Copom pode acelerar corte de juros em março e levar Selic a 8%, diz economista-chefe do UBS BB


Na avaliação de Alexandre de Ázara, inflação menor no Brasil e no mundo vai permitir uma política monetária mais frouxa

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:
Foto: Dilvulgação/UBS
Entrevista com Alexandre de ÁzaraEconomista-chefe do UBS BB

O economista-chefe do banco UBS BB, Alexandre de Ázara, avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode aumentar o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto a partir do encontro de março.

“Eu acho que a taxa terminal é de 8%. E são dois motivos (para a aceleração): eu tenho uma inflação menor e prevemos corte de juros nos Estados Unidos”, afirma.

Nesta quarta-feira, 13, o Copom promoveu o quarto corte seguido da Selic, para 11,75% ao ano.

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Em 2024, o banco prevê uma recessão para os Estados Unidos e uma desaceleração da China e do Brasil. Também projeta que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) deve iniciar o ciclo de redução de juros em março.

“A gente tem uma inflação menor nos EUA, no mundo e no Brasil. Então, as políticas monetárias são mais frouxa”, diz.

A seguir trechos da entrevista concedida ao Estadão.

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Economista-chefe do banco UBS BB, Alexandre de Ázara, vê Selic a 8% em 2024 Foto: Dilvulgação/UBS

Como avalia a decisão do Copom?

Quando começou o corte de juros, todo mundo esperava (uma redução de) 25 (pontos), mas eles deram 50. Foi uma decisão apertada, de 5 a 4 (votos), e o Roberto Campos (Neto, presidente do BC) foi o definidor do ritmo. Como estava 4 a 4 antes dele votar, ele foi lá e votou por 5 a 4. Tinha uma turma que queria começar com 50, e outra com 25. Muita gente dizia que o Galípolo (Gabriel Galípolo, diretor de política monetária) iria mandar no Banco Central, de que poderiam fazer (um corte de) 75 pontos e seriam irresponsáveis. Não foi isso. O BC veio unânime de lá para cá. E acho muito importante esse consenso ter sido criado. Depois, veio a sinalização de que esse era o ritmo apropriado para as próximas reuniões. Em março, eu tenho um corte de 75 pontos, mas o que eu acho que o BC quer é sinalizar 50 pontos nas próximas duas reuniões e fazer um juro parecido com o do Focus, que é 9,25% (ao fim de 2024).

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Por que prevê uma aceleração do corte e até onde esse ciclo deve ir?

Eu acho que a taxa terminal é de 8% (em 2024). Eu tenho uma inflação menor e prevemos corte de juros nos Estados Unidos. São dois os motivos (para a aceleração).

Poderia detalhar o cenário de inflação menor no Brasil?

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Temos 3% de inflação no ano que vem. O Focus tem 3,9%. É basicamente uma diferença de bens industrializados. A minha inflação menor começa a acumular evidências de que será menor em março, quando teremos 3,7% no ano contra ano.

E quando os EUA começam a cortar os juros?

Em março. São vários cortes. O juro (norte-americano) para em 2,75%. A gente tem uma recessãozinha nos Estados Unidos. É o cenário do nosso economista de EUA. E temos uma inflação menor do que o consenso. A gente tem uma inflação menor nos EUA, no mundo e no Brasil. Então, as políticas monetárias são mais frouxas.

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E o que explica essa inflação menor para bens?

O Focus tem 2,7% para o ano que vem de inflação de bens, e a gente tem zero. Este ano vai terminar em 1,5%. Você acha que vai acelerar a inflação de bens num ano com recessão nos EUA e desaceleração na China e no Brasil? Se o Focus tivesse inflação de bens constante na mesma taxa que termina este ano, que é 1,5%, a projeção (do IPCA) seria 3,5%, não 3,9%. Os preços de bens, que ficaram muito inflacionados no meio da pandemia, não normalizaram ainda.

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A incerteza fiscal não pode limitar o ciclo de queda de juros no Brasil?

