Para Delfim, depois do Muro de Berlim, direita e esquerda viraram coisas do trânsito, diz Naji Nahas


Em entrevista, investidor relata os últimos anos do ex-ministro, a paixão do amigo pela leitura e a lucidez que manteve até o fim da vida, além de opiniões sobre momentos históricos do Brasil

Por Ricardo Grinbaum e Carlos Eduardo Valim
Atualização:
Foto: Paulo Giandalia/AE
Entrevista comNaji Nahasempresário

O investidor Naji Nahas manteve relação próxima ao ex-ministro da Fazendao Delfim Netto por décadas. O Estadão procurou Nahas, que, em rara entrevista, topou conversar com o jornal para homenagear o amigo. Mesmo nos últimos anos, depois da mudança de Delfim para Jundiaí (SP) durante a pandemia, e sem a possibilidade de manter a agenda de almoços constantes, eles se conversavam diariamente por telefone. Nahas contou como foram os últimos anos do economista, a paixão do amigo pela leitura e a lucidez que manteve até o fim da vida, além de opiniões sobre momentos históricos do Brasil dos quais muitas vezes participou não apenas como personagem, mas também como protagonista.

Como Delfim passava nos últimos tempos?

Ele estava em cadeira de rodas, mas a cabeça continuava como um relógio suíço, até o último momento. Nunca afetou. Até dez dias atrás, ele estava ótimo. Mas pegou uma infecção urinária, e aí foi complicando. Bom, são 96 anos, e a única consolação é que ele descansou, porque estava inteligente como sempre. Já faz uns dois anos que ele foi morar no sítio dele, em Jundiaí. Mas todo santo dia nos falávamos por telefone.

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Ele estava ainda acompanhando o noticiário?

Muito. Ele sabia de tudo, analisava tudo, com uma lucidez. Há seis meses, a filha dele me encomendou nos Estados Unidos uma coleção, uma enciclopédia econômica. Eram 40 volumes, e eu mandei buscar para ele. A mulher dele comentou que parecia uma criança com um brinquedo novo, que passava o dia lendo. Até o último momento, ele estudava. Era um personagem incrível, de uma dimensão enorme. Isso tudo do lado economista. Do lado humano, não se tem ideia. Era um coração imenso. E brilhante. Como sempre se soube, ele era de direita, mas sempre conversava com a esquerda. Lula se aconselhava muito com ele. Ele vai fazer muita falta, mas, enfim, descansou.

Há quantos anos eram amigos?

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Desde 1969, quando eu cheguei ao Brasil. Ele me conheceu quando (Ernane) Galvêas era presidente do Banco Central. Delfim falou para ele: uma pessoa física fez a internalização de US$ 50 milhões e não pediu registro de capital estrangeiro. Então, ele disse: quero conhecer esse louco.

Desde então mantiveram essa proximidade?

Sabe o mais incrível? Quando aquilo aconteceu em 1989 (a acusação sofrida por Nahas de manipular o mercado e causar a quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro), eu nunca ia me permitir pedir para ele ou para o Mário Henrique (Simonsen, também ministro-chefe da Secretaria de Planejamento do governo Figueiredo) serem testemunhas da minha defesa. Mas ele me ligou e falou: Naji, eu e o Mário Henrique fazemos questão de ser testemunhas. Os dois testemunharam, e o Mário Henrique testemunhou por oito horas. O juiz não entendia nada, e ele explicando sobre o mercado futuro. Quando terminou o depoimento do Mário Henrique, ele falou: ‘Naji, quero que você saiba que nunca na vida fiquei oito horas sem fumar e sem beber’. Os dois foram amigos incríveis, os dois testemunharam e disseram que Naji não manipulou (o mercado). Hoje perdi um grande amigo, pode ser o melhor que eu tive.

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Delfim 'tinha grande cultura geral, fora da economia, como também da estatística e da matemática', diz Nahas Foto: Iara Morselli/Estadão

Como define Delfim como economista e figura pública?

Ele era um personagem extraordinário. Ele era de direita, mas não era de direita radical, como existe hoje. Ele era uma figura suprapartidária. Ficava acima dos partidos. Conversava com direita e com esquerda. Um dia ele comentou: ‘Naji, agora, depois da queda do Muro de Berlim, direita e esquerda são coisas do trânsito’.

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Mesmo assim, são poucos que conseguem ter uma imagem tão vinculada aos governos da ditadura militar e depois estar próximo de um governo de esquerda, como o de Lula?

Acho que ele foi uma figura muito importante. Ele foi o pai do Milagre Econômico. Na época dele, o País crescia 11% ao ano. Em todas as fases do Brasil, ele foi muito importante. Nunca foi radical. Se for para definir em uma palavra, era um gênio. Tinha genialidade econômica e genialidade humana. Ele estava sempre pronto para ajudar, para negociar, para fazer a paz entre as pessoas. Enfim, ele era um grande conciliador. Foi uma grande perda para o Brasil.

