Corte de gastos não pode ser só para fechar as contas, tem de ser estrutural, diz Caio Megale


‘Não adianta ter benefícios, e não conseguir pagá-los; isso gera inflação lá na frente’, diz o economista-chefe da XP Investimentos, que espera do governo uma ‘nova dinâmica’

Por Francisco Carlos de Assis
Atualização:
Foto: Vivian Koblinsky
Entrevista comCaio MegaleEconomista-chefe da XP Investimentos

Do alto da experiência de quem já comandou a Secretaria de Fazenda da cidade mais rica do País, São Paulo, o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, diz esperar por boas medidas já produzidas no âmbito do Ministério da Fazenda para o pacote de corte de despesas que o governo está prestes a anunciar. Ele afirma estar mais focado na dinâmica e na qualidade das medidas do que no valor total dos cortes. “Estou preocupado se o pacote trará uma nova dinâmica de concessão de benefícios, de gastos obrigatórios em geral”, diz Megale em entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele avalia o comunicado do Copom, que na quarta-feira, 6, elevou a Selic a 11,25%, como duro na sinalização dos seus próximos passos.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

O governo está para anunciar as medidas para cortes de gastos. Qual o montante que o senhor estima que será?

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Estou menos focado no valor e no prazo ou se vai economizar R$ 10, 20, 30 bilhões cedo ou em 2026. Estou mais preocupado com a qualidade das medidas, se elas de fato vão trazer uma nova dinâmica de concessão de benefícios, de gastos obrigatórios em geral, que foquem em quem realmente precisa receber os benefícios; e que mantenham um ritmo pagável ao longo do tempo destes benefícios. Não adianta ter benefícios, e não conseguir pagá-los; isso gera inflação lá na frente.

Ou seja, você está falando em identificar quem realmente precisa dos benefícios.

É isso. Esses critérios já devem estar no pacote. Nele deve ter muitas medidas boas já produzidas pela Secretaria do Planejamento, que está olhando para isso. É uma secretaria que hoje é comandada pelo secretário Sérgio Firpo (Secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos), mas que em governos anteriores também foi comandada por economistas muito bons, como Mansueto Almeida, que foi responsável por esse processo, e pelo Alexandre Manoel, que hoje está no mercado. São bons economistas que se debruçaram sobre a pertinência das despesas e manifestaram suas opiniões.

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A questão não é de diagnóstico.

Não, o diagnóstico já foi feito há dois anos. Tem bastante material. A Câmara e o Senado também fazem discussões sobre esse tipo de coisa, tem bastante material ali para fazer a análise sobre se os quase R$ 2,2 trilhões que se gastam todo ano estão sendo bem empregados. E mais importante: se a tendência de crescimento desses gastos pode ser ajustada. É nisso que estou de olho. Então, nesse sentido, está tudo bem o governo passar alguns dias elaborando um negócio que é tão importante.

Comunicado que veio com a alta de 0,50 do juro na quarta-feira, 6, deixa os analistas e a sociedade livres para especular com uma alta de até 0,75 ponto porcentual para o próximo Copom, diz Megale Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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Quer dizer, mais importante do que o valor a ser economizado é a premência do anúncio e a solidez do pacote?

O pacote tem de ter a credibilidade política de um ajuste. Sabemos que, em qualquer parte do mundo, a qualquer tempo, em qualquer governo, de qualquer partido, ninguém gosta de fazer medidas austeras no último ano de governo. Então 2025 é o ano, não é 2026. Mas não adianta fazer um ajuste agora e depois voltar à política de expansão de gastos. Não pode ser um pacote só para fechar a conta. Tem de ter mudanças de regras na estrutura de gastos.

Que avaliação o senhor faz dos resultados do Copom mais recente?

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Achei o comunicado do Copom duro na sinalização dos passos. Na minha cabeça, a possibilidade era de o BC voltar a dizer que subiria a Selic até onde fosse necessário, mas que o passo seria de 0,50 ponto porcentual por reunião. Mas não fez isso, deixou totalmente aberto. Ou seja, os analistas e a sociedade estão livres para especular com uma alta de até 0,75 ponto porcentual para o próximo Copom.

O que te leva a esse raciocínio?

O Copom aumentou a projeção de inflação no horizonte relevante de política monetária (segundo semestre de 2026) de 3,5% do Copom anterior para 3,6% no de ontem. Colocou 1 ponto porcentual na Selic para o período, de 11,5% para 12,5% ao ano. Ou seja, ficou ainda mais difícil trazer a inflação para o centro da meta, sendo que ele já está incorporando 100 pontos-base (1 ponto porcentual) a mais de Selic. Então, a minha conclusão é de que a Selic será de 12,5% para mais.

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Alguns de seus colegas economistas acham que esse juro pode ir para 13%, 14%.

