Mesmo após falas de Lula, BC interrompe corte de juros em decisão unânime e mantém Selic a 10,5%


Copom ignora pressão feita pelo presidente em ataque a Campos Neto na véspera da decisão e atende às expectativas do mercado de manutenção da taxa básica

Por Célia Froufe, Fernanda Trisotto e Cicero Cotrim
Atualização:

BRASÍLIA – Depois de sete quedas seguidas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central interrompeu, em decisão unânime, o ciclo de cortes da taxa básica de juros, iniciado em agosto do ano passado, e manteve a Selic em 10,50% ao ano. O resultado era amplamente esperado pelo mercado, em meio ao impasse do governo Lula na condução da política fiscal e ao aumento das expectativas de inflação.

Mais do que o resultado, a grande expectativa dos agentes econômicos era sobre o placar da decisão, sobretudo após após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomar a ofensiva contra o BC e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto. A votação unânime agrada o mercado, depois da forte divisão da reunião de maio.

Racha entre diretores na reunião de maio levantou suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom e gerou ruídos no mercado. Foto: Wilton Junior/Estadão
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Na ocasião, cinco diretores herdados do governo Jair Bolsonaro votaram pela redução da Selic em 0,25 ponto porcentual, enquanto os quatro indicados por Lula votaram por uma queda maior, de 0,5 ponto. O racha levantou suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom e gerou ruídos no mercado – o que contribuiu para a piora das expectativas e para uma alta expressiva do dólar nas últimas semanas.

A expectativa sobre o placar desta reunião escalou após declarações de Lula nesta terça-feira, 19, em entrevista à CBN. Lula disse que o chefe da autoridade monetária não demonstra capacidade de autonomia, tem lado político e trabalha para prejudicar o País.

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O presidente afirmou que hoje o Brasil vive um cenário que exige juros mais baixos para convencer os empresários a investir no País e comparou Campos Neto com o ex-juiz Moro, ao dizer que o chefe do BC tem mesmo papel, “com rabo preso a compromissos políticos”.

No comunicado da decisão, o Copom reiterou que os juros terão de continuar em nível restritivo. “A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz o texto.

Segundo o Copom, “eventuais ajustes futuros” na taxa básica de juros serão ditados pelo “firme compromisso” de convergência da inflação à meta. O comitê reiterou que, diante de um processo de desinflação mais lento, da desancoragem das expectativas e do cenário global desafiador, é necessário ter “serenidade e moderação na condução da política monetária.”

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O comitê reiterou que o cenário externo continua “adverso”, devido à incerteza “elevada e persistente” sobre a velocidade da desinflação global. As dúvidas sobre o início da flexibilização monetária nos Estados Unidos também pesam, afirmou o colegiado.

“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho”, diz o comunicado. “O comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.”

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O colegiado manteve seu balanço de risco inalterado no comunicado, destacando que permanecem fatores de risco em ambas as direções. O documento cita dois riscos para alta do cenário inflacionário: a maior persistência das pressões inflacionárias globais e a maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada.

Já para os riscos de baixa, o Copom destacou a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global mais fortes do que o esperado. “O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, diz o comunicado.

O próximo encontro do Copom está previsto para os dias 30 e 31 de julho.

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Juros reais

O País segue em segundo lugar no ranking mundial dos juros reais (descontada a inflação à frente). Segundo levantamento do site MoneyYou com 40 economias, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 6,79%, apenas atrás da Rússia (8,91%). Em terceiro, aparece o México (6,52%).

A média das 40 economias pesquisadas é de 0,36%. Até a informação mais recente divulgada pelo BC, o juro neutro brasileiro, que não estimula nem contrai a economia e, consequentemente, não acelera nem alivia a inflação brasileira, era estimado pela instituição em 4,5%. Em reunião do mercado com o BC no início deste mês, economistas cogitaram a possibilidade de o juro real neutro já estar próximo da casa de 6%.

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Projeções de inflação

As projeções oficiais do Banco Central para a inflação voltaram a subir. No cenário de referência, que utiliza câmbio conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC alterou a projeção do IPCA de 2024 de 3,8% para 4,0%. Para 2025, a atualização foi de 3,3% para 3,4%.

Também considerando o cenário de referência, o BC atualizou as projeções para os preços administrados. Em 2024, a estimativa passou de 4,8% para 4,4%. Já em 2025, manteve-se em 4,0%. Nesse cenário, o BC considera ainda que o preço do petróleo deve seguir aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passar a aumentar 2% ao ano na sequência. Também adota a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e 2025.

No mercado, a expectativa de inflação do Boletim Focus deste ano disparou entre os dois encontros do Comitê (de 3,72% para 3,96%) e a para 2025, foco principal da política monetária, também aumentou significativamente – de 3,64% para 3,80%.

