El Niño: Qual vai ser o impacto para a safra brasileira e para a economia


Fenômeno climático deve levar seca para as regiões Norte e Nordeste e prejudicar a produção de milho, mostra estudo do Itaú

Por Luiz Guilherme Gerbelli

O El Niño deve afetar a produção agrícola do Norte e Nordeste, mostra um estudo produzido pelo banco Itaú. Marcado pelo aquecimento das águas do Pacífico, o fenômeno leva a seca para essas duas regiões do País e aumenta o volume de chuvas no Sul.

Desde meados dos anos 1990, foram registrados sete eventos de El Niño com impactos na produção de grãos. O atual é o oitavo. Ele começou em junho deste ano e deve se estender até março de 2024. Historicamente, mostra o estudo do banco, as safras de milho sofrem mais do que as de soja.

E, agora, não deve ser diferente. No ano que vem, o Itaú estima uma queda de 2,3% na produção de milho e uma alta de 3% na de soja.

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A expectativa é que os meses de outubro e novembro sejam menos chuvosos na parte Norte do País, prejudicando o período considerado ótimo para a plantação da safrinha milho. No Sul, deve ocorrer o contrário. Espera-se um aumento das chuvas na melhor janela para a soja.

“Deve ser um El Niño forte, mas deve ser menos intenso (do que outros). Por isso, a gente considera um impacto até limitado em termos de PIB agropecuário para 2024″, afirma Natália Cotarelli, economista do banco e uma das coautoras do estudo. O levantamento também teve a participação das economistas Julia Passabom e Luciana Rabelo Ribeiro.

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Produção de soja deve crescer 3% em 2024, projeta Itaú Foto: Tiago Queiroz / ESTADÃO CONTEÚDO

Nas projeções do Itaú, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio deve registrar uma desaceleração importante. Em 2024, o crescimento do setor deve ser de 2,5%, abaixo dos 12,3% projetados para este ano. “Vindo de um crescimento de 12%, o desempenho de 2024 ainda pode ser considerado bom”, afirma Natália.

Em 2023, turbinado pela supersafra de grãos, o setor agropecuário deve ser um dos destaques da economia brasileira. A previsão do banco para o PIB deste ano é de 2,3%. O agro deve contribuir de forma direta com 0,80 ponto percentual. No primeiro trimestre, cresceu 21,6%.

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Nem sempre os fenômenos climáticos têm a mesma intensidade para alterar a produção agrícola. No El Niño atual, a temperatura média deve subir 0,7 grau, alcançando um pico de 1,5 grau. Em 2018 e 2019, na última vez em que foi registrado, o pico do aquecimento chegou a 0,9 grau.

O cenário foi bem mais adverso no biênio 2015 e 2016. A média das temperaturas subiu 1,5 grau, e o aumento máximo chegou a 2,6 graus. Naqueles dois anos, a produção de soja recuou 1,4%, e a de milho caiu 21,2%.

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“Em princípio, será um El Niño de moderado a forte. Ele não chega perto do evento de 2015 e 2016, que teve uma intensidade mais forte do que está sendo projetado para o atual”, diz Julia.

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Otavio Canesin, ainda não há uma grande preocupação com o El Niño. “Não é um fator decisivo”, diz. Ele afirma que uma eventual queda na produção pode ter mais a ver com um rearranjo influenciado pela expectativa de margem menor - o custo de produção subiu e o preço de venda está com uma perspectiva de queda.

“O milho é uma cultura de maior risco. É mais delicada e sensível do que a soja e tem um grau de investimento maior”, afirma Canesin.

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Inflação

A alteração no regime de chuvas também deve provocar um efeito na inflação ainda que mínimo. O estudo do Itaú estima que o El Niño deve ter um impacto de 0,10 ponto porcentual no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano.

“O efeito deve vir via preços de alimentos de hortifruti. A maior parte desses alimentos é produzida no Sul e Sudeste do País, nas regiões em que o El Niño aumenta a chuva”, diz Luciana.

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Em 2015, quando o fenômeno climático foi bem mais severo, o efeito na inflação foi de 0,50 ponto percentual.