O BC poderia ter carregado mais na tinta e, talvez, levar o mercado para achar que poderia ser 14%, 15%. Nossas contas não mostram isso, parece exagerado, mas ele pode preferir e passamos a achar que, em vez de ele subir a Selic para 12% e mantê-la assim por muito tempo, ele vai aumentá-la para 13,25%. Ou seja, fará mais quatro altas de 0,50 ponto, que é bem mais apertado, dá uma meia trava na inflação e aí corta antes. Eu acho que essa parece ser uma estratégia mais vencedora para o BC agora.

Por quê?

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Porque, se ficar protelando, subindo aos poucos, a inflação continuará sendo um problema. Em vez de ficar protelando o problema, atua com mais energia no curto prazo e vai para 13,25%. Essa é a nossa nova projeção agora, estávamos com 12%. E outra coisa: indo para 13,25%, o BC quebra essa espinha dorsal da inflação. Temos visto a inflação andando ali perto do topo da banda e tem choques como câmbio, custos e carnes, entre outros vindo por aí. Tudo isso pode jogar a inflação para perto de 5,5%.

E, quanto à eleição de Trump nos EUA, quais são os impactos sobre a economia mundial e brasileira?

Terá algum efeito, mas nada extraordinário. O juro longo nos EUA subiu por causa da eleição e está em 4,5%, que é mais ou menos onde estava no início do ano, no fim do ano passado. O DXY (indicador que mede o desempenho do dólar norte-americano frente a uma cesta de moedas estrangeiras) se valorizou, mas ele estava menos parecido com o que chegou no meio do ano. Então é um movimento que faz diferença, é um dos fatores pelos quais o câmbio saiu de R$ 5,50 para R$ 5,70, mas é um movimento que, pelo menos por enquanto, não tem sido muito agressivo. Foi um movimento dentro de padrões que já vimos recentemente.

Então a eleição do Trump não vai alterar o plano de voo do Fed (o banco central americano)?

Acho que não. Talvez, em vez de ele ir para 3,5%, vai para 3,75%. Mas, de novo, pelo menos por enquanto, não vai fazer muita diferença para o plano de voo do Fed.

Com relação às barreiras tarifárias que Trump prometeu, elas podem levar a uma guerra comercial pelo mundo?

Acho que voltam as tensões comerciais, a guerra comercial, a guerra de tarifas. Isso, com certeza, porque ele fez essa promessa na campanha, acredita nisso e fez isso na primeira vez em que foi presidente. Então, acho que isso acontece. Agora, a chave da questão aqui será a intensidade, o quanto ele vai ser agressivo na subida das tarifas. Eu acho que na hora que ele chegar lá e ver o tamanho do impacto na economia, na inflação e na popularidade, vai usar de menos agressividade.

Ou seja, o presidente Trump vai primeiro sentir a temperatura da água para atuar?

Os Estados Unidos estão acabando de sair do problema inflacionário, o Fed está cortando os juros etc. E uma coisa que ficou muito clara nas eleições é que a inflação fez diferença na popularidade do Biden, a alta de preços fez diferença. É popular fechar e proteger a economia, mas a inflação é popular também. Um indivíduo racional pensaria várias vezes antes de fazer uma alta muito intensa de preços.

Do alto da experiência de quem já comandou a Secretaria de Fazenda da cidade mais rica do País, São Paulo, o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, diz esperar por boas medidas já produzidas no âmbito do Ministério da Fazenda para o pacote de corte de despesas que o governo está prestes a anunciar. Ele afirma estar mais focado na dinâmica e na qualidade das medidas do que no valor total dos cortes. “Estou preocupado se o pacote trará uma nova dinâmica de concessão de benefícios, de gastos obrigatórios em geral”, diz Megale em entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele avalia o comunicado do Copom, que na quarta-feira, 6, elevou a Selic a 11,25%, como duro na sinalização dos seus próximos passos.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

O governo está para anunciar as medidas para cortes de gastos. Qual o montante que o senhor estima que será?

Estou menos focado no valor e no prazo ou se vai economizar R$ 10, 20, 30 bilhões cedo ou em 2026. Estou mais preocupado com a qualidade das medidas, se elas de fato vão trazer uma nova dinâmica de concessão de benefícios, de gastos obrigatórios em geral, que foquem em quem realmente precisa receber os benefícios; e que mantenham um ritmo pagável ao longo do tempo destes benefícios. Não adianta ter benefícios, e não conseguir pagá-los; isso gera inflação lá na frente.

Ou seja, você está falando em identificar quem realmente precisa dos benefícios.

