Dólar: Fazenda prepara três medidas para reduzir volatilidade e destravar ‘agenda verde’; entenda


Mecanismos estão sendo desenvolvidos em parceria com o BID e têm objetivo de dar maior segurança a investidores estrangeiros interessados no Plano de Transformação Ecológica

Por Bianca Lima
Atualização:

BRASÍLIA - Depois de aprovar o novo arcabouço fiscal e fazer alterações no período de vigência da meta de inflação, a equipe econômica agora se debruça sobre a política cambial - o último pilar do tripé macroeconômico, implantado no País em 1999. O câmbio flutuante seguirá em vigor, mas serão criados novos tipos de “seguro” para proteger os investidores do sobe e desce do dólar em relação ao real.

O objetivo é lançar três instrumentos financeiros (leia mais abaixo) que sejam capazes de reduzir os riscos atrelados à volatilidade da moeda americana e, assim, destravar os investimentos estrangeiros no Plano de Transformação Ecológica - como foi batizada a “agenda verde” do governo, também encampada pelo Congresso.

Esses mecanismos de proteção cambial terão cobertura inicial de até US$ 3,4 bilhões e serão voltados a investidores de longo prazo, que queiram aportar seus recursos em projetos ligados, por exemplo, a hidrogênio verde, agricultura de baixo carbono e transição energética.

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Haddad quer viabilizar novos instrumentos cambiais para destravar investimentos estrangeiros na agenda verde.  Foto: Washington Costa

Os recursos virão de uma parceria entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), hoje comandado pelo ex-presidente do Banco Central (BC) Ilan Goldfajn, e o ministério da Fazenda. A Secretaria do Tesouro Nacional, chefiada por Rogério Ceron, e o BC também participam diretamente dessas conversas.

O plano ecológico é tido como prioritário pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas depende de dinheiro externo para deslanchar. O primeiro passo foi dado em novembro, com a emissão de títulos públicos “verdes” no mercado internacional, quando o governo conseguiu captar US$ 2 bilhões.

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Só que o próprio ministro calcula que seja necessária uma cifra bem mais volumosa para que o plano pare de pé: de US$ 130 bilhões a US$ 160 bilhões por ano, ao longo da próxima década.

E os investidores estrangeiros são refratários ao sobe e desce do dólar no Brasil, que só no último ano oscilou entre R$ 4,73 e R$ 5,45. O objetivo, portanto, é dar maior segurança aos donos do dinheiro, como fundos de pensão e seguradoras, que, pelas políticas de investimento, não podem alocar seus recursos em ativos considerados muito arriscados.

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A parceria com o BID, para desatar esse nó, foi anunciada na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), em Dubai, e deve sair do papel ainda no primeiro bimestre deste ano, segundo pessoas a par do assunto.

Na ocasião, Haddad falou sobre o entrave cambial: “Para o investidor que vai pensar no País, para ficar 5, 10, 15, 20 anos, esse é um assunto muito importante, porque ele não sabe a hora que vai precisar de liquidez”, afirmou.

“E, se precisar de liquidez, numa hora que tiver uma desvalorização cambial abrupta, num ano incomum, isso pode significar a tomada de decisão de não investir no Brasil”, destacou o ministro. Para mitigar esse risco, estão sendo desenhados três instrumentos de acordo com o grau de volatilidade do câmbio. Veja abaixo:

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Risco baixo: swap cambial

Swap, na linguagem do mercado financeiro, é a troca de taxas ou rentabilidades - e, portanto, de riscos - entre agentes econômicos.

Pode-se trocar, por exemplo, a variação do câmbio pela oscilação da taxa de juros em um determinado período de tempo - nesse caso, o investidor ficaria sujeito à variação dos juros, e não do câmbio, que é muito mais volátil. Para os investimentos verdes, o horizonte é longo: de dez a vinte anos.

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Esse mecanismo de swap seria indicado para momentos de risco mais baixo e poderia ter até US$ 1,4 bilhão disponíveis, como sinalizou Goldfajn na COP-28.

“O swap longo não tem mercado, porque é caro. O BID, que tem hoje, em projetos com o Brasil, US$ 1,4 bilhão, pode usar (essa cifra) para fazer um swap com o mercado e transferir o preço desse swap para o Brasil. E, do Brasil, (transferir) para o investidor. Qual a diferença? O BID tem uma carteira já estabelecida e é uma instituição triplo A (a classificação mais alta dentro do grau de investimento)”, afirmou o presidente do banco na ocasião.

