Nova York - Enquanto os mercados globais esboçavam um movimento de recuperação da turbulência gerada pela quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank nos Estados Unidos, incertezas quanto ao futuro do Credit Suisse reacenderam a preocupação de investidores com o setor bancário. A instituição suíça exacerbou os questionamentos em torno da possibilidade do início de uma crise mais ampla, devido à sua exposição global. Ao mesmo tempo, o movimento pode desencadear uma nova onda de fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) para conter o risco de contágio no sistema financeiro.
Bolsas mundiais enfrentam um dia de perdas após o principal acionista do Credit Suisse, o Saudi National Bank, descartar conceder mais assistência financeira ao banco. O saudita comprou uma fatia de quase 10% no fim do ano passado quando entrou em um plano de aumento de capital, no qual se dispôs a investir até US$ 1,5 bilhão no banco, que já estava envolto de uma crise quase que existencial em sua história.
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“A resposta é absolutamente não, por muitas razões além da razão mais simples, que é regulatória e estatutária”, disse o presidente do SNB, Ammar Al Khudairy, à ‘Bloomberg TV’ nesta quarta-feira, ao ser questionado se o banco estaria disposto a ajudar o Credit caso necessitasse de uma nova liquidez adicional.
Sua fala derrubou as ações do Credit Suisse, que renovaram o patamar histórico de baixa e tiveram negociações interrompidas. A posição também desencadeou um novo movimento de aversão a risco no setor bancário global, o que derrubou as bolsas na Europa, nos EUA e no Brasil.
Os Credit Default Swap (CDS), espécie de seguro contra calote, do suíço dispararam mais de 800 pontos-base, ultrapassando até mesmo os níveis vistos na grande crise financeira internacional de 2008, enquanto os seus títulos de dívida caíram a patamares associados a empresas com dificuldades financeiras, segundo a mídia internacional.
Na visão de um experiente analista do setor bancário, baseado nos EUA, os recentes episódios no setor bancário “não surpreendem” e são consequência do extenso período de afrouxamento monetário. “Muito tempo com a grana frouxa dos bancos centrais, os bancos se acomodaram e deu nisso”, diz, na condição de anonimato.
Ele afirma, no entanto, que os bancos centrais não devem permitir que uma crise bancária se alastre pelo mundo. Em sua visão, uma nova onda de fusões e aquisições pode ser a saída para evitá-la. “O próprio Credit Suisse. Talvez, essa pressão finalmente force o banco central suíço a aprovar a fusão com o UBS”, diz ele, que não descarta mais casos de bancos em dificuldades na Europa e nos EUA. “Banco em (país) emergente é gato super escaldado, não vai ter problema. O risco nunca é zero. Mas é bem baixo”, afirma.
O CEO da BlackRock, Larry Fink, reforçou o coro para o risco de que novos dominós venham a cair no setor bancário como reflexo do período que chamou de “dinheiro fácil”, referindo-se ao fim dos juros baixos no mundo. “Ainda não sabemos se as consequências do dinheiro fácil e das mudanças regulatórias se espalharão pelo setor bancário regional dos EUA”, escreveu, em sua carta anual a investidores publicada hoje. Para ele, ainda é “é muito cedo” para saber o quão generalizado será o dano.
A britânica Capital Economics diz que o Credit Suisse é, em princípio, uma “preocupação muito maior” para a economia global do que os bancos regionais dos EUA, que estavam na linha de fogo na semana passada após a quebra do SVB e do Signature. “O Credit Suisse não é apenas um problema suíço, mas global”, afirma o economista chefe da consultoria para Europa, Andrew Kenningham, em nota a clientes.
Segundo ele, as preocupações em torno do Credit Suisse levantam a questão se este é o começo de uma crise global ou apenas mais um caso “idiossincrático” do setor bancário. O banco suíço foi amplamente visto como o “elo mais fraco” entre os pesos pesados do setor na Europa, mas não é o único que tem lutado contra a fraca lucratividade nos últimos anos. “Seria tolice presumir que não haverá outros problemas no futuro”, afirma Kenningham, citando as quebras de bancos nos EUA e a crise no mercado de bônus do Reino Unido (gilts).
Ao falar em uma conferência financeira na Arábia Saudita, o presidente do conselho de administração do Credit Suisse, Axel Lehmann, disse que o efeito de contágio do SVB e do Signature é “local e contido” e evitou comentar sobre a possibilidade de o banco suíço vir a necessitar de algum suporte do governo no futuro. “Esse não é o assunto... Somos regulamentados, temos fortes índices de capital, balanço muito forte. Estamos todos de mãos dadas. Portanto, esse não é o assunto”, afirmou.