Condução da política monetária pelo Banco Central divide até economistas mais liberais


Uma parte deles avalia que o Copom poderia, pelo menos, ter sinalizado uma redução da taxa básica de juros na reunião de agosto

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

A maneira como o Banco Central conduz a política de juros abriu um debate entre os economistas do chamado grupo liberal. Uma parte deles entende que a autoridade monetária poderia, pelo menos, ter sinalizado um início de queda da Selic no próximo encontro.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve os juros em 13,75% ao ano. A decisão era amplamente esperada pelo mercado, mas havia uma expectativa majoritária de que o BC abriria o caminho para um corte na reunião de agosto.

Num dos debates econômicos mais acalorados deste ano, o alto patamar da Selic já foi alvo de críticas do governo — encabeçadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, dos economistas mais heterodoxos e do setor produtivo.

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“Eu senti falta de uma mínima sinalização de que esse início de redução de juros está num horizonte não muito distante”, afirma José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados e ex-secretário de Política Econômica.

Na avaliação de Mendonça de Barros, uma combinação de fatores poderia ter feito o Copom deixar mais claro essa possibilidade. Ele aponta, por exemplo, a queda das projeções de inflação futura, a deflação de bens, o câmbio abaixo de R$ 5, a sinalização de que a reforma tributária pode avançar, e a expectativa de que a votação do arcabouço fiscal seja concluída na Câmara dos Deputados.

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“Quando se junta tudo isso num mundo de incerteza e imperfeição, eu acho que é suficiente para que se pudesse ter tido essa perspectiva de, primeiro, sinalizar e, depois, iniciar o processo de redução dos juros”, afirma Mendonça de Barros. “A reunião foi na quarta-feira, e o Focus de hoje (segunda) já mostrou algo bastante razoável.”

Na pesquisa Focus desta segunda-feira, 26, os analistas consultados pelo Banco Central reduziram as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2023 e 2024 e mantiveram a de 2025. Elas estão em 5,06%, 3,98% e 3,80%, respectivamente.

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Antes da reunião da semana passada do Copom, o economista Eduardo Giannetti — conselheiro econômico de Marina Silva nas disputas presidenciais — defendeu um passo além. Ele afirmou que não havia “mais razão concebível” para que o Banco Central não começasse um movimento de redução dos juros neste mês.

Em entrevista ao 'Estadão' antes do Copom, Giannetti defendeu corte da taxa de juros Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“As expectativas de inflação vêm caindo consistentemente, e isso para o Banco Central é muito importante”, disse Giannetti em entrevista ao Estadão. “Nós já passamos da hora (de reduzir a Selic). Estamos com o juro real muito acima do que precisaria ser.”

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Quem vê o BC na direção correta

Os economistas que enxergam um acerto na condução da política monetária avaliam que o Copom não fechou totalmente a porta para uma queda dos juros em agosto. “Eu acho que ele deixou mais portas abertas, inclusive a de agosto”, afirma o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC.

Em sua avaliação, a decisão e a comunicação da autoridade monetária foram corretas com base na “evidência que a gente tem hoje”. Ele cita a projeção de 4% para o IPCA de 2024 relevada no comunicado e apurada no cenário de referência do Copom. O número está acima da meta de inflação estabelecida, de 3%.

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O cenário de referência utilizado pelo Copom considera as previsões contidas na pesquisa Focus. Ela mostra um corte dos juros em agosto e a Selic em 12,25% ao fim deste ano. “Ele (BC) chega nesse número de inflação (3,4%) presumindo uma trajetória de juros que começaria em agosto”, diz Schwartsman. “Isso entrega uma inflação acima da meta. Com essa trajetória de juros, o BC não chega lá.”

Mas se as trajetórias de inflação, sobretudo a de 2025, continuarem em queda, Schwartsman afirma que é possível que o BC inicie o corte de juros na próxima reunião. “Se, em agosto, as trajetórias continuarem em queda, (o Copom) pode começar a reduzir os juros, lembrando que, quando chegar agosto ou setembro, o BC já vai estar olhando para (a inflação de) 12 meses até março de 2025″, diz.

Há duas discussões importantes que devem dar um norte mais claro para o Copom até a próxima reunião, aponta José Júlio Senna, ex-diretor do BC e chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, que também não se coloca “entre os críticos do Banco Central”.

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BC acerta ao esperar por CMN e votação final do arcabouço, diz José Júlio Senna Foto: Werther Santana/Estadão

Existe uma incerteza em relação ao desenho final do arcabouço fiscal e sobre qual será a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) para a meta de inflação de 2026. “O Banco Central não pode se pautar por ideia, por noções. Não pode fazer uma aposta”, afirma Senna.

O arcabouço fiscal foi votado pelo Senado e ganhou mais despesas fora do limite de gastos, como Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF). O texto voltou para a Câmara dos Deputados e deve ser votado na próxima semana.