Mas, além de um amante da economia, e de ter a capacidade de transitar sob governos de diversas matizes políticas, ele tinha gosto pelo poder? Como conseguiu ser tão próximo de tantos presidentes por seis décadas?

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Foi próximo tanto dos primeiros governos militares, e depois foi um grande amigo do (José) Sarney. Ele era um economista brilhante, um matemático brilhante, e sabia usar o poder. Foi ministro por diversas vezes. Ele conseguia estar próximo do poder por causa da inteligência e de sua capacidade. Era um homem muito capaz e completo. Tinha grande cultura geral, fora da economia, como também da estatística e da matemática. Ele devorava livros de economia. É só ver o tamanho da biblioteca que ele ofereceu para a USP.

Só ficou muito triste, e acho que isso encurtou a vida dele, apesar de ter vivido tanto, quando (Sérgio) Moro implicou ele na Operação Lava Jato, que ele tinha aconselhado lá naquela usina de Belo Monte. Pediram para ele, e como ele era conselheiro e esse era o trabalho dele, ele cobrou pela consultoria. Ele vivia disso.

Assim como acumular poder, ele foi alvo de inimigos e de críticas de humoristas. Até virou personagem do Jô Soares, como o Dr. Sardinha. Como ele lidava com isso?

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Ele tirava de letra. Era muito irônico. Pelo escritório dele, as paredes estavam todas cheias de charges, desses personagens. Ele morria de rir. Havia aquele quadrinho famoso, em que ele e outros cirurgiões estão operando o Lula (feito por Chico Caruso, em 1984, baseado em pintura de Rembrandt). Ele não ligava para críticas. Tinha muita gente que odiava ele. Mas lidava bem com tudo. Não considerava os outros como inimigos. E, além disso, tinha um poder de convencimento, um charme incrível. Sempre que eu chegava ao escritório dele, tinha gente importante. Ele estava fazendo acordos, negociando. Só ficou muito triste, e acho que isso encurtou a vida dele, apesar de ter vivido tanto, quando (Sérgio) Moro implicou ele na Operação Lava Jato, que ele tinha aconselhado lá naquela usina de Belo Monte. Pediram para ele, e como ele era conselheiro e esse era o trabalho dele, ele cobrou pela consultoria. Ele vivia disso. Com todo esse poder que ele teve, poderia ter sido o homem mais rico do mundo. Ele precisava da consultoria, nunca roubou nada, nunca fez negócio, morreu sem fortuna. Esse episódio ele me contou com lágrimas nos olhos. Ele ficou muito magoado. Olha só a sacanagem que o Moro fez com ele. Ele não acreditava nisso.

Dinheiro não era o que movia o Delfim? Era mais o poder?

Ele gostava do poder, mas gostava também do que fazia. Ele foi importante na economia brasileira, para a industrialização do País, para o negócio do café, que ele promoveu. Na minha opinião, ele foi muito relevante na economia brasileira. A história vai, com certeza, ter de reconhecer isso. Ele era uma pessoa discreta, não procurava holofotes. A gente deve muito pra ele no Brasil.

Delfim 'sempre criticou a desindustrialização do Brasil', diz Nahas Foto: Hélvio Romero/Estadão

Como ele via esses dois períodos distintos, do governo militar e do Lula?

Ele estava convencido de que o governo militar salvou o Brasil, porque se abria um caminho que levaria o Brasil ao o que é a Venezuela de hoje. Um dia, comentou comigo que nenhum dos generais que governaram o Brasil morreu rico. Eram gente que não estava interessada em dinheiro. E nunca alguém tentou se reeleger ou se manter no poder. Ele sempre fazia esse comentário. Tem gente que odeia esse período por diversos motivos. É normal. Só que ele acha que esse momento salvou o Brasil. O AI-5, ninguém gosta disso, mas ele achava que foi essencial naquele momento. Ele sempre falava que foi um governo militar, mas que foi democracia também. Houve uma repressão enorme contra as coisas. Tem gente que odiou esse período, mas ele estava convicto de que fez bem ao Brasil.

E quanto à Lula?

Ele gostava muito do Lula. Ele falava que o Lula é de uma grande inteligência. Ele falava assim: o Lula é um diamante bruto.

Em relação ao Plano Real, ele tinha uma posição mais dúbia?

Ele acha que o Plano Real foi um negócio incrível. Admirava muito o Pérsio Arida. Sempre o elogiou. Mas, certamente, sempre criticou a desindustrialização do Brasil, que aconteceu na época. Ele me falava que agro está salvando o Brasil. Quando eu dizia que o negócio estava feio, ele respondia: ‘Não se preocupe, eles roubam de dia e a natureza repõe de noite’.

Sempre manteve esta presença de espírito até com a idade mais avançada?

