Queda de braço entre bancos e credenciadoras no rotativo tem origem na ‘guerra das maquininhas’


Na última década, número de equipamentos nas ruas aumentou mais de sete vezes, e modelo de negócio mudou com a chegada de novas empresas

Por Matheus Piovesana e Thaís Barcellos
Atualização:

SÃO PAULO E BRASÍLIA - A disputa travada entre bancos e empresas independentes de cartão de crédito — em meio às discussões sobre o crédito rotativo — é fruto tardio da chamada “guerra das maquininhas”. Na última década, o número de equipamentos nas ruas aumentou mais de sete vezes, e com a chegada de novas empresas, o modelo de negócio mudou. Especialistas consideram que esse movimento ajuda a explicar as diferenças entre os dois grupos, e também a queda de braço atual.

As maquininhas têm décadas de existência no Brasil, mas o “marco zero” do setor é 1º de julho de 2010, data em que o Banco Central abriu o mercado. Até ali, havia duas empresas: a Cielo, antiga Visanet, que processava as transações com cartões da bandeira Visa; e a Redecard, hoje Rede, que capturava aquelas com cartões Mastercard. Ambas eram sociedades entre diversos bancos. Hoje, a Cielo é controlada por Bradesco e Banco do Brasil, e a Rede, pelo Itaú Unibanco.

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Com a abertura, a exclusividade deixou de existir, o que abriu espaço para que outras empresas entrassem nesse mercado. A Getnet, criada em 2003 e mais tarde adquirida pelo Santander, foi a primeira autorizada a operar com maquininhas no pós-duopólio, em 2010. Em 2012, foi criada a Stone. A PagSeguro (hoje PagBank), criada em 2006 para processar pagamentos na internet, entrou em maquininhas de cartão em 2013.

A chegada de novos competidores levou a uma explosão no número de maquininhas ativas no País. Em 2011, eram 3,1 milhões, segundo o BC; no final do ano passado, data do dado mais recente, eram 20,8 milhões, um crescimento de 668% em 11 anos.

Maquininhas de cartão são um dos meios de pagamento mais comuns no varejo Foto: Gabriela Biló / Estadão
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O número ilustra a chegada da maquininha de cartão aos pequenos comerciantes, em um movimento liderado pelas maquininhas independentes. “O PagBank foi bem-sucedido nesse processo, primeiro no online e depois no físico, e a Stone veio depois com uma linha parecida, mas com outras ofertas”, diz Boanerges Ramos Freire, consultor e presidente da Boanerges & Cia, especialista no mercado de pagamentos.

O resultado é que o número de transações com cartões também explodiu. Chegou a 16,2 bilhões no ano passado, alta de 422% em relação a 2011.

Outro modelo

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Esse movimento mudou o modelo de negócios do setor. Uma das primeiras armas das novatas foi o fim do aluguel de maquininhas: ao invés de cobrarem uma taxa mensal pelo uso dos equipamentos, como era a prática de mercado, as empresas passaram a vendê-las ao comerciante. Esse movimento foi reproduzido pelas líderes de mercado, que em reação, baixaram as taxas de desconto (cobradas para processar transações).

Estava declarada a guerra das maquininhas, que só terminou quando, após a pandemia da covid-19, todas as empresas subiram as taxas para repassar aos clientes o maior custo financeiro, causado pela alta da Selic. Com a redução de outras fontes de receita, a antecipação de recebíveis ganhou peso no mercado.

“Os adquirentes tiveram uma compressão de margem por causa da concorrência. Hoje, todos eles dependem muito mais da antecipação de recebíveis”, afirma o especialista em pagamentos e fundador e sócio da Colink Business Consulting Edson Luiz dos Santos. Ele afirma que as independentes cobram taxas mais altas na média porque seus clientes, majoritariamente pequenos lojistas, não têm o mesmo acesso a crédito que os grandes, mas têm uma necessidade financeira muito mais alta.

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A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) calcula, em estudo feito internamente, que a taxa das independentes é três vezes maior que a das vinculadas. “[Os dados] Revelam, em especial, um modelo perverso que se ancora e se beneficia do endividamento das famílias brasileiras, gerando altíssimo risco de crédito, e que tem como causa as altas taxas de juros cobradas nesse meio de pagamento”, disse o presidente da Febraban, Isaac Sidney.

