Economistas veem risco de inflação superar teto da meta e exigir última carta de Campos Neto


Se cenário se confirmar, presidente do BC encerraria seu mandato escrevendo a terceira carta aberta para explicar o descumprimento do alvo, o maior número para um chefe da autoridade monetária

Por Cícero Cotrim

BRASÍLIA - Economistas do mercado veem um “risco crescente” de que a inflação deste ano supere o teto da meta, de 4,50%, diante da mudança de patamar do dólar, da pressão nos preços administrados e do mercado de trabalho resiliente. Se esse cenário se confirmar, Roberto Campos Neto encerraria seu mandato escrevendo a terceira carta aberta para explicar o descumprimento do alvo, o maior número para um presidente do Banco Central.

Os analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast dizem, no entanto, que esse quadro não desabonaria o período de Campos Neto à frente da autoridade monetária. Este ano, os preços administrados explicam boa parte da resiliência da inflação, eles dizem. E, nos outros dois anos de descumprimento da meta (2021 e 2022) a quebra de cadeias globais de suprimentos e outras pressões decorrentes da pandemia de covid-19 levaram a um aumento expressivo no IPCA.

“Quando olhamos a trajetória da inflação durante a gestão do Roberto Campos no BC, temos de lembrar que, no meio do caminho, teve uma pandemia”, afirma o economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal. “Não só tivemos o choque imediato de inflação, com a quebra das cadeias produtivas, como também uma resposta fiscal muito grande dos governos no mundo inteiro.”

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Descumprimento da meta pela terceira vez não desabonaria o período de Campos Neto à frente da autoridade monetária, segundo analistas Foto: Wilton Junior/Estadão

Leal lembra que o BC brasileiro foi um dos primeiros a começar a elevar os juros, ainda durante a pandemia, e foi elogiado pelos pares pelo seu combate tempestivo à inflação. “Eu não vejo um problema de credibilidade se o IPCA superar a meta este ano”, diz o analista, que tem no cenário uma inflação de 4,25% em 2024, mas reconhece que a chance de a taxa superar os 4,50% existe.

O economista-chefe do Banco BMG, Flávio Serrano, tem no cenário-base um IPCA de 4,20% este ano, mas afirma que o comportamento dos preços administrados pode levar a inflação a superar o teto do alvo. Os riscos, ele diz, se concentram principalmente em dois componentes: a bandeira de energia, que hoje está no nível “verde”, mas poderia subir para “amarela” no fim do ano; e um eventual reajuste dos preços de gasolina.

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“À luz do que temos hoje de cenário hídrico e em termos de paridade dos preços de importação, eu diria que não é um risco tão grande assim, algo em torno de 30%”, ele explica. “De qualquer forma, fica claro que os preços administrados foram o problema de 2024, subindo cerca de 7%, contra 3,60% dos preços livres.”

Essa composição, segundo Serrano, demonstra que a inflação de 2024 responde a uma correção de preços relativos e não a uma “leniência” do BC, uma vez que a política monetária não tem efeito sobre os preços administrados. “Se olharmos para os preços livres e os núcleos, vamos chegar à conclusão de que a política monetária foi desinflacionária este ano”, explica.

Riscos

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A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Angelo, tem no cenário-base uma inflação de 4,42% este ano e calcula que a chance de o IPCA superar o teto da meta já está entre 60% e 70%. O cenário-base dela já contempla um alívio de 0,1 ponto porcentual no IPCA devido à antecipação de recursos da Eletrobras para quitar as contas Covid e de Escassez Hídrica, mas ela destaca que o efeito dessa medida é incerto.

“Nós não sabemos como o Ministério de Minas e Energia e a Aneel vão contabilizar essa medida e, se não der certo, isso terá um impacto de 0,1 ponto para cima na nossa projeção”, ela explica. “Se não chover e formos para bandeira amarela no fim deste ano, temos mais 0,1 ponto de impacto. E, nos preços livres, se o repasse do câmbio mais alto começar um pouco mais cedo, o impacto também pode ficar perto de 0,1 ponto.”

O economista da LCA Consultores Fábio Romão aumentou recentemente a projeção de inflação deste ano, de 4,20% para 4,40%, devido à desvalorização do real e à resiliência do mercado de trabalho. Incorporando esses dois fatores, ele espera que os bens industrializados terminem o ano com alta de 3,3% (revisada de 2,5% antes) e os serviços, subindo 4,6%.

