentemente, de se referir ao início do ciclo de cortes e passou a orbitar os impactos do corte de juros sobre a economia.

“Quais são os impactos sobre a inflação, quais são os impactos sobre a atividade, você tem uma flexibilização na política monetária, e claro, a extensão desse ciclo”, afirmou.

Ele lembrou que, na ata da sua última reunião, o Copom continuou classificando o cenário externo como “adverso” e chamou atenção para as condições financeiras globais, que têm se mantido apertadas, segundo o diretor. Guillen acrescentou que a política monetária global está dessincronizada, o que tem contribuído para a volatilidade dos mercados.

O diretor afirmou ainda que o câmbio tem se mantido volátil e lembrou da depreciação do real entre as duas últimas reuniões do comitê, mas disse que não existe relação mecânica entre a condução da política monetária no Brasil e a cotação do dólar ou as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Mercado de trabalho

O ritmo de crescimento da atividade econômica e a robustez do mercado de trabalho brasileiro continuam surpreendendo, e isso levou o Banco Central a atualizar as suas estimativas de hiato do produto (indicador que mensura as oscilações cíclicas da economia) no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), disse Guillen.

Ele afirmou que todas as pesquisas setoriais de atividade têm mostrado maior resistência e reforçado a percepção de dinamismo da economia. “Quando você olha por que está havendo essa resiliência, por que está havendo esse dinamismo nessas pesquisas todas, tem uma parte que é, claro, do mercado de trabalho”, disse. “O mercado de trabalho tem renda crescendo e volume crescendo, e tem também transferências puxando a renda.”

O diretor destacou que o bom desempenho do mercado de trabalho é disseminado, e não concentrado em um ou outro setor. Segundo Guillen, a combinação entre aumento da taxa de participação e queda do desemprego também mostra que o segmento está dinâmico, e isso tem levado a questionamentos sobre a taxa neutra de desemprego (Nairu, na sigla em inglês).

BRASÍLIA - O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta quinta-feira, 22, que a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) continua refletindo adequadamente o seu diagnóstico sobre a economia. Segundo ele, um ponto relevante continua sendo a “coesão” dos membros do colegiado.

“A ata traz, em vários momentos, a unidade, tanto nos diagnósticos quanto na questão prospectiva”, afirmou Guillen, em evento organizado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio. Ele argumentou que essa unidade de diagnósticos diminui os ruídos em torno da comunicação do comitê.

Guillen destacou que, embora haja coesão no comitê, cada um dos diretores tende a observar um conjunto de dados mais de perto.

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen Foto: Felipe Rau/Estadão

“Eu sempre chamo a atenção de alguns diretores que olham muito a parte de crédito, que estão olhando muito a questão dos bancos. Eu sou, naquela formação, pela faculdade, olho muito a questão de projeção, como é que estão os fundamentos da economia, o que é que determina a inflação, como é que está a expectativa, como é que está a inflação corrente”, afirmou.

Ele reiterou que as expectativas de inflação do mercado estão desancoradas e que o trabalho da autoridade monetária é “puxá-las” para o lado certo, já que elas são relevantes para a formação dos preços. “Já comentei no passado que uma expectativa desancorada é como se fosse um farol para o lado errado: você vai levando os preços para um outro lado e você tem de puxar de volta os preços, para menos”, afirmou.

Guillen disse que existe um debate sobre as causas da desancoragem, mas ressaltou que esse motivo é irrelevante do ponto de vista da política monetária. “Qualquer que seja a causa, você tem de combater isso para conseguir levar a inflação para a meta”, afirmou.

O diretor disse que o Copom mencionou que “monitora com atenção” os desenvolvimentos da política fiscal porque, usualmente, ela tem impacto na demanda agregada. “Então, vai puxar a inflação, vai puxar a atividade para cima. E o que acontece, quando você tem um país com dívida elevada, é que você tem um impacto via condições financeiras”, afirmou. Guillen acrescentou que, nas últimas duas reuniões, o questionário pré-Copom (QPC) captou uma piora da percepção fiscal dos agentes econômicos.

