O custo de produção da indústria brasileira voltou a se distanciar da média internacional, após um período no qual as contas das empresas foram aliviadas pelo ciclo de afrouxamento monetário que levou os juros de referência do País à sua mínima histórica.
A inflexão é apontada por um levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que estima em quanto o chamado Custo Brasil onera os produtos brasileiros frente a concorrentes do exterior. Esta conta atingiu o pico de 35,9% na recessão econômica de 2015/2016, mas depois cedeu nos quatro anos seguintes, chegando a 17,3% em 2020, quando no enfrentamento da pandemia foram lançadas linhas de crédito emergenciais e a taxa básica de juros (Selic) caiu para 2%. Depois disso, contudo, o Custo Brasil voltou a subir para 17,8%, em 2021, e 20,9%, em 2022, último dado disponível.
O cálculo é uma medida dos custos da indústria brasileira — entre impostos, juros, insumos, logística e serviços — que superam os da concorrência internacional. Apontado como o principal fator da perda de competitividade da indústria de transformação, o Custo Brasil independe das estratégias de cada empresa, pois decorre de deficiências sistêmicas, que só podem ser mitigadas com políticas de Estado.
Na média histórica, que pega um período de 15 anos até 2022, o Custo Brasil elevou em 24,1% os preços dos produtos da indústria brasileira. Ou seja, as desvantagens do ambiente de negócios fazem um produto que custaria US$ 100 ter um acréscimo de US$ 24 quando é fabricado no Brasil.
Para chegar a esse número, a Fiesp faz um exercício sobre quais seriam os custos de uma indústria com as características operacionais brasileiras se ela estivesse no exterior. A base de comparação usada pela entidade são os 15 países que mais exportam produtos industrializados ao Brasil — isto é, os que mais disputam espaço com as fábricas brasileiras no mercado doméstico —, incluindo, entre outros, China, Estados Unidos e Alemanha.
Metade (51%) da diferença do custo de produzir no Brasil em relação aos outros países vem dos tributos. Outros 23% são os juros mais altos pagos pelas empresas no financiamento do capital de giro.
Antonio Carlos Teixeira Álvares, diretor titular do departamento de competitividade da Fiesp, responsável pelo estudo
Peso trilionário
A estimativa sobre o Custo Brasil na indústria, obtida com exclusividade pelo Estadão/Broadcast, não era revisada pela Fiesp havia três anos. Ainda que não faça parte do levantamento, a entidade calcula em R$ 1,2 trilhão o Custo Brasil na indústria de transformação.
O peso dos impostos sobre a indústria deve ser atenuado pela reforma tributária, que tem o setor entre os maiores beneficiados pela criação do imposto sobre valor agregado, o IVA. Já do lado do custo de crédito, a Fiesp aponta a necessidade de soluções para a redução consistente dos juros.
“O Custo Brasil não é a única, mas é uma grande explicação da perda de competitividade da indústria brasileira tanto no mercado internacional quanto no nacional”, diz Antonio Carlos Teixeira Álvares, diretor titular do departamento de competitividade da Fiesp, responsável pelo estudo.
Infraestrutura insuficiente
Entre os dados observados, o levantamento da Fiesp nota que a carga tributária brasileira morde 32,5% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto nos 15 países usados na comparação o porcentual dos tributos no total produzido é de 26,5%. A alíquota de tributos sobre o lucro das empresas no Brasil, de 34%, é a maior entre todas as economias analisadas, cuja média é de 26,1%. Os dados consideram as médias em 15 anos, de 2008 a 2022.
O estudo aponta ainda obstáculos relacionados à burocracia tributária, que toma das empresas brasileiras um tempo de recolhimento de impostos dez vezes maior do que em outras economias, representando um custo de 0,7% do faturamento da indústria de transformação. A Fiesp mostra também em seu estudo que o spread bancário, a diferença entre a taxa de captação e a taxa cobrada pelos bancos nos empréstimos, é 9,3 vezes maior no Brasil.
Leia também
Para completar, aponta o levantamento, certos insumos usados pela indústria são mais caros no Brasil do que na média internacional, citando energia elétrica, gás natural, aço e resinas. Ao mesmo tempo, deficiências em infraestrutura elevam o custo da logística no País. “O Brasil está mal em quase tudo. É o maior custo em quase todas as áreas”, lamenta Álvares.