A China vive um momento desafiador. A situação delicada das incorporadoras Evergrande, segunda maior do país, e Fantasia para honrar suas dívidas ameaça a estabilidade econômica do gigante asiático. Entretanto, este cenário não tem nenhuma relação com o atual mercado imobiliário brasileiro.
O caminho escolhido para expandir seus negócios levou a Evergrande a contrair alto volume de empréstimos e a diversificar demais seus investimentos. O mercado imobiliário brasileiro, no entanto, continua saudável. Os ambientes para este setor são bem distintos quando olhamos para a China e o Brasil. Não temos aqui a prática de alavancagem, o que reduz a matriz de riscos. As incorporadoras aqui, em geral, têm um bom caixa e fácil acesso ao mercado de capitais. O País contabiliza 30 empresas deste segmento com capital aberto no setor de Real Estate.
O ano de 2020, marcado pela crise sanitária e econômica, foi positivo para a construção, que gerou um saldo positivo de empregos. Atualmente, a inadimplência do crédito imobiliário no Brasil segue em patamares bastante baixos; e o índice de atraso acima de 90 dias no Sistema Financeiro de Habitação (SFH) está em 0,98%. Os processos para financiamento de imóveis por aqui são bem rigorosos, exigindo diversos comprovantes tanto para aquisição de imóveis prontos quanto para o financiamento de construção, cujos recursos somente são liberados de acordo com o andamento da obra. Tudo isso garante uma forte segurança ao financiamento habitacional e inibe a prática de alavancagem pelas empresas do setor.
Em vários pontos do País, a valorização dos imóveis é sensivelmente visível, motivada pelas boas condições de crédito imobiliário e pela taxa de juros real (juros menos inflação) negativa. O fato é que a oferta de crédito imobiliário segue crescente. Em 2021, as contratações de crédito imobiliário no primeiro semestre subiram 108% em relação a 2020, atingindo seu maior volume histórico.
Temos, ainda, um alto déficit habitacional – cerca de 7,8 milhões de moradias. Além disso, estima-se que cerca de 1,1 milhão de novas famílias serão formadas anualmente. Esse volume é cerca de duas vezes acima do volume de imóveis novos produzidos no último ano. Portanto, os pilares que vão garantir o crescimento sustentável do mercado estão bem constituídos: forte demanda, segurança jurídica, capacidade de financiamento e uma série de empresas bem capitalizadas e com boa governança. Desse modo, a recente crise imobiliária chinesa não tem nenhuma hipótese de afetar as incorporadoras brasileiras.