Economista e advogada

Opinião|Devemos a Paulo Guedes o desserviço por acharem que liberais não se importam com os pobres


Direita soube se apoderar do termo liberal para disfarçar sua pauta conservadora; e à esquerda interessa essa confusão, reduzindo as ideias liberais a um mundo desalmado

Por Elena Landau

Esta é a última coluna a ser escrita ainda no governo Bolsonaro. Não parece, eu sei. Já faz dois meses que o piloto sumiu. A transição vem sendo tocada pelo futuro governo, com a ajuda do STF. A tabelinha Gilmar e Lewandowski mudou os rumos das negociações da PEC da Transição. Ficou claro que não é preciso emendar a Constituição para cumprir o compromisso de manter o novo Bolsa Família em R$ 600. A PEC da Transição é para gastar muito além disso.

Como Lula diz: “Se a gente ficar olhando a política fiscal do governo, sempre haverá prioridade mais importante que os pobres”. Não aprenderam nada, esqueceram tudo.

Paulo Guedes, ministro da Economia de Jair Bolsonaro  Foto: Dida Sampaio/Estadão - 10/2/2022
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Esse discurso tem como corolário a ideia de que cuidar das contas públicas é incompatível com a o olhar social. Nada mais longe da verdade. E obviamente que sobra para nós, os liberais. Esse desserviço devemos a Paulo Guedes.

Os liberais defendem princípios estranhos a Guedes, como igualdade de oportunidades e democracia representativa. Nós queremos políticas que libertem os indivíduos, que os filhos de porteiro estudem o que quiserem, que as empregadas domésticas curtam suas férias onde desejarem. A agenda liberal vai muito além do livre mercado; assistir passivamente à destruição do sistema educacional no País não é parte dela.

Por isso, discordo do colega José Fucs, que publicou neste jornal uma ode a Guedes, ressaltando seu legado liberal. Um rápido passar de olhos nas ações listadas no artigo mostra que em muitas delas não houve qualquer participação do ministro. As reformas da Previdência e do saneamento foram iniciativas do Legislativo, enquanto a tributária empacou por causa dele. Boa parte da lista é continuidade das políticas iniciadas por Temer: a agenda do Banco Central, a boa gestão das estatais e as mudanças na atuação do BNDES. A única privatização que emplacou, da Eletrobras, deixou como legado o desmonte da governança na área de energia, abrindo as portas para os lobbies no setor.

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Não há razões de otimismo com a política econômica de Lula. Mas não é desculpa para enaltecer uma administração que deixou como herança uma casa destelhada. Não estaríamos discutindo uma PEC que acaba com o teto de gastos se Guedes não tivesse começado o processo.

A direita soube se apoderar do termo liberal para disfarçar sua pauta conservadora. E à esquerda interessa essa confusão, reduzindo as ideias liberais a um mundo desalmado, onde a agenda progressista não encontraria espaço. Cabe a nós, liberais por inteiro, defender nossa pauta contra todos os modismos.

Feliz Natal!

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Esta é a última coluna a ser escrita ainda no governo Bolsonaro. Não parece, eu sei. Já faz dois meses que o piloto sumiu. A transição vem sendo tocada pelo futuro governo, com a ajuda do STF. A tabelinha Gilmar e Lewandowski mudou os rumos das negociações da PEC da Transição. Ficou claro que não é preciso emendar a Constituição para cumprir o compromisso de manter o novo Bolsa Família em R$ 600. A PEC da Transição é para gastar muito além disso.

Como Lula diz: “Se a gente ficar olhando a política fiscal do governo, sempre haverá prioridade mais importante que os pobres”. Não aprenderam nada, esqueceram tudo.

Paulo Guedes, ministro da Economia de Jair Bolsonaro  Foto: Dida Sampaio/Estadão - 10/2/2022

Esse discurso tem como corolário a ideia de que cuidar das contas públicas é incompatível com a o olhar social. Nada mais longe da verdade. E obviamente que sobra para nós, os liberais. Esse desserviço devemos a Paulo Guedes.