É isso. Esses critérios já devem estar no pacote. Nele deve ter muitas medidas boas já produzidas pela Secretaria do Planejamento, que está olhando para isso. É uma secretaria que hoje é comandada pelo secretário Sérgio Firpo (Secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos), mas que em governos anteriores também foi comandada por economistas muito bons, como Mansueto Almeida, que foi responsável por esse processo, e pelo Alexandre Manoel, que hoje está no mercado. São bons economistas que se debruçaram sobre a pertinência das despesas e manifestaram suas opiniões.

A questão não é de diagnóstico.

Não, o diagnóstico já foi feito há dois anos. Tem bastante material. A Câmara e o Senado também fazem discussões sobre esse tipo de coisa, tem bastante material ali para fazer a análise sobre se os quase R$ 2,2 trilhões que se gastam todo ano estão sendo bem empregados. E mais importante: se a tendência de crescimento desses gastos pode ser ajustada. É nisso que estou de olho. Então, nesse sentido, está tudo bem o governo passar alguns dias elaborando um negócio que é tão importante.

Comunicado que veio com a alta de 0,50 do juro na quarta-feira, 6, deixa os analistas e a sociedade livres para especular com uma alta de até 0,75 ponto porcentual para o próximo Copom, diz Megale Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Quer dizer, mais importante do que o valor a ser economizado é a premência do anúncio e a solidez do pacote?

O pacote tem de ter a credibilidade política de um ajuste. Sabemos que, em qualquer parte do mundo, a qualquer tempo, em qualquer governo, de qualquer partido, ninguém gosta de fazer medidas austeras no último ano de governo. Então 2025 é o ano, não é 2026. Mas não adianta fazer um ajuste agora e depois voltar à política de expansão de gastos. Não pode ser um pacote só para fechar a conta. Tem de ter mudanças de regras na estrutura de gastos.

Que avaliação o senhor faz dos resultados do Copom mais recente?

Achei o comunicado do Copom duro na sinalização dos passos. Na minha cabeça, a possibilidade era de o BC voltar a dizer que subiria a Selic até onde fosse necessário, mas que o passo seria de 0,50 ponto porcentual por reunião. Mas não fez isso, deixou totalmente aberto. Ou seja, os analistas e a sociedade estão livres para especular com uma alta de até 0,75 ponto porcentual para o próximo Copom.

O que te leva a esse raciocínio?

O Copom aumentou a projeção de inflação no horizonte relevante de política monetária (segundo semestre de 2026) de 3,5% do Copom anterior para 3,6% no de ontem. Colocou 1 ponto porcentual na Selic para o período, de 11,5% para 12,5% ao ano. Ou seja, ficou ainda mais difícil trazer a inflação para o centro da meta, sendo que ele já está incorporando 100 pontos-base (1 ponto porcentual) a mais de Selic. Então, a minha conclusão é de que a Selic será de 12,5% para mais.

Alguns de seus colegas economistas acham que esse juro pode ir para 13%, 14%.

O BC poderia ter carregado mais na tinta e, talvez, levar o mercado para achar que poderia ser 14%, 15%. Nossas contas não mostram isso, parece exagerado, mas ele pode preferir e passamos a achar que, em vez de ele subir a Selic para 12% e mantê-la assim por muito tempo, ele vai aumentá-la para 13,25%. Ou seja, fará mais quatro altas de 0,50 ponto, que é bem mais apertado, dá uma meia trava na inflação e aí corta antes. Eu acho que essa parece ser uma estratégia mais vencedora para o BC agora.

Por quê?

Porque, se ficar protelando, subindo aos poucos, a inflação continuará sendo um problema. Em vez de ficar protelando o problema, atua com mais energia no curto prazo e vai para 13,25%. Essa é a nossa nova projeção agora, estávamos com 12%. E outra coisa: indo para 13,25%, o BC quebra essa espinha dorsal da inflação. Temos visto a inflação andando ali perto do topo da banda e tem choques como câmbio, custos e carnes, entre outros vindo por aí. Tudo isso pode jogar a inflação para perto de 5,5%.

E, quanto à eleição de Trump nos EUA, quais são os impactos sobre a economia mundial e brasileira?

Terá algum efeito, mas nada extraordinário. O juro longo nos EUA subiu por causa da eleição e está em 4,5%, que é mais ou menos onde estava no início do ano, no fim do ano passado. O DXY (indicador que mede o desempenho do dólar norte-americano frente a uma cesta de moedas estrangeiras) se valorizou, mas ele estava menos parecido com o que chegou no meio do ano. Então é um movimento que faz diferença, é um dos fatores pelos quais o câmbio saiu de R$ 5,50 para R$ 5,70, mas é um movimento que, pelo menos por enquanto, não tem sido muito agressivo. Foi um movimento dentro de padrões que já vimos recentemente.

Então a eleição do Trump não vai alterar o plano de voo do Fed (o banco central americano)?

