RIO - O mercado de trabalho brasileiro iniciou o ano com fechamento de vagas. A taxa de desemprego no País subiu de 7,9% no trimestre terminado em dezembro de 2022 para 8,8% no trimestre até março de 2023. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados nesta sexta-feira, 28, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No trimestre terminado em fevereiro, a taxa de desocupação era de 8,6%.
Apesar da piora, a taxa ainda foi a mais baixa para esse período do ano desde março de 2015, quando estava em 8%. O avanço no primeiro trimestre mostra um retorno do mercado de trabalho ao padrão de sazonalidade, passado o período de excepcionalidade dos anos de pandemia de covid-19, mas não é possível descartar uma eventual influência da desaceleração da atividade econômica, segundo o IBGE.
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“A gente sabe que o mercado de trabalho responde aos estímulos e dinâmica de indicadores econômicos, especialmente ligados à produção de bens e serviços. Mas não há aqui como diferenciar o que é componente sazonal do que é, à princípio, dado a uma eventual retração de atividade econômica”, disse Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE. “Algumas atividades econômicas perderam sua população ocupada. Foram cinco atividades que tiveram perda significativa de população ocupada”, ponderou.
O resultado de março “consolidou o processo de arrefecimento do mercado de trabalho, com ligeira ampliação da taxa de desocupação e perda de dinamismo da população ocupada”, sob influência das demissões de vagas temporárias de fim de ano, corroborou Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria.
“Para 2023, a Tendências estima avanço modesto da população ocupada, a julgar pelo cenário de desaceleração da atividade econômica, influenciada pelos impactos da política monetária doméstica e pelas incertezas políticas e fiscais”, escreveu Assis.
Já o economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, avalia que a perda de força da geração de emprego aconteça de forma lenta ao longo do ano.
“Nos parece um movimento bem suave, e não uma reversão de tendência como observada em outros países, com aumento acentuado da taxa de desemprego. Os dados da Pnad reforçam esse quadro”, afirmou Margato.
Em apenas um trimestre, 1,545 milhão de postos de trabalho foram perdidos, e mais 860 mil pessoas passaram a buscar uma vaga. No primeiro trimestre de 2023, o Brasil alcançou 9,432 milhões de desempregados.
“A desocupação tem contingente elevado, mas ainda 2,5 milhões a menos que no ano passado”, ponderou Adriana Beringuy, do IBGE. “A retração na ocupação é importante para fazer com que a taxa de desocupação cresça no primeiro trimestre.”
A extinção de vagas no primeiro trimestre ocorreu majoritariamente na formalidade, puxada pelo setor público (-345 mil), pelo trabalho por conta própria com CNPJ (-559 mil) e pela carteira assinada no setor privado (-170 mil).
“A queda da informalidade foi apenas parte da queda da ocupação”, contou Beringuy.
Sete das dez atividades econômicas registraram demissões no primeiro trimestre ante o quarto trimestre de 2022: indústria (-245 mil), administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (-415 mil), construção (-215 mil), outros serviços (-231 mil), comércio (-294 mil), serviços domésticos (-134 mil) e agricultura (-201 mil). Houve geração de vagas apenas em transporte e armazenagem (34 mil), alojamento e alimentação (55 mil) e informação, comunicação e atividades financeiras, profissionais e administrativas (81 mil).
A taxa de desocupação poderia ter sido maior não fosse o aumento na inatividade no primeiro trimestre. O País alcançou 66,972 milhões de pessoas em idade de trabalhar na inatividade, ou seja, nem tinham uma ocupação nem procuravam uma vaga, o equivalente a 1,069 milhão de brasileiros a mais nessa situação em apenas um trimestre.
“A inatividade não aumentou em função de um crescimento de um desalento ou da força potencial”, observou Beringuy. “Tudo leva a crer que esse aumento da população fora da força está vindo daquelas pessoas que não querem trabalhar”, acrescentou.
A coordenadora do IBGE reconhece que o patamar de inativos está muito acima do pré-pandemia, contrariando o padrão de estabilidade que havia na série histórica pré-covid.
“Essa população de maneira geral tem estabilidade, porque tem a ver com comportamento demográfico, mais jovens e mais idosos”, lembrou.
Segundo Beringuy, o patamar de inatividade superior ao pré-pandemia é uma das grandes questões atuais no mercado de trabalho no Brasil e em outros países.
“A gente ainda não tem elementos, neste momento pelo menos, para atribuir quais fatores podem estar interferindo (impedindo) nessa queda na inatividade, a ponto de ela retornar aos níveis pré-pandemia”, disse Adriana. “Vamos tentar trazer no dado trimestral, se está crescendo mais por grupo de idade, cor ou raça.”
Ela lembra que o total da população em situação de desalento - que não trabalha nem procura uma vaga por acreditar que não encontraria uma oportunidade, por exemplo - somou 3,871 milhões de pessoas no primeiro trimestre, patamar inferior ao pré-pandemia. No primeiro trimestre de 2020, havia 4,762 milhões de desalentados, 891 mil pessoas a mais que atualmente.
“O desalento está num nível menor que o pré-pandemia”, constatou.
A massa de salários em circulação na economia aumentou em R$ 27,007 bilhões no período de um ano, para R$ 277,194 bilhões, uma alta de 10,8% no trimestre encerrado em março de 2023 ante o trimestre terminado em março de 2022. Na comparação com o trimestre terminado em dezembro de 2022, a massa de renda real caiu 0,8% no trimestre terminado em março, com R$ 2,283 bilhões a menos.
O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve uma elevação real de 0,7% na comparação com o trimestre até dezembro de 2022, R$ 19 a mais, para R$ 2.880. Em relação ao trimestre encerrado em março de 2022, a renda média real de todos os trabalhadores ocupados subiu 7,4%, R$ 197 a mais./Colaborou Italo Bertão Filho.