Se existisse mais incerteza fiscal, concordaria enormemente, mas a projeção de déficit do Focus de 2024, é a mesma desde março. Se as pessoas estão mais preocupadas, a projeção de déficit teria de aumentar. As pessoas não estão mais preocupadas. As pessoas têm medo de ficar mais preocupadas. Não dá para discutir - e eu gosto dessa analogia - um moinho quixotesco. Hoje em dia, o fiscal é o moinho do Dom Quixote. É um fantasma que ele vê, que ele achava que era um gigante, mas era um moinho. Até agora, não teve uma mudança na regra de gastos. Sem uma mudança na regra de gastos, eu não vejo motivos para a projeção de déficit piorar. Se a projeção de déficit não piorar, eu não consigo achar que isso é limitante para o Copom.

E de quanto deve ser a desaceleração da economia brasileira em 2024?

Temos 1,4% de PIB para o ano que vem, e 3,2% neste ano. Mas a demanda doméstica – que é consumo, mais investimentos e mais gasto – é só 2%. No ano que vem, é 1,7%. Desacelera muito pouco. Por que o PIB foi mais forte neste ano? Porque neste ano houve um grande crescimento da agricultura. E em 2024, deve ficar próximo de zero.

O economista-chefe do banco UBS BB, Alexandre de Ázara, avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode aumentar o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto a partir do encontro de março.

“Eu acho que a taxa terminal é de 8%. E são dois motivos (para a aceleração): eu tenho uma inflação menor e prevemos corte de juros nos Estados Unidos”, afirma.

Nesta quarta-feira, 13, o Copom promoveu o quarto corte seguido da Selic, para 11,75% ao ano.

Em 2024, o banco prevê uma recessão para os Estados Unidos e uma desaceleração da China e do Brasil. Também projeta que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) deve iniciar o ciclo de redução de juros em março.

“A gente tem uma inflação menor nos EUA, no mundo e no Brasil. Então, as políticas monetárias são mais frouxa”, diz.

A seguir trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Economista-chefe do banco UBS BB, Alexandre de Ázara, vê Selic a 8% em 2024 Foto: Dilvulgação/UBS

Como avalia a decisão do Copom?

Quando começou o corte de juros, todo mundo esperava (uma redução de) 25 (pontos), mas eles deram 50. Foi uma decisão apertada, de 5 a 4 (votos), e o Roberto Campos (Neto, presidente do BC) foi o definidor do ritmo. Como estava 4 a 4 antes dele votar, ele foi lá e votou por 5 a 4. Tinha uma turma que queria começar com 50, e outra com 25. Muita gente dizia que o Galípolo (Gabriel Galípolo, diretor de política monetária) iria mandar no Banco Central, de que poderiam fazer (um corte de) 75 pontos e seriam irresponsáveis. Não foi isso. O BC veio unânime de lá para cá. E acho muito importante esse consenso ter sido criado. Depois, veio a sinalização de que esse era o ritmo apropriado para as próximas reuniões. Em março, eu tenho um corte de 75 pontos, mas o que eu acho que o BC quer é sinalizar 50 pontos nas próximas duas reuniões e fazer um juro parecido com o do Focus, que é 9,25% (ao fim de 2024).

Por que prevê uma aceleração do corte e até onde esse ciclo deve ir?

Eu acho que a taxa terminal é de 8% (em 2024). Eu tenho uma inflação menor e prevemos corte de juros nos Estados Unidos. São dois os motivos (para a aceleração).

Poderia detalhar o cenário de inflação menor no Brasil?

Temos 3% de inflação no ano que vem. O Focus tem 3,9%. É basicamente uma diferença de bens industrializados. A minha inflação menor começa a acumular evidências de que será menor em março, quando teremos 3,7% no ano contra ano.

E quando os EUA começam a cortar os juros?

Em março. São vários cortes. O juro (norte-americano) para em 2,75%. A gente tem uma recessãozinha nos Estados Unidos. É o cenário do nosso economista de EUA. E temos uma inflação menor do que o consenso. A gente tem uma inflação menor nos EUA, no mundo e no Brasil. Então, as políticas monetárias são mais frouxas.