Balanço de riscos

Segundo o diretor do BC, existe um “excesso” do mercado ao tentar interpretar o balanço de riscos do Copom como um guidance (orientação) para os próximos passos. “Eu acho que tem um pouco de excesso de tentar transformar o balanço de riscos no guidance quando ele não deveria ser visto como um guidance de política monetária, ele é o balanço de riscos sobre a projeção de inflação”, disse.

Ele destacou que, na última reunião, todos os membros do comitê já concordavam que havia mais riscos de alta do que de baixa para as projeções de inflação, e por isso o balanço trouxe três vetores para cima e apenas dois de queda. E lembrou que vários membros já consideram que o balanço é assimétrico para cima.

“A gente está vendo no cenário, e eu sigo vendo assim, projeções mais elevadas e com mais riscos, levando a um cenário mais desafiador para o comitê. E vai ser importante acompanhar esses dados. Então, a gente optou por não dar guidance”, disse. Ele acrescentou ser necessário ser mais cauteloso na calibragem da política monetária.

Guillen disse que está muito confortável com a comunicação da ata do Copom, que reflete uma visão consensual de mais riscos para cima, de vários membros falando de forma semelhante. “Acho que deveria ser lido como um instrumento de você aprender sobre como os membros estão pensando sobre a dinâmica inflacionária”, defendeu.

O diretor afirmou ainda que, na última reunião, foram discutidas tanto estratégias de manutenção da taxa Selic, como de um eventual aumento, mas que ela não representa o próximo encontro. No cenário corrente, o diretor observou que existe um arrefecimento da inflação e que o crédito tem evoluído conforme o esperado pelo BC.

Ele relatou que o cenário externo foi “muito discutido” pelo Copom na última reunião, quando os membros decidiram continuar classificando o quadro como “adverso”. Segundo o diretor, os discursos de membros do colegiado servem para complementar as comunicações oficiais da autoridade monetária.

Incerteza nos EUA

O diretor do Banco Central disse ainda que a incerteza sobre a política monetária americana deixou, recentemente, de se referir ao início do ciclo de cortes e passou a orbitar os impactos do corte de juros sobre a economia.

“Quais são os impactos sobre a inflação, quais são os impactos sobre a atividade, você tem uma flexibilização na política monetária, e claro, a extensão desse ciclo”, afirmou.

Ele lembrou que, na ata da sua última reunião, o Copom continuou classificando o cenário externo como “adverso” e chamou atenção para as condições financeiras globais, que têm se mantido apertadas, segundo o diretor. Guillen acrescentou que a política monetária global está dessincronizada, o que tem contribuído para a volatilidade dos mercados.

O diretor afirmou ainda que o câmbio tem se mantido volátil e lembrou da depreciação do real entre as duas últimas reuniões do comitê, mas disse que não existe relação mecânica entre a condução da política monetária no Brasil e a cotação do dólar ou as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Mercado de trabalho

O ritmo de crescimento da atividade econômica e a robustez do mercado de trabalho brasileiro continuam surpreendendo, e isso levou o Banco Central a atualizar as suas estimativas de hiato do produto (indicador que mensura as oscilações cíclicas da economia) no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), disse Guillen.

Ele afirmou que todas as pesquisas setoriais de atividade têm mostrado maior resistência e reforçado a percepção de dinamismo da economia. “Quando você olha por que está havendo essa resiliência, por que está havendo esse dinamismo nessas pesquisas todas, tem uma parte que é, claro, do mercado de trabalho”, disse. “O mercado de trabalho tem renda crescendo e volume crescendo, e tem também transferências puxando a renda.”

O diretor destacou que o bom desempenho do mercado de trabalho é disseminado, e não concentrado em um ou outro setor. Segundo Guillen, a combinação entre aumento da taxa de participação e queda do desemprego também mostra que o segmento está dinâmico, e isso tem levado a questionamentos sobre a taxa neutra de desemprego (Nairu, na sigla em inglês).

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