Fontes próximas às independentes afirmam que na comparação entre operações feitas com clientes de mesmo porte, porém, não há diferenças relevantes. “O ganho de mercado das independentes mostra que não há a percepção de que se trata de um produto caro”, afirma uma das fontes, sob anonimato. Ela acrescenta ainda que os lojistas podem escolher onde vão antecipar o recebível, independente de qual maquininha processou o pagamento.

Relação com o rotativo

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O modelo de negócio das independentes começou a ser posto em xeque pelos bancos em meio ao debate sobre o crédito rotativo, linha de crédito em que são colocados os clientes que deixam de pagar a fatura do cartão de crédito. Os bancos argumentam que o rotativo tem taxas altas, acima de 400% ao ano, porque financia os riscos do parcelado sem juros. Também afirmam que o modelo das independentes alimenta o parcelamento a longo prazo, para ampliar a necessidade de antecipação dos recebíveis pelos lojistas.

As empresas independentes rejeitam ambas as alegações. “Embora não haja dados públicos, a afirmação de que maquininhas independentes cobram mais que bancos não é correta. Os perfis de clientes que utilizam maquininhas e serviços auxiliares são bastante variados, e essa heterogeneidade se reflete em condições distintas”, disse a Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag), que representa a Stone e outras empresas do setor.

A Associação Brasileira de Internet (Abranet), que representa o PagBank e outras companhias, afirmou ainda que a competição reduziu as margens na antecipação do parcelado sem juros de 1,61% ao mês em 2011 para 0,31% neste ano, citando dados do BC. “É por causa dessa competição que (os bancos) querem prejudicar as empresas de maquininha e mudar a regra do jogo em pleno jogo a favor do banco emissor”, afirmou a entidade.

SÃO PAULO E BRASÍLIA - A disputa travada entre bancos e empresas independentes de cartão de crédito — em meio às discussões sobre o crédito rotativo — é fruto tardio da chamada “guerra das maquininhas”. Na última década, o número de equipamentos nas ruas aumentou mais de sete vezes, e com a chegada de novas empresas, o modelo de negócio mudou. Especialistas consideram que esse movimento ajuda a explicar as diferenças entre os dois grupos, e também a queda de braço atual.

As maquininhas têm décadas de existência no Brasil, mas o “marco zero” do setor é 1º de julho de 2010, data em que o Banco Central abriu o mercado. Até ali, havia duas empresas: a Cielo, antiga Visanet, que processava as transações com cartões da bandeira Visa; e a Redecard, hoje Rede, que capturava aquelas com cartões Mastercard. Ambas eram sociedades entre diversos bancos. Hoje, a Cielo é controlada por Bradesco e Banco do Brasil, e a Rede, pelo Itaú Unibanco.

Com a abertura, a exclusividade deixou de existir, o que abriu espaço para que outras empresas entrassem nesse mercado. A Getnet, criada em 2003 e mais tarde adquirida pelo Santander, foi a primeira autorizada a operar com maquininhas no pós-duopólio, em 2010. Em 2012, foi criada a Stone. A PagSeguro (hoje PagBank), criada em 2006 para processar pagamentos na internet, entrou em maquininhas de cartão em 2013.

A chegada de novos competidores levou a uma explosão no número de maquininhas ativas no País. Em 2011, eram 3,1 milhões, segundo o BC; no final do ano passado, data do dado mais recente, eram 20,8 milhões, um crescimento de 668% em 11 anos.

Maquininhas de cartão são um dos meios de pagamento mais comuns no varejo Foto: Gabriela Biló / Estadão

O número ilustra a chegada da maquininha de cartão aos pequenos comerciantes, em um movimento liderado pelas maquininhas independentes. “O PagBank foi bem-sucedido nesse processo, primeiro no online e depois no físico, e a Stone veio depois com uma linha parecida, mas com outras ofertas”, diz Boanerges Ramos Freire, consultor e presidente da Boanerges & Cia, especialista no mercado de pagamentos.

O resultado é que o número de transações com cartões também explodiu. Chegou a 16,2 bilhões no ano passado, alta de 422% em relação a 2011.

Outro modelo

Esse movimento mudou o modelo de negócios do setor. Uma das primeiras armas das novatas foi o fim do aluguel de maquininhas: ao invés de cobrarem uma taxa mensal pelo uso dos equipamentos, como era a prática de mercado, as empresas passaram a vendê-las ao comerciante. Esse movimento foi reproduzido pelas líderes de mercado, que em reação, baixaram as taxas de desconto (cobradas para processar transações).