Tanto as projeções do Copom quanto as do mercado seguem bem acima da meta contínua, de 3,00% que deve ser oficializada pelo governo na semana que vem. Para horizontes mais longos, o Focus também mostra desancoragem.

BRASÍLIA – Depois de sete quedas seguidas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central interrompeu, em decisão unânime, o ciclo de cortes da taxa básica de juros, iniciado em agosto do ano passado, e manteve a Selic em 10,50% ao ano. O resultado era amplamente esperado pelo mercado, em meio ao impasse do governo Lula na condução da política fiscal e ao aumento das expectativas de inflação.

Mais do que o resultado, a grande expectativa dos agentes econômicos era sobre o placar da decisão, sobretudo após após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomar a ofensiva contra o BC e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto. A votação unânime agrada o mercado, depois da forte divisão da reunião de maio.

Racha entre diretores na reunião de maio levantou suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom e gerou ruídos no mercado. Foto: Wilton Junior/Estadão

Na ocasião, cinco diretores herdados do governo Jair Bolsonaro votaram pela redução da Selic em 0,25 ponto porcentual, enquanto os quatro indicados por Lula votaram por uma queda maior, de 0,5 ponto. O racha levantou suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom e gerou ruídos no mercado – o que contribuiu para a piora das expectativas e para uma alta expressiva do dólar nas últimas semanas.

A expectativa sobre o placar desta reunião escalou após declarações de Lula nesta terça-feira, 19, em entrevista à CBN. Lula disse que o chefe da autoridade monetária não demonstra capacidade de autonomia, tem lado político e trabalha para prejudicar o País.

O presidente afirmou que hoje o Brasil vive um cenário que exige juros mais baixos para convencer os empresários a investir no País e comparou Campos Neto com o ex-juiz Moro, ao dizer que o chefe do BC tem mesmo papel, “com rabo preso a compromissos políticos”.

No comunicado da decisão, o Copom reiterou que os juros terão de continuar em nível restritivo. “A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz o texto.

Segundo o Copom, “eventuais ajustes futuros” na taxa básica de juros serão ditados pelo “firme compromisso” de convergência da inflação à meta. O comitê reiterou que, diante de um processo de desinflação mais lento, da desancoragem das expectativas e do cenário global desafiador, é necessário ter “serenidade e moderação na condução da política monetária.”

O comitê reiterou que o cenário externo continua “adverso”, devido à incerteza “elevada e persistente” sobre a velocidade da desinflação global. As dúvidas sobre o início da flexibilização monetária nos Estados Unidos também pesam, afirmou o colegiado.

“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho”, diz o comunicado. “O comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.”

O colegiado manteve seu balanço de risco inalterado no comunicado, destacando que permanecem fatores de risco em ambas as direções. O documento cita dois riscos para alta do cenário inflacionário: a maior persistência das pressões inflacionárias globais e a maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada.

Já para os riscos de baixa, o Copom destacou a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global mais fortes do que o esperado. “O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, diz o comunicado.

O próximo encontro do Copom está previsto para os dias 30 e 31 de julho.

Juros reais

O País segue em segundo lugar no ranking mundial dos juros reais (descontada a inflação à frente). Segundo levantamento do site MoneyYou com 40 economias, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 6,79%, apenas atrás da Rússia (8,91%). Em terceiro, aparece o México (6,52%).

A média das 40 economias pesquisadas é de 0,36%. Até a informação mais recente divulgada pelo BC, o juro neutro brasileiro, que não estimula nem contrai a economia e, consequentemente, não acelera nem alivia a inflação brasileira, era estimado pela instituição em 4,5%. Em reunião do mercado com o BC no início deste mês, economistas cogitaram a possibilidade de o juro real neutro já estar próximo da casa de 6%.

Projeções de inflação

As projeções oficiais do Banco Central para a inflação voltaram a subir. No cenário de referência, que utiliza câmbio conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC alterou a projeção do IPCA de 2024 de 3,8% para 4,0%. Para 2025, a atualização foi de 3,3% para 3,4%.

Também considerando o cenário de referência, o BC atualizou as projeções para os preços administrados. Em 2024, a estimativa passou de 4,8% para 4,4%. Já em 2025, manteve-se em 4,0%. Nesse cenário, o BC considera ainda que o preço do petróleo deve seguir aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passar a aumentar 2% ao ano na sequência. Também adota a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e 2025.

No mercado, a expectativa de inflação do Boletim Focus deste ano disparou entre os dois encontros do Comitê (de 3,72% para 3,96%) e a para 2025, foco principal da política monetária, também aumentou significativamente – de 3,64% para 3,80%.