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“Temos alguns fatores de pressão levando essa projeção para perto do teto: o aumento do imposto de cigarro, o mercado de trabalho apertado, e o comportamento do câmbio”, diz Romão. “Também existe a questão da bandeira: eu tenho no cenário bandeira verde, mas ela pode fechar no amarelo, com impacto de 0,08 ponto na projeção.”

BRASÍLIA - Economistas do mercado veem um “risco crescente” de que a inflação deste ano supere o teto da meta, de 4,50%, diante da mudança de patamar do dólar, da pressão nos preços administrados e do mercado de trabalho resiliente. Se esse cenário se confirmar, Roberto Campos Neto encerraria seu mandato escrevendo a terceira carta aberta para explicar o descumprimento do alvo, o maior número para um presidente do Banco Central.

Os analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast dizem, no entanto, que esse quadro não desabonaria o período de Campos Neto à frente da autoridade monetária. Este ano, os preços administrados explicam boa parte da resiliência da inflação, eles dizem. E, nos outros dois anos de descumprimento da meta (2021 e 2022) a quebra de cadeias globais de suprimentos e outras pressões decorrentes da pandemia de covid-19 levaram a um aumento expressivo no IPCA.

“Quando olhamos a trajetória da inflação durante a gestão do Roberto Campos no BC, temos de lembrar que, no meio do caminho, teve uma pandemia”, afirma o economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal. “Não só tivemos o choque imediato de inflação, com a quebra das cadeias produtivas, como também uma resposta fiscal muito grande dos governos no mundo inteiro.”

Descumprimento da meta pela terceira vez não desabonaria o período de Campos Neto à frente da autoridade monetária, segundo analistas Foto: Wilton Junior/Estadão

Leal lembra que o BC brasileiro foi um dos primeiros a começar a elevar os juros, ainda durante a pandemia, e foi elogiado pelos pares pelo seu combate tempestivo à inflação. “Eu não vejo um problema de credibilidade se o IPCA superar a meta este ano”, diz o analista, que tem no cenário uma inflação de 4,25% em 2024, mas reconhece que a chance de a taxa superar os 4,50% existe.

O economista-chefe do Banco BMG, Flávio Serrano, tem no cenário-base um IPCA de 4,20% este ano, mas afirma que o comportamento dos preços administrados pode levar a inflação a superar o teto do alvo. Os riscos, ele diz, se concentram principalmente em dois componentes: a bandeira de energia, que hoje está no nível “verde”, mas poderia subir para “amarela” no fim do ano; e um eventual reajuste dos preços de gasolina.

“À luz do que temos hoje de cenário hídrico e em termos de paridade dos preços de importação, eu diria que não é um risco tão grande assim, algo em torno de 30%”, ele explica. “De qualquer forma, fica claro que os preços administrados foram o problema de 2024, subindo cerca de 7%, contra 3,60% dos preços livres.”

Essa composição, segundo Serrano, demonstra que a inflação de 2024 responde a uma correção de preços relativos e não a uma “leniência” do BC, uma vez que a política monetária não tem efeito sobre os preços administrados. “Se olharmos para os preços livres e os núcleos, vamos chegar à conclusão de que a política monetária foi desinflacionária este ano”, explica.

Riscos

A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Angelo, tem no cenário-base uma inflação de 4,42% este ano e calcula que a chance de o IPCA superar o teto da meta já está entre 60% e 70%. O cenário-base dela já contempla um alívio de 0,1 ponto porcentual no IPCA devido à antecipação de recursos da Eletrobras para quitar as contas Covid e de Escassez Hídrica, mas ela destaca que o efeito dessa medida é incerto.

“Nós não sabemos como o Ministério de Minas e Energia e a Aneel vão contabilizar essa medida e, se não der certo, isso terá um impacto de 0,1 ponto para cima na nossa projeção”, ela explica. “Se não chover e formos para bandeira amarela no fim deste ano, temos mais 0,1 ponto de impacto. E, nos preços livres, se o repasse do câmbio mais alto começar um pouco mais cedo, o impacto também pode ficar perto de 0,1 ponto.”

O economista da LCA Consultores Fábio Romão aumentou recentemente a projeção de inflação deste ano, de 4,20% para 4,40%, devido à desvalorização do real e à resiliência do mercado de trabalho. Incorporando esses dois fatores, ele espera que os bens industrializados terminem o ano com alta de 3,3% (revisada de 2,5% antes) e os serviços, subindo 4,6%.

