“Quando eu cheguei na casa do Felipe, que fui entregar as chaves ‘pro’ Felipe, ele me disse que tem 10 filhos. E que era para ter 13. E ele se casou com a menina, e ela tinha 12 anos”, 2 de julho.
“Fiquei sabendo que, depois de jogo de futebol, aumenta a violência contra a mulher. Se o cara é corintiano, tudo bem”, 16 de julho.
Esses comentários foram feitos por Lula em atos públicos. O primeiro, em uma cerimônia de entrega de casas populares em Pernambuco, e o segundo, em reunião no Palácio do Planalto.
Lula está acostumado a fazer piadas. Foi assim nos seus primeiros mandatos. Mas, nos anos em que esteve fora do governo, muita coisa mudou. Piadinhas preconceituosas não são mais toleradas. As redes sociais, hoje, dão amplo alcance a cada uma de suas falas. E ele sabe disso. Usa a comunicação muito bem quando precisa. Temas tão sensíveis como abusos contra mulheres exigem cuidado redobrado. Sendo a autoridade máxima do País, deveria ser o primeiro a dar exemplo. Erra ao tratar com superficialidade e ironia de temas da maior gravidade, como abuso de menores e violência contra mulheres.
Não sei as circunstâncias do casamento do Felipe, que ele enaltece na primeira fala, mas uma criança de 12 anos ainda não se desenvolveu completamente, seja nos aspectos físicos, seja nas suas habilidades socioemocionais. Não por acaso, relações com menores de 14 anos são consideradas estupro de vulnerável. Só casos excepcionalíssimos afastam a presunção de crime. Talvez seja o caso de Felipe, não sei dizer. Mas, certamente, não deveria ser normalizado pelo presidente.
Os dados sobre abuso de menores são assustadores. A cada hora, quatro meninas menores de 13 anos são estupradas. Em 86% dos casos, conhecem seus agressores. O crime acontece dentro de casa. Combater essa monstruosidade é um dos nossos maiores desafios.
Do casamento, nasceram 10 filhos, alguns deles da mãe ainda adolescente. Também não é motivo para celebrações, pois a gravidez precoce é a principal razão do abandono dos estudos, reduzindo as chances das meninas de um futuro melhor.
As estatísticas de feminicídios não param de crescer. O assassinato é o último elo de uma cadeia de violência e abusos físicos e psicológicos. Agressão após derrota do time de futebol é apenas um desses elos.
Entre um e outro comentário, ele bolsonarizou: “Quem achar que Lulinha tá cansado, pergunta a Janja”.
As mulheres não estão ligando se os presidentes são imbroxáveis. Fica a dica.