E o que explica essa inflação menor para bens?

O Focus tem 2,7% para o ano que vem de inflação de bens, e a gente tem zero. Este ano vai terminar em 1,5%. Você acha que vai acelerar a inflação de bens num ano com recessão nos EUA e desaceleração na China e no Brasil? Se o Focus tivesse inflação de bens constante na mesma taxa que termina este ano, que é 1,5%, a projeção (do IPCA) seria 3,5%, não 3,9%. Os preços de bens, que ficaram muito inflacionados no meio da pandemia, não normalizaram ainda.

A incerteza fiscal não pode limitar o ciclo de queda de juros no Brasil?

Se existisse mais incerteza fiscal, concordaria enormemente, mas a projeção de déficit do Focus de 2024, é a mesma desde março. Se as pessoas estão mais preocupadas, a projeção de déficit teria de aumentar. As pessoas não estão mais preocupadas. As pessoas têm medo de ficar mais preocupadas. Não dá para discutir - e eu gosto dessa analogia - um moinho quixotesco. Hoje em dia, o fiscal é o moinho do Dom Quixote. É um fantasma que ele vê, que ele achava que era um gigante, mas era um moinho. Até agora, não teve uma mudança na regra de gastos. Sem uma mudança na regra de gastos, eu não vejo motivos para a projeção de déficit piorar. Se a projeção de déficit não piorar, eu não consigo achar que isso é limitante para o Copom.

E de quanto deve ser a desaceleração da economia brasileira em 2024?

Temos 1,4% de PIB para o ano que vem, e 3,2% neste ano. Mas a demanda doméstica – que é consumo, mais investimentos e mais gasto – é só 2%. No ano que vem, é 1,7%. Desacelera muito pouco. Por que o PIB foi mais forte neste ano? Porque neste ano houve um grande crescimento da agricultura. E em 2024, deve ficar próximo de zero.

O economista-chefe do banco UBS BB, Alexandre de Ázara, avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode aumentar o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto a partir do encontro de março.

“Eu acho que a taxa terminal é de 8%. E são dois motivos (para a aceleração): eu tenho uma inflação menor e prevemos corte de juros nos Estados Unidos”, afirma.

Nesta quarta-feira, 13, o Copom promoveu o quarto corte seguido da Selic, para 11,75% ao ano.

Em 2024, o banco prevê uma recessão para os Estados Unidos e uma desaceleração da China e do Brasil. Também projeta que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) deve iniciar o ciclo de redução de juros em março.

“A gente tem uma inflação menor nos EUA, no mundo e no Brasil. Então, as políticas monetárias são mais frouxa”, diz.

A seguir trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Economista-chefe do banco UBS BB, Alexandre de Ázara, vê Selic a 8% em 2024 Foto: Dilvulgação/UBS

Como avalia a decisão do Copom?

Quando começou o corte de juros, todo mundo esperava (uma redução de) 25 (pontos), mas eles deram 50. Foi uma decisão apertada, de 5 a 4 (votos), e o Roberto Campos (Neto, presidente do BC) foi o definidor do ritmo. Como estava 4 a 4 antes dele votar, ele foi lá e votou por 5 a 4. Tinha uma turma que queria começar com 50, e outra com 25. Muita gente dizia que o Galípolo (Gabriel Galípolo, diretor de política monetária) iria mandar no Banco Central, de que poderiam fazer (um corte de) 75 pontos e seriam irresponsáveis. Não foi isso. O BC veio unânime de lá para cá. E acho muito importante esse consenso ter sido criado. Depois, veio a sinalização de que esse era o ritmo apropriado para as próximas reuniões. Em março, eu tenho um corte de 75 pontos, mas o que eu acho que o BC quer é sinalizar 50 pontos nas próximas duas reuniões e fazer um juro parecido com o do Focus, que é 9,25% (ao fim de 2024).

Por que prevê uma aceleração do corte e até onde esse ciclo deve ir?

Eu acho que a taxa terminal é de 8% (em 2024). Eu tenho uma inflação menor e prevemos corte de juros nos Estados Unidos. São dois os motivos (para a aceleração).