Enquanto a provável diminuição das chuvas na região Centro-Oeste pode afetar as culturas de soja e milho, o aumento das precipitações no Sudeste e Sul tende a interferir nas plantações de café, laranja e cana-de-açúcar. Mas o economista da FGV Agro, Felippe Serigathi, afirma que a situação pode ser contornada.

“Se em setembro, tiver alguma chuva e o pessoal conseguir plantar, se o solo já tiver um pouco mais de umidade, mesmo com o El Niño mais forte, a planta consegue se desenvolver”, explica ele. “Se no final do ano a gente volta a ter um volume de chuvas mais razoável, justamente na fase de floração e enchimento de grão, dá para contornar e ter uma safra razoável apesar do El Niño.”

Segundo ele, o IBGE aposta numa safra de 307 milhões de graos, abaixo dos 315 milhões de 2022/2023. “Mas esses números só vão se comprovar lá na frente. A gente ainda não plantou a primeira semente.” A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê uma safra de 317 milhões de grãos, o que representaria um novo recorde.

Impactos no mundo

Nos demais países, os Estados Unidos deve se beneficiar de mais chuvas na região produtora de grãos, o que tende ser bom para a safra de milho e soja. Por outro lado, deve haver um impacto negativo nas produções de parte da Ásia e Colômbia.

“E aí, o impacto é importante para duas culturas: Colômbia por causa do café, e Ásia para parte do açúcar”, afirma Julia.

A safra brasileira de 2023/2024 lidará com a influência direta do El Niño, fenômeno meteorológico responsável por elevar as temperaturas das águas do Oceano Pacífico na altura da linha do Equador e alterar o regime de chuvas nas regiões do País. / COLABOROU ANA CAROLINA MONTORO

O El Niño deve afetar a produção agrícola do Norte e Nordeste, mostra um estudo produzido pelo banco Itaú. Marcado pelo aquecimento das águas do Pacífico, o fenômeno leva a seca para essas duas regiões do País e aumenta o volume de chuvas no Sul.

Desde meados dos anos 1990, foram registrados sete eventos de El Niño com impactos na produção de grãos. O atual é o oitavo. Ele começou em junho deste ano e deve se estender até março de 2024. Historicamente, mostra o estudo do banco, as safras de milho sofrem mais do que as de soja.

E, agora, não deve ser diferente. No ano que vem, o Itaú estima uma queda de 2,3% na produção de milho e uma alta de 3% na de soja.

A expectativa é que os meses de outubro e novembro sejam menos chuvosos na parte Norte do País, prejudicando o período considerado ótimo para a plantação da safrinha milho. No Sul, deve ocorrer o contrário. Espera-se um aumento das chuvas na melhor janela para a soja.

“Deve ser um El Niño forte, mas deve ser menos intenso (do que outros). Por isso, a gente considera um impacto até limitado em termos de PIB agropecuário para 2024″, afirma Natália Cotarelli, economista do banco e uma das coautoras do estudo. O levantamento também teve a participação das economistas Julia Passabom e Luciana Rabelo Ribeiro.

Produção de soja deve crescer 3% em 2024, projeta Itaú Foto: Tiago Queiroz / ESTADÃO CONTEÚDO

Nas projeções do Itaú, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio deve registrar uma desaceleração importante. Em 2024, o crescimento do setor deve ser de 2,5%, abaixo dos 12,3% projetados para este ano. “Vindo de um crescimento de 12%, o desempenho de 2024 ainda pode ser considerado bom”, afirma Natália.

Em 2023, turbinado pela supersafra de grãos, o setor agropecuário deve ser um dos destaques da economia brasileira. A previsão do banco para o PIB deste ano é de 2,3%. O agro deve contribuir de forma direta com 0,80 ponto percentual. No primeiro trimestre, cresceu 21,6%.

Nem sempre os fenômenos climáticos têm a mesma intensidade para alterar a produção agrícola. No El Niño atual, a temperatura média deve subir 0,7 grau, alcançando um pico de 1,5 grau. Em 2018 e 2019, na última vez em que foi registrado, o pico do aquecimento chegou a 0,9 grau.

O cenário foi bem mais adverso no biênio 2015 e 2016. A média das temperaturas subiu 1,5 grau, e o aumento máximo chegou a 2,6 graus. Naqueles dois anos, a produção de soja recuou 1,4%, e a de milho caiu 21,2%.

