Não vou discutir nem a história nem a geopolítica da Palestina. É momento de condenar as atrocidades cometidas pelo Hamas de forma radical e absoluta. Sem porém.
O mundo assistiu a assassinatos de civis em suas casas, o estupro em massa de mulheres. Idosos foram mortos; 260 jovens foram executados em uma festa rave. Crianças foram sequestradas e sofreram tortura mental: presenciaram o assassinato de seus pais, irmãos e irmãs. Foram trancadas em jaulas, apresentadas como troféus. É a reedição dos pogroms.
Nada disso vem em nome da defesa da causa palestina. É selvageria. Triste a imagem de jovens que foram às ruas com bandeiras da Palestina apoiando o terrorismo.
Não sou judia. Sou batizada, filha de pai judeu e mãe católica. Como eu, meus irmãos não abraçaram qualquer religião. Na minha família há de tudo; sionistas, pró-Palestina, defensores de dois Estados. Há até quem use no pescoço uma cruz e uma estrela de David juntas. Faço parte de grupos de discussão de judeus progressistas em permanente oposição a Netanyahu e, como muitos deles, defendo a criação dos dois Estados em Israel.
Chocante que, mesmo diante de todos os horrores, ainda há quem trate o Hamas como “ativistas”. O Itamaraty chegou a noticiar o “falecimento” de um brasileiro, como se tivesse sido um acidente. Não há diplomacia que justifique essa covardia. Sigo Biden nas palavras de seu duro discurso: “Foram violados todos os códigos de moralidade”. Não tenho dúvidas de se tratar de crime contra a humanidade.
A família Landau veio de Bucareste para o Rio em 1940, fugindo dos nazistas. Metade dos judeus romenos foram assassinados. Meu pai e minha tia tiveram a sorte de conseguir fugir juntos e, diferentemente de muitas crianças, não foram separados da família.
Há poucos meses, em um museu sobre a Segunda Guerra Mundial, uma imagem me fez chorar sem controle: uma malinha com um ursinho, uma muda de roupa e alguns objetos de higiene. Era usada para enviar crianças para fora da zona de guerra. Pais e mães entregaram seus filhos para estranhos na esperança de salvá-los do holocausto. Melhor opção que escolher qual deles iria para a câmara de gás, como Sofia.
Não se pode contemporizar com um grupo terrorista cujo objetivo desde sua criação é eliminar o povo judeu, na melhor definição de genocídio, se tivessem os meios para isso. Soa familiar, e não foi há muito tempo.
Esta foi a coluna mais difícil que já fiz. A impotência diante de todos esses horrores me faz pensar em desistir de escrever, não há tema que seja relevante diante da barbárie. Como tantos podem tolerar uma selvageria dessa ordem?