A fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na manhã desta quinta-feira, 9, de que prefere esperar pela divulgação da ata do Copom na próxima quarta-feira para comentar a decisão do comitê é um indicativo de que a divisão no Banco Central sobre o corte de juros foi no ritmo de cortes, mas não no tamanho do ciclo.
Segundo interlocutores do governo com o Banco Central, houve surpresa, entre os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que eles estariam dando um sinal de leniência com a inflação por terem votado pela redução de 0,5 ponto na Selic.
O argumento é de que o comunicado foi bastante duro, e representa a visão do Copom como um todo, não apenas da ala vencedora, que votou pela redução menor, de 0,25 ponto porcentual - de 10,75% para 10,5% ao ano. Por isso, a ata que será divulgada na próxima semana deve deixar isso mais claro, a ponto de acalmar o mercado financeiro.
O entendimento desses diretores, incluindo Gabriel Galípolo e Paulo Pichetti, é de que o fim do ciclo é muito mais importante do que o ritmo de cortes. Por essa lógica, o BC poderia cortar os juros mais rapidamente, mas encerrar as reduções antes. Já a ala liderada pelo presidente do banco, Roberto Campos Neto, entende que é melhor ir devagar, para ser ter mais tempo de análise.
De um jeito ou de outro, uma coisa é certa: o Banco Central falhou na comunicação em momento decisivo. E os erros aconteceram dos dois lados.
Campos Neto quebrou o “guidance” (indicação futura) da reunião anterior, que prometia corte de meio ponto. E fez isso da pior maneira possível, em evento para investidores da XP Investimentos, em Nova York, com o mercado em funcionamento.
Já os diretores indicados por Lula entenderam que um comunicado duro do Banco Central, esta semana, contemplaria também a sua visão, mesmo com o voto pela queda da Selic em 0,5 ponto. Não foi isso que aconteceu. A leitura do mercado passou a ser de que o Banco Central que terá maioria lulista a partir do ano que vem será mais leniente com a inflação.
A ata do Copom na semana que vem será decisiva para acalmar os ânimos. Mas o ruído criado pelo BC - e isso vale para ambos os lados - já está dado, com aumento da incerteza.