“Em princípio, será um El Niño de moderado a forte. Ele não chega perto do evento de 2015 e 2016, que teve uma intensidade mais forte do que está sendo projetado para o atual”, diz Julia.

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Otavio Canesin, ainda não há uma grande preocupação com o El Niño. “Não é um fator decisivo”, diz. Ele afirma que uma eventual queda na produção pode ter mais a ver com um rearranjo influenciado pela expectativa de margem menor - o custo de produção subiu e o preço de venda está com uma perspectiva de queda.

“O milho é uma cultura de maior risco. É mais delicada e sensível do que a soja e tem um grau de investimento maior”, afirma Canesin.

Inflação

A alteração no regime de chuvas também deve provocar um efeito na inflação ainda que mínimo. O estudo do Itaú estima que o El Niño deve ter um impacto de 0,10 ponto porcentual no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano.

“O efeito deve vir via preços de alimentos de hortifruti. A maior parte desses alimentos é produzida no Sul e Sudeste do País, nas regiões em que o El Niño aumenta a chuva”, diz Luciana.

Em 2015, quando o fenômeno climático foi bem mais severo, o efeito na inflação foi de 0,50 ponto percentual.

Enquanto a provável diminuição das chuvas na região Centro-Oeste pode afetar as culturas de soja e milho, o aumento das precipitações no Sudeste e Sul tende a interferir nas plantações de café, laranja e cana-de-açúcar. Mas o economista da FGV Agro, Felippe Serigathi, afirma que a situação pode ser contornada.

“Se em setembro, tiver alguma chuva e o pessoal conseguir plantar, se o solo já tiver um pouco mais de umidade, mesmo com o El Niño mais forte, a planta consegue se desenvolver”, explica ele. “Se no final do ano a gente volta a ter um volume de chuvas mais razoável, justamente na fase de floração e enchimento de grão, dá para contornar e ter uma safra razoável apesar do El Niño.”

Segundo ele, o IBGE aposta numa safra de 307 milhões de graos, abaixo dos 315 milhões de 2022/2023. “Mas esses números só vão se comprovar lá na frente. A gente ainda não plantou a primeira semente.” A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê uma safra de 317 milhões de grãos, o que representaria um novo recorde.

Impactos no mundo

Nos demais países, os Estados Unidos deve se beneficiar de mais chuvas na região produtora de grãos, o que tende ser bom para a safra de milho e soja. Por outro lado, deve haver um impacto negativo nas produções de parte da Ásia e Colômbia.

“E aí, o impacto é importante para duas culturas: Colômbia por causa do café, e Ásia para parte do açúcar”, afirma Julia.

A safra brasileira de 2023/2024 lidará com a influência direta do El Niño, fenômeno meteorológico responsável por elevar as temperaturas das águas do Oceano Pacífico na altura da linha do Equador e alterar o regime de chuvas nas regiões do País. / COLABOROU ANA CAROLINA MONTORO

O El Niño deve afetar a produção agrícola do Norte e Nordeste, mostra um estudo produzido pelo banco Itaú. Marcado pelo aquecimento das águas do Pacífico, o fenômeno leva a seca para essas duas regiões do País e aumenta o volume de chuvas no Sul.

Desde meados dos anos 1990, foram registrados sete eventos de El Niño com impactos na produção de grãos. O atual é o oitavo. Ele começou em junho deste ano e deve se estender até março de 2024. Historicamente, mostra o estudo do banco, as safras de milho sofrem mais do que as de soja.

E, agora, não deve ser diferente. No ano que vem, o Itaú estima uma queda de 2,3% na produção de milho e uma alta de 3% na de soja.

A expectativa é que os meses de outubro e novembro sejam menos chuvosos na parte Norte do País, prejudicando o período considerado ótimo para a plantação da safrinha milho. No Sul, deve ocorrer o contrário. Espera-se um aumento das chuvas na melhor janela para a soja.

“Deve ser um El Niño forte, mas deve ser menos intenso (do que outros). Por isso, a gente considera um impacto até limitado em termos de PIB agropecuário para 2024″, afirma Natália Cotarelli, economista do banco e uma das coautoras do estudo. O levantamento também teve a participação das economistas Julia Passabom e Luciana Rabelo Ribeiro.

