Dia da Terra: conheça 22 caminhos para reduzir a emissão de carbono no mundo


Neste dia 22 de abril, a reportagem do Estadão indica possíveis soluções na terra, na água e no ar para as temperaturas não saírem em definitivo do prumo

Por Estadão Blue Studio
Atualização:

O diagnóstico está dado faz mais de uma década, mas não custa reforçar. Entre todos os cientistas do clima que estão ativamente desenvolvendo e publicando seus estudos, 97% concordam que os seres humanos estão causando o aquecimento global e as mudanças climáticas. É um ponto de vista que passa longe do achismo. Ele está embasado em um sistema global de observação formado por uma rede de 11 mil estações em terra, por volta de 4 mil a bordo de navios e mais de 1,2 mil boias na superfície do mar. Os dados são gerados e enviados para os milhares de centros de pesquisa em tempo real. A cada ano que passa, a questão das emissões de carbono para a atmosfera fica mais séria.

Por isso que, caso a intenção seja realmente não ter um planeta bastante diferente daqui a 75 anos, cortar o lançamento de carbono para os céus, de forma drástica, passa a ser vital. O prazo para que isso ocorra, até 2050 na pior das hipóteses, também está ficando estreito.

Aumentar a geração de energia renovável, como a eólica, é um dos caminhos para a redução das emissões de carbono Foto: Getty Images
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São vários os caminhos que podem ser trilhados, seja na terra, na água ou diretamente no ar. Além disso, existem também contextos urbanos e florestais que precisam ser considerados. Independentemente do pano de fundo, explica Pedro Côrtes, geógrafo especialista em meio ambiente da USP, é preciso estabelecer planos claros e concretos, além de dar maior robustez a uma espécie de cultura a favor do equilíbrio planetário.

“Temos uma série de iniciativas muito boas por parte do Congresso e do governo para ampliar o uso de fontes renováveis, seja no caso dos biocombustíveis, seja na geração de energia elétrica. No entanto, sinto falta de um plano nacional de transição energética bem estruturado. O governo sinalizou que pretende entregar esse plano em 2025, mas, particularmente, esse plano já deveria estar rodando há um bom tempo”, afirma o pesquisador.

Além da indução de políticas públicas que visem realmente a um cenário menor de emissões de carbono, existem temas específicos que o Brasil, em nível nacional, também pode contribuir, segundo Côrtes. “A recuperação florestal é uma alternativa muito boa para o sequestro de carbono. Ela abre perspectivas, e isso é uma grande vantagem, para a recuperação de vários biomas, como a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica. Os benefícios seriam muito amplos, mas falta também tirar do papel projetos como o mercado regulado de carbono, que poderia trazer investimentos significativos ao Brasil.”

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Ao extrapolar o problema para fora das fronteiras nacionais, a questão energética emerge como um dos grandes calcanhares de Aquiles das mudanças climáticas. Até por causa de lobbies como o da indústria do petróleo. Em algumas regiões do mundo, principalmente ao longo dos trópicos, onde está o Brasil, a proteção às florestas também é fundamental.

Terra

O combate ao desmatamento, os projetos de reflorestamento atrelados ou não às compras e vendas de créditos de carbono e as mudanças de processos no agronegócio são três caminhos que podem contribuir para a redução das emissões de carbono. Existe um movimento internacional, que chega de forma ainda tímida ao Brasil, que busca criar uma espécie de cadeia de produção sustentável no campo. Normalmente, com a integração das lavouras, das pecuárias e da floresta. No fim do dia, o equilíbrio de carbono tende a se manter se a integração for bem feita.

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Na construção civil, já existem investimentos para o reúso das matérias-primas na tentativa de diminuir o uso de produtos naturais, seja no próprio planejamento das cidades, seja nas empresas do setor.

O setor dos resíduos sólidos é outro que tem papel central na questão do carbono por ser, além de eventual produtor de energia, um segmento que pode transformar produtos em novas matérias-primas.

