A valorização das ações da Petrobras, na esteira da fala do futuro presidente da companhia, o senador Jean Paul Prates (PT-RN), sobre a política de preços para combustíveis, deu alento ao Ibovespa ao longo da tarde desta quarta-feira, 4. Após exibir fôlego curto pela manhã, quando chegou a cair e registrou mínima aos 103.915,11 pontos, o índice ganhou força e encerrou o pregão em alta de 1,12%, aos 105.334,46 pontos, interrompendo uma sequência de dois dias de baixa expressiva. Logo após a divulgação da ata do mais recente encontro do Federal Reserve (Fed, o BC americano), por volta das 16h, com aceno de novas elevações de juros nos EUA, o Ibovespa chegou a perder momentaneamente a linha dos 105 mil pontos, em sintonia com as bolsas em Nova York, mas logo se recuperou.
“O mercado se recuperou depois dos ruídos que vieram da equipe do governo nos últimos dias. A fala do futuro CEO da Petrobras foi positiva. Os papéis da empresa estavam bem para trás, mas passaram a subir mesmo com o petróleo caindo”, afirma o head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, ressaltando a recuperação também dos setores de proteínas e de varejo e consumo.
Segundo analistas, o governo Lula parece ter adotado o tradicional freio de arrumação para redução de danos. Primeiro, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse ao Broadcast Político que não há planos para revisar a reforma da previdência promovida na gestão de Michel Temer, desautorizando assim o ministro da Previdência, Carlos Lupi, que ontem falou em uma “antirreforma”.
Em seguida, o futuro presidente da Petrobras tratou de afastar temores de mudanças radicas na política de preços da petroleira ao dizer que todo preço vai ter referência internacional e que não haverá intervenção. Ficou em aberto a questão, contudo, da permanência do PPI (Preço de Paridade de Importação). “O governo pode simplesmente dizer é livre, é liberado, é PPI, não é PPI. Mas é o governo quem cria o contexto, e o mercado também. Principalmente o mercado, se falta o produto, se sobra produto”, afirmou Prates.
Por último, Lula convocou para sexta-feira, 6, reunião com a equipe ministerial para afinar o discurso do governo e, segundo Costa, reafirmar que qualquer proposta só tem validade após o aval presidencial. “Lula é quem decide, ele teve mais de 60 milhões de votos”, disse o ministro, acrescentando que todas as propostas também vão passar pelo crivo da Casa Civil.
“A nova equipe de governo não conseguiu encontrar ainda um tom correto de comunicação com o mercado. Se boa parte das medidas que estão sendo propostas pelo ministros avançassem, teríamos uma severa conta fiscal para os próximos anos”, afirma o sócio e analista da Finacap Investimentos Felipe Moura.”A entrevista de Prates deu uma acalmada nos mercados hoje. Ele acenou que será aderente às atuais práticas. Mas é tudo ainda muito especulativo”, afirma.
No exterior, as atenções estiveram voltadas à ata do encontro do Federal Reserve em dezembro, quando houve redução do ritmo de alta dos juros de 0,75% ponto porcentual para 0,50% ponto porcentual. Dirigentes do BC americano não apenas sinalizaram que são necessárias mais elevações para conter a inflação como descartaram a possibilidade de corte de juros em 2023. A política restritiva, afirmaram, “precisa ser mantida” até que haja confiança de que a inflação caminha para a meta. Com isso, o dólar reduziu a queda vista no exterior e ante o rea el fechou em leve alta de 0,01%, cotado a R$ 5,4524.
“O Fed foi mais explícito ao citar que relaxamento [das condições financeiras] não teria fundamento e que nenhum participante acredita que em 2023 haverá cortes de juros, ao contrário do que o mercado precifica atualmente”, afirma a economista-chefe Upon Global Capital, Nicole Kretzmann.
O diretor de Investimentos da Nomad, Celso Pereira, chama a atenção para o fato de o Fed ter elevado a projeção de inflação para 2023 (de 2,8% para 3,1%), uma visão mais pessimista do que a do mercado. Pereira vê provavelmente mais três aumentos da taxa de juros em 0,25 ponto porcentual cada um, levando os Fed Funds para patamar acima de 5% neste ano. “Com juros levemente acima de 5%, a previsão para a bolsa de valores nos EUA é de um ano fraco, sem devolução das perdas substanciais de 2022″, afirma.