Risco médio: linha de crédito

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Para situações de risco um pouco mais elevado, estão sendo avaliadas linhas de crédito em moeda estrangeira. Seriam linhas emergenciais para resolver problemas de caixa temporários, em caso de eventos de desvalorização cambial, as quais poderiam ser combinadas com o uso dos swaps.

“Muitas vezes, a volatilidade do câmbio é de curto prazo. Não é toda volatilidade de curto prazo que fica. Portanto, às vezes, o que se precisa, é apenas permitir ao investidor sair do curtíssimo prazo e ir para o médio ou longo prazo”, explicou Goldfajn.

Para isso, segundo ele, poderia ser criado um fundo. “Nós podemos trabalhar em um fundo que forneça esses recursos no momento em que (o investidor) mais precisa, que é o momento de volatilidade maior”.

Risco alto: mecanismos de cobertura

Já para momentos de desvalorização extrema e abrupta do câmbio, seriam criados mecanismos de cobertura. Ou seja, uma espécie de seguro.

“O risco de cauda (ocorrência de evento extremo e improvável) é uma opção de proteger (o investidor) no caso em que a volatilidade não é nem a normal, em que você pode ter o swap, nem média, em que você pode simplesmente dar liquidez, mas sim de um tamanho que você precisa de proteção. E é nesse caso que você faz opções”, afirmou Goldfajn.

Um das possibilidades, portanto, seria o uso de uma espécie de opção de compra de dólares a ser acionada a partir de determinada taxa de câmbio.

“E como o BID poderia ajudar? O BID poderia ir ao mercado, com a sua reputação de anos e o seu triplo A, e tentar reestabelecer esse mercado que, nas últimas décadas, não existiu. Eu, pessoalmente, acredito que você faz isso e depois pega no tranco. Mas tem que começar com nós tentando, de alguma forma, criar esse mercado e esses instrumentos”, disse o presidente do banco multilateral.

BRASÍLIA - Depois de aprovar o novo arcabouço fiscal e fazer alterações no período de vigência da meta de inflação, a equipe econômica agora se debruça sobre a política cambial - o último pilar do tripé macroeconômico, implantado no País em 1999. O câmbio flutuante seguirá em vigor, mas serão criados novos tipos de “seguro” para proteger os investidores do sobe e desce do dólar em relação ao real.

O objetivo é lançar três instrumentos financeiros (leia mais abaixo) que sejam capazes de reduzir os riscos atrelados à volatilidade da moeda americana e, assim, destravar os investimentos estrangeiros no Plano de Transformação Ecológica - como foi batizada a “agenda verde” do governo, também encampada pelo Congresso.

Esses mecanismos de proteção cambial terão cobertura inicial de até US$ 3,4 bilhões e serão voltados a investidores de longo prazo, que queiram aportar seus recursos em projetos ligados, por exemplo, a hidrogênio verde, agricultura de baixo carbono e transição energética.

Haddad quer viabilizar novos instrumentos cambiais para destravar investimentos estrangeiros na agenda verde.  Foto: Washington Costa

Os recursos virão de uma parceria entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), hoje comandado pelo ex-presidente do Banco Central (BC) Ilan Goldfajn, e o ministério da Fazenda. A Secretaria do Tesouro Nacional, chefiada por Rogério Ceron, e o BC também participam diretamente dessas conversas.

O plano ecológico é tido como prioritário pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas depende de dinheiro externo para deslanchar. O primeiro passo foi dado em novembro, com a emissão de títulos públicos “verdes” no mercado internacional, quando o governo conseguiu captar US$ 2 bilhões.

Só que o próprio ministro calcula que seja necessária uma cifra bem mais volumosa para que o plano pare de pé: de US$ 130 bilhões a US$ 160 bilhões por ano, ao longo da próxima década.

E os investidores estrangeiros são refratários ao sobe e desce do dólar no Brasil, que só no último ano oscilou entre R$ 4,73 e R$ 5,45. O objetivo, portanto, é dar maior segurança aos donos do dinheiro, como fundos de pensão e seguradoras, que, pelas políticas de investimento, não podem alocar seus recursos em ativos considerados muito arriscados.

A parceria com o BID, para desatar esse nó, foi anunciada na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), em Dubai, e deve sair do papel ainda no primeiro bimestre deste ano, segundo pessoas a par do assunto.

