A Bolsa de Valores de São Paulo nunca esteve tão sensível às variações nos preços das commodities (mercadorias em estado bruto ou produtos primários com grande importância comercial, como por exemplo, café, milho, algodão, cobre, petróleo) como atualmente. Nos últimos anos, o peso das ações de empresas com produtos cotados no mercado internacional ganhou espaço na bolsa paulista. Hoje, 40% do principal índice da Bovespa é de papéis de companhias com receita vinculadas a commodities. Em 2000, esse percentual não ultrapassava os 16%. Na época, o setor de telecomunicações dominava o pregão paulista. O cenário hoje é bem diferente. As oscilações nos preços do petróleo ou dos metais têm muito mais influência no comportamento do mercado acionário brasileiro. Para se ter idéia, só as ações da Petrobras respondem agora por 16,2% do Ibovespa, o dobro do que elas representavam há apenas sete anos atrás. A mudança no perfil da bolsa paulista fica ainda mais evidente quando se analisa os papéis da Companhia Vale do Rio Doce. Em 2000, o peso das ações da mineradora brasileira era de 3,5%, bem inferior aos 12,4% contabilizados agora no pregão paulista. O analista Pedro Galdi, do ABN Amro, acredita que o Ibovespa tem apanhado mais nos últimos dias com a derrocada dos preços das commodities do que outras bolsas de países emergentes. Isto porque a composição do índice paulista é muito vinculada a papéis de empresas com produtos cotados no mercado internacional. "O Ibovespa está mais sobrecarregado do que outros índices", afirmou. Já o analista Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, lembra que o forte crescimento da China nos últimos anos mudou o cenário econômico mundial. No novo desenho, empresas como a Vale do Rio Doce ganharam importância por serem grandes exportadoras de minério de ferro e de metais para um região em franca expansão. A derrocada do Ibovespa neste início do ano é uma amostra da forte sensibilidade do mercado acionário brasileiro ao comportamento dos preços das commodities. Segundo ele, esse foi o gatilho que detonou o ajuste na Bovespa neste início do ano. Entretanto, lembra que a queda atual registrada pelo pregão paulista nos primeiros dias de janeiro reflete também uma maior aversão dos investidores aos ativos de mercados emergentes, como o Brasil.