Os números da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (ABDIB) apontam, com clareza, a tendência de alta. Os investimentos em infraestrutura no Brasil no ano passado cresceram 19,6% em termos reais em relação a 2022. Dados que reúnem os projetos nos setores de logística e transporte, telecomunicações, energia e saneamento básico. “É um aumento significativo impulsionado tanto pelo crescimento de 14% nos investimentos privados quanto pelo incremento de 44% nos investimentos públicos, que alcançaram R$ 47,7 bilhões, resultado da PEC da Transição. Esse é o melhor desempenho desde 2016, período que antecedeu a vigência da Lei do Teto dos Gastos”, afirma Rafael Meyer, da SWM.
Todas essas movimentações, nas mais variadas áreas, também aceleraram o giro de uma outra engrenagem, a de oferta de opções de investimentos vinculadas à infraestrutura. São produtos com isenção de IR para as pessoas físicas – tanto nos rendimentos distribuídos quanto no eventual ganho de capital – e com potencial de retornos significativos no longo prazo. Os chamados fundos de infraestrutura (FI-Infra) foram lançados em 2020 com o objetivo de financiar o desenvolvimento do País. Os recursos obtidos são aplicados em debêntures incentivadas, ou seja, títulos de dívida emitidos por empresas para financiar projetos de infraestrutura.
Na prática, os fundos emprestam dinheiro às companhias e recebem pagamentos mensais de juros pelos empréstimos. “Os fundos de infraestrutura investem no setor de concessão ou em outros projetos de infraestrutura, com o objetivo de aplicar recursos em títulos de dívida de empresas que atuam no segmento”, explica Rafael Ohmachi, gestor da RB Asset.
Por causa da conjuntura macroeconômica atual, com juros elevados, incerteza em relação à inflação futura e maior aversão ao risco, as estimativas indicam uma tendência positiva para os FIs-Infra. “As dívidas atreladas a projetos de infraestrutura contam com rentabilidade acima dos títulos públicos. Assume-se o risco de projetos que, em sua maioria, contam com uma alta previsibilidade de fluxo de caixa e, ainda, apresentam um rating de qualidade dado pelas principais agências de risco. Dessa forma, o investidor passa a colaborar com o desenvolvimento do País, que ainda carece de investimento em estoque de infraestrutura”, afirma Ohmachi.
O que não significa inexistência de riscos. “O investidor deve ficar atento à baixa liquidez e à concentração em poucos ativos, uma vez que o número de emissores dessas debêntures ainda é pequeno, e há o risco de default”, alerta João Peixoto Neto, CEO da Ouro Preto Investimentos.
Diversidade de ativos
Os investimentos em infraestrutura abrangem uma variedade de segmentos, incluindo transporte (estradas, aeroportos, portos, ferrovias), utilidades públicas (distribuição de gás, geração e distribuição de eletricidade, tratamento e descarte de resíduos), tecnologia da informação e comunicação (torres de telecomunicações, sistemas de cabos) e infraestrutura social (prisões, escolas, instalações de saúde).
“Os ativos de infraestrutura geralmente têm uma vida útil longa e são substancialmente grandes em custo e escala, resultando em baixa liquidez para investimentos diretos. No entanto, existem opções de investimentos mais líquidos respaldados por ativos de infraestrutura disponíveis através de ETFs, fundos mútuos e fundos de private equity”, afirma Rafael Meyer, da SWM.
As negociações públicas em infraestrutura estão concentradas em categorias específicas de ativos, incluindo dívida e equity. Por causa dos contratos de longo prazo e das barreiras de entrada, os fluxos de caixa provenientes de investimentos em fundos de infraestrutura são estáveis e apresentam baixa correlação com ações negociadas em bolsas. “A dívida de infraestrutura também tende a ser mais segura e menos afetada pelos ciclos econômicos”, afirma Meyer.