De uma forma mais geral, a Ecoinovação se espalha por vários setores para o desenvolvimento de produtos que usem menos energia e colaboram com a diminuição do uso dos recursos naturais. O conceito da Economia Circular baseado em evitar o desperdício também vem ganhando força em diversos setores da sociedade, como por exemplo na indústria da moda. Quando a diminuição de carbono não for possível, existe uma busca, hoje, por técnicas que permitam o enterro do carbono. É toda uma indústria, criticada por alguns, que começa a surgir. A obsoleta indústria do carvão tenta, agora, sobreviver a partir desses mecanismos.

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Água

Existem vários indicadores que mostram as mudanças climáticas nos oceanos. O nível médio do mar está subindo, as águas estão mais ácidas – os mares absorvem cerca de 23% das emissões anuais de dióxido de carbono geradas pelo homem – e também mais quentes. São processos que tornam urgentes ações para restaurar e proteger a vitalidade marinha.

Estudo feito pelo Painel de Alto Nível para uma Economia Sustentável dos Oceanos (Painel dos Oceanos, ligado à ONU) mostra que as soluções climáticas baseadas nos oceanos podem proporcionar até 35% dos cortes anuais nas emissões de gases com efeito de estufa necessários em 2050, para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau C – o limite que os cientistas dizem ser necessário para evitar os piores resultados das alterações climáticas.

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Para atingir a meta, segundo dados da ONG WRI, um dos caminhos é aumentar a geração de energia renovável a partir dos oceanos. O que pode ser feito pela montagem de fazendas solares e eólicas em alto-mar. O próprio sobe e desce das marés também serve como fonte de energia.

As soluções continuam. A troca de combustível das frotas de navios também é importante. Segundo dados da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), grupo das Nações Unidas que supervisiona a indústria de transporte marítimo global, as embarcações oceânicas contribuem com cerca de 3% das emissões de gases de efeito estufa da humanidade. O porcentual parece pequeno, mas, se esse setor de transporte marítimo fosse um país, estaria entre os 10 principais poluidores.

Outro caminho indireto que precisa ser turbinado é o investimento em soluções que diminuam a poluição por microplásticos nos oceanos. O relatório “O Estado dos Oceanos”, lançado em julho deste ano pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), estima que os microplásticos representam entre 30% e 40% dos objetos que estão nas profundezas dos mares, sendo que 90% desse lixo está em águas mais profundas do que 6 mil metros. Os impactos do consumo de microplásticos à saúde humana ainda são objeto de estudos.

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Além dos mares, também é necessário olhar para sua margem e aumentar a proteção das áreas costeiras, que com o crescimento vegetal também vão sequestrar carbono do ar e aumentar a produção sustentável de pescados e frutos do mar, para diminuir a pressão da pesca ilegal.

Ainda nas águas, é fundamental promover a conservação de recursos hídricos e a gestão sustentável da água. Investir na despoluição dos rios e promover ações para descanalizar os cursos d’água nas cidades vai contribuir para melhor qualidade de vida das pessoas e também para diminuir a temperatura nos principais centros urbanos.

Ar

Assim como a frota de navios, inclusive os de turismo, tem um peso grande nas emissões, no ar, o mesmo vale para os aviões. A troca do tipo de combustível nesse caso terá um peso importante para a busca por um planeta, no mínimo, neutro em emissões de carbono. O mesmo caminho precisa ser seguido nas frotas urbanas de ônibus e nos carros. É necessário buscar alternativas na substituição dos combustíveis fósseis, algo que no Brasil está atrasado em relação, por exemplo, à Europa, segundo Pedro Côrtes, da USP. Assim como gerar a infraestrutura necessária para o chamado hidrogênio verde florescer e, ainda, apostar na biomassa como uma fonte energética parruda. A depender do país, e um dos exemplos é a França, até a energia nuclear, muitas vezes polêmica, poderá entrar no mix das fontes sustentáveis de energia.