Poderia detalhar o cenário de inflação menor no Brasil?

Temos 3% de inflação no ano que vem. O Focus tem 3,9%. É basicamente uma diferença de bens industrializados. A minha inflação menor começa a acumular evidências de que será menor em março, quando teremos 3,7% no ano contra ano.

E quando os EUA começam a cortar os juros?

Em março. São vários cortes. O juro (norte-americano) para em 2,75%. A gente tem uma recessãozinha nos Estados Unidos. É o cenário do nosso economista de EUA. E temos uma inflação menor do que o consenso. A gente tem uma inflação menor nos EUA, no mundo e no Brasil. Então, as políticas monetárias são mais frouxas.

E o que explica essa inflação menor para bens?

O Focus tem 2,7% para o ano que vem de inflação de bens, e a gente tem zero. Este ano vai terminar em 1,5%. Você acha que vai acelerar a inflação de bens num ano com recessão nos EUA e desaceleração na China e no Brasil? Se o Focus tivesse inflação de bens constante na mesma taxa que termina este ano, que é 1,5%, a projeção (do IPCA) seria 3,5%, não 3,9%. Os preços de bens, que ficaram muito inflacionados no meio da pandemia, não normalizaram ainda.

A incerteza fiscal não pode limitar o ciclo de queda de juros no Brasil?

Se existisse mais incerteza fiscal, concordaria enormemente, mas a projeção de déficit do Focus de 2024, é a mesma desde março. Se as pessoas estão mais preocupadas, a projeção de déficit teria de aumentar. As pessoas não estão mais preocupadas. As pessoas têm medo de ficar mais preocupadas. Não dá para discutir - e eu gosto dessa analogia - um moinho quixotesco. Hoje em dia, o fiscal é o moinho do Dom Quixote. É um fantasma que ele vê, que ele achava que era um gigante, mas era um moinho. Até agora, não teve uma mudança na regra de gastos. Sem uma mudança na regra de gastos, eu não vejo motivos para a projeção de déficit piorar. Se a projeção de déficit não piorar, eu não consigo achar que isso é limitante para o Copom.

E de quanto deve ser a desaceleração da economia brasileira em 2024?

Temos 1,4% de PIB para o ano que vem, e 3,2% neste ano. Mas a demanda doméstica – que é consumo, mais investimentos e mais gasto – é só 2%. No ano que vem, é 1,7%. Desacelera muito pouco. Por que o PIB foi mais forte neste ano? Porque neste ano houve um grande crescimento da agricultura. E em 2024, deve ficar próximo de zero.

O economista-chefe do banco UBS BB, Alexandre de Ázara, avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode aumentar o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto a partir do encontro de março.

“Eu acho que a taxa terminal é de 8%. E são dois motivos (para a aceleração): eu tenho uma inflação menor e prevemos corte de juros nos Estados Unidos”, afirma.

Nesta quarta-feira, 13, o Copom promoveu o quarto corte seguido da Selic, para 11,75% ao ano.

Em 2024, o banco prevê uma recessão para os Estados Unidos e uma desaceleração da China e do Brasil. Também projeta que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) deve iniciar o ciclo de redução de juros em março.

“A gente tem uma inflação menor nos EUA, no mundo e no Brasil. Então, as políticas monetárias são mais frouxa”, diz.

A seguir trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Economista-chefe do banco UBS BB, Alexandre de Ázara, vê Selic a 8% em 2024 Foto: Dilvulgação/UBS

Como avalia a decisão do Copom?

