Eleição de Trump abre janelas para a indústria do Brasil, diz diretor da CNI


‘O País precisa estabelecer uma integração pragmática com os interesses da China, mantendo o foco nos interesses nacionais’, afirma Lucchesi

Por Eduardo Geraque
Atualização:
Foto: Werther Santana/Estadão
Entrevista comRafael LucchesiDiretor de Desenvolvimento Industrial da CNI

Ser pragmático antes de tudo e, assim como se propaga lá fora, pensar nos seus interesses primeiro para que as janelas de oportunidade, apesar dos desafios internacionais que se impõem com o resultado da eleição americana, não sejam desperdiçadas. Essa é a receita que o Brasil precisa abraçar, segundo Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (Sesi). A seguir trechos da entrevista com o dirigente, um dos palestrantes durante a abertura do Fórum Estadão Think — Do Brasil para o mundo: Desafios para a nossa inserção global.

Na sua fala, o sr. pareceu otimista. A eleição do presidente Trump pode ser positiva, no sentido de abrir janelas de oportunidades para o Brasil?

A eleição de Donald Trump pode trazer mudanças significativas na agenda global, já que ele anunciou uma desaceleração no compromisso da principal economia do mundo com a transição verde. Como integrante da sociedade global, vejo isso como um ponto negativo. No entanto, isso também poderá abrir oportunidades para o Brasil, especialmente devido ao aumento do protecionismo e ao desacoplamento entre Estados Unidos e China. Tarifas de 10% serão aplicadas ao mundo, enquanto para a China serão de 60%. Esses movimentos já estavam ocorrendo em setores como o automotivo e o aço, mas seu impacto será reforçado, trazendo maiores oportunidades para o Brasil desenvolver uma política industrial ativa que avance na transição verde. Por meio dessas oportunidades, o Brasil poderá se inserir em cadeias globais de valor antes abastecidas por produtos chineses, da mesma forma que México e outros países. Além disso, o aumento dos custos da matriz energética europeia abre outras possibilidades que o Brasil deve observar com atenção. Assim, o País precisa estabelecer uma integração pragmática com os interesses da China, mantendo o foco nos interesses nacionais, especialmente diante da postura americana de “American First”. Com isso, o Brasil deve seguir uma agenda pragmática que amplie o desenvolvimento econômico sustentável. O Brasil tem de pensar no Brasil primeiro.

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'O Brasil tem o potencial de se tornar uma potência na agenda de energia verde, com um papel semelhante ao que a Arábia Saudita desempenhou na era dos combustíveis fósseis, mas não apenas como exportador de commodities', diz Lucchesi Foto: Werther Santana/Estadão

Mas, quando o tema recai sobre a questão ambiental, o Brasil tem bons argumentos para colocar sobre a mesa de negociação internacional?

O Brasil pode se destacar em temas como transição energética, transformação ecológica e descarbonização produtiva, atraindo investimentos e aproveitando uma matriz energética limpa e uma estrutura industrial sofisticada. O Brasil tem o potencial de se tornar uma potência na agenda de energia verde, com um papel semelhante ao que a Arábia Saudita desempenhou na era dos combustíveis fósseis, mas não apenas como exportador de commodities. Podemos desenvolver uma agenda mais sofisticada de atração de investimentos estrangeiros, seguindo o exemplo da China e expandindo nossa plataforma de manufatura. Nosso mercado, ciência, engenharia e indústria avançada nos posicionam para fazer como a China, promovendo o outsourcing de pesquisa e desenvolvimento para co-desenvolver pacotes tecnológicos da nova indústria verde, como aço e cimento verdes, química verde, e a indústria sustentável em geral. Um exemplo é a mobilidade verde híbrida automotiva, que combina biomassa e motor elétrico, uma alternativa mais eficiente e sustentável que a eletrificação total, como é pensada na Europa, especialmente para um país de dimensões continentais como o Brasil. O modelo híbrido é três vezes mais eficiente e mais, você já tem uma infraestrutura criada, você não vai ter de precisar eletrificar, porque o Brasil não é a Dinamarca, nós somos um país um pouquinho maior do que a Dinamarca, nós somos um país maior do que a Europa, então, é claro que, para os países emergentes, para toda a América Latina, para toda a África e grande parte da Ásia, e grande parte do planeta, um pacote tecnológico desse é muito mais eficiente, não só do ponto de vista ecológico, mas também do ponto de vista de infraestrutura, porque você já tem toda a rede de abastecimento pronta, ela já está dada. É essa agenda que nós temos que pensar para o futuro do Brasil.