Acho que não. Talvez, em vez de ele ir para 3,5%, vai para 3,75%. Mas, de novo, pelo menos por enquanto, não vai fazer muita diferença para o plano de voo do Fed.

Com relação às barreiras tarifárias que Trump prometeu, elas podem levar a uma guerra comercial pelo mundo?

Acho que voltam as tensões comerciais, a guerra comercial, a guerra de tarifas. Isso, com certeza, porque ele fez essa promessa na campanha, acredita nisso e fez isso na primeira vez em que foi presidente. Então, acho que isso acontece. Agora, a chave da questão aqui será a intensidade, o quanto ele vai ser agressivo na subida das tarifas. Eu acho que na hora que ele chegar lá e ver o tamanho do impacto na economia, na inflação e na popularidade, vai usar de menos agressividade.

Ou seja, o presidente Trump vai primeiro sentir a temperatura da água para atuar?

Os Estados Unidos estão acabando de sair do problema inflacionário, o Fed está cortando os juros etc. E uma coisa que ficou muito clara nas eleições é que a inflação fez diferença na popularidade do Biden, a alta de preços fez diferença. É popular fechar e proteger a economia, mas a inflação é popular também. Um indivíduo racional pensaria várias vezes antes de fazer uma alta muito intensa de preços.

Do alto da experiência de quem já comandou a Secretaria de Fazenda da cidade mais rica do País, São Paulo, o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, diz esperar por boas medidas já produzidas no âmbito do Ministério da Fazenda para o pacote de corte de despesas que o governo está prestes a anunciar. Ele afirma estar mais focado na dinâmica e na qualidade das medidas do que no valor total dos cortes. “Estou preocupado se o pacote trará uma nova dinâmica de concessão de benefícios, de gastos obrigatórios em geral”, diz Megale em entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele avalia o comunicado do Copom, que na quarta-feira, 6, elevou a Selic a 11,25%, como duro na sinalização dos seus próximos passos.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

O governo está para anunciar as medidas para cortes de gastos. Qual o montante que o senhor estima que será?

Estou menos focado no valor e no prazo ou se vai economizar R$ 10, 20, 30 bilhões cedo ou em 2026. Estou mais preocupado com a qualidade das medidas, se elas de fato vão trazer uma nova dinâmica de concessão de benefícios, de gastos obrigatórios em geral, que foquem em quem realmente precisa receber os benefícios; e que mantenham um ritmo pagável ao longo do tempo destes benefícios. Não adianta ter benefícios, e não conseguir pagá-los; isso gera inflação lá na frente.

Ou seja, você está falando em identificar quem realmente precisa dos benefícios.

É isso. Esses critérios já devem estar no pacote. Nele deve ter muitas medidas boas já produzidas pela Secretaria do Planejamento, que está olhando para isso. É uma secretaria que hoje é comandada pelo secretário Sérgio Firpo (Secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos), mas que em governos anteriores também foi comandada por economistas muito bons, como Mansueto Almeida, que foi responsável por esse processo, e pelo Alexandre Manoel, que hoje está no mercado. São bons economistas que se debruçaram sobre a pertinência das despesas e manifestaram suas opiniões.

A questão não é de diagnóstico.

Não, o diagnóstico já foi feito há dois anos. Tem bastante material. A Câmara e o Senado também fazem discussões sobre esse tipo de coisa, tem bastante material ali para fazer a análise sobre se os quase R$ 2,2 trilhões que se gastam todo ano estão sendo bem empregados. E mais importante: se a tendência de crescimento desses gastos pode ser ajustada. É nisso que estou de olho. Então, nesse sentido, está tudo bem o governo passar alguns dias elaborando um negócio que é tão importante.

Comunicado que veio com a alta de 0,50 do juro na quarta-feira, 6, deixa os analistas e a sociedade livres para especular com uma alta de até 0,75 ponto porcentual para o próximo Copom, diz Megale Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Quer dizer, mais importante do que o valor a ser economizado é a premência do anúncio e a solidez do pacote?

O pacote tem de ter a credibilidade política de um ajuste. Sabemos que, em qualquer parte do mundo, a qualquer tempo, em qualquer governo, de qualquer partido, ninguém gosta de fazer medidas austeras no último ano de governo. Então 2025 é o ano, não é 2026. Mas não adianta fazer um ajuste agora e depois voltar à política de expansão de gastos. Não pode ser um pacote só para fechar a conta. Tem de ter mudanças de regras na estrutura de gastos.

Que avaliação o senhor faz dos resultados do Copom mais recente?

Achei o comunicado do Copom duro na sinalização dos passos. Na minha cabeça, a possibilidade era de o BC voltar a dizer que subiria a Selic até onde fosse necessário, mas que o passo seria de 0,50 ponto porcentual por reunião. Mas não fez isso, deixou totalmente aberto. Ou seja, os analistas e a sociedade estão livres para especular com uma alta de até 0,75 ponto porcentual para o próximo Copom.

