‘É possível imaginar juro em queda em 2025. Difícil é precisar quando e quanto’, diz Paulo Gala


Para economista-chefe do banco Master, economia brasileira pode ver corte da Selic em 2025, mas próximos passos do Fed, cumprimento do arcabouço e definição da presidência do BC deixam cenário incerto

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:
Foto: Divulgação/Banco Master
Entrevista comPaulo Gala Economista-chefe do banco Master

Na avaliação do economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, é possível imaginar que a taxa básica de juro (Selic) caia no ano que vem, mas é difícil precisar quando isso deve ocorrer e de quanto pode ser um eventual corte. “Tem um monte de dúvidas que precisam ser sanadas para poder precisar”, afirma.

Entre as incertezas que podem inviabilizar uma redução ou não dos juros no Brasil, estão os próximos passos do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), o cumprimento do arcabouço fiscal e a definição de quem será o presidente do BC brasileiro.

“É possível imaginar um corte de juros no ano que vem. Mas é muito difícil precisar de quanto e quando. Vai depender do corte do Fed, da consolidação da agenda fiscal e da transição do Banco Central brasileiro”, afirma.

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Paulo Gala é um dos participantes do evento “A indústria no Brasil hoje e amanhã - a importância do ambiente econômico para o futuro do setor industrial”, uma realização do Estadão, com apoio institucional da Fiesp, Ciesp, Firjan e CNI. O evento ocorre na próxima terça-feira, 23, no salão nobre da Fiesp. As inscrições podem ser feitas aqui. As vagas são limitadas.

A seguir os principais trechos da entrevista.

Qual deve ser o comportamento do Fed depois dos últimos dados de inflação nos EUA e das sinalizações do presidente Jerome Powell?

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Estamos numa situação em que os Estados Unidos estão prestes a cortar as taxas de juros. Não acho que venha agora no final de julho. Acho que vem (o corte) na reunião de setembro. Será um primeiro corte de 0,25 (ponto percentual) e, depois, mais um corte de 0,25 até o final do ano. O desemprego foi a 4,1%. A relação de vagas abertas por número de desempregos bateu em 1,2, o menor número desde 2021. Esse número já tinha ido a 2. Eram mais ou menos 12 milhões de vagas para 6 milhões de desempregados. Era um mercado de trabalho extremamente aquecido. É um dado interessante e que a gente olha desde os anos 1960. O teto histórico dessa dado era de 1 para 1. Ou seja, uma vaga para cada desempregado. Agora, a gente está com 8 milhões de vagas abertas para 6 milhões de desempregados. Estamos mais próximos do mercado de trabalho pré-pandemia. É o momento do mercado de trabalho mais desaquecido dos últimos três anos nos Estados Unidos. É que isso que vai levar o país a cortar a taxa de juros. O cenário principal é esse, de dois cortes até o fim do ano, o que deve ajudar bem o Brasil.

Como fica o Banco Central brasileiro nesse cenário?

Acho que o Banco Central não corta os juros até o final do ano. A Selic fica em 10,5%. São duas incertezas importantes. Tem a incerteza do cumprimento do arcabouço fiscal. Eu acho que o arcabouço está bem desenhado. Agora, a questão é o governo mostrar como ele vai ser cumprido. Essa incerteza continua pairando no ar. E é possível cumprir o arcabouço. O governo precisa colocar medidas não só do aumento de receita, mas também de corte de despesas. E tem a incerteza da transição da presidência do Banco Central. O ideal seria anunciar o quanto antes o presidente. Tudo leva a crer que vai ser o Galípolo (Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do BC). Talvez ele seja anunciado em agosto, e o ideal seria fazer esse anúncio o quanto antes para tirar essas incertezas. Isso, somado ao corte de juros do Fed, abre um cenário mais tranquilo para 2025, mas até o final deste ano não vejo o BC se movendo. Vai ser um novo Banco Central. O novo BC vai ser muito cauteloso. A diretoria vai ser muito cautelosa nos movimentos.

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E como avalia o cenário de inflação no Brasil?