Quando começou o corte de juros, todo mundo esperava (uma redução de) 25 (pontos), mas eles deram 50. Foi uma decisão apertada, de 5 a 4 (votos), e o Roberto Campos (Neto, presidente do BC) foi o definidor do ritmo. Como estava 4 a 4 antes dele votar, ele foi lá e votou por 5 a 4. Tinha uma turma que queria começar com 50, e outra com 25. Muita gente dizia que o Galípolo (Gabriel Galípolo, diretor de política monetária) iria mandar no Banco Central, de que poderiam fazer (um corte de) 75 pontos e seriam irresponsáveis. Não foi isso. O BC veio unânime de lá para cá. E acho muito importante esse consenso ter sido criado. Depois, veio a sinalização de que esse era o ritmo apropriado para as próximas reuniões. Em março, eu tenho um corte de 75 pontos, mas o que eu acho que o BC quer é sinalizar 50 pontos nas próximas duas reuniões e fazer um juro parecido com o do Focus, que é 9,25% (ao fim de 2024).

Por que prevê uma aceleração do corte e até onde esse ciclo deve ir?

Eu acho que a taxa terminal é de 8% (em 2024). Eu tenho uma inflação menor e prevemos corte de juros nos Estados Unidos. São dois os motivos (para a aceleração).

Poderia detalhar o cenário de inflação menor no Brasil?

Temos 3% de inflação no ano que vem. O Focus tem 3,9%. É basicamente uma diferença de bens industrializados. A minha inflação menor começa a acumular evidências de que será menor em março, quando teremos 3,7% no ano contra ano.

E quando os EUA começam a cortar os juros?

Em março. São vários cortes. O juro (norte-americano) para em 2,75%. A gente tem uma recessãozinha nos Estados Unidos. É o cenário do nosso economista de EUA. E temos uma inflação menor do que o consenso. A gente tem uma inflação menor nos EUA, no mundo e no Brasil. Então, as políticas monetárias são mais frouxas.

E o que explica essa inflação menor para bens?

O Focus tem 2,7% para o ano que vem de inflação de bens, e a gente tem zero. Este ano vai terminar em 1,5%. Você acha que vai acelerar a inflação de bens num ano com recessão nos EUA e desaceleração na China e no Brasil? Se o Focus tivesse inflação de bens constante na mesma taxa que termina este ano, que é 1,5%, a projeção (do IPCA) seria 3,5%, não 3,9%. Os preços de bens, que ficaram muito inflacionados no meio da pandemia, não normalizaram ainda.

A incerteza fiscal não pode limitar o ciclo de queda de juros no Brasil?

Se existisse mais incerteza fiscal, concordaria enormemente, mas a projeção de déficit do Focus de 2024, é a mesma desde março. Se as pessoas estão mais preocupadas, a projeção de déficit teria de aumentar. As pessoas não estão mais preocupadas. As pessoas têm medo de ficar mais preocupadas. Não dá para discutir - e eu gosto dessa analogia - um moinho quixotesco. Hoje em dia, o fiscal é o moinho do Dom Quixote. É um fantasma que ele vê, que ele achava que era um gigante, mas era um moinho. Até agora, não teve uma mudança na regra de gastos. Sem uma mudança na regra de gastos, eu não vejo motivos para a projeção de déficit piorar. Se a projeção de déficit não piorar, eu não consigo achar que isso é limitante para o Copom.

E de quanto deve ser a desaceleração da economia brasileira em 2024?

Temos 1,4% de PIB para o ano que vem, e 3,2% neste ano. Mas a demanda doméstica – que é consumo, mais investimentos e mais gasto – é só 2%. No ano que vem, é 1,7%. Desacelera muito pouco. Por que o PIB foi mais forte neste ano? Porque neste ano houve um grande crescimento da agricultura. E em 2024, deve ficar próximo de zero.

O economista-chefe do banco UBS BB, Alexandre de Ázara, avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode aumentar o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto a partir do encontro de março.

“Eu acho que a taxa terminal é de 8%. E são dois motivos (para a aceleração): eu tenho uma inflação menor e prevemos corte de juros nos Estados Unidos”, afirma.

Nesta quarta-feira, 13, o Copom promoveu o quarto corte seguido da Selic, para 11,75% ao ano.

Em 2024, o banco prevê uma recessão para os Estados Unidos e uma desaceleração da China e do Brasil. Também projeta que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) deve iniciar o ciclo de redução de juros em março.

“A gente tem uma inflação menor nos EUA, no mundo e no Brasil. Então, as políticas monetárias são mais frouxa”, diz.