O que te leva a esse raciocínio?

O Copom aumentou a projeção de inflação no horizonte relevante de política monetária (segundo semestre de 2026) de 3,5% do Copom anterior para 3,6% no de ontem. Colocou 1 ponto porcentual na Selic para o período, de 11,5% para 12,5% ao ano. Ou seja, ficou ainda mais difícil trazer a inflação para o centro da meta, sendo que ele já está incorporando 100 pontos-base (1 ponto porcentual) a mais de Selic. Então, a minha conclusão é de que a Selic será de 12,5% para mais.

Alguns de seus colegas economistas acham que esse juro pode ir para 13%, 14%.

O BC poderia ter carregado mais na tinta e, talvez, levar o mercado para achar que poderia ser 14%, 15%. Nossas contas não mostram isso, parece exagerado, mas ele pode preferir e passamos a achar que, em vez de ele subir a Selic para 12% e mantê-la assim por muito tempo, ele vai aumentá-la para 13,25%. Ou seja, fará mais quatro altas de 0,50 ponto, que é bem mais apertado, dá uma meia trava na inflação e aí corta antes. Eu acho que essa parece ser uma estratégia mais vencedora para o BC agora.

Por quê?

Porque, se ficar protelando, subindo aos poucos, a inflação continuará sendo um problema. Em vez de ficar protelando o problema, atua com mais energia no curto prazo e vai para 13,25%. Essa é a nossa nova projeção agora, estávamos com 12%. E outra coisa: indo para 13,25%, o BC quebra essa espinha dorsal da inflação. Temos visto a inflação andando ali perto do topo da banda e tem choques como câmbio, custos e carnes, entre outros vindo por aí. Tudo isso pode jogar a inflação para perto de 5,5%.

E, quanto à eleição de Trump nos EUA, quais são os impactos sobre a economia mundial e brasileira?

Terá algum efeito, mas nada extraordinário. O juro longo nos EUA subiu por causa da eleição e está em 4,5%, que é mais ou menos onde estava no início do ano, no fim do ano passado. O DXY (indicador que mede o desempenho do dólar norte-americano frente a uma cesta de moedas estrangeiras) se valorizou, mas ele estava menos parecido com o que chegou no meio do ano. Então é um movimento que faz diferença, é um dos fatores pelos quais o câmbio saiu de R$ 5,50 para R$ 5,70, mas é um movimento que, pelo menos por enquanto, não tem sido muito agressivo. Foi um movimento dentro de padrões que já vimos recentemente.

Então a eleição do Trump não vai alterar o plano de voo do Fed (o banco central americano)?

Acho que não. Talvez, em vez de ele ir para 3,5%, vai para 3,75%. Mas, de novo, pelo menos por enquanto, não vai fazer muita diferença para o plano de voo do Fed.

Com relação às barreiras tarifárias que Trump prometeu, elas podem levar a uma guerra comercial pelo mundo?

Acho que voltam as tensões comerciais, a guerra comercial, a guerra de tarifas. Isso, com certeza, porque ele fez essa promessa na campanha, acredita nisso e fez isso na primeira vez em que foi presidente. Então, acho que isso acontece. Agora, a chave da questão aqui será a intensidade, o quanto ele vai ser agressivo na subida das tarifas. Eu acho que na hora que ele chegar lá e ver o tamanho do impacto na economia, na inflação e na popularidade, vai usar de menos agressividade.

Ou seja, o presidente Trump vai primeiro sentir a temperatura da água para atuar?

Os Estados Unidos estão acabando de sair do problema inflacionário, o Fed está cortando os juros etc. E uma coisa que ficou muito clara nas eleições é que a inflação fez diferença na popularidade do Biden, a alta de preços fez diferença. É popular fechar e proteger a economia, mas a inflação é popular também. Um indivíduo racional pensaria várias vezes antes de fazer uma alta muito intensa de preços.

Do alto da experiência de quem já comandou a Secretaria de Fazenda da cidade mais rica do País, São Paulo, o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, diz esperar por boas medidas já produzidas no âmbito do Ministério da Fazenda para o pacote de corte de despesas que o governo está prestes a anunciar. Ele afirma estar mais focado na dinâmica e na qualidade das medidas do que no valor total dos cortes. “Estou preocupado se o pacote trará uma nova dinâmica de concessão de benefícios, de gastos obrigatórios em geral”, diz Megale em entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele avalia o comunicado do Copom, que na quarta-feira, 6, elevou a Selic a 11,25%, como duro na sinalização dos seus próximos passos.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

O governo está para anunciar as medidas para cortes de gastos. Qual o montante que o senhor estima que será?