A inflação está bem. Não está ruim. O último IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) veio abaixo do esperado. Foi 0,21%, mas a inflação vai fechar o ano muita próxima de 4%. Para uma meta de 3%, ainda está longe. Depois, houve o aumento da gasolina. E, por outro lado, a economia está crescendo bem mais do que se imaginava. É possível pensar até num crescimento de 3% este ano.

Em geral, o momento da economia brasileira é bom. O desemprego está muito baixo, as reservas cambiais estão em US$ 350 bilhões, a balança comercial, de novo, indo para US$ 90 bilhões de superávit, toda a série de atividade econômica em máxima histórica, o varejo em máxima histórica, o setor de serviços em máxima histórica, o PIB em máxima histórica. A própria produção industrial deve dar sinais de avanços importantes neste ano também. A economia brasileira se recuperou. O quadro é bom.

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Existe um projeto que é consistente na cabeça da equipe econômica. É fazer o equilíbrio fiscal para abrir espaço para o Banco Central cortar a taxa de juros. Esse é o projeto

Para Paulo Gala, equipe econômica do governo Lula tem uma visão 'muito fiscalista' Foto: Wilton Junior/Estadão

No momento mais agudo de ruído com a política fiscal, o ministro Haddad anunciou um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas em 2025. Esse montante é suficiente?

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Toda essa equipe que está aí, tanto da Fazenda como o próprio Galípolo, que era do time da Fazenda, tem uma visão muito fiscalista. Eles acreditam na importância do controle do gasto público, de que os cortes têm de ser feitos. É claro que a equipe econômica pode mudar, o ministro pode mudar. Tudo isso pode acontecer. Mas a previsão é que a equipe continue (no governo) e continua forte. Ou seja, esse corte de gastos vai ser feito. Existe um projeto que é consistente na cabeça deles (da equipe econômica). É fazer o equilíbrio fiscal para abrir espaço para o Banco Central cortar a taxa de juros. Esse é o projeto. Eles sempre falaram nisso. Com esses nomes, com esse time, isso não muda. Segue sendo a agenda principal do governo. O Lula, às vezes, fortalece esse time; às vezes, faz um comentário mais ambíguo, mas eu acho que o plano principal é esse.

O governo Lula compra a agenda do ajuste fiscal, então?

Apesar de, na retórica, ele (governo) não se comprometer totalmente com isso, na prática, eu acho que sim. É o que temos visto nesses dois anos. A retórica é mais ambígua, mas a prática é mais concreta nessa direção.

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Uma eventual eleição do Trump não pode dificultar esse cenário?

O Trump já é conhecido. Já foi presidente durante quatro anos. Tem uma agenda que não muda muito de combate à China. É uma agenda nacionalista e de tarifas.

E quando o juro começa a cair no Brasil?

É muita bola de cristal fazer essa previsão. Mas eu diria o seguinte. O Focus está com uma previsão de Selic em 9,5% no final do ano que vem. É possível imaginar um corte de juros no ano que vem. Mas é muito difícil precisar de quanto e quando. Vai depender do corte do Fed, da consolidação da agenda fiscal e da transição do Banco Central brasileiro. Ou seja, tem um monte de dúvidas que precisam ser sanadas para poder precisar. Mas é possível imaginar um corte até o final do ano que vem, tanto é que isso está no Focus. O juro neutro, segundo o próprio Banco Central, seria um juro real neutro de 4,75%. Se você imaginar uma inflação convergindo para 3%, estamos falando de uma Selic de 7,75%. No horizonte de um ou dois anos para a frente, existe uma Selic próxima de 8%, pela conta do próprio Banco Central.

Na avaliação do economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, é possível imaginar que a taxa básica de juro (Selic) caia no ano que vem, mas é difícil precisar quando isso deve ocorrer e de quanto pode ser um eventual corte. “Tem um monte de dúvidas que precisam ser sanadas para poder precisar”, afirma.

Entre as incertezas que podem inviabilizar uma redução ou não dos juros no Brasil, estão os próximos passos do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), o cumprimento do arcabouço fiscal e a definição de quem será o presidente do BC brasileiro.

“É possível imaginar um corte de juros no ano que vem. Mas é muito difícil precisar de quanto e quando. Vai depender do corte do Fed, da consolidação da agenda fiscal e da transição do Banco Central brasileiro”, afirma.

