Em meio a incertezas no cenário econômico internacional, por conta dos desdobramentos do conflito entre Irã e Israel e da indefinição sobre os juros nos Estados Unidos, e também no cenário doméstico - com preocupações sobre a questão fiscal -, o dólar fechou esta terça-feira, 16, em R$ 5,2688, uma alta de 1,61%. É o maior patamar desde março do ano passado. Durante o dia, a moeda americana chegou a encostar no patamar de R$ 5,28.
Na avaliação de analistas, esse movimento de alta na cotação acompanha uma piora generalizada do desempenho dos mercados globais. Mas, no Brasil, tem o peso extra do desconforto com a política fiscal. Ontem, o governo anunciou a mudança da meta de resultado primário (receitas menos despesas, antes do pagamento dos juros da dívida pública) de 2025, de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para déficit zero, o mesmo alvo de 2024. E adiou a obtenção de um saldo positivo de 1% do PIB, de 2026 para 2028.
Em Washington, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou minimizar a reação dos mercados. “O ajuste (na meta fiscal) foi feito para, à luz do aprendizado de mais de um ano, nós estabelecermos uma trajetória que está completamente em linha com o que se espera no médio prazo de estabilidade da dívida”, afirmou. Haddad disse ainda que no governo de Jair Bolsonaro o dólar bateu R$ 6,00 e a taxa de juro futura subiu “enormemente”. “Essas coisas se acomodam depois”, concluiu.
Profissionais do mercado financeiro relataram, porém, que durante o dia houve uma demanda maior de estrangeiros por moeda à vista, com o objetivo de deixar a Bolsa e o País, por conta de uma piora na percepção sobre as contas públicas.
Haddad disse também que o cenário externo explica dois terços do que está acontecendo no Brasil. “Tem muita coisa que está fazendo com que o mundo esteja atento ao que está acontecendo nos Estados Unidos, e o dólar está se valorizando frente às demais moedas”, disse.
Segundo Haddad, pesam a atividade econômica nos Estados Unidos, a inflação americana de março que, na sua visão, ainda não foi devidamente digerida, o conflito no Oriente Médio, que escalou e “ninguém sabe como isso vai se desdobrar”, e o preço do petróleo.
Impacto da meta fiscal
A mudança da meta fiscal anunciada na segunda-feira pelo governo teve uma reação ruim do mercado financeiro. Na avaliação do economista-chefe da Reag Investimentos, Marcelo Fonseca, esse movimento poderá levar o Banco Central a ter de elevar os juros no ano que vem em até dois pontos porcentuais - de 9,5% para 11,5%, na estimativa dele.
Para Fonseca, esta mudança na meta fiscal enfraquece o Arcabouço Fiscal, que não foi capaz de conter a expansão de gastos que vem desde a PEC da Transição.”A política econômica como um todo está aquecida porque está havendo um relaxamento da política monetária e uma expansão da fiscal. Agora se revisa a meta sem acionar nenhum mecanismo de correção de rumo””, observou o economista, acrescentando que se esperava que os gatilhos fossem ser acionados em caso de frustração de receitas.