Estou menos focado no valor e no prazo ou se vai economizar R$ 10, 20, 30 bilhões cedo ou em 2026. Estou mais preocupado com a qualidade das medidas, se elas de fato vão trazer uma nova dinâmica de concessão de benefícios, de gastos obrigatórios em geral, que foquem em quem realmente precisa receber os benefícios; e que mantenham um ritmo pagável ao longo do tempo destes benefícios. Não adianta ter benefícios, e não conseguir pagá-los; isso gera inflação lá na frente.

Ou seja, você está falando em identificar quem realmente precisa dos benefícios.

É isso. Esses critérios já devem estar no pacote. Nele deve ter muitas medidas boas já produzidas pela Secretaria do Planejamento, que está olhando para isso. É uma secretaria que hoje é comandada pelo secretário Sérgio Firpo (Secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos), mas que em governos anteriores também foi comandada por economistas muito bons, como Mansueto Almeida, que foi responsável por esse processo, e pelo Alexandre Manoel, que hoje está no mercado. São bons economistas que se debruçaram sobre a pertinência das despesas e manifestaram suas opiniões.

A questão não é de diagnóstico.

Não, o diagnóstico já foi feito há dois anos. Tem bastante material. A Câmara e o Senado também fazem discussões sobre esse tipo de coisa, tem bastante material ali para fazer a análise sobre se os quase R$ 2,2 trilhões que se gastam todo ano estão sendo bem empregados. E mais importante: se a tendência de crescimento desses gastos pode ser ajustada. É nisso que estou de olho. Então, nesse sentido, está tudo bem o governo passar alguns dias elaborando um negócio que é tão importante.

Comunicado que veio com a alta de 0,50 do juro na quarta-feira, 6, deixa os analistas e a sociedade livres para especular com uma alta de até 0,75 ponto porcentual para o próximo Copom, diz Megale Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Quer dizer, mais importante do que o valor a ser economizado é a premência do anúncio e a solidez do pacote?

O pacote tem de ter a credibilidade política de um ajuste. Sabemos que, em qualquer parte do mundo, a qualquer tempo, em qualquer governo, de qualquer partido, ninguém gosta de fazer medidas austeras no último ano de governo. Então 2025 é o ano, não é 2026. Mas não adianta fazer um ajuste agora e depois voltar à política de expansão de gastos. Não pode ser um pacote só para fechar a conta. Tem de ter mudanças de regras na estrutura de gastos.

Que avaliação o senhor faz dos resultados do Copom mais recente?

Achei o comunicado do Copom duro na sinalização dos passos. Na minha cabeça, a possibilidade era de o BC voltar a dizer que subiria a Selic até onde fosse necessário, mas que o passo seria de 0,50 ponto porcentual por reunião. Mas não fez isso, deixou totalmente aberto. Ou seja, os analistas e a sociedade estão livres para especular com uma alta de até 0,75 ponto porcentual para o próximo Copom.

O que te leva a esse raciocínio?

O Copom aumentou a projeção de inflação no horizonte relevante de política monetária (segundo semestre de 2026) de 3,5% do Copom anterior para 3,6% no de ontem. Colocou 1 ponto porcentual na Selic para o período, de 11,5% para 12,5% ao ano. Ou seja, ficou ainda mais difícil trazer a inflação para o centro da meta, sendo que ele já está incorporando 100 pontos-base (1 ponto porcentual) a mais de Selic. Então, a minha conclusão é de que a Selic será de 12,5% para mais.

Alguns de seus colegas economistas acham que esse juro pode ir para 13%, 14%.

O BC poderia ter carregado mais na tinta e, talvez, levar o mercado para achar que poderia ser 14%, 15%. Nossas contas não mostram isso, parece exagerado, mas ele pode preferir e passamos a achar que, em vez de ele subir a Selic para 12% e mantê-la assim por muito tempo, ele vai aumentá-la para 13,25%. Ou seja, fará mais quatro altas de 0,50 ponto, que é bem mais apertado, dá uma meia trava na inflação e aí corta antes. Eu acho que essa parece ser uma estratégia mais vencedora para o BC agora.

Por quê?

Porque, se ficar protelando, subindo aos poucos, a inflação continuará sendo um problema. Em vez de ficar protelando o problema, atua com mais energia no curto prazo e vai para 13,25%. Essa é a nossa nova projeção agora, estávamos com 12%. E outra coisa: indo para 13,25%, o BC quebra essa espinha dorsal da inflação. Temos visto a inflação andando ali perto do topo da banda e tem choques como câmbio, custos e carnes, entre outros vindo por aí. Tudo isso pode jogar a inflação para perto de 5,5%.

E, quanto à eleição de Trump nos EUA, quais são os impactos sobre a economia mundial e brasileira?