Ele era muito espirituoso. Muito rápido de pensamento. Com 96 anos, agora, dez dias atrás, a gente conversava sobre o Oriente Médio. Ele sabia tudo. Era impressionante. Nunca esqueceu nada. Ele pregava que não tinha de fazer ginástica, que a tartaruga vive 300 anos porque está sempre parada. Dizia que a coisa mais perigosa é fazer ginástica, por que o nosso coração estaria programado a bater um limite de vezes durante a vida, e, se você faz esforço, gasta mais rapidamente.

O investidor Naji Nahas manteve relação próxima ao ex-ministro da Fazendao Delfim Netto por décadas. O Estadão procurou Nahas, que, em rara entrevista, topou conversar com o jornal para homenagear o amigo. Mesmo nos últimos anos, depois da mudança de Delfim para Jundiaí (SP) durante a pandemia, e sem a possibilidade de manter a agenda de almoços constantes, eles se conversavam diariamente por telefone. Nahas contou como foram os últimos anos do economista, a paixão do amigo pela leitura e a lucidez que manteve até o fim da vida, além de opiniões sobre momentos históricos do Brasil dos quais muitas vezes participou não apenas como personagem, mas também como protagonista.

Como Delfim passava nos últimos tempos?

Ele estava em cadeira de rodas, mas a cabeça continuava como um relógio suíço, até o último momento. Nunca afetou. Até dez dias atrás, ele estava ótimo. Mas pegou uma infecção urinária, e aí foi complicando. Bom, são 96 anos, e a única consolação é que ele descansou, porque estava inteligente como sempre. Já faz uns dois anos que ele foi morar no sítio dele, em Jundiaí. Mas todo santo dia nos falávamos por telefone.

Ele estava ainda acompanhando o noticiário?

Muito. Ele sabia de tudo, analisava tudo, com uma lucidez. Há seis meses, a filha dele me encomendou nos Estados Unidos uma coleção, uma enciclopédia econômica. Eram 40 volumes, e eu mandei buscar para ele. A mulher dele comentou que parecia uma criança com um brinquedo novo, que passava o dia lendo. Até o último momento, ele estudava. Era um personagem incrível, de uma dimensão enorme. Isso tudo do lado economista. Do lado humano, não se tem ideia. Era um coração imenso. E brilhante. Como sempre se soube, ele era de direita, mas sempre conversava com a esquerda. Lula se aconselhava muito com ele. Ele vai fazer muita falta, mas, enfim, descansou.

Há quantos anos eram amigos?

Desde 1969, quando eu cheguei ao Brasil. Ele me conheceu quando (Ernane) Galvêas era presidente do Banco Central. Delfim falou para ele: uma pessoa física fez a internalização de US$ 50 milhões e não pediu registro de capital estrangeiro. Então, ele disse: quero conhecer esse louco.

Desde então mantiveram essa proximidade?

Sabe o mais incrível? Quando aquilo aconteceu em 1989 (a acusação sofrida por Nahas de manipular o mercado e causar a quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro), eu nunca ia me permitir pedir para ele ou para o Mário Henrique (Simonsen, também ministro-chefe da Secretaria de Planejamento do governo Figueiredo) serem testemunhas da minha defesa. Mas ele me ligou e falou: Naji, eu e o Mário Henrique fazemos questão de ser testemunhas. Os dois testemunharam, e o Mário Henrique testemunhou por oito horas. O juiz não entendia nada, e ele explicando sobre o mercado futuro. Quando terminou o depoimento do Mário Henrique, ele falou: ‘Naji, quero que você saiba que nunca na vida fiquei oito horas sem fumar e sem beber’. Os dois foram amigos incríveis, os dois testemunharam e disseram que Naji não manipulou (o mercado). Hoje perdi um grande amigo, pode ser o melhor que eu tive.

Delfim 'tinha grande cultura geral, fora da economia, como também da estatística e da matemática', diz Nahas Foto: Iara Morselli/Estadão

Como define Delfim como economista e figura pública?

Ele era um personagem extraordinário. Ele era de direita, mas não era de direita radical, como existe hoje. Ele era uma figura suprapartidária. Ficava acima dos partidos. Conversava com direita e com esquerda. Um dia ele comentou: ‘Naji, agora, depois da queda do Muro de Berlim, direita e esquerda são coisas do trânsito’.

Mesmo assim, são poucos que conseguem ter uma imagem tão vinculada aos governos da ditadura militar e depois estar próximo de um governo de esquerda, como o de Lula?

Acho que ele foi uma figura muito importante. Ele foi o pai do Milagre Econômico. Na época dele, o País crescia 11% ao ano. Em todas as fases do Brasil, ele foi muito importante. Nunca foi radical. Se for para definir em uma palavra, era um gênio. Tinha genialidade econômica e genialidade humana. Ele estava sempre pronto para ajudar, para negociar, para fazer a paz entre as pessoas. Enfim, ele era um grande conciliador. Foi uma grande perda para o Brasil.

