As sucessivas quedas do dólar frente ao real fizeram produtores no Mato Grosso se voltarem a alguns aspectos dos custos de produção no setor, como o grande peso que o transporte da soja está significando na operação. Com a alta das cotações internacionais dos grãos, o dólar fraco e o frete pareciam estar perdendo espaço nas preocupações dos agricultores para a elevação de gastos com fertilizantes, que dobraram de preço no período de um ano. Mas a moeda norte-americana voltou a ser motivo de queixas mais enfáticas. Como o frete é cotado em reais, e a soja, em dólar, o peso específico do transporte cresceu e roubou rentabilidade. "Na maioria dos anos, o frete para levar o produto até Paranaguá equivalia a 50 dólares por tonelada. Hoje, por causa desse câmbio, gasta-se 110 a 115 dólares no transporte", disse o vice-presidente do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde, Carlos Alberto Simon, falando do custo para levar a soja de sua cidade, no Médio-Norte do Estado, até o porto paranaense. "Se o câmbio estivesse a 2,50 reais, gastaria 63 dólares", ponderou Simon. Em um Estado distante dos portos exportadores como o Mato Grosso, o dólar forte de anos passados encobriu deficiências logísticas e foi um importante estimulante para o avanço no plantio na região. Ao mesmo tempo em que se lembram que poderiam desembolsar menos dólares para pagar o frete, os produtores também enfatizam que as estradas --o principal canal para "puxar" a soja de importantes regiões produtoras-- continuam em condições inadequadas. A reportagem da Reuters constatou, ao percorrer a BR-163 nesta semana, que o trecho mais problemático, com buracos no asfalto que obrigam muitos caminhões a pararem na rodovia, está entre Sinop e Sorriso, o maior produtor brasileiro de soja. A partir de Sorriso, ainda encontram-se buracos grandes em vários trechos da BR, mas a lentidão no tráfego em partes da rodovia é mesmo causada pelo grande número de caminhões na via. "O que precisa mudar é o sistema de transporte, o custo é muito alto", completou o presidente do Sindicato Rural de Nova Mutum, Alcindo Uggeri, admitindo que, com a alta da soja, a situação ainda está melhor do que na safra passada para o setor. (Edição de Marcelo Teixeira)