Terá algum efeito, mas nada extraordinário. O juro longo nos EUA subiu por causa da eleição e está em 4,5%, que é mais ou menos onde estava no início do ano, no fim do ano passado. O DXY (indicador que mede o desempenho do dólar norte-americano frente a uma cesta de moedas estrangeiras) se valorizou, mas ele estava menos parecido com o que chegou no meio do ano. Então é um movimento que faz diferença, é um dos fatores pelos quais o câmbio saiu de R$ 5,50 para R$ 5,70, mas é um movimento que, pelo menos por enquanto, não tem sido muito agressivo. Foi um movimento dentro de padrões que já vimos recentemente.

Então a eleição do Trump não vai alterar o plano de voo do Fed (o banco central americano)?

Acho que não. Talvez, em vez de ele ir para 3,5%, vai para 3,75%. Mas, de novo, pelo menos por enquanto, não vai fazer muita diferença para o plano de voo do Fed.

Com relação às barreiras tarifárias que Trump prometeu, elas podem levar a uma guerra comercial pelo mundo?

Acho que voltam as tensões comerciais, a guerra comercial, a guerra de tarifas. Isso, com certeza, porque ele fez essa promessa na campanha, acredita nisso e fez isso na primeira vez em que foi presidente. Então, acho que isso acontece. Agora, a chave da questão aqui será a intensidade, o quanto ele vai ser agressivo na subida das tarifas. Eu acho que na hora que ele chegar lá e ver o tamanho do impacto na economia, na inflação e na popularidade, vai usar de menos agressividade.

Ou seja, o presidente Trump vai primeiro sentir a temperatura da água para atuar?

Os Estados Unidos estão acabando de sair do problema inflacionário, o Fed está cortando os juros etc. E uma coisa que ficou muito clara nas eleições é que a inflação fez diferença na popularidade do Biden, a alta de preços fez diferença. É popular fechar e proteger a economia, mas a inflação é popular também. Um indivíduo racional pensaria várias vezes antes de fazer uma alta muito intensa de preços.

Do alto da experiência de quem já comandou a Secretaria de Fazenda da cidade mais rica do País, São Paulo, o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, diz esperar por boas medidas já produzidas no âmbito do Ministério da Fazenda para o pacote de corte de despesas que o governo está prestes a anunciar. Ele afirma estar mais focado na dinâmica e na qualidade das medidas do que no valor total dos cortes. “Estou preocupado se o pacote trará uma nova dinâmica de concessão de benefícios, de gastos obrigatórios em geral”, diz Megale em entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele avalia o comunicado do Copom, que na quarta-feira, 6, elevou a Selic a 11,25%, como duro na sinalização dos seus próximos passos.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

O governo está para anunciar as medidas para cortes de gastos. Qual o montante que o senhor estima que será?

Estou menos focado no valor e no prazo ou se vai economizar R$ 10, 20, 30 bilhões cedo ou em 2026. Estou mais preocupado com a qualidade das medidas, se elas de fato vão trazer uma nova dinâmica de concessão de benefícios, de gastos obrigatórios em geral, que foquem em quem realmente precisa receber os benefícios; e que mantenham um ritmo pagável ao longo do tempo destes benefícios. Não adianta ter benefícios, e não conseguir pagá-los; isso gera inflação lá na frente.

Ou seja, você está falando em identificar quem realmente precisa dos benefícios.

É isso. Esses critérios já devem estar no pacote. Nele deve ter muitas medidas boas já produzidas pela Secretaria do Planejamento, que está olhando para isso. É uma secretaria que hoje é comandada pelo secretário Sérgio Firpo (Secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos), mas que em governos anteriores também foi comandada por economistas muito bons, como Mansueto Almeida, que foi responsável por esse processo, e pelo Alexandre Manoel, que hoje está no mercado. São bons economistas que se debruçaram sobre a pertinência das despesas e manifestaram suas opiniões.

A questão não é de diagnóstico.

Não, o diagnóstico já foi feito há dois anos. Tem bastante material. A Câmara e o Senado também fazem discussões sobre esse tipo de coisa, tem bastante material ali para fazer a análise sobre se os quase R$ 2,2 trilhões que se gastam todo ano estão sendo bem empregados. E mais importante: se a tendência de crescimento desses gastos pode ser ajustada. É nisso que estou de olho. Então, nesse sentido, está tudo bem o governo passar alguns dias elaborando um negócio que é tão importante.

Comunicado que veio com a alta de 0,50 do juro na quarta-feira, 6, deixa os analistas e a sociedade livres para especular com uma alta de até 0,75 ponto porcentual para o próximo Copom, diz Megale Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Quer dizer, mais importante do que o valor a ser economizado é a premência do anúncio e a solidez do pacote?