Na ocasião, Haddad falou sobre o entrave cambial: “Para o investidor que vai pensar no País, para ficar 5, 10, 15, 20 anos, esse é um assunto muito importante, porque ele não sabe a hora que vai precisar de liquidez”, afirmou.

“E, se precisar de liquidez, numa hora que tiver uma desvalorização cambial abrupta, num ano incomum, isso pode significar a tomada de decisão de não investir no Brasil”, destacou o ministro. Para mitigar esse risco, estão sendo desenhados três instrumentos de acordo com o grau de volatilidade do câmbio. Veja abaixo:

Risco baixo: swap cambial

Swap, na linguagem do mercado financeiro, é a troca de taxas ou rentabilidades - e, portanto, de riscos - entre agentes econômicos.

Pode-se trocar, por exemplo, a variação do câmbio pela oscilação da taxa de juros em um determinado período de tempo - nesse caso, o investidor ficaria sujeito à variação dos juros, e não do câmbio, que é muito mais volátil. Para os investimentos verdes, o horizonte é longo: de dez a vinte anos.

Esse mecanismo de swap seria indicado para momentos de risco mais baixo e poderia ter até US$ 1,4 bilhão disponíveis, como sinalizou Goldfajn na COP-28.

“O swap longo não tem mercado, porque é caro. O BID, que tem hoje, em projetos com o Brasil, US$ 1,4 bilhão, pode usar (essa cifra) para fazer um swap com o mercado e transferir o preço desse swap para o Brasil. E, do Brasil, (transferir) para o investidor. Qual a diferença? O BID tem uma carteira já estabelecida e é uma instituição triplo A (a classificação mais alta dentro do grau de investimento)”, afirmou o presidente do banco na ocasião.

Risco médio: linha de crédito

Para situações de risco um pouco mais elevado, estão sendo avaliadas linhas de crédito em moeda estrangeira. Seriam linhas emergenciais para resolver problemas de caixa temporários, em caso de eventos de desvalorização cambial, as quais poderiam ser combinadas com o uso dos swaps.

“Muitas vezes, a volatilidade do câmbio é de curto prazo. Não é toda volatilidade de curto prazo que fica. Portanto, às vezes, o que se precisa, é apenas permitir ao investidor sair do curtíssimo prazo e ir para o médio ou longo prazo”, explicou Goldfajn.

Para isso, segundo ele, poderia ser criado um fundo. “Nós podemos trabalhar em um fundo que forneça esses recursos no momento em que (o investidor) mais precisa, que é o momento de volatilidade maior”.

Risco alto: mecanismos de cobertura

Já para momentos de desvalorização extrema e abrupta do câmbio, seriam criados mecanismos de cobertura. Ou seja, uma espécie de seguro.

“O risco de cauda (ocorrência de evento extremo e improvável) é uma opção de proteger (o investidor) no caso em que a volatilidade não é nem a normal, em que você pode ter o swap, nem média, em que você pode simplesmente dar liquidez, mas sim de um tamanho que você precisa de proteção. E é nesse caso que você faz opções”, afirmou Goldfajn.

Um das possibilidades, portanto, seria o uso de uma espécie de opção de compra de dólares a ser acionada a partir de determinada taxa de câmbio.

“E como o BID poderia ajudar? O BID poderia ir ao mercado, com a sua reputação de anos e o seu triplo A, e tentar reestabelecer esse mercado que, nas últimas décadas, não existiu. Eu, pessoalmente, acredito que você faz isso e depois pega no tranco. Mas tem que começar com nós tentando, de alguma forma, criar esse mercado e esses instrumentos”, disse o presidente do banco multilateral.

BRASÍLIA - Depois de aprovar o novo arcabouço fiscal e fazer alterações no período de vigência da meta de inflação, a equipe econômica agora se debruça sobre a política cambial - o último pilar do tripé macroeconômico, implantado no País em 1999. O câmbio flutuante seguirá em vigor, mas serão criados novos tipos de “seguro” para proteger os investidores do sobe e desce do dólar em relação ao real.

O objetivo é lançar três instrumentos financeiros (leia mais abaixo) que sejam capazes de reduzir os riscos atrelados à volatilidade da moeda americana e, assim, destravar os investimentos estrangeiros no Plano de Transformação Ecológica - como foi batizada a “agenda verde” do governo, também encampada pelo Congresso.