Tanto as projeções do Copom quanto as do mercado seguem bem acima da meta contínua, de 3,00% que deve ser oficializada pelo governo na semana que vem. Para horizontes mais longos, o Focus também mostra desancoragem.

BRASÍLIA – Depois de sete quedas seguidas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central interrompeu, em decisão unânime, o ciclo de cortes da taxa básica de juros, iniciado em agosto do ano passado, e manteve a Selic em 10,50% ao ano. O resultado era amplamente esperado pelo mercado, em meio ao impasse do governo Lula na condução da política fiscal e ao aumento das expectativas de inflação.

Mais do que o resultado, a grande expectativa dos agentes econômicos era sobre o placar da decisão, sobretudo após após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomar a ofensiva contra o BC e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto. A votação unânime agrada o mercado, depois da forte divisão da reunião de maio.

Racha entre diretores na reunião de maio levantou suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom e gerou ruídos no mercado. Foto: Wilton Junior/Estadão

Na ocasião, cinco diretores herdados do governo Jair Bolsonaro votaram pela redução da Selic em 0,25 ponto porcentual, enquanto os quatro indicados por Lula votaram por uma queda maior, de 0,5 ponto. O racha levantou suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom e gerou ruídos no mercado – o que contribuiu para a piora das expectativas e para uma alta expressiva do dólar nas últimas semanas.

A expectativa sobre o placar desta reunião escalou após declarações de Lula nesta terça-feira, 19, em entrevista à CBN. Lula disse que o chefe da autoridade monetária não demonstra capacidade de autonomia, tem lado político e trabalha para prejudicar o País.

O presidente afirmou que hoje o Brasil vive um cenário que exige juros mais baixos para convencer os empresários a investir no País e comparou Campos Neto com o ex-juiz Moro, ao dizer que o chefe do BC tem mesmo papel, “com rabo preso a compromissos políticos”.

No comunicado da decisão, o Copom reiterou que os juros terão de continuar em nível restritivo. “A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz o texto.

Segundo o Copom, “eventuais ajustes futuros” na taxa básica de juros serão ditados pelo “firme compromisso” de convergência da inflação à meta. O comitê reiterou que, diante de um processo de desinflação mais lento, da desancoragem das expectativas e do cenário global desafiador, é necessário ter “serenidade e moderação na condução da política monetária.”

O comitê reiterou que o cenário externo continua “adverso”, devido à incerteza “elevada e persistente” sobre a velocidade da desinflação global. As dúvidas sobre o início da flexibilização monetária nos Estados Unidos também pesam, afirmou o colegiado.

“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho”, diz o comunicado. “O comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.”

O colegiado manteve seu balanço de risco inalterado no comunicado, destacando que permanecem fatores de risco em ambas as direções. O documento cita dois riscos para alta do cenário inflacionário: a maior persistência das pressões inflacionárias globais e a maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada.

Já para os riscos de baixa, o Copom destacou a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global mais fortes do que o esperado. “O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, diz o comunicado.

O próximo encontro do Copom está previsto para os dias 30 e 31 de julho.

Juros reais

O País segue em segundo lugar no ranking mundial dos juros reais (descontada a inflação à frente). Segundo levantamento do site MoneyYou com 40 economias, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 6,79%, apenas atrás da Rússia (8,91%). Em terceiro, aparece o México (6,52%).

A média das 40 economias pesquisadas é de 0,36%. Até a informação mais recente divulgada pelo BC, o juro neutro brasileiro, que não estimula nem contrai a economia e, consequentemente, não acelera nem alivia a inflação brasileira, era estimado pela instituição em 4,5%. Em reunião do mercado com o BC no início deste mês, economistas cogitaram a possibilidade de o juro real neutro já estar próximo da casa de 6%.

Projeções de inflação

As projeções oficiais do Banco Central para a inflação voltaram a subir. No cenário de referência, que utiliza câmbio conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC alterou a projeção do IPCA de 2024 de 3,8% para 4,0%. Para 2025, a atualização foi de 3,3% para 3,4%.

Também considerando o cenário de referência, o BC atualizou as projeções para os preços administrados. Em 2024, a estimativa passou de 4,8% para 4,4%. Já em 2025, manteve-se em 4,0%. Nesse cenário, o BC considera ainda que o preço do petróleo deve seguir aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passar a aumentar 2% ao ano na sequência. Também adota a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e 2025.

No mercado, a expectativa de inflação do Boletim Focus deste ano disparou entre os dois encontros do Comitê (de 3,72% para 3,96%) e a para 2025, foco principal da política monetária, também aumentou significativamente – de 3,64% para 3,80%.

Tanto as projeções do Copom quanto as do mercado seguem bem acima da meta contínua, de 3,00% que deve ser oficializada pelo governo na semana que vem. Para horizontes mais longos, o Focus também mostra desancoragem.