Produção de soja deve crescer 3% em 2024, projeta Itaú Foto: Tiago Queiroz / ESTADÃO CONTEÚDO

Nas projeções do Itaú, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio deve registrar uma desaceleração importante. Em 2024, o crescimento do setor deve ser de 2,5%, abaixo dos 12,3% projetados para este ano. “Vindo de um crescimento de 12%, o desempenho de 2024 ainda pode ser considerado bom”, afirma Natália.

Em 2023, turbinado pela supersafra de grãos, o setor agropecuário deve ser um dos destaques da economia brasileira. A previsão do banco para o PIB deste ano é de 2,3%. O agro deve contribuir de forma direta com 0,80 ponto percentual. No primeiro trimestre, cresceu 21,6%.

Nem sempre os fenômenos climáticos têm a mesma intensidade para alterar a produção agrícola. No El Niño atual, a temperatura média deve subir 0,7 grau, alcançando um pico de 1,5 grau. Em 2018 e 2019, na última vez em que foi registrado, o pico do aquecimento chegou a 0,9 grau.

O cenário foi bem mais adverso no biênio 2015 e 2016. A média das temperaturas subiu 1,5 grau, e o aumento máximo chegou a 2,6 graus. Naqueles dois anos, a produção de soja recuou 1,4%, e a de milho caiu 21,2%.

“Em princípio, será um El Niño de moderado a forte. Ele não chega perto do evento de 2015 e 2016, que teve uma intensidade mais forte do que está sendo projetado para o atual”, diz Julia.

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Otavio Canesin, ainda não há uma grande preocupação com o El Niño. “Não é um fator decisivo”, diz. Ele afirma que uma eventual queda na produção pode ter mais a ver com um rearranjo influenciado pela expectativa de margem menor - o custo de produção subiu e o preço de venda está com uma perspectiva de queda.

“O milho é uma cultura de maior risco. É mais delicada e sensível do que a soja e tem um grau de investimento maior”, afirma Canesin.

Inflação

A alteração no regime de chuvas também deve provocar um efeito na inflação ainda que mínimo. O estudo do Itaú estima que o El Niño deve ter um impacto de 0,10 ponto porcentual no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano.

“O efeito deve vir via preços de alimentos de hortifruti. A maior parte desses alimentos é produzida no Sul e Sudeste do País, nas regiões em que o El Niño aumenta a chuva”, diz Luciana.

Em 2015, quando o fenômeno climático foi bem mais severo, o efeito na inflação foi de 0,50 ponto percentual.

Enquanto a provável diminuição das chuvas na região Centro-Oeste pode afetar as culturas de soja e milho, o aumento das precipitações no Sudeste e Sul tende a interferir nas plantações de café, laranja e cana-de-açúcar. Mas o economista da FGV Agro, Felippe Serigathi, afirma que a situação pode ser contornada.

“Se em setembro, tiver alguma chuva e o pessoal conseguir plantar, se o solo já tiver um pouco mais de umidade, mesmo com o El Niño mais forte, a planta consegue se desenvolver”, explica ele. “Se no final do ano a gente volta a ter um volume de chuvas mais razoável, justamente na fase de floração e enchimento de grão, dá para contornar e ter uma safra razoável apesar do El Niño.”

Segundo ele, o IBGE aposta numa safra de 307 milhões de graos, abaixo dos 315 milhões de 2022/2023. “Mas esses números só vão se comprovar lá na frente. A gente ainda não plantou a primeira semente.” A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê uma safra de 317 milhões de grãos, o que representaria um novo recorde.

Impactos no mundo

Nos demais países, os Estados Unidos deve se beneficiar de mais chuvas na região produtora de grãos, o que tende ser bom para a safra de milho e soja. Por outro lado, deve haver um impacto negativo nas produções de parte da Ásia e Colômbia.

“E aí, o impacto é importante para duas culturas: Colômbia por causa do café, e Ásia para parte do açúcar”, afirma Julia.

A safra brasileira de 2023/2024 lidará com a influência direta do El Niño, fenômeno meteorológico responsável por elevar as temperaturas das águas do Oceano Pacífico na altura da linha do Equador e alterar o regime de chuvas nas regiões do País. / COLABOROU ANA CAROLINA MONTORO

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