A Argentina acumula meia década de permanente fuga de capitais, segundo dados do Banco Central. De janeiro a setembro de 2010, a fuga foi de US$ 9,194 bilhões. As estimativas do BC indicam que, no total, em 2010, a saída de divisas chegará a US$ 10,9 bilhões, embora economistas independentes afirmem que poderia alcançar a faixa de US$ 11,5 bilhões. A fuga foi mais intensa entre março e abril, meses nos quais o governo da presidente Cristina Kirchner estava em conflito com o então presidente do BC, Martín Redrado. A crise provocou incertezas e intensificou temores de maior intervenção estatal na economia.Ao longo desta década, segundo os dados preliminares do Banco Central, a fuga total teria sido de US$ 60 bilhões. O único ano sem saída de capitais desde a posse dos Kirchners, em 2003, foi 2005, ano em que a Argentina fez a reestruturação dos títulos da dívida pública com os credores privados. Em 2006, a fuga foi de US$ 2,939 bilhões; em 2007, de US$ 8,872 bilhões. Mas, o ponto culminante da fuga de divisas ocorreu em 2008, quando o governo da presidente Cristina Kirchner aplicou um "impostaço agrário" que causou a rebelião do setor ruralista, provocando instabilidade política e econômica. Naquele ano, saíram do país US$ 23,098 bilhões.Em 2009, o confronto do governo com os meios de comunicação e diversas medidas de intervenção estatal na economia suscitaram temores em diversos setores da sociedade argentina. Nesse contexto, a fuga de divisas foi de US$ 14,1 bilhões no ano passado. Os analistas destacam que, embora a fuga de divisas deste ano seja menor, o volume está acima da média da fuga registrada entre 2002 e 2007, de US$ 3 bilhões.Colchão. Desconfiados dos governos de plantão e dos bancos instalados no país, os argentinos acumularam ao longo das últimas décadas uma substancial parte de suas economias em depósitos em instituições financeiras no exterior. Quando o dinheiro ficava no país, optaram por escondê-lo em caixas de segurança, embaixo dos colchões e nos mais variados esconderijos domésticos. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) indicam que os argentinos têm fora do sistema bancário mais de US$ 150 bilhões. O volume equivale a 200% mais do que as reservas atuais do Banco Central, que chegaram a US$ 52 bilhões no fim de semana. No início de 2001, antes da maior crise financeira, social e econômica da história do país, os argentinos tinham US$ 81,87 bilhões fora do sistema.