Em vários países, as queimadas são outras fontes poluidoras importantes e, especificamente no Brasil, as que atingem a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado. Inclusive, durante a pandemia, estudos mostraram que no interior da região amazônica os municípios com mais queimadas tiveram mais casos de covid-19 dando entrada nos prontos-socorros locais.

O diagnóstico está dado faz mais de uma década, mas não custa reforçar. Entre todos os cientistas do clima que estão ativamente desenvolvendo e publicando seus estudos, 97% concordam que os seres humanos estão causando o aquecimento global e as mudanças climáticas. É um ponto de vista que passa longe do achismo. Ele está embasado em um sistema global de observação formado por uma rede de 11 mil estações em terra, por volta de 4 mil a bordo de navios e mais de 1,2 mil boias na superfície do mar. Os dados são gerados e enviados para os milhares de centros de pesquisa em tempo real. A cada ano que passa, a questão das emissões de carbono para a atmosfera fica mais séria.

Por isso que, caso a intenção seja realmente não ter um planeta bastante diferente daqui a 75 anos, cortar o lançamento de carbono para os céus, de forma drástica, passa a ser vital. O prazo para que isso ocorra, até 2050 na pior das hipóteses, também está ficando estreito.

Aumentar a geração de energia renovável, como a eólica, é um dos caminhos para a redução das emissões de carbono Foto: Getty Images

São vários os caminhos que podem ser trilhados, seja na terra, na água ou diretamente no ar. Além disso, existem também contextos urbanos e florestais que precisam ser considerados. Independentemente do pano de fundo, explica Pedro Côrtes, geógrafo especialista em meio ambiente da USP, é preciso estabelecer planos claros e concretos, além de dar maior robustez a uma espécie de cultura a favor do equilíbrio planetário.

“Temos uma série de iniciativas muito boas por parte do Congresso e do governo para ampliar o uso de fontes renováveis, seja no caso dos biocombustíveis, seja na geração de energia elétrica. No entanto, sinto falta de um plano nacional de transição energética bem estruturado. O governo sinalizou que pretende entregar esse plano em 2025, mas, particularmente, esse plano já deveria estar rodando há um bom tempo”, afirma o pesquisador.

Além da indução de políticas públicas que visem realmente a um cenário menor de emissões de carbono, existem temas específicos que o Brasil, em nível nacional, também pode contribuir, segundo Côrtes. “A recuperação florestal é uma alternativa muito boa para o sequestro de carbono. Ela abre perspectivas, e isso é uma grande vantagem, para a recuperação de vários biomas, como a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica. Os benefícios seriam muito amplos, mas falta também tirar do papel projetos como o mercado regulado de carbono, que poderia trazer investimentos significativos ao Brasil.”

Ao extrapolar o problema para fora das fronteiras nacionais, a questão energética emerge como um dos grandes calcanhares de Aquiles das mudanças climáticas. Até por causa de lobbies como o da indústria do petróleo. Em algumas regiões do mundo, principalmente ao longo dos trópicos, onde está o Brasil, a proteção às florestas também é fundamental.

Terra

O combate ao desmatamento, os projetos de reflorestamento atrelados ou não às compras e vendas de créditos de carbono e as mudanças de processos no agronegócio são três caminhos que podem contribuir para a redução das emissões de carbono. Existe um movimento internacional, que chega de forma ainda tímida ao Brasil, que busca criar uma espécie de cadeia de produção sustentável no campo. Normalmente, com a integração das lavouras, das pecuárias e da floresta. No fim do dia, o equilíbrio de carbono tende a se manter se a integração for bem feita.

Na construção civil, já existem investimentos para o reúso das matérias-primas na tentativa de diminuir o uso de produtos naturais, seja no próprio planejamento das cidades, seja nas empresas do setor.

O setor dos resíduos sólidos é outro que tem papel central na questão do carbono por ser, além de eventual produtor de energia, um segmento que pode transformar produtos em novas matérias-primas.