Mas, além de um amante da economia, e de ter a capacidade de transitar sob governos de diversas matizes políticas, ele tinha gosto pelo poder? Como conseguiu ser tão próximo de tantos presidentes por seis décadas?

Foi próximo tanto dos primeiros governos militares, e depois foi um grande amigo do (José) Sarney. Ele era um economista brilhante, um matemático brilhante, e sabia usar o poder. Foi ministro por diversas vezes. Ele conseguia estar próximo do poder por causa da inteligência e de sua capacidade. Era um homem muito capaz e completo. Tinha grande cultura geral, fora da economia, como também da estatística e da matemática. Ele devorava livros de economia. É só ver o tamanho da biblioteca que ele ofereceu para a USP.

Só ficou muito triste, e acho que isso encurtou a vida dele, apesar de ter vivido tanto, quando (Sérgio) Moro implicou ele na Operação Lava Jato, que ele tinha aconselhado lá naquela usina de Belo Monte. Pediram para ele, e como ele era conselheiro e esse era o trabalho dele, ele cobrou pela consultoria. Ele vivia disso.

Assim como acumular poder, ele foi alvo de inimigos e de críticas de humoristas. Até virou personagem do Jô Soares, como o Dr. Sardinha. Como ele lidava com isso?

Ele tirava de letra. Era muito irônico. Pelo escritório dele, as paredes estavam todas cheias de charges, desses personagens. Ele morria de rir. Havia aquele quadrinho famoso, em que ele e outros cirurgiões estão operando o Lula (feito por Chico Caruso, em 1984, baseado em pintura de Rembrandt). Ele não ligava para críticas. Tinha muita gente que odiava ele. Mas lidava bem com tudo. Não considerava os outros como inimigos. E, além disso, tinha um poder de convencimento, um charme incrível. Sempre que eu chegava ao escritório dele, tinha gente importante. Ele estava fazendo acordos, negociando. Só ficou muito triste, e acho que isso encurtou a vida dele, apesar de ter vivido tanto, quando (Sérgio) Moro implicou ele na Operação Lava Jato, que ele tinha aconselhado lá naquela usina de Belo Monte. Pediram para ele, e como ele era conselheiro e esse era o trabalho dele, ele cobrou pela consultoria. Ele vivia disso. Com todo esse poder que ele teve, poderia ter sido o homem mais rico do mundo. Ele precisava da consultoria, nunca roubou nada, nunca fez negócio, morreu sem fortuna. Esse episódio ele me contou com lágrimas nos olhos. Ele ficou muito magoado. Olha só a sacanagem que o Moro fez com ele. Ele não acreditava nisso.

Dinheiro não era o que movia o Delfim? Era mais o poder?

Ele gostava do poder, mas gostava também do que fazia. Ele foi importante na economia brasileira, para a industrialização do País, para o negócio do café, que ele promoveu. Na minha opinião, ele foi muito relevante na economia brasileira. A história vai, com certeza, ter de reconhecer isso. Ele era uma pessoa discreta, não procurava holofotes. A gente deve muito pra ele no Brasil.

Delfim 'sempre criticou a desindustrialização do Brasil', diz Nahas Foto: Hélvio Romero/Estadão

Como ele via esses dois períodos distintos, do governo militar e do Lula?

Ele estava convencido de que o governo militar salvou o Brasil, porque se abria um caminho que levaria o Brasil ao o que é a Venezuela de hoje. Um dia, comentou comigo que nenhum dos generais que governaram o Brasil morreu rico. Eram gente que não estava interessada em dinheiro. E nunca alguém tentou se reeleger ou se manter no poder. Ele sempre fazia esse comentário. Tem gente que odeia esse período por diversos motivos. É normal. Só que ele acha que esse momento salvou o Brasil. O AI-5, ninguém gosta disso, mas ele achava que foi essencial naquele momento. Ele sempre falava que foi um governo militar, mas que foi democracia também. Houve uma repressão enorme contra as coisas. Tem gente que odiou esse período, mas ele estava convicto de que fez bem ao Brasil.

E quanto à Lula?

Ele gostava muito do Lula. Ele falava que o Lula é de uma grande inteligência. Ele falava assim: o Lula é um diamante bruto.

Em relação ao Plano Real, ele tinha uma posição mais dúbia?

Ele acha que o Plano Real foi um negócio incrível. Admirava muito o Pérsio Arida. Sempre o elogiou. Mas, certamente, sempre criticou a desindustrialização do Brasil, que aconteceu na época. Ele me falava que agro está salvando o Brasil. Quando eu dizia que o negócio estava feio, ele respondia: ‘Não se preocupe, eles roubam de dia e a natureza repõe de noite’.

Sempre manteve esta presença de espírito até com a idade mais avançada?

Ele era muito espirituoso. Muito rápido de pensamento. Com 96 anos, agora, dez dias atrás, a gente conversava sobre o Oriente Médio. Ele sabia tudo. Era impressionante. Nunca esqueceu nada. Ele pregava que não tinha de fazer ginástica, que a tartaruga vive 300 anos porque está sempre parada. Dizia que a coisa mais perigosa é fazer ginástica, por que o nosso coração estaria programado a bater um limite de vezes durante a vida, e, se você faz esforço, gasta mais rapidamente.