Estava declarada a guerra das maquininhas, que só terminou quando, após a pandemia da covid-19, todas as empresas subiram as taxas para repassar aos clientes o maior custo financeiro, causado pela alta da Selic. Com a redução de outras fontes de receita, a antecipação de recebíveis ganhou peso no mercado.

“Os adquirentes tiveram uma compressão de margem por causa da concorrência. Hoje, todos eles dependem muito mais da antecipação de recebíveis”, afirma o especialista em pagamentos e fundador e sócio da Colink Business Consulting Edson Luiz dos Santos. Ele afirma que as independentes cobram taxas mais altas na média porque seus clientes, majoritariamente pequenos lojistas, não têm o mesmo acesso a crédito que os grandes, mas têm uma necessidade financeira muito mais alta.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) calcula, em estudo feito internamente, que a taxa das independentes é três vezes maior que a das vinculadas. “[Os dados] Revelam, em especial, um modelo perverso que se ancora e se beneficia do endividamento das famílias brasileiras, gerando altíssimo risco de crédito, e que tem como causa as altas taxas de juros cobradas nesse meio de pagamento”, disse o presidente da Febraban, Isaac Sidney.

Fontes próximas às independentes afirmam que na comparação entre operações feitas com clientes de mesmo porte, porém, não há diferenças relevantes. “O ganho de mercado das independentes mostra que não há a percepção de que se trata de um produto caro”, afirma uma das fontes, sob anonimato. Ela acrescenta ainda que os lojistas podem escolher onde vão antecipar o recebível, independente de qual maquininha processou o pagamento.

Relação com o rotativo

O modelo de negócio das independentes começou a ser posto em xeque pelos bancos em meio ao debate sobre o crédito rotativo, linha de crédito em que são colocados os clientes que deixam de pagar a fatura do cartão de crédito. Os bancos argumentam que o rotativo tem taxas altas, acima de 400% ao ano, porque financia os riscos do parcelado sem juros. Também afirmam que o modelo das independentes alimenta o parcelamento a longo prazo, para ampliar a necessidade de antecipação dos recebíveis pelos lojistas.

As empresas independentes rejeitam ambas as alegações. “Embora não haja dados públicos, a afirmação de que maquininhas independentes cobram mais que bancos não é correta. Os perfis de clientes que utilizam maquininhas e serviços auxiliares são bastante variados, e essa heterogeneidade se reflete em condições distintas”, disse a Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag), que representa a Stone e outras empresas do setor.

A Associação Brasileira de Internet (Abranet), que representa o PagBank e outras companhias, afirmou ainda que a competição reduziu as margens na antecipação do parcelado sem juros de 1,61% ao mês em 2011 para 0,31% neste ano, citando dados do BC. “É por causa dessa competição que (os bancos) querem prejudicar as empresas de maquininha e mudar a regra do jogo em pleno jogo a favor do banco emissor”, afirmou a entidade.

SÃO PAULO E BRASÍLIA - A disputa travada entre bancos e empresas independentes de cartão de crédito — em meio às discussões sobre o crédito rotativo — é fruto tardio da chamada “guerra das maquininhas”. Na última década, o número de equipamentos nas ruas aumentou mais de sete vezes, e com a chegada de novas empresas, o modelo de negócio mudou. Especialistas consideram que esse movimento ajuda a explicar as diferenças entre os dois grupos, e também a queda de braço atual.

As maquininhas têm décadas de existência no Brasil, mas o “marco zero” do setor é 1º de julho de 2010, data em que o Banco Central abriu o mercado. Até ali, havia duas empresas: a Cielo, antiga Visanet, que processava as transações com cartões da bandeira Visa; e a Redecard, hoje Rede, que capturava aquelas com cartões Mastercard. Ambas eram sociedades entre diversos bancos. Hoje, a Cielo é controlada por Bradesco e Banco do Brasil, e a Rede, pelo Itaú Unibanco.

Com a abertura, a exclusividade deixou de existir, o que abriu espaço para que outras empresas entrassem nesse mercado. A Getnet, criada em 2003 e mais tarde adquirida pelo Santander, foi a primeira autorizada a operar com maquininhas no pós-duopólio, em 2010. Em 2012, foi criada a Stone. A PagSeguro (hoje PagBank), criada em 2006 para processar pagamentos na internet, entrou em maquininhas de cartão em 2013.