Paulo Gala é um dos participantes do evento “A indústria no Brasil hoje e amanhã - a importância do ambiente econômico para o futuro do setor industrial”, uma realização do Estadão, com apoio institucional da Fiesp, Ciesp, Firjan e CNI. O evento ocorre na próxima terça-feira, 23, no salão nobre da Fiesp. As inscrições podem ser feitas aqui. As vagas são limitadas.

A seguir os principais trechos da entrevista.

Qual deve ser o comportamento do Fed depois dos últimos dados de inflação nos EUA e das sinalizações do presidente Jerome Powell?

Estamos numa situação em que os Estados Unidos estão prestes a cortar as taxas de juros. Não acho que venha agora no final de julho. Acho que vem (o corte) na reunião de setembro. Será um primeiro corte de 0,25 (ponto percentual) e, depois, mais um corte de 0,25 até o final do ano. O desemprego foi a 4,1%. A relação de vagas abertas por número de desempregos bateu em 1,2, o menor número desde 2021. Esse número já tinha ido a 2. Eram mais ou menos 12 milhões de vagas para 6 milhões de desempregados. Era um mercado de trabalho extremamente aquecido. É um dado interessante e que a gente olha desde os anos 1960. O teto histórico dessa dado era de 1 para 1. Ou seja, uma vaga para cada desempregado. Agora, a gente está com 8 milhões de vagas abertas para 6 milhões de desempregados. Estamos mais próximos do mercado de trabalho pré-pandemia. É o momento do mercado de trabalho mais desaquecido dos últimos três anos nos Estados Unidos. É que isso que vai levar o país a cortar a taxa de juros. O cenário principal é esse, de dois cortes até o fim do ano, o que deve ajudar bem o Brasil.

Como fica o Banco Central brasileiro nesse cenário?

Acho que o Banco Central não corta os juros até o final do ano. A Selic fica em 10,5%. São duas incertezas importantes. Tem a incerteza do cumprimento do arcabouço fiscal. Eu acho que o arcabouço está bem desenhado. Agora, a questão é o governo mostrar como ele vai ser cumprido. Essa incerteza continua pairando no ar. E é possível cumprir o arcabouço. O governo precisa colocar medidas não só do aumento de receita, mas também de corte de despesas. E tem a incerteza da transição da presidência do Banco Central. O ideal seria anunciar o quanto antes o presidente. Tudo leva a crer que vai ser o Galípolo (Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do BC). Talvez ele seja anunciado em agosto, e o ideal seria fazer esse anúncio o quanto antes para tirar essas incertezas. Isso, somado ao corte de juros do Fed, abre um cenário mais tranquilo para 2025, mas até o final deste ano não vejo o BC se movendo. Vai ser um novo Banco Central. O novo BC vai ser muito cauteloso. A diretoria vai ser muito cautelosa nos movimentos.

E como avalia o cenário de inflação no Brasil?

A inflação está bem. Não está ruim. O último IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) veio abaixo do esperado. Foi 0,21%, mas a inflação vai fechar o ano muita próxima de 4%. Para uma meta de 3%, ainda está longe. Depois, houve o aumento da gasolina. E, por outro lado, a economia está crescendo bem mais do que se imaginava. É possível pensar até num crescimento de 3% este ano.

Em geral, o momento da economia brasileira é bom. O desemprego está muito baixo, as reservas cambiais estão em US$ 350 bilhões, a balança comercial, de novo, indo para US$ 90 bilhões de superávit, toda a série de atividade econômica em máxima histórica, o varejo em máxima histórica, o setor de serviços em máxima histórica, o PIB em máxima histórica. A própria produção industrial deve dar sinais de avanços importantes neste ano também. A economia brasileira se recuperou. O quadro é bom.

Existe um projeto que é consistente na cabeça da equipe econômica. É fazer o equilíbrio fiscal para abrir espaço para o Banco Central cortar a taxa de juros. Esse é o projeto

Para Paulo Gala, equipe econômica do governo Lula tem uma visão 'muito fiscalista' Foto: Wilton Junior/Estadão

No momento mais agudo de ruído com a política fiscal, o ministro Haddad anunciou um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas em 2025. Esse montante é suficiente?

