Após o fim de uma campanha eleitoral com pouco espaço para discutir o Brasil e seus problemas, é hora de olhar para 2023 com a devida atenção. É provável que nunca um governo tenha tido de começar a gestão com tantos desafios e em meio a tantas dificuldades. Mas, com as ideias e a execução corretas, são desafios transponíveis. Será fundamental para o sucesso do governo tomar as atitudes certas logo na largada.
Como já escrevi, será um ano difícil. As maiores economias do mundo enfrentarão uma recessão, em luta contra a inflação alta. Um país em especial, a Inglaterra, enfrenta maiores dificuldades e mantém o mercado em alerta. Há uma guerra que, além de tudo, alimenta a inflação. Uma tensão inédita em décadas cerca as maiores potências – EUA, China e Rússia.
Não é um mundo favorável. O Brasil o enfrentará com uma taxa de juros elevada para diminuir a inflação, baixa perspectiva de crescimento, contas públicas em desordem e sob risco de desconfiança do mercado.
Em primeiro lugar, o Brasil precisa resgatar a confiança perdida. Terá de deixar clara a retomada do compromisso com a responsabilidade fiscal e controle da dívida. O desafio fica maior porque terá de fazer isso dando garantia aos gastos sociais, compromisso assumido na campanha. Neste momento não é possível voltar atrás num Auxílio de R$ 600. O Brasil pode fazer isso se deixar claro que usará 2023 para colocar as coisas no lugar, com o claro compromisso de retomar a âncora fiscal em 2024. Unir a responsabilidade fiscal e a social será o maior dos desafios. Será preciso reajustar o Estado. O governo terá de ter coragem para propor reformas estruturantes. Não há mais como postergar. Não há mais espaço no orçamento para desperdícios.
A reforma administrativa é essencial para corrigir distorções e abrir espaço para investir no social e em infraestrutura. A reforma tributária precisa ser retomada, com o substitutivo proposto pelos Estados. Ao descomplicar este setor, o Brasil superará um obstáculo histórico e atrairá investimentos. Um aviso: sei o quanto é difícil fazer reformas. Negociei a reforma da Previdência, que deixamos pronta e foi aprovada em 2019. É um trabalho duríssimo, exaustivo. Mas tem de ser feito.
Por fim, não será possível fazer nada sem retomar a transparência total do orçamento. Um orçamento secreto não é admissível neste momento histórico. O poder de alocar recursos deve vir acompanhado da transparência para quem o sustenta – a população –, da responsabilidade de quem direciona este gasto e da avaliação de sua utilidade. Não há tempo a perder.