“Temos alguns fatores de pressão levando essa projeção para perto do teto: o aumento do imposto de cigarro, o mercado de trabalho apertado, e o comportamento do câmbio”, diz Romão. “Também existe a questão da bandeira: eu tenho no cenário bandeira verde, mas ela pode fechar no amarelo, com impacto de 0,08 ponto na projeção.”

BRASÍLIA - Economistas do mercado veem um “risco crescente” de que a inflação deste ano supere o teto da meta, de 4,50%, diante da mudança de patamar do dólar, da pressão nos preços administrados e do mercado de trabalho resiliente. Se esse cenário se confirmar, Roberto Campos Neto encerraria seu mandato escrevendo a terceira carta aberta para explicar o descumprimento do alvo, o maior número para um presidente do Banco Central.

Os analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast dizem, no entanto, que esse quadro não desabonaria o período de Campos Neto à frente da autoridade monetária. Este ano, os preços administrados explicam boa parte da resiliência da inflação, eles dizem. E, nos outros dois anos de descumprimento da meta (2021 e 2022) a quebra de cadeias globais de suprimentos e outras pressões decorrentes da pandemia de covid-19 levaram a um aumento expressivo no IPCA.

“Quando olhamos a trajetória da inflação durante a gestão do Roberto Campos no BC, temos de lembrar que, no meio do caminho, teve uma pandemia”, afirma o economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal. “Não só tivemos o choque imediato de inflação, com a quebra das cadeias produtivas, como também uma resposta fiscal muito grande dos governos no mundo inteiro.”

Descumprimento da meta pela terceira vez não desabonaria o período de Campos Neto à frente da autoridade monetária, segundo analistas Foto: Wilton Junior/Estadão

Leal lembra que o BC brasileiro foi um dos primeiros a começar a elevar os juros, ainda durante a pandemia, e foi elogiado pelos pares pelo seu combate tempestivo à inflação. “Eu não vejo um problema de credibilidade se o IPCA superar a meta este ano”, diz o analista, que tem no cenário uma inflação de 4,25% em 2024, mas reconhece que a chance de a taxa superar os 4,50% existe.

O economista-chefe do Banco BMG, Flávio Serrano, tem no cenário-base um IPCA de 4,20% este ano, mas afirma que o comportamento dos preços administrados pode levar a inflação a superar o teto do alvo. Os riscos, ele diz, se concentram principalmente em dois componentes: a bandeira de energia, que hoje está no nível “verde”, mas poderia subir para “amarela” no fim do ano; e um eventual reajuste dos preços de gasolina.

“À luz do que temos hoje de cenário hídrico e em termos de paridade dos preços de importação, eu diria que não é um risco tão grande assim, algo em torno de 30%”, ele explica. “De qualquer forma, fica claro que os preços administrados foram o problema de 2024, subindo cerca de 7%, contra 3,60% dos preços livres.”

Essa composição, segundo Serrano, demonstra que a inflação de 2024 responde a uma correção de preços relativos e não a uma “leniência” do BC, uma vez que a política monetária não tem efeito sobre os preços administrados. “Se olharmos para os preços livres e os núcleos, vamos chegar à conclusão de que a política monetária foi desinflacionária este ano”, explica.

Riscos

A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Angelo, tem no cenário-base uma inflação de 4,42% este ano e calcula que a chance de o IPCA superar o teto da meta já está entre 60% e 70%. O cenário-base dela já contempla um alívio de 0,1 ponto porcentual no IPCA devido à antecipação de recursos da Eletrobras para quitar as contas Covid e de Escassez Hídrica, mas ela destaca que o efeito dessa medida é incerto.

“Nós não sabemos como o Ministério de Minas e Energia e a Aneel vão contabilizar essa medida e, se não der certo, isso terá um impacto de 0,1 ponto para cima na nossa projeção”, ela explica. “Se não chover e formos para bandeira amarela no fim deste ano, temos mais 0,1 ponto de impacto. E, nos preços livres, se o repasse do câmbio mais alto começar um pouco mais cedo, o impacto também pode ficar perto de 0,1 ponto.”

O economista da LCA Consultores Fábio Romão aumentou recentemente a projeção de inflação deste ano, de 4,20% para 4,40%, devido à desvalorização do real e à resiliência do mercado de trabalho. Incorporando esses dois fatores, ele espera que os bens industrializados terminem o ano com alta de 3,3% (revisada de 2,5% antes) e os serviços, subindo 4,6%.

“Temos alguns fatores de pressão levando essa projeção para perto do teto: o aumento do imposto de cigarro, o mercado de trabalho apertado, e o comportamento do câmbio”, diz Romão. “Também existe a questão da bandeira: eu tenho no cenário bandeira verde, mas ela pode fechar no amarelo, com impacto de 0,08 ponto na projeção.”