BRASÍLIA – Depois de sete quedas seguidas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central interrompeu, em decisão unânime, o ciclo de cortes da taxa básica de juros, iniciado em agosto do ano passado, e manteve a Selic em 10,50% ao ano. O resultado era amplamente esperado pelo mercado, em meio ao impasse do governo Lula na condução da política fiscal e ao aumento das expectativas de inflação.

Mais do que o resultado, a grande expectativa dos agentes econômicos era sobre o placar da decisão, sobretudo após após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomar a ofensiva contra o BC e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto. A votação unânime agrada o mercado, depois da forte divisão da reunião de maio.

Racha entre diretores na reunião de maio levantou suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom e gerou ruídos no mercado. Foto: Wilton Junior/Estadão

Na ocasião, cinco diretores herdados do governo Jair Bolsonaro votaram pela redução da Selic em 0,25 ponto porcentual, enquanto os quatro indicados por Lula votaram por uma queda maior, de 0,5 ponto. O racha levantou suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom e gerou ruídos no mercado – o que contribuiu para a piora das expectativas e para uma alta expressiva do dólar nas últimas semanas.

A expectativa sobre o placar desta reunião escalou após declarações de Lula nesta terça-feira, 19, em entrevista à CBN. Lula disse que o chefe da autoridade monetária não demonstra capacidade de autonomia, tem lado político e trabalha para prejudicar o País.

O presidente afirmou que hoje o Brasil vive um cenário que exige juros mais baixos para convencer os empresários a investir no País e comparou Campos Neto com o ex-juiz Moro, ao dizer que o chefe do BC tem mesmo papel, “com rabo preso a compromissos políticos”.

No comunicado da decisão, o Copom reiterou que os juros terão de continuar em nível restritivo. “A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz o texto.

Segundo o Copom, “eventuais ajustes futuros” na taxa básica de juros serão ditados pelo “firme compromisso” de convergência da inflação à meta. O comitê reiterou que, diante de um processo de desinflação mais lento, da desancoragem das expectativas e do cenário global desafiador, é necessário ter “serenidade e moderação na condução da política monetária.”

O comitê reiterou que o cenário externo continua “adverso”, devido à incerteza “elevada e persistente” sobre a velocidade da desinflação global. As dúvidas sobre o início da flexibilização monetária nos Estados Unidos também pesam, afirmou o colegiado.

“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho”, diz o comunicado. “O comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.”

O colegiado manteve seu balanço de risco inalterado no comunicado, destacando que permanecem fatores de risco em ambas as direções. O documento cita dois riscos para alta do cenário inflacionário: a maior persistência das pressões inflacionárias globais e a maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada.

Já para os riscos de baixa, o Copom destacou a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global mais fortes do que o esperado. “O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, diz o comunicado.

O próximo encontro do Copom está previsto para os dias 30 e 31 de julho.

Juros reais

O País segue em segundo lugar no ranking mundial dos juros reais (descontada a inflação à frente). Segundo levantamento do site MoneyYou com 40 economias, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 6,79%, apenas atrás da Rússia (8,91%). Em terceiro, aparece o México (6,52%).

A média das 40 economias pesquisadas é de 0,36%. Até a informação mais recente divulgada pelo BC, o juro neutro brasileiro, que não estimula nem contrai a economia e, consequentemente, não acelera nem alivia a inflação brasileira, era estimado pela instituição em 4,5%. Em reunião do mercado com o BC no início deste mês, economistas cogitaram a possibilidade de o juro real neutro já estar próximo da casa de 6%.

Projeções de inflação

As projeções oficiais do Banco Central para a inflação voltaram a subir. No cenário de referência, que utiliza câmbio conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC alterou a projeção do IPCA de 2024 de 3,8% para 4,0%. Para 2025, a atualização foi de 3,3% para 3,4%.

Também considerando o cenário de referência, o BC atualizou as projeções para os preços administrados. Em 2024, a estimativa passou de 4,8% para 4,4%. Já em 2025, manteve-se em 4,0%. Nesse cenário, o BC considera ainda que o preço do petróleo deve seguir aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passar a aumentar 2% ao ano na sequência. Também adota a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e 2025.

No mercado, a expectativa de inflação do Boletim Focus deste ano disparou entre os dois encontros do Comitê (de 3,72% para 3,96%) e a para 2025, foco principal da política monetária, também aumentou significativamente – de 3,64% para 3,80%.

Tanto as projeções do Copom quanto as do mercado seguem bem acima da meta contínua, de 3,00% que deve ser oficializada pelo governo na semana que vem. Para horizontes mais longos, o Focus também mostra desancoragem.

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