Toda essa equipe que está aí, tanto da Fazenda como o próprio Galípolo, que era do time da Fazenda, tem uma visão muito fiscalista. Eles acreditam na importância do controle do gasto público, de que os cortes têm de ser feitos. É claro que a equipe econômica pode mudar, o ministro pode mudar. Tudo isso pode acontecer. Mas a previsão é que a equipe continue (no governo) e continua forte. Ou seja, esse corte de gastos vai ser feito. Existe um projeto que é consistente na cabeça deles (da equipe econômica). É fazer o equilíbrio fiscal para abrir espaço para o Banco Central cortar a taxa de juros. Esse é o projeto. Eles sempre falaram nisso. Com esses nomes, com esse time, isso não muda. Segue sendo a agenda principal do governo. O Lula, às vezes, fortalece esse time; às vezes, faz um comentário mais ambíguo, mas eu acho que o plano principal é esse.

O governo Lula compra a agenda do ajuste fiscal, então?

Apesar de, na retórica, ele (governo) não se comprometer totalmente com isso, na prática, eu acho que sim. É o que temos visto nesses dois anos. A retórica é mais ambígua, mas a prática é mais concreta nessa direção.

Uma eventual eleição do Trump não pode dificultar esse cenário?

O Trump já é conhecido. Já foi presidente durante quatro anos. Tem uma agenda que não muda muito de combate à China. É uma agenda nacionalista e de tarifas.

E quando o juro começa a cair no Brasil?

É muita bola de cristal fazer essa previsão. Mas eu diria o seguinte. O Focus está com uma previsão de Selic em 9,5% no final do ano que vem. É possível imaginar um corte de juros no ano que vem. Mas é muito difícil precisar de quanto e quando. Vai depender do corte do Fed, da consolidação da agenda fiscal e da transição do Banco Central brasileiro. Ou seja, tem um monte de dúvidas que precisam ser sanadas para poder precisar. Mas é possível imaginar um corte até o final do ano que vem, tanto é que isso está no Focus. O juro neutro, segundo o próprio Banco Central, seria um juro real neutro de 4,75%. Se você imaginar uma inflação convergindo para 3%, estamos falando de uma Selic de 7,75%. No horizonte de um ou dois anos para a frente, existe uma Selic próxima de 8%, pela conta do próprio Banco Central.

Na avaliação do economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, é possível imaginar que a taxa básica de juro (Selic) caia no ano que vem, mas é difícil precisar quando isso deve ocorrer e de quanto pode ser um eventual corte. “Tem um monte de dúvidas que precisam ser sanadas para poder precisar”, afirma.

Entre as incertezas que podem inviabilizar uma redução ou não dos juros no Brasil, estão os próximos passos do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), o cumprimento do arcabouço fiscal e a definição de quem será o presidente do BC brasileiro.

“É possível imaginar um corte de juros no ano que vem. Mas é muito difícil precisar de quanto e quando. Vai depender do corte do Fed, da consolidação da agenda fiscal e da transição do Banco Central brasileiro”, afirma.

Paulo Gala é um dos participantes do evento “A indústria no Brasil hoje e amanhã - a importância do ambiente econômico para o futuro do setor industrial”, uma realização do Estadão, com apoio institucional da Fiesp, Ciesp, Firjan e CNI. O evento ocorre na próxima terça-feira, 23, no salão nobre da Fiesp. As inscrições podem ser feitas aqui. As vagas são limitadas.

A seguir os principais trechos da entrevista.

Qual deve ser o comportamento do Fed depois dos últimos dados de inflação nos EUA e das sinalizações do presidente Jerome Powell?