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As políticas públicas recém-criadas já são suficientes para fomentar todos esses caminhos que o sr. aponta?

A política atual é importante, está bem-feita, mas a gente pode ser mais ambicioso. Ela está no início, é normal que aconteça assim. Para viabilizar essa agenda, o Brasil precisa de uma política industrial ativa, semelhante à que impulsionou o desenvolvimento do setor agrícola com o Plano Safra, criado em 2003. Iniciativas como a criação das LCAs, letras de crédito agrícola – e agora, no caso da indústria, temos as LCDs (Letras de Crédito do Desenvolvimento) – mostram o caminho para esse desenvolvimento e reforçam a escolha bem-sucedida do Brasil pelo setor agropecuário. O Plano Safra não começou pequeno e foi se desenvolvendo. É um processo que buscou ser transformacional, uma construção de futuro. O Brasil foi bem-sucedido na sua escolha do futuro, se colocar competitivamente no agro. Agora, nós temos de, à luz da história deste País, da nossa sofisticação, da nossa complexidade, das nossas possibilidades, do tamanho do nosso mercado, ter a pretensão também de ter uma base industrial moderna. Isso é essencial para gerar emprego, renda e promover um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico sustentável.

Ser pragmático antes de tudo e, assim como se propaga lá fora, pensar nos seus interesses primeiro para que as janelas de oportunidade, apesar dos desafios internacionais que se impõem com o resultado da eleição americana, não sejam desperdiçadas. Essa é a receita que o Brasil precisa abraçar, segundo Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (Sesi). A seguir trechos da entrevista com o dirigente, um dos palestrantes durante a abertura do Fórum Estadão Think — Do Brasil para o mundo: Desafios para a nossa inserção global.

Na sua fala, o sr. pareceu otimista. A eleição do presidente Trump pode ser positiva, no sentido de abrir janelas de oportunidades para o Brasil?

A eleição de Donald Trump pode trazer mudanças significativas na agenda global, já que ele anunciou uma desaceleração no compromisso da principal economia do mundo com a transição verde. Como integrante da sociedade global, vejo isso como um ponto negativo. No entanto, isso também poderá abrir oportunidades para o Brasil, especialmente devido ao aumento do protecionismo e ao desacoplamento entre Estados Unidos e China. Tarifas de 10% serão aplicadas ao mundo, enquanto para a China serão de 60%. Esses movimentos já estavam ocorrendo em setores como o automotivo e o aço, mas seu impacto será reforçado, trazendo maiores oportunidades para o Brasil desenvolver uma política industrial ativa que avance na transição verde. Por meio dessas oportunidades, o Brasil poderá se inserir em cadeias globais de valor antes abastecidas por produtos chineses, da mesma forma que México e outros países. Além disso, o aumento dos custos da matriz energética europeia abre outras possibilidades que o Brasil deve observar com atenção. Assim, o País precisa estabelecer uma integração pragmática com os interesses da China, mantendo o foco nos interesses nacionais, especialmente diante da postura americana de “American First”. Com isso, o Brasil deve seguir uma agenda pragmática que amplie o desenvolvimento econômico sustentável. O Brasil tem de pensar no Brasil primeiro.