“Os participantes do mercado receberam muito bem o arcabouço, mas o jogo ainda não acabou. A bola está no campo da Câmara, e o resultado não se conhece”, diz o chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV.

Embora haja críticas de economistas sobre o arcabouço, a avaliação é a de que a nova regra fiscal conseguir evitar um crescimento acelerado do endividamento do País, o que ajudou a reduzir a incerteza e melhorar a percepção de risco dos investidores internacionais com a economia brasileira.

Ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco pontuou em sua coluna de domingo, 25, no Estadão, que o arcabouço fiscal “não é uma solução, mesmo sendo um passo na direção certa” e que “o equilíbrio fiscal nunca foi a fé dessas pessoas no governo”.

“Perguntas de livro-texto: como deve se comportar a autoridade monetária quando os ‘fundamentos fiscais’ não estão bons? Como não se preocupar com a inflação se o fiscal está ruim, sem ser catastrófico, e o governo quer capturar a agência reguladora da moeda? Será que a conta fecha?”, escreveu.

Em relação ao CMN, houve uma forte discussão no governo para aumentar a meta de inflação, mas esse debate perdeu força nas últimas semanas e a leitura agora é a de que o órgão deve manter a meta de inflação em 3% para os próximos anos. Uma eventual mudança na meta não seria bem recebida pelo mercado e poderia mexer com as projeções para o IPCA.

No CMN, a mudança que se espera agora é a substituição do regime para apurar a meta de ano-calendário para contínuo.

“O Banco Central tem de agir com segurança. Os custos de reverter movimento e de revelar arrependimento são muito altos. Afetam muitíssimo a credibilidade da instituição. E a credibilidade é a chave da política anti-inflacionária”, diz Senna.

A maneira como o Banco Central conduz a política de juros abriu um debate entre os economistas do chamado grupo liberal. Uma parte deles entende que a autoridade monetária poderia, pelo menos, ter sinalizado um início de queda da Selic no próximo encontro.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve os juros em 13,75% ao ano. A decisão era amplamente esperada pelo mercado, mas havia uma expectativa majoritária de que o BC abriria o caminho para um corte na reunião de agosto.

Num dos debates econômicos mais acalorados deste ano, o alto patamar da Selic já foi alvo de críticas do governo — encabeçadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, dos economistas mais heterodoxos e do setor produtivo.

“Eu senti falta de uma mínima sinalização de que esse início de redução de juros está num horizonte não muito distante”, afirma José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados e ex-secretário de Política Econômica.

Na avaliação de Mendonça de Barros, uma combinação de fatores poderia ter feito o Copom deixar mais claro essa possibilidade. Ele aponta, por exemplo, a queda das projeções de inflação futura, a deflação de bens, o câmbio abaixo de R$ 5, a sinalização de que a reforma tributária pode avançar, e a expectativa de que a votação do arcabouço fiscal seja concluída na Câmara dos Deputados.

“Quando se junta tudo isso num mundo de incerteza e imperfeição, eu acho que é suficiente para que se pudesse ter tido essa perspectiva de, primeiro, sinalizar e, depois, iniciar o processo de redução dos juros”, afirma Mendonça de Barros. “A reunião foi na quarta-feira, e o Focus de hoje (segunda) já mostrou algo bastante razoável.”

Na pesquisa Focus desta segunda-feira, 26, os analistas consultados pelo Banco Central reduziram as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2023 e 2024 e mantiveram a de 2025. Elas estão em 5,06%, 3,98% e 3,80%, respectivamente.

Antes da reunião da semana passada do Copom, o economista Eduardo Giannetti — conselheiro econômico de Marina Silva nas disputas presidenciais — defendeu um passo além. Ele afirmou que não havia “mais razão concebível” para que o Banco Central não começasse um movimento de redução dos juros neste mês.

Em entrevista ao 'Estadão' antes do Copom, Giannetti defendeu corte da taxa de juros Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“As expectativas de inflação vêm caindo consistentemente, e isso para o Banco Central é muito importante”, disse Giannetti em entrevista ao Estadão. “Nós já passamos da hora (de reduzir a Selic). Estamos com o juro real muito acima do que precisaria ser.”

Quem vê o BC na direção correta

Os economistas que enxergam um acerto na condução da política monetária avaliam que o Copom não fechou totalmente a porta para uma queda dos juros em agosto. “Eu acho que ele deixou mais portas abertas, inclusive a de agosto”, afirma o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC.

Em sua avaliação, a decisão e a comunicação da autoridade monetária foram corretas com base na “evidência que a gente tem hoje”. Ele cita a projeção de 4% para o IPCA de 2024 relevada no comunicado e apurada no cenário de referência do Copom. O número está acima da meta de inflação estabelecida, de 3%.