Esses mecanismos de proteção cambial terão cobertura inicial de até US$ 3,4 bilhões e serão voltados a investidores de longo prazo, que queiram aportar seus recursos em projetos ligados, por exemplo, a hidrogênio verde, agricultura de baixo carbono e transição energética.

Haddad quer viabilizar novos instrumentos cambiais para destravar investimentos estrangeiros na agenda verde.  Foto: Washington Costa

Os recursos virão de uma parceria entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), hoje comandado pelo ex-presidente do Banco Central (BC) Ilan Goldfajn, e o ministério da Fazenda. A Secretaria do Tesouro Nacional, chefiada por Rogério Ceron, e o BC também participam diretamente dessas conversas.

O plano ecológico é tido como prioritário pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas depende de dinheiro externo para deslanchar. O primeiro passo foi dado em novembro, com a emissão de títulos públicos “verdes” no mercado internacional, quando o governo conseguiu captar US$ 2 bilhões.

Só que o próprio ministro calcula que seja necessária uma cifra bem mais volumosa para que o plano pare de pé: de US$ 130 bilhões a US$ 160 bilhões por ano, ao longo da próxima década.

E os investidores estrangeiros são refratários ao sobe e desce do dólar no Brasil, que só no último ano oscilou entre R$ 4,73 e R$ 5,45. O objetivo, portanto, é dar maior segurança aos donos do dinheiro, como fundos de pensão e seguradoras, que, pelas políticas de investimento, não podem alocar seus recursos em ativos considerados muito arriscados.

A parceria com o BID, para desatar esse nó, foi anunciada na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), em Dubai, e deve sair do papel ainda no primeiro bimestre deste ano, segundo pessoas a par do assunto.

Na ocasião, Haddad falou sobre o entrave cambial: “Para o investidor que vai pensar no País, para ficar 5, 10, 15, 20 anos, esse é um assunto muito importante, porque ele não sabe a hora que vai precisar de liquidez”, afirmou.

“E, se precisar de liquidez, numa hora que tiver uma desvalorização cambial abrupta, num ano incomum, isso pode significar a tomada de decisão de não investir no Brasil”, destacou o ministro. Para mitigar esse risco, estão sendo desenhados três instrumentos de acordo com o grau de volatilidade do câmbio. Veja abaixo:

Risco baixo: swap cambial

Swap, na linguagem do mercado financeiro, é a troca de taxas ou rentabilidades - e, portanto, de riscos - entre agentes econômicos.

Pode-se trocar, por exemplo, a variação do câmbio pela oscilação da taxa de juros em um determinado período de tempo - nesse caso, o investidor ficaria sujeito à variação dos juros, e não do câmbio, que é muito mais volátil. Para os investimentos verdes, o horizonte é longo: de dez a vinte anos.

Esse mecanismo de swap seria indicado para momentos de risco mais baixo e poderia ter até US$ 1,4 bilhão disponíveis, como sinalizou Goldfajn na COP-28.

“O swap longo não tem mercado, porque é caro. O BID, que tem hoje, em projetos com o Brasil, US$ 1,4 bilhão, pode usar (essa cifra) para fazer um swap com o mercado e transferir o preço desse swap para o Brasil. E, do Brasil, (transferir) para o investidor. Qual a diferença? O BID tem uma carteira já estabelecida e é uma instituição triplo A (a classificação mais alta dentro do grau de investimento)”, afirmou o presidente do banco na ocasião.

Risco médio: linha de crédito

Para situações de risco um pouco mais elevado, estão sendo avaliadas linhas de crédito em moeda estrangeira. Seriam linhas emergenciais para resolver problemas de caixa temporários, em caso de eventos de desvalorização cambial, as quais poderiam ser combinadas com o uso dos swaps.

“Muitas vezes, a volatilidade do câmbio é de curto prazo. Não é toda volatilidade de curto prazo que fica. Portanto, às vezes, o que se precisa, é apenas permitir ao investidor sair do curtíssimo prazo e ir para o médio ou longo prazo”, explicou Goldfajn.

Para isso, segundo ele, poderia ser criado um fundo. “Nós podemos trabalhar em um fundo que forneça esses recursos no momento em que (o investidor) mais precisa, que é o momento de volatilidade maior”.