'O Brasil tem o potencial de se tornar uma potência na agenda de energia verde, com um papel semelhante ao que a Arábia Saudita desempenhou na era dos combustíveis fósseis, mas não apenas como exportador de commodities', diz Lucchesi Foto: Werther Santana/Estadão

Mas, quando o tema recai sobre a questão ambiental, o Brasil tem bons argumentos para colocar sobre a mesa de negociação internacional?

O Brasil pode se destacar em temas como transição energética, transformação ecológica e descarbonização produtiva, atraindo investimentos e aproveitando uma matriz energética limpa e uma estrutura industrial sofisticada. O Brasil tem o potencial de se tornar uma potência na agenda de energia verde, com um papel semelhante ao que a Arábia Saudita desempenhou na era dos combustíveis fósseis, mas não apenas como exportador de commodities. Podemos desenvolver uma agenda mais sofisticada de atração de investimentos estrangeiros, seguindo o exemplo da China e expandindo nossa plataforma de manufatura. Nosso mercado, ciência, engenharia e indústria avançada nos posicionam para fazer como a China, promovendo o outsourcing de pesquisa e desenvolvimento para co-desenvolver pacotes tecnológicos da nova indústria verde, como aço e cimento verdes, química verde, e a indústria sustentável em geral. Um exemplo é a mobilidade verde híbrida automotiva, que combina biomassa e motor elétrico, uma alternativa mais eficiente e sustentável que a eletrificação total, como é pensada na Europa, especialmente para um país de dimensões continentais como o Brasil. O modelo híbrido é três vezes mais eficiente e mais, você já tem uma infraestrutura criada, você não vai ter de precisar eletrificar, porque o Brasil não é a Dinamarca, nós somos um país um pouquinho maior do que a Dinamarca, nós somos um país maior do que a Europa, então, é claro que, para os países emergentes, para toda a América Latina, para toda a África e grande parte da Ásia, e grande parte do planeta, um pacote tecnológico desse é muito mais eficiente, não só do ponto de vista ecológico, mas também do ponto de vista de infraestrutura, porque você já tem toda a rede de abastecimento pronta, ela já está dada. É essa agenda que nós temos que pensar para o futuro do Brasil.

As políticas públicas recém-criadas já são suficientes para fomentar todos esses caminhos que o sr. aponta?

A política atual é importante, está bem-feita, mas a gente pode ser mais ambicioso. Ela está no início, é normal que aconteça assim. Para viabilizar essa agenda, o Brasil precisa de uma política industrial ativa, semelhante à que impulsionou o desenvolvimento do setor agrícola com o Plano Safra, criado em 2003. Iniciativas como a criação das LCAs, letras de crédito agrícola – e agora, no caso da indústria, temos as LCDs (Letras de Crédito do Desenvolvimento) – mostram o caminho para esse desenvolvimento e reforçam a escolha bem-sucedida do Brasil pelo setor agropecuário. O Plano Safra não começou pequeno e foi se desenvolvendo. É um processo que buscou ser transformacional, uma construção de futuro. O Brasil foi bem-sucedido na sua escolha do futuro, se colocar competitivamente no agro. Agora, nós temos de, à luz da história deste País, da nossa sofisticação, da nossa complexidade, das nossas possibilidades, do tamanho do nosso mercado, ter a pretensão também de ter uma base industrial moderna. Isso é essencial para gerar emprego, renda e promover um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico sustentável.

Ser pragmático antes de tudo e, assim como se propaga lá fora, pensar nos seus interesses primeiro para que as janelas de oportunidade, apesar dos desafios internacionais que se impõem com o resultado da eleição americana, não sejam desperdiçadas. Essa é a receita que o Brasil precisa abraçar, segundo Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (Sesi). A seguir trechos da entrevista com o dirigente, um dos palestrantes durante a abertura do Fórum Estadão Think — Do Brasil para o mundo: Desafios para a nossa inserção global.