A chegada de novos competidores levou a uma explosão no número de maquininhas ativas no País. Em 2011, eram 3,1 milhões, segundo o BC; no final do ano passado, data do dado mais recente, eram 20,8 milhões, um crescimento de 668% em 11 anos.

Maquininhas de cartão são um dos meios de pagamento mais comuns no varejo Foto: Gabriela Biló / Estadão

O número ilustra a chegada da maquininha de cartão aos pequenos comerciantes, em um movimento liderado pelas maquininhas independentes. “O PagBank foi bem-sucedido nesse processo, primeiro no online e depois no físico, e a Stone veio depois com uma linha parecida, mas com outras ofertas”, diz Boanerges Ramos Freire, consultor e presidente da Boanerges & Cia, especialista no mercado de pagamentos.

O resultado é que o número de transações com cartões também explodiu. Chegou a 16,2 bilhões no ano passado, alta de 422% em relação a 2011.

Outro modelo

Esse movimento mudou o modelo de negócios do setor. Uma das primeiras armas das novatas foi o fim do aluguel de maquininhas: ao invés de cobrarem uma taxa mensal pelo uso dos equipamentos, como era a prática de mercado, as empresas passaram a vendê-las ao comerciante. Esse movimento foi reproduzido pelas líderes de mercado, que em reação, baixaram as taxas de desconto (cobradas para processar transações).

Estava declarada a guerra das maquininhas, que só terminou quando, após a pandemia da covid-19, todas as empresas subiram as taxas para repassar aos clientes o maior custo financeiro, causado pela alta da Selic. Com a redução de outras fontes de receita, a antecipação de recebíveis ganhou peso no mercado.

“Os adquirentes tiveram uma compressão de margem por causa da concorrência. Hoje, todos eles dependem muito mais da antecipação de recebíveis”, afirma o especialista em pagamentos e fundador e sócio da Colink Business Consulting Edson Luiz dos Santos. Ele afirma que as independentes cobram taxas mais altas na média porque seus clientes, majoritariamente pequenos lojistas, não têm o mesmo acesso a crédito que os grandes, mas têm uma necessidade financeira muito mais alta.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) calcula, em estudo feito internamente, que a taxa das independentes é três vezes maior que a das vinculadas. “[Os dados] Revelam, em especial, um modelo perverso que se ancora e se beneficia do endividamento das famílias brasileiras, gerando altíssimo risco de crédito, e que tem como causa as altas taxas de juros cobradas nesse meio de pagamento”, disse o presidente da Febraban, Isaac Sidney.

Fontes próximas às independentes afirmam que na comparação entre operações feitas com clientes de mesmo porte, porém, não há diferenças relevantes. “O ganho de mercado das independentes mostra que não há a percepção de que se trata de um produto caro”, afirma uma das fontes, sob anonimato. Ela acrescenta ainda que os lojistas podem escolher onde vão antecipar o recebível, independente de qual maquininha processou o pagamento.

Relação com o rotativo

O modelo de negócio das independentes começou a ser posto em xeque pelos bancos em meio ao debate sobre o crédito rotativo, linha de crédito em que são colocados os clientes que deixam de pagar a fatura do cartão de crédito. Os bancos argumentam que o rotativo tem taxas altas, acima de 400% ao ano, porque financia os riscos do parcelado sem juros. Também afirmam que o modelo das independentes alimenta o parcelamento a longo prazo, para ampliar a necessidade de antecipação dos recebíveis pelos lojistas.

As empresas independentes rejeitam ambas as alegações. “Embora não haja dados públicos, a afirmação de que maquininhas independentes cobram mais que bancos não é correta. Os perfis de clientes que utilizam maquininhas e serviços auxiliares são bastante variados, e essa heterogeneidade se reflete em condições distintas”, disse a Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag), que representa a Stone e outras empresas do setor.

A Associação Brasileira de Internet (Abranet), que representa o PagBank e outras companhias, afirmou ainda que a competição reduziu as margens na antecipação do parcelado sem juros de 1,61% ao mês em 2011 para 0,31% neste ano, citando dados do BC. “É por causa dessa competição que (os bancos) querem prejudicar as empresas de maquininha e mudar a regra do jogo em pleno jogo a favor do banco emissor”, afirmou a entidade.

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