São Paulo, 10/05/2023 - O dólar emendou nesta quarta-feira, 10, o segundo pregão consecutivo de queda no mercado doméstico de câmbio, em dia marcado por sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior. Leitura do índice de inflação ao consumidor nos EUA em abril não apenas reforçou a perspectiva de pausa no aperto monetário pelo Federal Reserve em junho como alimentou apostas em cortes da taxa americana a partir de setembro. O Ibovespa teve o quinto dia consecutivo de alta, hoje de 0,31%, aos 107.448,21 pontos.
Afora uma alta muito limitada e pontual nos primeiros minutos de negócios, quando registrou máxima a R$ 4,9901 (+0,05%), o dólar operou em baixa firme ao longo do pregão. Com mínima a R$ 4,9391 (-0,97%), a moeda fechou em queda de 0,75%, cotada a R$ 4,9499. Apesar de dois recuos seguidos, a divisa ainda acumula leve valorização na semana (+0,13%), em razão do avanço de 1,37% na segunda-feira.
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Nos EUA, os números do CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) e de seu núcleo - que exclui itens voláteis como alimentos e energia - vieram em linha com o esperado por analistas em abril. Na comparação anual, o índice subiu 4,9%, enquanto a expectativa era de 5%. Já o núcleo do CPI marcou alta de 5,5%, de acordo com o consenso do mercado e com leve desaceleração na comparação com março (5,6%).
“Parte do movimento do dólar aqui é por fator externo. A leitura de inflação esta corroborando a narrativa de pausa do Fed na alta de juros. Outras moedas emergentes também estão se apreciando frente ao dólar”, afirma o economista Rafael Rondinelli, do banco Modal, que vê espaço para uma rodada de queda da taxa de câmbio.
Segundo Rondinelli, o real tende a ser favorecido pelos superávits comerciais elevados, em especial com exportações de soja e minério de ferro, e a manutenção de um diferencial de juros interno e externo ainda elevado nos próximos meses, o que estimula as operações de “carry trade”. O economista do Modal ressalta que o real apresenta um desempenho abaixo de seus pares nos últimos anos, em razão de prêmios de risco associados à turbulência política e a incertezas em relação às contas públicas.
“A redução da incerteza no cenário fiscal com o novo arcabouço, ainda que não tão forte quanto o desejado pelo mercado, pode abrir espaço para maior apreciação do real”, diz Rondinelli, que mantém ainda projeção de dólar a R$ 5,25 no fim do ano, mas com viés para baixo. “Provavelmente, o Banco Central terá espaço para reduzir juros antes do Fed, o que vai diminuir o diferencial de juros e o câmbio pode voltar um pouco”.
Em entrevista à BandNews quando o mercado de câmbio spot já estava fechado, o secretário-executivo do ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, indicado pelo governo Lula à diretoria de Política Monetária do Banco Central, disse que não faz projeções sobre a política monetária, mas pontuou que a curva de juros futuros local já mostra que pode haver cortes da Selic no segundo semestre.
Pela manhã, o relator do projeto do novo arcabouço fiscal, deputado Claudio Cajado (PP-BA), disse, em entrevista à Globo News, que o texto está concluído e aguarda apenas o retorno do governo. Há possibilidade de que o parecer seja divulgado amanhã, o que abriria possibilidade de votação na próxima semana.
Bolsa
O Ibovespa resistiu em terreno positivo pela quinta sessão seguida, igualando série entre 24 e 30 de março, quando saiu de 97,9 mil, no encerramento do dia 23, para os 103,7 mil pontos. Agora, tenta se consolidar em patamar mais alto, aos 107 mil, reconquistado ontem em fechamento pela primeira vez desde 23 de fevereiro - e preservado hoje mais uma vez sem a contribuição de Nova York, que operou com viés indefinido, tendendo ao negativo em boa parte da sessão.
Por lá, persiste cautela quanto à elevação do teto da dívida pública, ainda não decidida. Assim, o sinal no fechamento foi misto em Nova York (Dow Jones -0,09%, S&P 500 +0,45% e Nasdaq +1,04%), em sessão na qual a atenção também esteve concentrada, pela manhã, na leitura sobre a inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em abril. O dado trouxe desaceleração no mês, o que ajuda pelo lado dos juros deliberados pelo Federal Reserve, mas traz incerteza quanto ao ritmo de atividade na maior economia, ainda sob risco de recessão na visão do mercado, aponta Judah Nunes, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos
Conforme observa Antonio Sanches, analista da Rico Investimentos, a inflação acumulada ficou abaixo de 5% ao ano pela primeira vez em dois anos. “No entanto, continua forte e historicamente alta. O resultado de abril demonstrou que os preços mensais ao consumidor nos EUA ainda estão subindo, com destaque para o setor de serviços, especialmente aluguéis”, ressalva o analista.