RIO - Os cortes anunciados pelo governo russo nas exportações de diesel e gasolina da Rússia vão alterar a oferta do produto no mercado mundial com efeito sobre os preços em geral, o que inclui importadores brasileiros. A previsão do presidente da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), Sergio Araujo, é que o preço de paridade de importação avance 5% em função da nova restrição russa.
“O impacto é geral. O corte anunciado esta manhã já se reflete nos preços internacionais, em alta. Nossa expectativa é um aumento de 5% no preço de paridade internacional”, afirma.
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Mas Araújo observa que ainda é preciso esperar o fechamento do mercado para se ter claro os efeitos do corte nas exportações russas. “Os preços estão subindo, mas ainda não está clara a intensidade desse movimento. Como esse mercado é muito especulativo, fortes altas tendem a ser refeitas (ajustadas) nos dias seguintes”, disse.
Para o Brasil, uma consequência imediata será um aprofundamento da defasagem entre os preços praticados pela Petrobras com relação ao PPI. Considerando os preços de quarta-feira, 20, a Petrobras vende gasolina 6% ou R$ 0,19 por litro abaixo do PPI calculado pela Abicom. No caso do diesel, essa diferença era de 14% ou R$ 0,64 por litro. “Essa diferença vai subir mais e pressionar o produtor nacional (Petrobras e refinarias privadas)”, diz Araujo.
Desde março, a Petrobras não considera mais um cálculo de PPI para balizar preços, mas sim uma faixa entre o preço marginal da companhia e o preço alternativo do cliente (preço da concorrência), dentro da qual ainda estariam os preços da estatal, disse recentemente o presidente da empresa, Jean Paul Prates.
Na semana passada, o Estadão/Broadcast mostrou que a presença do diesel russo no Brasil tornou menos aderentes à realidade os cálculos de defasagem entre os preços da Petrobras e o PPI baseado nos preços do Golfo do México. Existe uma diferença real expressiva de preço, mas seria menor do que o propalado.
Efeito sobre suprimento
O aumento global dos preços apontado por Araújo é somente um primeiro efeito do movimento russo. Como o Brasil vem se tornando grande importador de diesel russo desde abril, só atrás da Turquia, pode haver consequências paralelas no suprimento do mercado brasileiro.
O Brasil importa entre 20% e 30% do diesel que consome. Em agosto, segundo dados do governo federal, o diesel russo representou 74% do total das importações brasileiras. No caso da gasolina, esse risco é menor ou inexistente, uma vez que o País só importa 5% ou menos do volume que consome.
Segundo Araujo, algumas das empresas associadas da Abicom têm trazido cargas russas para o Brasil. Destaca-se, também, a importadora Nimofast, que domina o mercado de diesel russo no País. Analistas especializados ouvidos pelo Estadão/Broadcast dizem que ainda não é possível prever qual será o efeito sobre importadores brasileiros que mantêm contratos com fornecedores russos porque as regras do corte e sua duração ainda não estão claras.
“As consequências para compradores pontuais são evidentes, mas ainda é um mistério para quem tem contrato. Se o governo impedir as cargas de saírem do País, não tem muito jeito”, diz um especialista que não quis se identificar por lidar diretamente com importadores.
Corte russo
A decisão do Kremlin de restringir temporariamente a exportação de gasolina e diesel tem o objetivo de estabilizar os preços dos combustíveis no mercado doméstico, que vêm subindo. Além da maior demanda ligada a picos de safra agrícola, houve manutenções em refinarias, que restringiram a oferta. O decreto com a suspensão das vendas foi assinado nesta quinta-feira, 21, pelo primeiro-ministro Mikhail Mishustin, informou o governo russo.
“As restrições temporárias ajudarão a saturar o mercado de combustíveis, o que, por sua vez, reduzirá os preços para os consumidores”, diz o documento.
Antes do anúncio, o governo russo chegou a tentar estabilizar o mercado com o aumento no fornecimento de combustíveis, além de ter organizado o monitoramento diário das compras de combustíveis para as necessidades dos produtores agrícolas com ajuste de volumes.
Segundo analistas, a Rússia já tinha encurtado exportações de diesel em cerca de 30%, para cerca de 1,7 milhão de toneladas nos primeiros 20 dias de setembro, em relação ao mesmo período de agosto.