Estamos numa situação em que os Estados Unidos estão prestes a cortar as taxas de juros. Não acho que venha agora no final de julho. Acho que vem (o corte) na reunião de setembro. Será um primeiro corte de 0,25 (ponto percentual) e, depois, mais um corte de 0,25 até o final do ano. O desemprego foi a 4,1%. A relação de vagas abertas por número de desempregos bateu em 1,2, o menor número desde 2021. Esse número já tinha ido a 2. Eram mais ou menos 12 milhões de vagas para 6 milhões de desempregados. Era um mercado de trabalho extremamente aquecido. É um dado interessante e que a gente olha desde os anos 1960. O teto histórico dessa dado era de 1 para 1. Ou seja, uma vaga para cada desempregado. Agora, a gente está com 8 milhões de vagas abertas para 6 milhões de desempregados. Estamos mais próximos do mercado de trabalho pré-pandemia. É o momento do mercado de trabalho mais desaquecido dos últimos três anos nos Estados Unidos. É que isso que vai levar o país a cortar a taxa de juros. O cenário principal é esse, de dois cortes até o fim do ano, o que deve ajudar bem o Brasil.

Como fica o Banco Central brasileiro nesse cenário?

Acho que o Banco Central não corta os juros até o final do ano. A Selic fica em 10,5%. São duas incertezas importantes. Tem a incerteza do cumprimento do arcabouço fiscal. Eu acho que o arcabouço está bem desenhado. Agora, a questão é o governo mostrar como ele vai ser cumprido. Essa incerteza continua pairando no ar. E é possível cumprir o arcabouço. O governo precisa colocar medidas não só do aumento de receita, mas também de corte de despesas. E tem a incerteza da transição da presidência do Banco Central. O ideal seria anunciar o quanto antes o presidente. Tudo leva a crer que vai ser o Galípolo (Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do BC). Talvez ele seja anunciado em agosto, e o ideal seria fazer esse anúncio o quanto antes para tirar essas incertezas. Isso, somado ao corte de juros do Fed, abre um cenário mais tranquilo para 2025, mas até o final deste ano não vejo o BC se movendo. Vai ser um novo Banco Central. O novo BC vai ser muito cauteloso. A diretoria vai ser muito cautelosa nos movimentos.

E como avalia o cenário de inflação no Brasil?

A inflação está bem. Não está ruim. O último IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) veio abaixo do esperado. Foi 0,21%, mas a inflação vai fechar o ano muita próxima de 4%. Para uma meta de 3%, ainda está longe. Depois, houve o aumento da gasolina. E, por outro lado, a economia está crescendo bem mais do que se imaginava. É possível pensar até num crescimento de 3% este ano.

Em geral, o momento da economia brasileira é bom. O desemprego está muito baixo, as reservas cambiais estão em US$ 350 bilhões, a balança comercial, de novo, indo para US$ 90 bilhões de superávit, toda a série de atividade econômica em máxima histórica, o varejo em máxima histórica, o setor de serviços em máxima histórica, o PIB em máxima histórica. A própria produção industrial deve dar sinais de avanços importantes neste ano também. A economia brasileira se recuperou. O quadro é bom.

Existe um projeto que é consistente na cabeça da equipe econômica. É fazer o equilíbrio fiscal para abrir espaço para o Banco Central cortar a taxa de juros. Esse é o projeto

Para Paulo Gala, equipe econômica do governo Lula tem uma visão 'muito fiscalista' Foto: Wilton Junior/Estadão

No momento mais agudo de ruído com a política fiscal, o ministro Haddad anunciou um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas em 2025. Esse montante é suficiente?

Toda essa equipe que está aí, tanto da Fazenda como o próprio Galípolo, que era do time da Fazenda, tem uma visão muito fiscalista. Eles acreditam na importância do controle do gasto público, de que os cortes têm de ser feitos. É claro que a equipe econômica pode mudar, o ministro pode mudar. Tudo isso pode acontecer. Mas a previsão é que a equipe continue (no governo) e continua forte. Ou seja, esse corte de gastos vai ser feito. Existe um projeto que é consistente na cabeça deles (da equipe econômica). É fazer o equilíbrio fiscal para abrir espaço para o Banco Central cortar a taxa de juros. Esse é o projeto. Eles sempre falaram nisso. Com esses nomes, com esse time, isso não muda. Segue sendo a agenda principal do governo. O Lula, às vezes, fortalece esse time; às vezes, faz um comentário mais ambíguo, mas eu acho que o plano principal é esse.

O governo Lula compra a agenda do ajuste fiscal, então?

Apesar de, na retórica, ele (governo) não se comprometer totalmente com isso, na prática, eu acho que sim. É o que temos visto nesses dois anos. A retórica é mais ambígua, mas a prática é mais concreta nessa direção.