Na sua fala, o sr. pareceu otimista. A eleição do presidente Trump pode ser positiva, no sentido de abrir janelas de oportunidades para o Brasil?

A eleição de Donald Trump pode trazer mudanças significativas na agenda global, já que ele anunciou uma desaceleração no compromisso da principal economia do mundo com a transição verde. Como integrante da sociedade global, vejo isso como um ponto negativo. No entanto, isso também poderá abrir oportunidades para o Brasil, especialmente devido ao aumento do protecionismo e ao desacoplamento entre Estados Unidos e China. Tarifas de 10% serão aplicadas ao mundo, enquanto para a China serão de 60%. Esses movimentos já estavam ocorrendo em setores como o automotivo e o aço, mas seu impacto será reforçado, trazendo maiores oportunidades para o Brasil desenvolver uma política industrial ativa que avance na transição verde. Por meio dessas oportunidades, o Brasil poderá se inserir em cadeias globais de valor antes abastecidas por produtos chineses, da mesma forma que México e outros países. Além disso, o aumento dos custos da matriz energética europeia abre outras possibilidades que o Brasil deve observar com atenção. Assim, o País precisa estabelecer uma integração pragmática com os interesses da China, mantendo o foco nos interesses nacionais, especialmente diante da postura americana de “American First”. Com isso, o Brasil deve seguir uma agenda pragmática que amplie o desenvolvimento econômico sustentável. O Brasil tem de pensar no Brasil primeiro.

'O Brasil tem o potencial de se tornar uma potência na agenda de energia verde, com um papel semelhante ao que a Arábia Saudita desempenhou na era dos combustíveis fósseis, mas não apenas como exportador de commodities', diz Lucchesi Foto: Werther Santana/Estadão

Mas, quando o tema recai sobre a questão ambiental, o Brasil tem bons argumentos para colocar sobre a mesa de negociação internacional?

O Brasil pode se destacar em temas como transição energética, transformação ecológica e descarbonização produtiva, atraindo investimentos e aproveitando uma matriz energética limpa e uma estrutura industrial sofisticada. O Brasil tem o potencial de se tornar uma potência na agenda de energia verde, com um papel semelhante ao que a Arábia Saudita desempenhou na era dos combustíveis fósseis, mas não apenas como exportador de commodities. Podemos desenvolver uma agenda mais sofisticada de atração de investimentos estrangeiros, seguindo o exemplo da China e expandindo nossa plataforma de manufatura. Nosso mercado, ciência, engenharia e indústria avançada nos posicionam para fazer como a China, promovendo o outsourcing de pesquisa e desenvolvimento para co-desenvolver pacotes tecnológicos da nova indústria verde, como aço e cimento verdes, química verde, e a indústria sustentável em geral. Um exemplo é a mobilidade verde híbrida automotiva, que combina biomassa e motor elétrico, uma alternativa mais eficiente e sustentável que a eletrificação total, como é pensada na Europa, especialmente para um país de dimensões continentais como o Brasil. O modelo híbrido é três vezes mais eficiente e mais, você já tem uma infraestrutura criada, você não vai ter de precisar eletrificar, porque o Brasil não é a Dinamarca, nós somos um país um pouquinho maior do que a Dinamarca, nós somos um país maior do que a Europa, então, é claro que, para os países emergentes, para toda a América Latina, para toda a África e grande parte da Ásia, e grande parte do planeta, um pacote tecnológico desse é muito mais eficiente, não só do ponto de vista ecológico, mas também do ponto de vista de infraestrutura, porque você já tem toda a rede de abastecimento pronta, ela já está dada. É essa agenda que nós temos que pensar para o futuro do Brasil.

As políticas públicas recém-criadas já são suficientes para fomentar todos esses caminhos que o sr. aponta?