Risco alto: mecanismos de cobertura

Já para momentos de desvalorização extrema e abrupta do câmbio, seriam criados mecanismos de cobertura. Ou seja, uma espécie de seguro.

“O risco de cauda (ocorrência de evento extremo e improvável) é uma opção de proteger (o investidor) no caso em que a volatilidade não é nem a normal, em que você pode ter o swap, nem média, em que você pode simplesmente dar liquidez, mas sim de um tamanho que você precisa de proteção. E é nesse caso que você faz opções”, afirmou Goldfajn.

Um das possibilidades, portanto, seria o uso de uma espécie de opção de compra de dólares a ser acionada a partir de determinada taxa de câmbio.

“E como o BID poderia ajudar? O BID poderia ir ao mercado, com a sua reputação de anos e o seu triplo A, e tentar reestabelecer esse mercado que, nas últimas décadas, não existiu. Eu, pessoalmente, acredito que você faz isso e depois pega no tranco. Mas tem que começar com nós tentando, de alguma forma, criar esse mercado e esses instrumentos”, disse o presidente do banco multilateral.

BRASÍLIA - Depois de aprovar o novo arcabouço fiscal e fazer alterações no período de vigência da meta de inflação, a equipe econômica agora se debruça sobre a política cambial - o último pilar do tripé macroeconômico, implantado no País em 1999. O câmbio flutuante seguirá em vigor, mas serão criados novos tipos de “seguro” para proteger os investidores do sobe e desce do dólar em relação ao real.

O objetivo é lançar três instrumentos financeiros (leia mais abaixo) que sejam capazes de reduzir os riscos atrelados à volatilidade da moeda americana e, assim, destravar os investimentos estrangeiros no Plano de Transformação Ecológica - como foi batizada a “agenda verde” do governo, também encampada pelo Congresso.

Esses mecanismos de proteção cambial terão cobertura inicial de até US$ 3,4 bilhões e serão voltados a investidores de longo prazo, que queiram aportar seus recursos em projetos ligados, por exemplo, a hidrogênio verde, agricultura de baixo carbono e transição energética.

Haddad quer viabilizar novos instrumentos cambiais para destravar investimentos estrangeiros na agenda verde.  Foto: Washington Costa

Os recursos virão de uma parceria entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), hoje comandado pelo ex-presidente do Banco Central (BC) Ilan Goldfajn, e o ministério da Fazenda. A Secretaria do Tesouro Nacional, chefiada por Rogério Ceron, e o BC também participam diretamente dessas conversas.

O plano ecológico é tido como prioritário pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas depende de dinheiro externo para deslanchar. O primeiro passo foi dado em novembro, com a emissão de títulos públicos “verdes” no mercado internacional, quando o governo conseguiu captar US$ 2 bilhões.

Só que o próprio ministro calcula que seja necessária uma cifra bem mais volumosa para que o plano pare de pé: de US$ 130 bilhões a US$ 160 bilhões por ano, ao longo da próxima década.

E os investidores estrangeiros são refratários ao sobe e desce do dólar no Brasil, que só no último ano oscilou entre R$ 4,73 e R$ 5,45. O objetivo, portanto, é dar maior segurança aos donos do dinheiro, como fundos de pensão e seguradoras, que, pelas políticas de investimento, não podem alocar seus recursos em ativos considerados muito arriscados.

A parceria com o BID, para desatar esse nó, foi anunciada na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), em Dubai, e deve sair do papel ainda no primeiro bimestre deste ano, segundo pessoas a par do assunto.

Na ocasião, Haddad falou sobre o entrave cambial: “Para o investidor que vai pensar no País, para ficar 5, 10, 15, 20 anos, esse é um assunto muito importante, porque ele não sabe a hora que vai precisar de liquidez”, afirmou.

“E, se precisar de liquidez, numa hora que tiver uma desvalorização cambial abrupta, num ano incomum, isso pode significar a tomada de decisão de não investir no Brasil”, destacou o ministro. Para mitigar esse risco, estão sendo desenhados três instrumentos de acordo com o grau de volatilidade do câmbio. Veja abaixo:

Risco baixo: swap cambial

Swap, na linguagem do mercado financeiro, é a troca de taxas ou rentabilidades - e, portanto, de riscos - entre agentes econômicos.

Pode-se trocar, por exemplo, a variação do câmbio pela oscilação da taxa de juros em um determinado período de tempo - nesse caso, o investidor ficaria sujeito à variação dos juros, e não do câmbio, que é muito mais volátil. Para os investimentos verdes, o horizonte é longo: de dez a vinte anos.