O cenário de referência utilizado pelo Copom considera as previsões contidas na pesquisa Focus. Ela mostra um corte dos juros em agosto e a Selic em 12,25% ao fim deste ano. “Ele (BC) chega nesse número de inflação (3,4%) presumindo uma trajetória de juros que começaria em agosto”, diz Schwartsman. “Isso entrega uma inflação acima da meta. Com essa trajetória de juros, o BC não chega lá.”

Mas se as trajetórias de inflação, sobretudo a de 2025, continuarem em queda, Schwartsman afirma que é possível que o BC inicie o corte de juros na próxima reunião. “Se, em agosto, as trajetórias continuarem em queda, (o Copom) pode começar a reduzir os juros, lembrando que, quando chegar agosto ou setembro, o BC já vai estar olhando para (a inflação de) 12 meses até março de 2025″, diz.

Há duas discussões importantes que devem dar um norte mais claro para o Copom até a próxima reunião, aponta José Júlio Senna, ex-diretor do BC e chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, que também não se coloca “entre os críticos do Banco Central”.

BC acerta ao esperar por CMN e votação final do arcabouço, diz José Júlio Senna Foto: Werther Santana/Estadão

Existe uma incerteza em relação ao desenho final do arcabouço fiscal e sobre qual será a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) para a meta de inflação de 2026. “O Banco Central não pode se pautar por ideia, por noções. Não pode fazer uma aposta”, afirma Senna.

O arcabouço fiscal foi votado pelo Senado e ganhou mais despesas fora do limite de gastos, como Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF). O texto voltou para a Câmara dos Deputados e deve ser votado na próxima semana.

“Os participantes do mercado receberam muito bem o arcabouço, mas o jogo ainda não acabou. A bola está no campo da Câmara, e o resultado não se conhece”, diz o chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV.

Embora haja críticas de economistas sobre o arcabouço, a avaliação é a de que a nova regra fiscal conseguir evitar um crescimento acelerado do endividamento do País, o que ajudou a reduzir a incerteza e melhorar a percepção de risco dos investidores internacionais com a economia brasileira.

Ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco pontuou em sua coluna de domingo, 25, no Estadão, que o arcabouço fiscal “não é uma solução, mesmo sendo um passo na direção certa” e que “o equilíbrio fiscal nunca foi a fé dessas pessoas no governo”.

“Perguntas de livro-texto: como deve se comportar a autoridade monetária quando os ‘fundamentos fiscais’ não estão bons? Como não se preocupar com a inflação se o fiscal está ruim, sem ser catastrófico, e o governo quer capturar a agência reguladora da moeda? Será que a conta fecha?”, escreveu.

Em relação ao CMN, houve uma forte discussão no governo para aumentar a meta de inflação, mas esse debate perdeu força nas últimas semanas e a leitura agora é a de que o órgão deve manter a meta de inflação em 3% para os próximos anos. Uma eventual mudança na meta não seria bem recebida pelo mercado e poderia mexer com as projeções para o IPCA.

No CMN, a mudança que se espera agora é a substituição do regime para apurar a meta de ano-calendário para contínuo.

“O Banco Central tem de agir com segurança. Os custos de reverter movimento e de revelar arrependimento são muito altos. Afetam muitíssimo a credibilidade da instituição. E a credibilidade é a chave da política anti-inflacionária”, diz Senna.

A maneira como o Banco Central conduz a política de juros abriu um debate entre os economistas do chamado grupo liberal. Uma parte deles entende que a autoridade monetária poderia, pelo menos, ter sinalizado um início de queda da Selic no próximo encontro.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve os juros em 13,75% ao ano. A decisão era amplamente esperada pelo mercado, mas havia uma expectativa majoritária de que o BC abriria o caminho para um corte na reunião de agosto.

Num dos debates econômicos mais acalorados deste ano, o alto patamar da Selic já foi alvo de críticas do governo — encabeçadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, dos economistas mais heterodoxos e do setor produtivo.

“Eu senti falta de uma mínima sinalização de que esse início de redução de juros está num horizonte não muito distante”, afirma José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados e ex-secretário de Política Econômica.

Na avaliação de Mendonça de Barros, uma combinação de fatores poderia ter feito o Copom deixar mais claro essa possibilidade. Ele aponta, por exemplo, a queda das projeções de inflação futura, a deflação de bens, o câmbio abaixo de R$ 5, a sinalização de que a reforma tributária pode avançar, e a expectativa de que a votação do arcabouço fiscal seja concluída na Câmara dos Deputados.

“Quando se junta tudo isso num mundo de incerteza e imperfeição, eu acho que é suficiente para que se pudesse ter tido essa perspectiva de, primeiro, sinalizar e, depois, iniciar o processo de redução dos juros”, afirma Mendonça de Barros. “A reunião foi na quarta-feira, e o Focus de hoje (segunda) já mostrou algo bastante razoável.”