O investidor Naji Nahas manteve relação próxima ao ex-ministro da Fazendao Delfim Netto por décadas. O Estadão procurou Nahas, que, em rara entrevista, topou conversar com o jornal para homenagear o amigo. Mesmo nos últimos anos, depois da mudança de Delfim para Jundiaí (SP) durante a pandemia, e sem a possibilidade de manter a agenda de almoços constantes, eles se conversavam diariamente por telefone. Nahas contou como foram os últimos anos do economista, a paixão do amigo pela leitura e a lucidez que manteve até o fim da vida, além de opiniões sobre momentos históricos do Brasil dos quais muitas vezes participou não apenas como personagem, mas também como protagonista.

Como Delfim passava nos últimos tempos?

Ele estava em cadeira de rodas, mas a cabeça continuava como um relógio suíço, até o último momento. Nunca afetou. Até dez dias atrás, ele estava ótimo. Mas pegou uma infecção urinária, e aí foi complicando. Bom, são 96 anos, e a única consolação é que ele descansou, porque estava inteligente como sempre. Já faz uns dois anos que ele foi morar no sítio dele, em Jundiaí. Mas todo santo dia nos falávamos por telefone.

Ele estava ainda acompanhando o noticiário?

Muito. Ele sabia de tudo, analisava tudo, com uma lucidez. Há seis meses, a filha dele me encomendou nos Estados Unidos uma coleção, uma enciclopédia econômica. Eram 40 volumes, e eu mandei buscar para ele. A mulher dele comentou que parecia uma criança com um brinquedo novo, que passava o dia lendo. Até o último momento, ele estudava. Era um personagem incrível, de uma dimensão enorme. Isso tudo do lado economista. Do lado humano, não se tem ideia. Era um coração imenso. E brilhante. Como sempre se soube, ele era de direita, mas sempre conversava com a esquerda. Lula se aconselhava muito com ele. Ele vai fazer muita falta, mas, enfim, descansou.

Há quantos anos eram amigos?

Desde 1969, quando eu cheguei ao Brasil. Ele me conheceu quando (Ernane) Galvêas era presidente do Banco Central. Delfim falou para ele: uma pessoa física fez a internalização de US$ 50 milhões e não pediu registro de capital estrangeiro. Então, ele disse: quero conhecer esse louco.

Desde então mantiveram essa proximidade?

Sabe o mais incrível? Quando aquilo aconteceu em 1989 (a acusação sofrida por Nahas de manipular o mercado e causar a quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro), eu nunca ia me permitir pedir para ele ou para o Mário Henrique (Simonsen, também ministro-chefe da Secretaria de Planejamento do governo Figueiredo) serem testemunhas da minha defesa. Mas ele me ligou e falou: Naji, eu e o Mário Henrique fazemos questão de ser testemunhas. Os dois testemunharam, e o Mário Henrique testemunhou por oito horas. O juiz não entendia nada, e ele explicando sobre o mercado futuro. Quando terminou o depoimento do Mário Henrique, ele falou: ‘Naji, quero que você saiba que nunca na vida fiquei oito horas sem fumar e sem beber’. Os dois foram amigos incríveis, os dois testemunharam e disseram que Naji não manipulou (o mercado). Hoje perdi um grande amigo, pode ser o melhor que eu tive.

Delfim 'tinha grande cultura geral, fora da economia, como também da estatística e da matemática', diz Nahas Foto: Iara Morselli/Estadão

Como define Delfim como economista e figura pública?

Ele era um personagem extraordinário. Ele era de direita, mas não era de direita radical, como existe hoje. Ele era uma figura suprapartidária. Ficava acima dos partidos. Conversava com direita e com esquerda. Um dia ele comentou: ‘Naji, agora, depois da queda do Muro de Berlim, direita e esquerda são coisas do trânsito’.

Mesmo assim, são poucos que conseguem ter uma imagem tão vinculada aos governos da ditadura militar e depois estar próximo de um governo de esquerda, como o de Lula?

Acho que ele foi uma figura muito importante. Ele foi o pai do Milagre Econômico. Na época dele, o País crescia 11% ao ano. Em todas as fases do Brasil, ele foi muito importante. Nunca foi radical. Se for para definir em uma palavra, era um gênio. Tinha genialidade econômica e genialidade humana. Ele estava sempre pronto para ajudar, para negociar, para fazer a paz entre as pessoas. Enfim, ele era um grande conciliador. Foi uma grande perda para o Brasil.

Mas, além de um amante da economia, e de ter a capacidade de transitar sob governos de diversas matizes políticas, ele tinha gosto pelo poder? Como conseguiu ser tão próximo de tantos presidentes por seis décadas?