O pacote tem de ter a credibilidade política de um ajuste. Sabemos que, em qualquer parte do mundo, a qualquer tempo, em qualquer governo, de qualquer partido, ninguém gosta de fazer medidas austeras no último ano de governo. Então 2025 é o ano, não é 2026. Mas não adianta fazer um ajuste agora e depois voltar à política de expansão de gastos. Não pode ser um pacote só para fechar a conta. Tem de ter mudanças de regras na estrutura de gastos.

Que avaliação o senhor faz dos resultados do Copom mais recente?

Achei o comunicado do Copom duro na sinalização dos passos. Na minha cabeça, a possibilidade era de o BC voltar a dizer que subiria a Selic até onde fosse necessário, mas que o passo seria de 0,50 ponto porcentual por reunião. Mas não fez isso, deixou totalmente aberto. Ou seja, os analistas e a sociedade estão livres para especular com uma alta de até 0,75 ponto porcentual para o próximo Copom.

O que te leva a esse raciocínio?

O Copom aumentou a projeção de inflação no horizonte relevante de política monetária (segundo semestre de 2026) de 3,5% do Copom anterior para 3,6% no de ontem. Colocou 1 ponto porcentual na Selic para o período, de 11,5% para 12,5% ao ano. Ou seja, ficou ainda mais difícil trazer a inflação para o centro da meta, sendo que ele já está incorporando 100 pontos-base (1 ponto porcentual) a mais de Selic. Então, a minha conclusão é de que a Selic será de 12,5% para mais.

Alguns de seus colegas economistas acham que esse juro pode ir para 13%, 14%.

O BC poderia ter carregado mais na tinta e, talvez, levar o mercado para achar que poderia ser 14%, 15%. Nossas contas não mostram isso, parece exagerado, mas ele pode preferir e passamos a achar que, em vez de ele subir a Selic para 12% e mantê-la assim por muito tempo, ele vai aumentá-la para 13,25%. Ou seja, fará mais quatro altas de 0,50 ponto, que é bem mais apertado, dá uma meia trava na inflação e aí corta antes. Eu acho que essa parece ser uma estratégia mais vencedora para o BC agora.

Por quê?

Porque, se ficar protelando, subindo aos poucos, a inflação continuará sendo um problema. Em vez de ficar protelando o problema, atua com mais energia no curto prazo e vai para 13,25%. Essa é a nossa nova projeção agora, estávamos com 12%. E outra coisa: indo para 13,25%, o BC quebra essa espinha dorsal da inflação. Temos visto a inflação andando ali perto do topo da banda e tem choques como câmbio, custos e carnes, entre outros vindo por aí. Tudo isso pode jogar a inflação para perto de 5,5%.

E, quanto à eleição de Trump nos EUA, quais são os impactos sobre a economia mundial e brasileira?

Terá algum efeito, mas nada extraordinário. O juro longo nos EUA subiu por causa da eleição e está em 4,5%, que é mais ou menos onde estava no início do ano, no fim do ano passado. O DXY (indicador que mede o desempenho do dólar norte-americano frente a uma cesta de moedas estrangeiras) se valorizou, mas ele estava menos parecido com o que chegou no meio do ano. Então é um movimento que faz diferença, é um dos fatores pelos quais o câmbio saiu de R$ 5,50 para R$ 5,70, mas é um movimento que, pelo menos por enquanto, não tem sido muito agressivo. Foi um movimento dentro de padrões que já vimos recentemente.

Então a eleição do Trump não vai alterar o plano de voo do Fed (o banco central americano)?

Acho que não. Talvez, em vez de ele ir para 3,5%, vai para 3,75%. Mas, de novo, pelo menos por enquanto, não vai fazer muita diferença para o plano de voo do Fed.

Com relação às barreiras tarifárias que Trump prometeu, elas podem levar a uma guerra comercial pelo mundo?

Acho que voltam as tensões comerciais, a guerra comercial, a guerra de tarifas. Isso, com certeza, porque ele fez essa promessa na campanha, acredita nisso e fez isso na primeira vez em que foi presidente. Então, acho que isso acontece. Agora, a chave da questão aqui será a intensidade, o quanto ele vai ser agressivo na subida das tarifas. Eu acho que na hora que ele chegar lá e ver o tamanho do impacto na economia, na inflação e na popularidade, vai usar de menos agressividade.

Ou seja, o presidente Trump vai primeiro sentir a temperatura da água para atuar?

Os Estados Unidos estão acabando de sair do problema inflacionário, o Fed está cortando os juros etc. E uma coisa que ficou muito clara nas eleições é que a inflação fez diferença na popularidade do Biden, a alta de preços fez diferença. É popular fechar e proteger a economia, mas a inflação é popular também. Um indivíduo racional pensaria várias vezes antes de fazer uma alta muito intensa de preços.

Entrevista por Francisco Carlos de Assis

Francisco Carlos de Assis é repórter

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