Uma eventual eleição do Trump não pode dificultar esse cenário?

O Trump já é conhecido. Já foi presidente durante quatro anos. Tem uma agenda que não muda muito de combate à China. É uma agenda nacionalista e de tarifas.

E quando o juro começa a cair no Brasil?

É muita bola de cristal fazer essa previsão. Mas eu diria o seguinte. O Focus está com uma previsão de Selic em 9,5% no final do ano que vem. É possível imaginar um corte de juros no ano que vem. Mas é muito difícil precisar de quanto e quando. Vai depender do corte do Fed, da consolidação da agenda fiscal e da transição do Banco Central brasileiro. Ou seja, tem um monte de dúvidas que precisam ser sanadas para poder precisar. Mas é possível imaginar um corte até o final do ano que vem, tanto é que isso está no Focus. O juro neutro, segundo o próprio Banco Central, seria um juro real neutro de 4,75%. Se você imaginar uma inflação convergindo para 3%, estamos falando de uma Selic de 7,75%. No horizonte de um ou dois anos para a frente, existe uma Selic próxima de 8%, pela conta do próprio Banco Central.

Na avaliação do economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, é possível imaginar que a taxa básica de juro (Selic) caia no ano que vem, mas é difícil precisar quando isso deve ocorrer e de quanto pode ser um eventual corte. “Tem um monte de dúvidas que precisam ser sanadas para poder precisar”, afirma.

Entre as incertezas que podem inviabilizar uma redução ou não dos juros no Brasil, estão os próximos passos do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), o cumprimento do arcabouço fiscal e a definição de quem será o presidente do BC brasileiro.

“É possível imaginar um corte de juros no ano que vem. Mas é muito difícil precisar de quanto e quando. Vai depender do corte do Fed, da consolidação da agenda fiscal e da transição do Banco Central brasileiro”, afirma.

Paulo Gala é um dos participantes do evento “A indústria no Brasil hoje e amanhã - a importância do ambiente econômico para o futuro do setor industrial”, uma realização do Estadão, com apoio institucional da Fiesp, Ciesp, Firjan e CNI. O evento ocorre na próxima terça-feira, 23, no salão nobre da Fiesp. As inscrições podem ser feitas aqui. As vagas são limitadas.

A seguir os principais trechos da entrevista.

Qual deve ser o comportamento do Fed depois dos últimos dados de inflação nos EUA e das sinalizações do presidente Jerome Powell?

Estamos numa situação em que os Estados Unidos estão prestes a cortar as taxas de juros. Não acho que venha agora no final de julho. Acho que vem (o corte) na reunião de setembro. Será um primeiro corte de 0,25 (ponto percentual) e, depois, mais um corte de 0,25 até o final do ano. O desemprego foi a 4,1%. A relação de vagas abertas por número de desempregos bateu em 1,2, o menor número desde 2021. Esse número já tinha ido a 2. Eram mais ou menos 12 milhões de vagas para 6 milhões de desempregados. Era um mercado de trabalho extremamente aquecido. É um dado interessante e que a gente olha desde os anos 1960. O teto histórico dessa dado era de 1 para 1. Ou seja, uma vaga para cada desempregado. Agora, a gente está com 8 milhões de vagas abertas para 6 milhões de desempregados. Estamos mais próximos do mercado de trabalho pré-pandemia. É o momento do mercado de trabalho mais desaquecido dos últimos três anos nos Estados Unidos. É que isso que vai levar o país a cortar a taxa de juros. O cenário principal é esse, de dois cortes até o fim do ano, o que deve ajudar bem o Brasil.

Como fica o Banco Central brasileiro nesse cenário?