De uma forma mais geral, a Ecoinovação se espalha por vários setores para o desenvolvimento de produtos que usem menos energia e colaboram com a diminuição do uso dos recursos naturais. O conceito da Economia Circular baseado em evitar o desperdício também vem ganhando força em diversos setores da sociedade, como por exemplo na indústria da moda. Quando a diminuição de carbono não for possível, existe uma busca, hoje, por técnicas que permitam o enterro do carbono. É toda uma indústria, criticada por alguns, que começa a surgir. A obsoleta indústria do carvão tenta, agora, sobreviver a partir desses mecanismos.

Água

Existem vários indicadores que mostram as mudanças climáticas nos oceanos. O nível médio do mar está subindo, as águas estão mais ácidas – os mares absorvem cerca de 23% das emissões anuais de dióxido de carbono geradas pelo homem – e também mais quentes. São processos que tornam urgentes ações para restaurar e proteger a vitalidade marinha.

Estudo feito pelo Painel de Alto Nível para uma Economia Sustentável dos Oceanos (Painel dos Oceanos, ligado à ONU) mostra que as soluções climáticas baseadas nos oceanos podem proporcionar até 35% dos cortes anuais nas emissões de gases com efeito de estufa necessários em 2050, para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau C – o limite que os cientistas dizem ser necessário para evitar os piores resultados das alterações climáticas.

Para atingir a meta, segundo dados da ONG WRI, um dos caminhos é aumentar a geração de energia renovável a partir dos oceanos. O que pode ser feito pela montagem de fazendas solares e eólicas em alto-mar. O próprio sobe e desce das marés também serve como fonte de energia.

As soluções continuam. A troca de combustível das frotas de navios também é importante. Segundo dados da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), grupo das Nações Unidas que supervisiona a indústria de transporte marítimo global, as embarcações oceânicas contribuem com cerca de 3% das emissões de gases de efeito estufa da humanidade. O porcentual parece pequeno, mas, se esse setor de transporte marítimo fosse um país, estaria entre os 10 principais poluidores.

Outro caminho indireto que precisa ser turbinado é o investimento em soluções que diminuam a poluição por microplásticos nos oceanos. O relatório “O Estado dos Oceanos”, lançado em julho deste ano pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), estima que os microplásticos representam entre 30% e 40% dos objetos que estão nas profundezas dos mares, sendo que 90% desse lixo está em águas mais profundas do que 6 mil metros. Os impactos do consumo de microplásticos à saúde humana ainda são objeto de estudos.

Além dos mares, também é necessário olhar para sua margem e aumentar a proteção das áreas costeiras, que com o crescimento vegetal também vão sequestrar carbono do ar e aumentar a produção sustentável de pescados e frutos do mar, para diminuir a pressão da pesca ilegal.

Ainda nas águas, é fundamental promover a conservação de recursos hídricos e a gestão sustentável da água. Investir na despoluição dos rios e promover ações para descanalizar os cursos d’água nas cidades vai contribuir para melhor qualidade de vida das pessoas e também para diminuir a temperatura nos principais centros urbanos.

Ar

Assim como a frota de navios, inclusive os de turismo, tem um peso grande nas emissões, no ar, o mesmo vale para os aviões. A troca do tipo de combustível nesse caso terá um peso importante para a busca por um planeta, no mínimo, neutro em emissões de carbono. O mesmo caminho precisa ser seguido nas frotas urbanas de ônibus e nos carros. É necessário buscar alternativas na substituição dos combustíveis fósseis, algo que no Brasil está atrasado em relação, por exemplo, à Europa, segundo Pedro Côrtes, da USP. Assim como gerar a infraestrutura necessária para o chamado hidrogênio verde florescer e, ainda, apostar na biomassa como uma fonte energética parruda. A depender do país, e um dos exemplos é a França, até a energia nuclear, muitas vezes polêmica, poderá entrar no mix das fontes sustentáveis de energia.

Em vários países, as queimadas são outras fontes poluidoras importantes e, especificamente no Brasil, as que atingem a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado. Inclusive, durante a pandemia, estudos mostraram que no interior da região amazônica os municípios com mais queimadas tiveram mais casos de covid-19 dando entrada nos prontos-socorros locais.