Os liberais defendem princípios estranhos a Guedes, como igualdade de oportunidades e democracia representativa. Nós queremos políticas que libertem os indivíduos, que os filhos de porteiro estudem o que quiserem, que as empregadas domésticas curtam suas férias onde desejarem. A agenda liberal vai muito além do livre mercado; assistir passivamente à destruição do sistema educacional no País não é parte dela.

Por isso, discordo do colega José Fucs, que publicou neste jornal uma ode a Guedes, ressaltando seu legado liberal. Um rápido passar de olhos nas ações listadas no artigo mostra que em muitas delas não houve qualquer participação do ministro. As reformas da Previdência e do saneamento foram iniciativas do Legislativo, enquanto a tributária empacou por causa dele. Boa parte da lista é continuidade das políticas iniciadas por Temer: a agenda do Banco Central, a boa gestão das estatais e as mudanças na atuação do BNDES. A única privatização que emplacou, da Eletrobras, deixou como legado o desmonte da governança na área de energia, abrindo as portas para os lobbies no setor.

Não há razões de otimismo com a política econômica de Lula. Mas não é desculpa para enaltecer uma administração que deixou como herança uma casa destelhada. Não estaríamos discutindo uma PEC que acaba com o teto de gastos se Guedes não tivesse começado o processo.

A direita soube se apoderar do termo liberal para disfarçar sua pauta conservadora. E à esquerda interessa essa confusão, reduzindo as ideias liberais a um mundo desalmado, onde a agenda progressista não encontraria espaço. Cabe a nós, liberais por inteiro, defender nossa pauta contra todos os modismos.

Feliz Natal!

Esta é a última coluna a ser escrita ainda no governo Bolsonaro. Não parece, eu sei. Já faz dois meses que o piloto sumiu. A transição vem sendo tocada pelo futuro governo, com a ajuda do STF. A tabelinha Gilmar e Lewandowski mudou os rumos das negociações da PEC da Transição. Ficou claro que não é preciso emendar a Constituição para cumprir o compromisso de manter o novo Bolsa Família em R$ 600. A PEC da Transição é para gastar muito além disso.

Como Lula diz: “Se a gente ficar olhando a política fiscal do governo, sempre haverá prioridade mais importante que os pobres”. Não aprenderam nada, esqueceram tudo.

Paulo Guedes, ministro da Economia de Jair Bolsonaro  Foto: Dida Sampaio/Estadão - 10/2/2022

Esse discurso tem como corolário a ideia de que cuidar das contas públicas é incompatível com a o olhar social. Nada mais longe da verdade. E obviamente que sobra para nós, os liberais. Esse desserviço devemos a Paulo Guedes.

Os liberais defendem princípios estranhos a Guedes, como igualdade de oportunidades e democracia representativa. Nós queremos políticas que libertem os indivíduos, que os filhos de porteiro estudem o que quiserem, que as empregadas domésticas curtam suas férias onde desejarem. A agenda liberal vai muito além do livre mercado; assistir passivamente à destruição do sistema educacional no País não é parte dela.

Por isso, discordo do colega José Fucs, que publicou neste jornal uma ode a Guedes, ressaltando seu legado liberal. Um rápido passar de olhos nas ações listadas no artigo mostra que em muitas delas não houve qualquer participação do ministro. As reformas da Previdência e do saneamento foram iniciativas do Legislativo, enquanto a tributária empacou por causa dele. Boa parte da lista é continuidade das políticas iniciadas por Temer: a agenda do Banco Central, a boa gestão das estatais e as mudanças na atuação do BNDES. A única privatização que emplacou, da Eletrobras, deixou como legado o desmonte da governança na área de energia, abrindo as portas para os lobbies no setor.

Não há razões de otimismo com a política econômica de Lula. Mas não é desculpa para enaltecer uma administração que deixou como herança uma casa destelhada. Não estaríamos discutindo uma PEC que acaba com o teto de gastos se Guedes não tivesse começado o processo.

A direita soube se apoderar do termo liberal para disfarçar sua pauta conservadora. E à esquerda interessa essa confusão, reduzindo as ideias liberais a um mundo desalmado, onde a agenda progressista não encontraria espaço. Cabe a nós, liberais por inteiro, defender nossa pauta contra todos os modismos.

Feliz Natal!

Opinião por Elena Landau

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