Acho que o Banco Central não corta os juros até o final do ano. A Selic fica em 10,5%. São duas incertezas importantes. Tem a incerteza do cumprimento do arcabouço fiscal. Eu acho que o arcabouço está bem desenhado. Agora, a questão é o governo mostrar como ele vai ser cumprido. Essa incerteza continua pairando no ar. E é possível cumprir o arcabouço. O governo precisa colocar medidas não só do aumento de receita, mas também de corte de despesas. E tem a incerteza da transição da presidência do Banco Central. O ideal seria anunciar o quanto antes o presidente. Tudo leva a crer que vai ser o Galípolo (Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do BC). Talvez ele seja anunciado em agosto, e o ideal seria fazer esse anúncio o quanto antes para tirar essas incertezas. Isso, somado ao corte de juros do Fed, abre um cenário mais tranquilo para 2025, mas até o final deste ano não vejo o BC se movendo. Vai ser um novo Banco Central. O novo BC vai ser muito cauteloso. A diretoria vai ser muito cautelosa nos movimentos.

E como avalia o cenário de inflação no Brasil?

A inflação está bem. Não está ruim. O último IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) veio abaixo do esperado. Foi 0,21%, mas a inflação vai fechar o ano muita próxima de 4%. Para uma meta de 3%, ainda está longe. Depois, houve o aumento da gasolina. E, por outro lado, a economia está crescendo bem mais do que se imaginava. É possível pensar até num crescimento de 3% este ano.

Em geral, o momento da economia brasileira é bom. O desemprego está muito baixo, as reservas cambiais estão em US$ 350 bilhões, a balança comercial, de novo, indo para US$ 90 bilhões de superávit, toda a série de atividade econômica em máxima histórica, o varejo em máxima histórica, o setor de serviços em máxima histórica, o PIB em máxima histórica. A própria produção industrial deve dar sinais de avanços importantes neste ano também. A economia brasileira se recuperou. O quadro é bom.

Existe um projeto que é consistente na cabeça da equipe econômica. É fazer o equilíbrio fiscal para abrir espaço para o Banco Central cortar a taxa de juros. Esse é o projeto

Para Paulo Gala, equipe econômica do governo Lula tem uma visão 'muito fiscalista' Foto: Wilton Junior/Estadão

No momento mais agudo de ruído com a política fiscal, o ministro Haddad anunciou um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas em 2025. Esse montante é suficiente?

Toda essa equipe que está aí, tanto da Fazenda como o próprio Galípolo, que era do time da Fazenda, tem uma visão muito fiscalista. Eles acreditam na importância do controle do gasto público, de que os cortes têm de ser feitos. É claro que a equipe econômica pode mudar, o ministro pode mudar. Tudo isso pode acontecer. Mas a previsão é que a equipe continue (no governo) e continua forte. Ou seja, esse corte de gastos vai ser feito. Existe um projeto que é consistente na cabeça deles (da equipe econômica). É fazer o equilíbrio fiscal para abrir espaço para o Banco Central cortar a taxa de juros. Esse é o projeto. Eles sempre falaram nisso. Com esses nomes, com esse time, isso não muda. Segue sendo a agenda principal do governo. O Lula, às vezes, fortalece esse time; às vezes, faz um comentário mais ambíguo, mas eu acho que o plano principal é esse.

O governo Lula compra a agenda do ajuste fiscal, então?

Apesar de, na retórica, ele (governo) não se comprometer totalmente com isso, na prática, eu acho que sim. É o que temos visto nesses dois anos. A retórica é mais ambígua, mas a prática é mais concreta nessa direção.

Uma eventual eleição do Trump não pode dificultar esse cenário?

O Trump já é conhecido. Já foi presidente durante quatro anos. Tem uma agenda que não muda muito de combate à China. É uma agenda nacionalista e de tarifas.

E quando o juro começa a cair no Brasil?

É muita bola de cristal fazer essa previsão. Mas eu diria o seguinte. O Focus está com uma previsão de Selic em 9,5% no final do ano que vem. É possível imaginar um corte de juros no ano que vem. Mas é muito difícil precisar de quanto e quando. Vai depender do corte do Fed, da consolidação da agenda fiscal e da transição do Banco Central brasileiro. Ou seja, tem um monte de dúvidas que precisam ser sanadas para poder precisar. Mas é possível imaginar um corte até o final do ano que vem, tanto é que isso está no Focus. O juro neutro, segundo o próprio Banco Central, seria um juro real neutro de 4,75%. Se você imaginar uma inflação convergindo para 3%, estamos falando de uma Selic de 7,75%. No horizonte de um ou dois anos para a frente, existe uma Selic próxima de 8%, pela conta do próprio Banco Central.

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