Nada é mais importante para os mercados globais hoje do que a palavra do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke. Afinal, é a política monetária dos Estados Unidos que conduz a atual liquidez mundial, capaz de inundar os países emergentes e gerar até temores de novas bolhas. É verdade que os problemas fiscais na Europa trouxeram a aversão ao risco de volta e colocaram um freio na euforia injustificada reinante até então - nesta manhã, a cautela dá o tom do comportamento das bolsas europeias e do petróleo, que recuam. Mas a frouxidão do Fed é vista como o pilar das estratégias financeiras. "Um aperto do Fed é o maior risco para os mercados emergentes hoje", disse o chefe de Emergentes da Aberdeen Asset Management, Brett Diment. Apesar da inesperada alta da taxa de redesconto, o primeiro passo do BC dos EUA para o desmonte do esquema emergencial criado para combater a crise, ninguém espera alteração na política de juros baixos. A medida da semana passada continua sendo vista como um passo para a normalização do sistema, algo desejável após uma turbulência tão forte. É isso que os analistas esperam ouvir de Bernanke hoje, em depoimento semestral na Câmara, a partir das 12 horas (de Brasília). Se há um ano havia o temor de colapso do sistema financeiro, hoje se discute a velocidade do crescimento norte-americano. Mas o desemprego e o formato irregular da retomada continuam sendo vistos como impedimento para a alta dos juros. "Não vejo notícia boa em nenhum lugar, não vejo sinais de inflação, só vejo excesso de capacidade", afirmou John Carlson, administrador da Fidelity Investments. Ontem, uma leva de informações negativas afetou o humor dos investidores e renovou o alerta sobre a fragilidade da recuperação. Nos EUA, a confiança do consumidor da Conference Board caiu de 56,5 para 46 em fevereiro. Na Europa, além da queda inesperada do índice alemão de confiança Ifo e do recuo dos gastos com consumo na França, o presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King, levantou a possibilidade de retomar o programa de compra de títulos, com o objetivo de injetar novos recursos na economia, o que derrubou a libra. Cresce a percepção de que o inverno rigoroso no Hemisfério Norte deste ano pode comprometer ainda mais o desempenho econômico dos países no primeiro trimestre - em total contraste com o Brasil, onde o superaquecimento é tema na economia e nas praias. A situação da Grécia ainda traz muita incerteza. Enquanto os investidores aguardam uma emissão de bônus, ontem a Fitch rebaixou os ratings dos quatro maiores bancos do país. Diante do descontentamento da população com os cortes de gastos promovidos pelo governo, os trabalhadores realizam hoje mais uma greve geral. Segundo a Dow Jones, o movimento afeta o transporte e os serviços públicos, fechando escolas, universidades e escritórios do governo. Como os controladores de tráfego aéreo também aderiram, o aeroporto internacional não está funcionando. A tensão social é crescente na Europa em meio à crise fiscal e econômica. Ontem, manifestações ocorreram na Espanha, após paralisações na petroleira francesa Total e na empresa aérea alemã Lufthansa. No Reino Unido, os funcionários da British Airways também se mobilizam. Na avaliação do jornal The Independent, os movimentos podem ser "apenas o início da maior manifestação de inquietação pública vista no continente desde o fervor revolucionário de 1968". A agenda dos Estados Unidos também traz hoje as vendas de residências novas em janeiro (às 12 horas) e os estoques de petróleo (12h30). No mesmo horário da fala de Bernanke, às 12 horas, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, depõe no Comitê de Orçamento da Câmara, para falar da proposta de orçamento de 2011.
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