O diagnóstico está dado faz mais de uma década, mas não custa reforçar. Entre todos os cientistas do clima que estão ativamente desenvolvendo e publicando seus estudos, 97% concordam que os seres humanos estão causando o aquecimento global e as mudanças climáticas. É um ponto de vista que passa longe do achismo. Ele está embasado em um sistema global de observação formado por uma rede de 11 mil estações em terra, por volta de 4 mil a bordo de navios e mais de 1,2 mil boias na superfície do mar. Os dados são gerados e enviados para os milhares de centros de pesquisa em tempo real. A cada ano que passa, a questão das emissões de carbono para a atmosfera fica mais séria.

Por isso que, caso a intenção seja realmente não ter um planeta bastante diferente daqui a 75 anos, cortar o lançamento de carbono para os céus, de forma drástica, passa a ser vital. O prazo para que isso ocorra, até 2050 na pior das hipóteses, também está ficando estreito.

Aumentar a geração de energia renovável, como a eólica, é um dos caminhos para a redução das emissões de carbono Foto: Getty Images

São vários os caminhos que podem ser trilhados, seja na terra, na água ou diretamente no ar. Além disso, existem também contextos urbanos e florestais que precisam ser considerados. Independentemente do pano de fundo, explica Pedro Côrtes, geógrafo especialista em meio ambiente da USP, é preciso estabelecer planos claros e concretos, além de dar maior robustez a uma espécie de cultura a favor do equilíbrio planetário.

“Temos uma série de iniciativas muito boas por parte do Congresso e do governo para ampliar o uso de fontes renováveis, seja no caso dos biocombustíveis, seja na geração de energia elétrica. No entanto, sinto falta de um plano nacional de transição energética bem estruturado. O governo sinalizou que pretende entregar esse plano em 2025, mas, particularmente, esse plano já deveria estar rodando há um bom tempo”, afirma o pesquisador.

Além da indução de políticas públicas que visem realmente a um cenário menor de emissões de carbono, existem temas específicos que o Brasil, em nível nacional, também pode contribuir, segundo Côrtes. “A recuperação florestal é uma alternativa muito boa para o sequestro de carbono. Ela abre perspectivas, e isso é uma grande vantagem, para a recuperação de vários biomas, como a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica. Os benefícios seriam muito amplos, mas falta também tirar do papel projetos como o mercado regulado de carbono, que poderia trazer investimentos significativos ao Brasil.”

Ao extrapolar o problema para fora das fronteiras nacionais, a questão energética emerge como um dos grandes calcanhares de Aquiles das mudanças climáticas. Até por causa de lobbies como o da indústria do petróleo. Em algumas regiões do mundo, principalmente ao longo dos trópicos, onde está o Brasil, a proteção às florestas também é fundamental.

Terra

O combate ao desmatamento, os projetos de reflorestamento atrelados ou não às compras e vendas de créditos de carbono e as mudanças de processos no agronegócio são três caminhos que podem contribuir para a redução das emissões de carbono. Existe um movimento internacional, que chega de forma ainda tímida ao Brasil, que busca criar uma espécie de cadeia de produção sustentável no campo. Normalmente, com a integração das lavouras, das pecuárias e da floresta. No fim do dia, o equilíbrio de carbono tende a se manter se a integração for bem feita.

Na construção civil, já existem investimentos para o reúso das matérias-primas na tentativa de diminuir o uso de produtos naturais, seja no próprio planejamento das cidades, seja nas empresas do setor.

O setor dos resíduos sólidos é outro que tem papel central na questão do carbono por ser, além de eventual produtor de energia, um segmento que pode transformar produtos em novas matérias-primas.

