A deterioração das contas externas de nações emergentes, como o Brasil, provocou desvalorização das moedas locais ante o dólar e levou alguns países a intervir nos mercados cambiais. A constatação é do Banco de Compensações Internacionais (BIS), em relatório distribuído no fim de semana. Além da piora generalizada dos emergentes, o Brasil é incluído entre os mais atingidos pela mudanças das condições de mercado globais.Houve uma clara piora da situação macroeconômica dos principais mercados emergentes. Um dos pontos destacados é a redução do ritmo de crescimento da China, com efeito negativo sobre os demais países. Ocorreu um declínio na demanda esperada pelos exportadores de commodities, como o Brasil e a Rússia.Países com altos déficits em conta corrente, como o Brasil, a Índia, a Indonésia, a África do Sul e a Turquia, enfrentaram rápida desvalorização de suas moedas. No Brasil, o déficit de US$ 9 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos, em julho, soma-se a pressões sobre o real devidas a incertezas políticas.Entre 3 de maio e 5 de julho, por exemplo, o Brasil, a Índia e a Rússia depreciaram em aproximadamente 10% suas moedas, segundo o BIS. No mesmo período, o rendimento dos títulos indianos e russos subiu mais de cem pontos-base.O BIS não distingue os problemas decorrentes de políticas econômicas duvidosas dos países emergentes de problemas em cuja origem está a perspectiva de mudança da política monetária norte-americana, um detonador de dificuldades.Enquanto isso, o governo brasileira prefere culpar a economia global pelos problemas locais. Mas, como notou o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, em entrevista ao Estado, "passamos a ter uma vulnerabilidade". Segundo Meirelles, "a competitividade externa está sendo corrigida pela taxa de câmbio". O BIS enfatiza que a mudança nas condições globais afeta os mercados de papéis, as ações e as moedas dos países emergentes, "exacerbando as vulnerabilidades causadas pela dependência em relação a capital estrangeiro volátil".Nos últimos anos - inclusive até o primeiro trimestre -, o Brasil se beneficiou muito com o ingresso de capitais externos. A redução do crédito é ruim para o País, cujo déficit em conta corrente está projetado entre US$ 75 bilhões e US$ 80 bilhões para este ano, ante US$ 54 bilhões em 2012 - e os investimentos não bastam para a cobertura.