Apesar de algumas dúvidas em torno da proposta de arcabouço fiscal apresentada pelo governo nesta quinta-feira, 30, terem sido apresentadas, a reação geral do mercado financeiro foi bastante positiva. A simples apresentação do texto já trouxe alívio ao investidor, especialmente por causa do aparente esforço para aprovar a medida rápido no Congresso, bem como sinais de vitória da ala econômica sobre a política em alguns pontos da discussão. Dificuldades, como o possível aumento da carga tributária, ficaram em segundo plano.
E, ainda que a medida não dê espaço para um corte imediato da Selic, como quer o governo, a reação positiva acaba melhorando as expectativas, que são um balizador da política monetária.
NOVO ARCABOUÇO FISCAL
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Neste ambiente, a Bolsa de Valores, bastante pressionada ao longo de todo o mês de março, emendou o quinto ganho seguido e terminou o dia aos 103.713,45 pontos, uma valorização de 1,89%. Dos 88 papéis que compõem o índice Ibovespa, 78 terminaram em alta hoje. No câmbio, foi também o quinto dia seguido de ganho para o real, que contou com uma ajuda também do fortalecimento de commodities no exterior. O dólar à vista caiu 0,73%, fechando aos R$ 5,0977. Com isso, manteve-se na menor cotação de fechamento desde 2 de fevereiro, marca conquistada ontem.
Além disso, os juros futuros também tiveram reação positiva. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,17% (era 13,22% ontem), e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,16%% para 11,96%. A taxa do DI para janeiro de 2027 encerrou a 12,05%, de 12,29% ontem, e a do DI para janeiro de 2029 recuou de 12,72% para 12,50%.
Após duas sessões de alta nas taxas, marcadas pela repercussão da ata do Copom e dos ruídos em torno do arcabouço, havia espaço para um ajuste nos prêmios de risco, hoje pavimentado pelo anúncio do nova regra. A reação inicial ao texto foi de volatilidade nos ativos, que posteriormente deu lugar à queda das taxas durante a entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“O impacto foi positivo pelo fato de o texto ter finalmente saído e prever uma limitação de despesas, incluindo saúde e educação”, comentou a economista da B.Side Investimentos, Helena Veronese. Para ela, a proposta “é bem intencionada”, mas o ponto delicado é a estabilização da dívida, que só se viabilizaria, como sugere o texto, com crescimento forte do PIB, das receitas e com queda da Selic, além de juro neutro mais baixo. “O desenho macro é bom, mas os pressupostos são muito otimistas”, diz.
Para o economista André Perfeito, o plano joga pressão sobre os políticos para rever os benefícios tributários concedidos caso queiram aumentar gastos. “É um movimento inteligente esse que busca ‘justiça tributária’ uma vez que o ajuste se dará não aumentando as alíquotas ou criando novos impostos, mas antes trazendo para o Fisco setores que estavam ou favorecidos ou completamente fora”, afirma o economista.