BRASÍLIA - Economistas do mercado veem um “risco crescente” de que a inflação deste ano supere o teto da meta, de 4,50%, diante da mudança de patamar do dólar, da pressão nos preços administrados e do mercado de trabalho resiliente. Se esse cenário se confirmar, Roberto Campos Neto encerraria seu mandato escrevendo a terceira carta aberta para explicar o descumprimento do alvo, o maior número para um presidente do Banco Central.

Os analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast dizem, no entanto, que esse quadro não desabonaria o período de Campos Neto à frente da autoridade monetária. Este ano, os preços administrados explicam boa parte da resiliência da inflação, eles dizem. E, nos outros dois anos de descumprimento da meta (2021 e 2022) a quebra de cadeias globais de suprimentos e outras pressões decorrentes da pandemia de covid-19 levaram a um aumento expressivo no IPCA.

“Quando olhamos a trajetória da inflação durante a gestão do Roberto Campos no BC, temos de lembrar que, no meio do caminho, teve uma pandemia”, afirma o economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal. “Não só tivemos o choque imediato de inflação, com a quebra das cadeias produtivas, como também uma resposta fiscal muito grande dos governos no mundo inteiro.”

Descumprimento da meta pela terceira vez não desabonaria o período de Campos Neto à frente da autoridade monetária, segundo analistas Foto: Wilton Junior/Estadão

Leal lembra que o BC brasileiro foi um dos primeiros a começar a elevar os juros, ainda durante a pandemia, e foi elogiado pelos pares pelo seu combate tempestivo à inflação. “Eu não vejo um problema de credibilidade se o IPCA superar a meta este ano”, diz o analista, que tem no cenário uma inflação de 4,25% em 2024, mas reconhece que a chance de a taxa superar os 4,50% existe.

O economista-chefe do Banco BMG, Flávio Serrano, tem no cenário-base um IPCA de 4,20% este ano, mas afirma que o comportamento dos preços administrados pode levar a inflação a superar o teto do alvo. Os riscos, ele diz, se concentram principalmente em dois componentes: a bandeira de energia, que hoje está no nível “verde”, mas poderia subir para “amarela” no fim do ano; e um eventual reajuste dos preços de gasolina.

“À luz do que temos hoje de cenário hídrico e em termos de paridade dos preços de importação, eu diria que não é um risco tão grande assim, algo em torno de 30%”, ele explica. “De qualquer forma, fica claro que os preços administrados foram o problema de 2024, subindo cerca de 7%, contra 3,60% dos preços livres.”

Essa composição, segundo Serrano, demonstra que a inflação de 2024 responde a uma correção de preços relativos e não a uma “leniência” do BC, uma vez que a política monetária não tem efeito sobre os preços administrados. “Se olharmos para os preços livres e os núcleos, vamos chegar à conclusão de que a política monetária foi desinflacionária este ano”, explica.

Riscos

A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Angelo, tem no cenário-base uma inflação de 4,42% este ano e calcula que a chance de o IPCA superar o teto da meta já está entre 60% e 70%. O cenário-base dela já contempla um alívio de 0,1 ponto porcentual no IPCA devido à antecipação de recursos da Eletrobras para quitar as contas Covid e de Escassez Hídrica, mas ela destaca que o efeito dessa medida é incerto.

“Nós não sabemos como o Ministério de Minas e Energia e a Aneel vão contabilizar essa medida e, se não der certo, isso terá um impacto de 0,1 ponto para cima na nossa projeção”, ela explica. “Se não chover e formos para bandeira amarela no fim deste ano, temos mais 0,1 ponto de impacto. E, nos preços livres, se o repasse do câmbio mais alto começar um pouco mais cedo, o impacto também pode ficar perto de 0,1 ponto.”

O economista da LCA Consultores Fábio Romão aumentou recentemente a projeção de inflação deste ano, de 4,20% para 4,40%, devido à desvalorização do real e à resiliência do mercado de trabalho. Incorporando esses dois fatores, ele espera que os bens industrializados terminem o ano com alta de 3,3% (revisada de 2,5% antes) e os serviços, subindo 4,6%.

“Temos alguns fatores de pressão levando essa projeção para perto do teto: o aumento do imposto de cigarro, o mercado de trabalho apertado, e o comportamento do câmbio”, diz Romão. “Também existe a questão da bandeira: eu tenho no cenário bandeira verde, mas ela pode fechar no amarelo, com impacto de 0,08 ponto na projeção.”