A política atual é importante, está bem-feita, mas a gente pode ser mais ambicioso. Ela está no início, é normal que aconteça assim. Para viabilizar essa agenda, o Brasil precisa de uma política industrial ativa, semelhante à que impulsionou o desenvolvimento do setor agrícola com o Plano Safra, criado em 2003. Iniciativas como a criação das LCAs, letras de crédito agrícola – e agora, no caso da indústria, temos as LCDs (Letras de Crédito do Desenvolvimento) – mostram o caminho para esse desenvolvimento e reforçam a escolha bem-sucedida do Brasil pelo setor agropecuário. O Plano Safra não começou pequeno e foi se desenvolvendo. É um processo que buscou ser transformacional, uma construção de futuro. O Brasil foi bem-sucedido na sua escolha do futuro, se colocar competitivamente no agro. Agora, nós temos de, à luz da história deste País, da nossa sofisticação, da nossa complexidade, das nossas possibilidades, do tamanho do nosso mercado, ter a pretensão também de ter uma base industrial moderna. Isso é essencial para gerar emprego, renda e promover um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico sustentável.

Ser pragmático antes de tudo e, assim como se propaga lá fora, pensar nos seus interesses primeiro para que as janelas de oportunidade, apesar dos desafios internacionais que se impõem com o resultado da eleição americana, não sejam desperdiçadas. Essa é a receita que o Brasil precisa abraçar, segundo Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (Sesi). A seguir trechos da entrevista com o dirigente, um dos palestrantes durante a abertura do Fórum Estadão Think — Do Brasil para o mundo: Desafios para a nossa inserção global.

Na sua fala, o sr. pareceu otimista. A eleição do presidente Trump pode ser positiva, no sentido de abrir janelas de oportunidades para o Brasil?

A eleição de Donald Trump pode trazer mudanças significativas na agenda global, já que ele anunciou uma desaceleração no compromisso da principal economia do mundo com a transição verde. Como integrante da sociedade global, vejo isso como um ponto negativo. No entanto, isso também poderá abrir oportunidades para o Brasil, especialmente devido ao aumento do protecionismo e ao desacoplamento entre Estados Unidos e China. Tarifas de 10% serão aplicadas ao mundo, enquanto para a China serão de 60%. Esses movimentos já estavam ocorrendo em setores como o automotivo e o aço, mas seu impacto será reforçado, trazendo maiores oportunidades para o Brasil desenvolver uma política industrial ativa que avance na transição verde. Por meio dessas oportunidades, o Brasil poderá se inserir em cadeias globais de valor antes abastecidas por produtos chineses, da mesma forma que México e outros países. Além disso, o aumento dos custos da matriz energética europeia abre outras possibilidades que o Brasil deve observar com atenção. Assim, o País precisa estabelecer uma integração pragmática com os interesses da China, mantendo o foco nos interesses nacionais, especialmente diante da postura americana de “American First”. Com isso, o Brasil deve seguir uma agenda pragmática que amplie o desenvolvimento econômico sustentável. O Brasil tem de pensar no Brasil primeiro.

'O Brasil tem o potencial de se tornar uma potência na agenda de energia verde, com um papel semelhante ao que a Arábia Saudita desempenhou na era dos combustíveis fósseis, mas não apenas como exportador de commodities', diz Lucchesi Foto: Werther Santana/Estadão

Mas, quando o tema recai sobre a questão ambiental, o Brasil tem bons argumentos para colocar sobre a mesa de negociação internacional?