Foi próximo tanto dos primeiros governos militares, e depois foi um grande amigo do (José) Sarney. Ele era um economista brilhante, um matemático brilhante, e sabia usar o poder. Foi ministro por diversas vezes. Ele conseguia estar próximo do poder por causa da inteligência e de sua capacidade. Era um homem muito capaz e completo. Tinha grande cultura geral, fora da economia, como também da estatística e da matemática. Ele devorava livros de economia. É só ver o tamanho da biblioteca que ele ofereceu para a USP.

Só ficou muito triste, e acho que isso encurtou a vida dele, apesar de ter vivido tanto, quando (Sérgio) Moro implicou ele na Operação Lava Jato, que ele tinha aconselhado lá naquela usina de Belo Monte. Pediram para ele, e como ele era conselheiro e esse era o trabalho dele, ele cobrou pela consultoria. Ele vivia disso.

Assim como acumular poder, ele foi alvo de inimigos e de críticas de humoristas. Até virou personagem do Jô Soares, como o Dr. Sardinha. Como ele lidava com isso?

Ele tirava de letra. Era muito irônico. Pelo escritório dele, as paredes estavam todas cheias de charges, desses personagens. Ele morria de rir. Havia aquele quadrinho famoso, em que ele e outros cirurgiões estão operando o Lula (feito por Chico Caruso, em 1984, baseado em pintura de Rembrandt). Ele não ligava para críticas. Tinha muita gente que odiava ele. Mas lidava bem com tudo. Não considerava os outros como inimigos. E, além disso, tinha um poder de convencimento, um charme incrível. Sempre que eu chegava ao escritório dele, tinha gente importante. Ele estava fazendo acordos, negociando. Só ficou muito triste, e acho que isso encurtou a vida dele, apesar de ter vivido tanto, quando (Sérgio) Moro implicou ele na Operação Lava Jato, que ele tinha aconselhado lá naquela usina de Belo Monte. Pediram para ele, e como ele era conselheiro e esse era o trabalho dele, ele cobrou pela consultoria. Ele vivia disso. Com todo esse poder que ele teve, poderia ter sido o homem mais rico do mundo. Ele precisava da consultoria, nunca roubou nada, nunca fez negócio, morreu sem fortuna. Esse episódio ele me contou com lágrimas nos olhos. Ele ficou muito magoado. Olha só a sacanagem que o Moro fez com ele. Ele não acreditava nisso.

Dinheiro não era o que movia o Delfim? Era mais o poder?

Ele gostava do poder, mas gostava também do que fazia. Ele foi importante na economia brasileira, para a industrialização do País, para o negócio do café, que ele promoveu. Na minha opinião, ele foi muito relevante na economia brasileira. A história vai, com certeza, ter de reconhecer isso. Ele era uma pessoa discreta, não procurava holofotes. A gente deve muito pra ele no Brasil.

Delfim 'sempre criticou a desindustrialização do Brasil', diz Nahas Foto: Hélvio Romero/Estadão

Como ele via esses dois períodos distintos, do governo militar e do Lula?

Ele estava convencido de que o governo militar salvou o Brasil, porque se abria um caminho que levaria o Brasil ao o que é a Venezuela de hoje. Um dia, comentou comigo que nenhum dos generais que governaram o Brasil morreu rico. Eram gente que não estava interessada em dinheiro. E nunca alguém tentou se reeleger ou se manter no poder. Ele sempre fazia esse comentário. Tem gente que odeia esse período por diversos motivos. É normal. Só que ele acha que esse momento salvou o Brasil. O AI-5, ninguém gosta disso, mas ele achava que foi essencial naquele momento. Ele sempre falava que foi um governo militar, mas que foi democracia também. Houve uma repressão enorme contra as coisas. Tem gente que odiou esse período, mas ele estava convicto de que fez bem ao Brasil.

E quanto à Lula?

Ele gostava muito do Lula. Ele falava que o Lula é de uma grande inteligência. Ele falava assim: o Lula é um diamante bruto.

Em relação ao Plano Real, ele tinha uma posição mais dúbia?

Ele acha que o Plano Real foi um negócio incrível. Admirava muito o Pérsio Arida. Sempre o elogiou. Mas, certamente, sempre criticou a desindustrialização do Brasil, que aconteceu na época. Ele me falava que agro está salvando o Brasil. Quando eu dizia que o negócio estava feio, ele respondia: ‘Não se preocupe, eles roubam de dia e a natureza repõe de noite’.

Sempre manteve esta presença de espírito até com a idade mais avançada?

Ele era muito espirituoso. Muito rápido de pensamento. Com 96 anos, agora, dez dias atrás, a gente conversava sobre o Oriente Médio. Ele sabia tudo. Era impressionante. Nunca esqueceu nada. Ele pregava que não tinha de fazer ginástica, que a tartaruga vive 300 anos porque está sempre parada. Dizia que a coisa mais perigosa é fazer ginástica, por que o nosso coração estaria programado a bater um limite de vezes durante a vida, e, se você faz esforço, gasta mais rapidamente.