De uma forma mais geral, a Ecoinovação se espalha por vários setores para o desenvolvimento de produtos que usem menos energia e colaboram com a diminuição do uso dos recursos naturais. O conceito da Economia Circular baseado em evitar o desperdício também vem ganhando força em diversos setores da sociedade, como por exemplo na indústria da moda. Quando a diminuição de carbono não for possível, existe uma busca, hoje, por técnicas que permitam o enterro do carbono. É toda uma indústria, criticada por alguns, que começa a surgir. A obsoleta indústria do carvão tenta, agora, sobreviver a partir desses mecanismos.

Água

Existem vários indicadores que mostram as mudanças climáticas nos oceanos. O nível médio do mar está subindo, as águas estão mais ácidas – os mares absorvem cerca de 23% das emissões anuais de dióxido de carbono geradas pelo homem – e também mais quentes. São processos que tornam urgentes ações para restaurar e proteger a vitalidade marinha.

Estudo feito pelo Painel de Alto Nível para uma Economia Sustentável dos Oceanos (Painel dos Oceanos, ligado à ONU) mostra que as soluções climáticas baseadas nos oceanos podem proporcionar até 35% dos cortes anuais nas emissões de gases com efeito de estufa necessários em 2050, para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau C – o limite que os cientistas dizem ser necessário para evitar os piores resultados das alterações climáticas.

Para atingir a meta, segundo dados da ONG WRI, um dos caminhos é aumentar a geração de energia renovável a partir dos oceanos. O que pode ser feito pela montagem de fazendas solares e eólicas em alto-mar. O próprio sobe e desce das marés também serve como fonte de energia.

As soluções continuam. A troca de combustível das frotas de navios também é importante. Segundo dados da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), grupo das Nações Unidas que supervisiona a indústria de transporte marítimo global, as embarcações oceânicas contribuem com cerca de 3% das emissões de gases de efeito estufa da humanidade. O porcentual parece pequeno, mas, se esse setor de transporte marítimo fosse um país, estaria entre os 10 principais poluidores.

Outro caminho indireto que precisa ser turbinado é o investimento em soluções que diminuam a poluição por microplásticos nos oceanos. O relatório “O Estado dos Oceanos”, lançado em julho deste ano pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), estima que os microplásticos representam entre 30% e 40% dos objetos que estão nas profundezas dos mares, sendo que 90% desse lixo está em águas mais profundas do que 6 mil metros. Os impactos do consumo de microplásticos à saúde humana ainda são objeto de estudos.

Além dos mares, também é necessário olhar para sua margem e aumentar a proteção das áreas costeiras, que com o crescimento vegetal também vão sequestrar carbono do ar e aumentar a produção sustentável de pescados e frutos do mar, para diminuir a pressão da pesca ilegal.

Ainda nas águas, é fundamental promover a conservação de recursos hídricos e a gestão sustentável da água. Investir na despoluição dos rios e promover ações para descanalizar os cursos d’água nas cidades vai contribuir para melhor qualidade de vida das pessoas e também para diminuir a temperatura nos principais centros urbanos.

Ar

Assim como a frota de navios, inclusive os de turismo, tem um peso grande nas emissões, no ar, o mesmo vale para os aviões. A troca do tipo de combustível nesse caso terá um peso importante para a busca por um planeta, no mínimo, neutro em emissões de carbono. O mesmo caminho precisa ser seguido nas frotas urbanas de ônibus e nos carros. É necessário buscar alternativas na substituição dos combustíveis fósseis, algo que no Brasil está atrasado em relação, por exemplo, à Europa, segundo Pedro Côrtes, da USP. Assim como gerar a infraestrutura necessária para o chamado hidrogênio verde florescer e, ainda, apostar na biomassa como uma fonte energética parruda. A depender do país, e um dos exemplos é a França, até a energia nuclear, muitas vezes polêmica, poderá entrar no mix das fontes sustentáveis de energia.

Em vários países, as queimadas são outras fontes poluidoras importantes e, especificamente no Brasil, as que atingem a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado. Inclusive, durante a pandemia, estudos mostraram que no interior da região amazônica os municípios com mais queimadas tiveram mais casos de covid-19 dando entrada nos prontos-socorros locais.

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