Esse mecanismo de swap seria indicado para momentos de risco mais baixo e poderia ter até US$ 1,4 bilhão disponíveis, como sinalizou Goldfajn na COP-28.

“O swap longo não tem mercado, porque é caro. O BID, que tem hoje, em projetos com o Brasil, US$ 1,4 bilhão, pode usar (essa cifra) para fazer um swap com o mercado e transferir o preço desse swap para o Brasil. E, do Brasil, (transferir) para o investidor. Qual a diferença? O BID tem uma carteira já estabelecida e é uma instituição triplo A (a classificação mais alta dentro do grau de investimento)”, afirmou o presidente do banco na ocasião.

Risco médio: linha de crédito

Para situações de risco um pouco mais elevado, estão sendo avaliadas linhas de crédito em moeda estrangeira. Seriam linhas emergenciais para resolver problemas de caixa temporários, em caso de eventos de desvalorização cambial, as quais poderiam ser combinadas com o uso dos swaps.

“Muitas vezes, a volatilidade do câmbio é de curto prazo. Não é toda volatilidade de curto prazo que fica. Portanto, às vezes, o que se precisa, é apenas permitir ao investidor sair do curtíssimo prazo e ir para o médio ou longo prazo”, explicou Goldfajn.

Para isso, segundo ele, poderia ser criado um fundo. “Nós podemos trabalhar em um fundo que forneça esses recursos no momento em que (o investidor) mais precisa, que é o momento de volatilidade maior”.

Risco alto: mecanismos de cobertura

Já para momentos de desvalorização extrema e abrupta do câmbio, seriam criados mecanismos de cobertura. Ou seja, uma espécie de seguro.

“O risco de cauda (ocorrência de evento extremo e improvável) é uma opção de proteger (o investidor) no caso em que a volatilidade não é nem a normal, em que você pode ter o swap, nem média, em que você pode simplesmente dar liquidez, mas sim de um tamanho que você precisa de proteção. E é nesse caso que você faz opções”, afirmou Goldfajn.

Um das possibilidades, portanto, seria o uso de uma espécie de opção de compra de dólares a ser acionada a partir de determinada taxa de câmbio.

“E como o BID poderia ajudar? O BID poderia ir ao mercado, com a sua reputação de anos e o seu triplo A, e tentar reestabelecer esse mercado que, nas últimas décadas, não existiu. Eu, pessoalmente, acredito que você faz isso e depois pega no tranco. Mas tem que começar com nós tentando, de alguma forma, criar esse mercado e esses instrumentos”, disse o presidente do banco multilateral.

BRASÍLIA - Depois de aprovar o novo arcabouço fiscal e fazer alterações no período de vigência da meta de inflação, a equipe econômica agora se debruça sobre a política cambial - o último pilar do tripé macroeconômico, implantado no País em 1999. O câmbio flutuante seguirá em vigor, mas serão criados novos tipos de “seguro” para proteger os investidores do sobe e desce do dólar em relação ao real.

O objetivo é lançar três instrumentos financeiros (leia mais abaixo) que sejam capazes de reduzir os riscos atrelados à volatilidade da moeda americana e, assim, destravar os investimentos estrangeiros no Plano de Transformação Ecológica - como foi batizada a “agenda verde” do governo, também encampada pelo Congresso.

Esses mecanismos de proteção cambial terão cobertura inicial de até US$ 3,4 bilhões e serão voltados a investidores de longo prazo, que queiram aportar seus recursos em projetos ligados, por exemplo, a hidrogênio verde, agricultura de baixo carbono e transição energética.

Haddad quer viabilizar novos instrumentos cambiais para destravar investimentos estrangeiros na agenda verde.  Foto: Washington Costa

Os recursos virão de uma parceria entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), hoje comandado pelo ex-presidente do Banco Central (BC) Ilan Goldfajn, e o ministério da Fazenda. A Secretaria do Tesouro Nacional, chefiada por Rogério Ceron, e o BC também participam diretamente dessas conversas.

O plano ecológico é tido como prioritário pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas depende de dinheiro externo para deslanchar. O primeiro passo foi dado em novembro, com a emissão de títulos públicos “verdes” no mercado internacional, quando o governo conseguiu captar US$ 2 bilhões.