O investidor Naji Nahas manteve relação próxima ao ex-ministro da Fazendao Delfim Netto por décadas. O Estadão procurou Nahas, que, em rara entrevista, topou conversar com o jornal para homenagear o amigo. Mesmo nos últimos anos, depois da mudança de Delfim para Jundiaí (SP) durante a pandemia, e sem a possibilidade de manter a agenda de almoços constantes, eles se conversavam diariamente por telefone. Nahas contou como foram os últimos anos do economista, a paixão do amigo pela leitura e a lucidez que manteve até o fim da vida, além de opiniões sobre momentos históricos do Brasil dos quais muitas vezes participou não apenas como personagem, mas também como protagonista.

Como Delfim passava nos últimos tempos?

Ele estava em cadeira de rodas, mas a cabeça continuava como um relógio suíço, até o último momento. Nunca afetou. Até dez dias atrás, ele estava ótimo. Mas pegou uma infecção urinária, e aí foi complicando. Bom, são 96 anos, e a única consolação é que ele descansou, porque estava inteligente como sempre. Já faz uns dois anos que ele foi morar no sítio dele, em Jundiaí. Mas todo santo dia nos falávamos por telefone.

Ele estava ainda acompanhando o noticiário?

Muito. Ele sabia de tudo, analisava tudo, com uma lucidez. Há seis meses, a filha dele me encomendou nos Estados Unidos uma coleção, uma enciclopédia econômica. Eram 40 volumes, e eu mandei buscar para ele. A mulher dele comentou que parecia uma criança com um brinquedo novo, que passava o dia lendo. Até o último momento, ele estudava. Era um personagem incrível, de uma dimensão enorme. Isso tudo do lado economista. Do lado humano, não se tem ideia. Era um coração imenso. E brilhante. Como sempre se soube, ele era de direita, mas sempre conversava com a esquerda. Lula se aconselhava muito com ele. Ele vai fazer muita falta, mas, enfim, descansou.

Há quantos anos eram amigos?

Desde 1969, quando eu cheguei ao Brasil. Ele me conheceu quando (Ernane) Galvêas era presidente do Banco Central. Delfim falou para ele: uma pessoa física fez a internalização de US$ 50 milhões e não pediu registro de capital estrangeiro. Então, ele disse: quero conhecer esse louco.

Desde então mantiveram essa proximidade?

Sabe o mais incrível? Quando aquilo aconteceu em 1989 (a acusação sofrida por Nahas de manipular o mercado e causar a quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro), eu nunca ia me permitir pedir para ele ou para o Mário Henrique (Simonsen, também ministro-chefe da Secretaria de Planejamento do governo Figueiredo) serem testemunhas da minha defesa. Mas ele me ligou e falou: Naji, eu e o Mário Henrique fazemos questão de ser testemunhas. Os dois testemunharam, e o Mário Henrique testemunhou por oito horas. O juiz não entendia nada, e ele explicando sobre o mercado futuro. Quando terminou o depoimento do Mário Henrique, ele falou: ‘Naji, quero que você saiba que nunca na vida fiquei oito horas sem fumar e sem beber’. Os dois foram amigos incríveis, os dois testemunharam e disseram que Naji não manipulou (o mercado). Hoje perdi um grande amigo, pode ser o melhor que eu tive.

Delfim 'tinha grande cultura geral, fora da economia, como também da estatística e da matemática', diz Nahas Foto: Iara Morselli/Estadão

Como define Delfim como economista e figura pública?

Ele era um personagem extraordinário. Ele era de direita, mas não era de direita radical, como existe hoje. Ele era uma figura suprapartidária. Ficava acima dos partidos. Conversava com direita e com esquerda. Um dia ele comentou: ‘Naji, agora, depois da queda do Muro de Berlim, direita e esquerda são coisas do trânsito’.

Mesmo assim, são poucos que conseguem ter uma imagem tão vinculada aos governos da ditadura militar e depois estar próximo de um governo de esquerda, como o de Lula?

Acho que ele foi uma figura muito importante. Ele foi o pai do Milagre Econômico. Na época dele, o País crescia 11% ao ano. Em todas as fases do Brasil, ele foi muito importante. Nunca foi radical. Se for para definir em uma palavra, era um gênio. Tinha genialidade econômica e genialidade humana. Ele estava sempre pronto para ajudar, para negociar, para fazer a paz entre as pessoas. Enfim, ele era um grande conciliador. Foi uma grande perda para o Brasil.

Mas, além de um amante da economia, e de ter a capacidade de transitar sob governos de diversas matizes políticas, ele tinha gosto pelo poder? Como conseguiu ser tão próximo de tantos presidentes por seis décadas?