A seguir trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Economista-chefe do banco UBS BB, Alexandre de Ázara, vê Selic a 8% em 2024 Foto: Dilvulgação/UBS

Como avalia a decisão do Copom?

Quando começou o corte de juros, todo mundo esperava (uma redução de) 25 (pontos), mas eles deram 50. Foi uma decisão apertada, de 5 a 4 (votos), e o Roberto Campos (Neto, presidente do BC) foi o definidor do ritmo. Como estava 4 a 4 antes dele votar, ele foi lá e votou por 5 a 4. Tinha uma turma que queria começar com 50, e outra com 25. Muita gente dizia que o Galípolo (Gabriel Galípolo, diretor de política monetária) iria mandar no Banco Central, de que poderiam fazer (um corte de) 75 pontos e seriam irresponsáveis. Não foi isso. O BC veio unânime de lá para cá. E acho muito importante esse consenso ter sido criado. Depois, veio a sinalização de que esse era o ritmo apropriado para as próximas reuniões. Em março, eu tenho um corte de 75 pontos, mas o que eu acho que o BC quer é sinalizar 50 pontos nas próximas duas reuniões e fazer um juro parecido com o do Focus, que é 9,25% (ao fim de 2024).

Por que prevê uma aceleração do corte e até onde esse ciclo deve ir?

Eu acho que a taxa terminal é de 8% (em 2024). Eu tenho uma inflação menor e prevemos corte de juros nos Estados Unidos. São dois os motivos (para a aceleração).

Poderia detalhar o cenário de inflação menor no Brasil?

Temos 3% de inflação no ano que vem. O Focus tem 3,9%. É basicamente uma diferença de bens industrializados. A minha inflação menor começa a acumular evidências de que será menor em março, quando teremos 3,7% no ano contra ano.

E quando os EUA começam a cortar os juros?

Em março. São vários cortes. O juro (norte-americano) para em 2,75%. A gente tem uma recessãozinha nos Estados Unidos. É o cenário do nosso economista de EUA. E temos uma inflação menor do que o consenso. A gente tem uma inflação menor nos EUA, no mundo e no Brasil. Então, as políticas monetárias são mais frouxas.

E o que explica essa inflação menor para bens?

O Focus tem 2,7% para o ano que vem de inflação de bens, e a gente tem zero. Este ano vai terminar em 1,5%. Você acha que vai acelerar a inflação de bens num ano com recessão nos EUA e desaceleração na China e no Brasil? Se o Focus tivesse inflação de bens constante na mesma taxa que termina este ano, que é 1,5%, a projeção (do IPCA) seria 3,5%, não 3,9%. Os preços de bens, que ficaram muito inflacionados no meio da pandemia, não normalizaram ainda.

A incerteza fiscal não pode limitar o ciclo de queda de juros no Brasil?

Se existisse mais incerteza fiscal, concordaria enormemente, mas a projeção de déficit do Focus de 2024, é a mesma desde março. Se as pessoas estão mais preocupadas, a projeção de déficit teria de aumentar. As pessoas não estão mais preocupadas. As pessoas têm medo de ficar mais preocupadas. Não dá para discutir - e eu gosto dessa analogia - um moinho quixotesco. Hoje em dia, o fiscal é o moinho do Dom Quixote. É um fantasma que ele vê, que ele achava que era um gigante, mas era um moinho. Até agora, não teve uma mudança na regra de gastos. Sem uma mudança na regra de gastos, eu não vejo motivos para a projeção de déficit piorar. Se a projeção de déficit não piorar, eu não consigo achar que isso é limitante para o Copom.

E de quanto deve ser a desaceleração da economia brasileira em 2024?

Temos 1,4% de PIB para o ano que vem, e 3,2% neste ano. Mas a demanda doméstica – que é consumo, mais investimentos e mais gasto – é só 2%. No ano que vem, é 1,7%. Desacelera muito pouco. Por que o PIB foi mais forte neste ano? Porque neste ano houve um grande crescimento da agricultura. E em 2024, deve ficar próximo de zero.

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