Só que o próprio ministro calcula que seja necessária uma cifra bem mais volumosa para que o plano pare de pé: de US$ 130 bilhões a US$ 160 bilhões por ano, ao longo da próxima década.

E os investidores estrangeiros são refratários ao sobe e desce do dólar no Brasil, que só no último ano oscilou entre R$ 4,73 e R$ 5,45. O objetivo, portanto, é dar maior segurança aos donos do dinheiro, como fundos de pensão e seguradoras, que, pelas políticas de investimento, não podem alocar seus recursos em ativos considerados muito arriscados.

A parceria com o BID, para desatar esse nó, foi anunciada na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), em Dubai, e deve sair do papel ainda no primeiro bimestre deste ano, segundo pessoas a par do assunto.

Na ocasião, Haddad falou sobre o entrave cambial: “Para o investidor que vai pensar no País, para ficar 5, 10, 15, 20 anos, esse é um assunto muito importante, porque ele não sabe a hora que vai precisar de liquidez”, afirmou.

“E, se precisar de liquidez, numa hora que tiver uma desvalorização cambial abrupta, num ano incomum, isso pode significar a tomada de decisão de não investir no Brasil”, destacou o ministro. Para mitigar esse risco, estão sendo desenhados três instrumentos de acordo com o grau de volatilidade do câmbio. Veja abaixo:

Risco baixo: swap cambial

Swap, na linguagem do mercado financeiro, é a troca de taxas ou rentabilidades - e, portanto, de riscos - entre agentes econômicos.

Pode-se trocar, por exemplo, a variação do câmbio pela oscilação da taxa de juros em um determinado período de tempo - nesse caso, o investidor ficaria sujeito à variação dos juros, e não do câmbio, que é muito mais volátil. Para os investimentos verdes, o horizonte é longo: de dez a vinte anos.

Esse mecanismo de swap seria indicado para momentos de risco mais baixo e poderia ter até US$ 1,4 bilhão disponíveis, como sinalizou Goldfajn na COP-28.

“O swap longo não tem mercado, porque é caro. O BID, que tem hoje, em projetos com o Brasil, US$ 1,4 bilhão, pode usar (essa cifra) para fazer um swap com o mercado e transferir o preço desse swap para o Brasil. E, do Brasil, (transferir) para o investidor. Qual a diferença? O BID tem uma carteira já estabelecida e é uma instituição triplo A (a classificação mais alta dentro do grau de investimento)”, afirmou o presidente do banco na ocasião.

Risco médio: linha de crédito

Para situações de risco um pouco mais elevado, estão sendo avaliadas linhas de crédito em moeda estrangeira. Seriam linhas emergenciais para resolver problemas de caixa temporários, em caso de eventos de desvalorização cambial, as quais poderiam ser combinadas com o uso dos swaps.

“Muitas vezes, a volatilidade do câmbio é de curto prazo. Não é toda volatilidade de curto prazo que fica. Portanto, às vezes, o que se precisa, é apenas permitir ao investidor sair do curtíssimo prazo e ir para o médio ou longo prazo”, explicou Goldfajn.

Para isso, segundo ele, poderia ser criado um fundo. “Nós podemos trabalhar em um fundo que forneça esses recursos no momento em que (o investidor) mais precisa, que é o momento de volatilidade maior”.

Risco alto: mecanismos de cobertura

Já para momentos de desvalorização extrema e abrupta do câmbio, seriam criados mecanismos de cobertura. Ou seja, uma espécie de seguro.

“O risco de cauda (ocorrência de evento extremo e improvável) é uma opção de proteger (o investidor) no caso em que a volatilidade não é nem a normal, em que você pode ter o swap, nem média, em que você pode simplesmente dar liquidez, mas sim de um tamanho que você precisa de proteção. E é nesse caso que você faz opções”, afirmou Goldfajn.

Um das possibilidades, portanto, seria o uso de uma espécie de opção de compra de dólares a ser acionada a partir de determinada taxa de câmbio.

“E como o BID poderia ajudar? O BID poderia ir ao mercado, com a sua reputação de anos e o seu triplo A, e tentar reestabelecer esse mercado que, nas últimas décadas, não existiu. Eu, pessoalmente, acredito que você faz isso e depois pega no tranco. Mas tem que começar com nós tentando, de alguma forma, criar esse mercado e esses instrumentos”, disse o presidente do banco multilateral.

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