O Brasil pode se destacar em temas como transição energética, transformação ecológica e descarbonização produtiva, atraindo investimentos e aproveitando uma matriz energética limpa e uma estrutura industrial sofisticada. O Brasil tem o potencial de se tornar uma potência na agenda de energia verde, com um papel semelhante ao que a Arábia Saudita desempenhou na era dos combustíveis fósseis, mas não apenas como exportador de commodities. Podemos desenvolver uma agenda mais sofisticada de atração de investimentos estrangeiros, seguindo o exemplo da China e expandindo nossa plataforma de manufatura. Nosso mercado, ciência, engenharia e indústria avançada nos posicionam para fazer como a China, promovendo o outsourcing de pesquisa e desenvolvimento para co-desenvolver pacotes tecnológicos da nova indústria verde, como aço e cimento verdes, química verde, e a indústria sustentável em geral. Um exemplo é a mobilidade verde híbrida automotiva, que combina biomassa e motor elétrico, uma alternativa mais eficiente e sustentável que a eletrificação total, como é pensada na Europa, especialmente para um país de dimensões continentais como o Brasil. O modelo híbrido é três vezes mais eficiente e mais, você já tem uma infraestrutura criada, você não vai ter de precisar eletrificar, porque o Brasil não é a Dinamarca, nós somos um país um pouquinho maior do que a Dinamarca, nós somos um país maior do que a Europa, então, é claro que, para os países emergentes, para toda a América Latina, para toda a África e grande parte da Ásia, e grande parte do planeta, um pacote tecnológico desse é muito mais eficiente, não só do ponto de vista ecológico, mas também do ponto de vista de infraestrutura, porque você já tem toda a rede de abastecimento pronta, ela já está dada. É essa agenda que nós temos que pensar para o futuro do Brasil.

As políticas públicas recém-criadas já são suficientes para fomentar todos esses caminhos que o sr. aponta?

A política atual é importante, está bem-feita, mas a gente pode ser mais ambicioso. Ela está no início, é normal que aconteça assim. Para viabilizar essa agenda, o Brasil precisa de uma política industrial ativa, semelhante à que impulsionou o desenvolvimento do setor agrícola com o Plano Safra, criado em 2003. Iniciativas como a criação das LCAs, letras de crédito agrícola – e agora, no caso da indústria, temos as LCDs (Letras de Crédito do Desenvolvimento) – mostram o caminho para esse desenvolvimento e reforçam a escolha bem-sucedida do Brasil pelo setor agropecuário. O Plano Safra não começou pequeno e foi se desenvolvendo. É um processo que buscou ser transformacional, uma construção de futuro. O Brasil foi bem-sucedido na sua escolha do futuro, se colocar competitivamente no agro. Agora, nós temos de, à luz da história deste País, da nossa sofisticação, da nossa complexidade, das nossas possibilidades, do tamanho do nosso mercado, ter a pretensão também de ter uma base industrial moderna. Isso é essencial para gerar emprego, renda e promover um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico sustentável.

Ser pragmático antes de tudo e, assim como se propaga lá fora, pensar nos seus interesses primeiro para que as janelas de oportunidade, apesar dos desafios internacionais que se impõem com o resultado da eleição americana, não sejam desperdiçadas. Essa é a receita que o Brasil precisa abraçar, segundo Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (Sesi). A seguir trechos da entrevista com o dirigente, um dos palestrantes durante a abertura do Fórum Estadão Think — Do Brasil para o mundo: Desafios para a nossa inserção global.

Na sua fala, o sr. pareceu otimista. A eleição do presidente Trump pode ser positiva, no sentido de abrir janelas de oportunidades para o Brasil?

A eleição de Donald Trump pode trazer mudanças significativas na agenda global, já que ele anunciou uma desaceleração no compromisso da principal economia do mundo com a transição verde. Como integrante da sociedade global, vejo isso como um ponto negativo. No entanto, isso também poderá abrir oportunidades para o Brasil, especialmente devido ao aumento do protecionismo e ao desacoplamento entre Estados Unidos e China. Tarifas de 10% serão aplicadas ao mundo, enquanto para a China serão de 60%. Esses movimentos já estavam ocorrendo em setores como o automotivo e o aço, mas seu impacto será reforçado, trazendo maiores oportunidades para o Brasil desenvolver uma política industrial ativa que avance na transição verde. Por meio dessas oportunidades, o Brasil poderá se inserir em cadeias globais de valor antes abastecidas por produtos chineses, da mesma forma que México e outros países. Além disso, o aumento dos custos da matriz energética europeia abre outras possibilidades que o Brasil deve observar com atenção. Assim, o País precisa estabelecer uma integração pragmática com os interesses da China, mantendo o foco nos interesses nacionais, especialmente diante da postura americana de “American First”. Com isso, o Brasil deve seguir uma agenda pragmática que amplie o desenvolvimento econômico sustentável. O Brasil tem de pensar no Brasil primeiro.