Na pesquisa Focus desta segunda-feira, 26, os analistas consultados pelo Banco Central reduziram as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2023 e 2024 e mantiveram a de 2025. Elas estão em 5,06%, 3,98% e 3,80%, respectivamente.

Antes da reunião da semana passada do Copom, o economista Eduardo Giannetti — conselheiro econômico de Marina Silva nas disputas presidenciais — defendeu um passo além. Ele afirmou que não havia “mais razão concebível” para que o Banco Central não começasse um movimento de redução dos juros neste mês.

Em entrevista ao 'Estadão' antes do Copom, Giannetti defendeu corte da taxa de juros Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“As expectativas de inflação vêm caindo consistentemente, e isso para o Banco Central é muito importante”, disse Giannetti em entrevista ao Estadão. “Nós já passamos da hora (de reduzir a Selic). Estamos com o juro real muito acima do que precisaria ser.”

Quem vê o BC na direção correta

Os economistas que enxergam um acerto na condução da política monetária avaliam que o Copom não fechou totalmente a porta para uma queda dos juros em agosto. “Eu acho que ele deixou mais portas abertas, inclusive a de agosto”, afirma o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC.

Em sua avaliação, a decisão e a comunicação da autoridade monetária foram corretas com base na “evidência que a gente tem hoje”. Ele cita a projeção de 4% para o IPCA de 2024 relevada no comunicado e apurada no cenário de referência do Copom. O número está acima da meta de inflação estabelecida, de 3%.

O cenário de referência utilizado pelo Copom considera as previsões contidas na pesquisa Focus. Ela mostra um corte dos juros em agosto e a Selic em 12,25% ao fim deste ano. “Ele (BC) chega nesse número de inflação (3,4%) presumindo uma trajetória de juros que começaria em agosto”, diz Schwartsman. “Isso entrega uma inflação acima da meta. Com essa trajetória de juros, o BC não chega lá.”

Mas se as trajetórias de inflação, sobretudo a de 2025, continuarem em queda, Schwartsman afirma que é possível que o BC inicie o corte de juros na próxima reunião. “Se, em agosto, as trajetórias continuarem em queda, (o Copom) pode começar a reduzir os juros, lembrando que, quando chegar agosto ou setembro, o BC já vai estar olhando para (a inflação de) 12 meses até março de 2025″, diz.

Há duas discussões importantes que devem dar um norte mais claro para o Copom até a próxima reunião, aponta José Júlio Senna, ex-diretor do BC e chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, que também não se coloca “entre os críticos do Banco Central”.

BC acerta ao esperar por CMN e votação final do arcabouço, diz José Júlio Senna Foto: Werther Santana/Estadão

Existe uma incerteza em relação ao desenho final do arcabouço fiscal e sobre qual será a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) para a meta de inflação de 2026. “O Banco Central não pode se pautar por ideia, por noções. Não pode fazer uma aposta”, afirma Senna.

O arcabouço fiscal foi votado pelo Senado e ganhou mais despesas fora do limite de gastos, como Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF). O texto voltou para a Câmara dos Deputados e deve ser votado na próxima semana.

“Os participantes do mercado receberam muito bem o arcabouço, mas o jogo ainda não acabou. A bola está no campo da Câmara, e o resultado não se conhece”, diz o chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV.

Embora haja críticas de economistas sobre o arcabouço, a avaliação é a de que a nova regra fiscal conseguir evitar um crescimento acelerado do endividamento do País, o que ajudou a reduzir a incerteza e melhorar a percepção de risco dos investidores internacionais com a economia brasileira.

Ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco pontuou em sua coluna de domingo, 25, no Estadão, que o arcabouço fiscal “não é uma solução, mesmo sendo um passo na direção certa” e que “o equilíbrio fiscal nunca foi a fé dessas pessoas no governo”.

“Perguntas de livro-texto: como deve se comportar a autoridade monetária quando os ‘fundamentos fiscais’ não estão bons? Como não se preocupar com a inflação se o fiscal está ruim, sem ser catastrófico, e o governo quer capturar a agência reguladora da moeda? Será que a conta fecha?”, escreveu.

Em relação ao CMN, houve uma forte discussão no governo para aumentar a meta de inflação, mas esse debate perdeu força nas últimas semanas e a leitura agora é a de que o órgão deve manter a meta de inflação em 3% para os próximos anos. Uma eventual mudança na meta não seria bem recebida pelo mercado e poderia mexer com as projeções para o IPCA.

No CMN, a mudança que se espera agora é a substituição do regime para apurar a meta de ano-calendário para contínuo.

“O Banco Central tem de agir com segurança. Os custos de reverter movimento e de revelar arrependimento são muito altos. Afetam muitíssimo a credibilidade da instituição. E a credibilidade é a chave da política anti-inflacionária”, diz Senna.

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