BRASÍLIA - Economistas do mercado veem um “risco crescente” de que a inflação deste ano supere o teto da meta, de 4,50%, diante da mudança de patamar do dólar, da pressão nos preços administrados e do mercado de trabalho resiliente. Se esse cenário se confirmar, Roberto Campos Neto encerraria seu mandato escrevendo a terceira carta aberta para explicar o descumprimento do alvo, o maior número para um presidente do Banco Central.

Os analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast dizem, no entanto, que esse quadro não desabonaria o período de Campos Neto à frente da autoridade monetária. Este ano, os preços administrados explicam boa parte da resiliência da inflação, eles dizem. E, nos outros dois anos de descumprimento da meta (2021 e 2022) a quebra de cadeias globais de suprimentos e outras pressões decorrentes da pandemia de covid-19 levaram a um aumento expressivo no IPCA.

“Quando olhamos a trajetória da inflação durante a gestão do Roberto Campos no BC, temos de lembrar que, no meio do caminho, teve uma pandemia”, afirma o economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal. “Não só tivemos o choque imediato de inflação, com a quebra das cadeias produtivas, como também uma resposta fiscal muito grande dos governos no mundo inteiro.”

Descumprimento da meta pela terceira vez não desabonaria o período de Campos Neto à frente da autoridade monetária, segundo analistas Foto: Wilton Junior/Estadão

Leal lembra que o BC brasileiro foi um dos primeiros a começar a elevar os juros, ainda durante a pandemia, e foi elogiado pelos pares pelo seu combate tempestivo à inflação. “Eu não vejo um problema de credibilidade se o IPCA superar a meta este ano”, diz o analista, que tem no cenário uma inflação de 4,25% em 2024, mas reconhece que a chance de a taxa superar os 4,50% existe.

O economista-chefe do Banco BMG, Flávio Serrano, tem no cenário-base um IPCA de 4,20% este ano, mas afirma que o comportamento dos preços administrados pode levar a inflação a superar o teto do alvo. Os riscos, ele diz, se concentram principalmente em dois componentes: a bandeira de energia, que hoje está no nível “verde”, mas poderia subir para “amarela” no fim do ano; e um eventual reajuste dos preços de gasolina.

“À luz do que temos hoje de cenário hídrico e em termos de paridade dos preços de importação, eu diria que não é um risco tão grande assim, algo em torno de 30%”, ele explica. “De qualquer forma, fica claro que os preços administrados foram o problema de 2024, subindo cerca de 7%, contra 3,60% dos preços livres.”

Essa composição, segundo Serrano, demonstra que a inflação de 2024 responde a uma correção de preços relativos e não a uma “leniência” do BC, uma vez que a política monetária não tem efeito sobre os preços administrados. “Se olharmos para os preços livres e os núcleos, vamos chegar à conclusão de que a política monetária foi desinflacionária este ano”, explica.

Riscos

A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Angelo, tem no cenário-base uma inflação de 4,42% este ano e calcula que a chance de o IPCA superar o teto da meta já está entre 60% e 70%. O cenário-base dela já contempla um alívio de 0,1 ponto porcentual no IPCA devido à antecipação de recursos da Eletrobras para quitar as contas Covid e de Escassez Hídrica, mas ela destaca que o efeito dessa medida é incerto.

“Nós não sabemos como o Ministério de Minas e Energia e a Aneel vão contabilizar essa medida e, se não der certo, isso terá um impacto de 0,1 ponto para cima na nossa projeção”, ela explica. “Se não chover e formos para bandeira amarela no fim deste ano, temos mais 0,1 ponto de impacto. E, nos preços livres, se o repasse do câmbio mais alto começar um pouco mais cedo, o impacto também pode ficar perto de 0,1 ponto.”

O economista da LCA Consultores Fábio Romão aumentou recentemente a projeção de inflação deste ano, de 4,20% para 4,40%, devido à desvalorização do real e à resiliência do mercado de trabalho. Incorporando esses dois fatores, ele espera que os bens industrializados terminem o ano com alta de 3,3% (revisada de 2,5% antes) e os serviços, subindo 4,6%.

“Temos alguns fatores de pressão levando essa projeção para perto do teto: o aumento do imposto de cigarro, o mercado de trabalho apertado, e o comportamento do câmbio”, diz Romão. “Também existe a questão da bandeira: eu tenho no cenário bandeira verde, mas ela pode fechar no amarelo, com impacto de 0,08 ponto na projeção.”

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