'O Brasil tem o potencial de se tornar uma potência na agenda de energia verde, com um papel semelhante ao que a Arábia Saudita desempenhou na era dos combustíveis fósseis, mas não apenas como exportador de commodities', diz Lucchesi Foto: Werther Santana/Estadão

Mas, quando o tema recai sobre a questão ambiental, o Brasil tem bons argumentos para colocar sobre a mesa de negociação internacional?

O Brasil pode se destacar em temas como transição energética, transformação ecológica e descarbonização produtiva, atraindo investimentos e aproveitando uma matriz energética limpa e uma estrutura industrial sofisticada. O Brasil tem o potencial de se tornar uma potência na agenda de energia verde, com um papel semelhante ao que a Arábia Saudita desempenhou na era dos combustíveis fósseis, mas não apenas como exportador de commodities. Podemos desenvolver uma agenda mais sofisticada de atração de investimentos estrangeiros, seguindo o exemplo da China e expandindo nossa plataforma de manufatura. Nosso mercado, ciência, engenharia e indústria avançada nos posicionam para fazer como a China, promovendo o outsourcing de pesquisa e desenvolvimento para co-desenvolver pacotes tecnológicos da nova indústria verde, como aço e cimento verdes, química verde, e a indústria sustentável em geral. Um exemplo é a mobilidade verde híbrida automotiva, que combina biomassa e motor elétrico, uma alternativa mais eficiente e sustentável que a eletrificação total, como é pensada na Europa, especialmente para um país de dimensões continentais como o Brasil. O modelo híbrido é três vezes mais eficiente e mais, você já tem uma infraestrutura criada, você não vai ter de precisar eletrificar, porque o Brasil não é a Dinamarca, nós somos um país um pouquinho maior do que a Dinamarca, nós somos um país maior do que a Europa, então, é claro que, para os países emergentes, para toda a América Latina, para toda a África e grande parte da Ásia, e grande parte do planeta, um pacote tecnológico desse é muito mais eficiente, não só do ponto de vista ecológico, mas também do ponto de vista de infraestrutura, porque você já tem toda a rede de abastecimento pronta, ela já está dada. É essa agenda que nós temos que pensar para o futuro do Brasil.

As políticas públicas recém-criadas já são suficientes para fomentar todos esses caminhos que o sr. aponta?

A política atual é importante, está bem-feita, mas a gente pode ser mais ambicioso. Ela está no início, é normal que aconteça assim. Para viabilizar essa agenda, o Brasil precisa de uma política industrial ativa, semelhante à que impulsionou o desenvolvimento do setor agrícola com o Plano Safra, criado em 2003. Iniciativas como a criação das LCAs, letras de crédito agrícola – e agora, no caso da indústria, temos as LCDs (Letras de Crédito do Desenvolvimento) – mostram o caminho para esse desenvolvimento e reforçam a escolha bem-sucedida do Brasil pelo setor agropecuário. O Plano Safra não começou pequeno e foi se desenvolvendo. É um processo que buscou ser transformacional, uma construção de futuro. O Brasil foi bem-sucedido na sua escolha do futuro, se colocar competitivamente no agro. Agora, nós temos de, à luz da história deste País, da nossa sofisticação, da nossa complexidade, das nossas possibilidades, do tamanho do nosso mercado, ter a pretensão também de ter uma base industrial moderna. Isso é essencial para gerar emprego, renda e promover um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico sustentável.

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