Foi próximo tanto dos primeiros governos militares, e depois foi um grande amigo do (José) Sarney. Ele era um economista brilhante, um matemático brilhante, e sabia usar o poder. Foi ministro por diversas vezes. Ele conseguia estar próximo do poder por causa da inteligência e de sua capacidade. Era um homem muito capaz e completo. Tinha grande cultura geral, fora da economia, como também da estatística e da matemática. Ele devorava livros de economia. É só ver o tamanho da biblioteca que ele ofereceu para a USP.

Só ficou muito triste, e acho que isso encurtou a vida dele, apesar de ter vivido tanto, quando (Sérgio) Moro implicou ele na Operação Lava Jato, que ele tinha aconselhado lá naquela usina de Belo Monte. Pediram para ele, e como ele era conselheiro e esse era o trabalho dele, ele cobrou pela consultoria. Ele vivia disso.

Assim como acumular poder, ele foi alvo de inimigos e de críticas de humoristas. Até virou personagem do Jô Soares, como o Dr. Sardinha. Como ele lidava com isso?

Ele tirava de letra. Era muito irônico. Pelo escritório dele, as paredes estavam todas cheias de charges, desses personagens. Ele morria de rir. Havia aquele quadrinho famoso, em que ele e outros cirurgiões estão operando o Lula (feito por Chico Caruso, em 1984, baseado em pintura de Rembrandt). Ele não ligava para críticas. Tinha muita gente que odiava ele. Mas lidava bem com tudo. Não considerava os outros como inimigos. E, além disso, tinha um poder de convencimento, um charme incrível. Sempre que eu chegava ao escritório dele, tinha gente importante. Ele estava fazendo acordos, negociando. Só ficou muito triste, e acho que isso encurtou a vida dele, apesar de ter vivido tanto, quando (Sérgio) Moro implicou ele na Operação Lava Jato, que ele tinha aconselhado lá naquela usina de Belo Monte. Pediram para ele, e como ele era conselheiro e esse era o trabalho dele, ele cobrou pela consultoria. Ele vivia disso. Com todo esse poder que ele teve, poderia ter sido o homem mais rico do mundo. Ele precisava da consultoria, nunca roubou nada, nunca fez negócio, morreu sem fortuna. Esse episódio ele me contou com lágrimas nos olhos. Ele ficou muito magoado. Olha só a sacanagem que o Moro fez com ele. Ele não acreditava nisso.

Dinheiro não era o que movia o Delfim? Era mais o poder?

Ele gostava do poder, mas gostava também do que fazia. Ele foi importante na economia brasileira, para a industrialização do País, para o negócio do café, que ele promoveu. Na minha opinião, ele foi muito relevante na economia brasileira. A história vai, com certeza, ter de reconhecer isso. Ele era uma pessoa discreta, não procurava holofotes. A gente deve muito pra ele no Brasil.

Delfim 'sempre criticou a desindustrialização do Brasil', diz Nahas Foto: Hélvio Romero/Estadão

Como ele via esses dois períodos distintos, do governo militar e do Lula?

Ele estava convencido de que o governo militar salvou o Brasil, porque se abria um caminho que levaria o Brasil ao o que é a Venezuela de hoje. Um dia, comentou comigo que nenhum dos generais que governaram o Brasil morreu rico. Eram gente que não estava interessada em dinheiro. E nunca alguém tentou se reeleger ou se manter no poder. Ele sempre fazia esse comentário. Tem gente que odeia esse período por diversos motivos. É normal. Só que ele acha que esse momento salvou o Brasil. O AI-5, ninguém gosta disso, mas ele achava que foi essencial naquele momento. Ele sempre falava que foi um governo militar, mas que foi democracia também. Houve uma repressão enorme contra as coisas. Tem gente que odiou esse período, mas ele estava convicto de que fez bem ao Brasil.

E quanto à Lula?

Ele gostava muito do Lula. Ele falava que o Lula é de uma grande inteligência. Ele falava assim: o Lula é um diamante bruto.

Em relação ao Plano Real, ele tinha uma posição mais dúbia?

Ele acha que o Plano Real foi um negócio incrível. Admirava muito o Pérsio Arida. Sempre o elogiou. Mas, certamente, sempre criticou a desindustrialização do Brasil, que aconteceu na época. Ele me falava que agro está salvando o Brasil. Quando eu dizia que o negócio estava feio, ele respondia: ‘Não se preocupe, eles roubam de dia e a natureza repõe de noite’.

Sempre manteve esta presença de espírito até com a idade mais avançada?

Ele era muito espirituoso. Muito rápido de pensamento. Com 96 anos, agora, dez dias atrás, a gente conversava sobre o Oriente Médio. Ele sabia tudo. Era impressionante. Nunca esqueceu nada. Ele pregava que não tinha de fazer ginástica, que a tartaruga vive 300 anos porque está sempre parada. Dizia que a coisa mais perigosa é fazer ginástica, por que o nosso coração estaria programado a bater um limite de vezes durante a vida, e, se você faz esforço, gasta mais rapidamente.

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