O PIB do terceiro trimestre deu sinais de desaceleração da economia brasileira, a despeito do forte empuxo fiscal que o governo tentou fazer no período. Mesmo com o aumento do Auxílio Brasil em agosto, e todas as benesses que o governo concedeu, o crescimento perdeu fôlego.
Mas vale dizer que grande parte da responsabilidade do crescimento brasileiro desde o ano passado tem sido muito mais das commodities do que da política fiscal. O forte empuxo de preços em reais, especialmente no agronegócio, tem tido o impacto de forte expansão de renda, emprego e PIB nos Estados em que esse setor tem forte presença.
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A história do crescimento brasileiro nos últimos dois anos tem mais a ver com isso do que com o voluntarismo fiscal do governo. Isso tende a se inverter ano que vem. Com commodities estáveis na agropecuária e em queda nas metálicas e petróleo, não haverá fonte de crescimento tão forte como tivemos desde o ano passado.
Além disso, a taxa de juros já começa a ter efeito. Parte dessa desaceleração no terceiro trimestre tem a ver com um consumidor de baixa renda impactado pela alta da inflação. Importante aqui lembrar que diminuir preço de combustível ajuda muito mais a classe média do que a classe mais baixa de renda, que segue fortemente impactada pela inflação de alimentos.
Essa combinação de renda real crescendo lentamente com juros elevados tem aumentado a inadimplência e diminuindo a capacidade de consumo das famílias.
Essas questões estarão fortemente presentes ano que vem. Tanto as commodities quanto os juros serão responsáveis pela nossa desaceleração, sem falar de um mundo desenvolvido em recessão, que também não ajudará.
A tentação nesse cenário tão adverso é o governo querer usar a política fiscal para reativar a economia e aqui está nosso dilema: precisamos ajustar a política fiscal em um ano de crise e com um tipo de governo que gosta de olhar o fiscal como solução para o crescimento, especialmente porque não virá ajuda do Banco Central.
Será importante o governo dar os sinais certos na área fiscal para essa desaceleração que agora começa não vire algo pior lá na frente. / Sergio Vale é economista-chefe da MB Associados