Empresas de vestuário suspendem produção por falta de matéria-prima


Setor vê na demanda da retomada um empecilho, já que boa parte das empresas estão procurando por insumos ao mesmo tempo; nesse cenário, dólar alto torna ainda mais difícil a busca por matéria-prima

Por Cynthia Decloedt e Talita Nascimento

Já bastante afetado pelo isolamento social com a pandemia, que eliminou três meses de vendas, o setor de vestuário não consegue agora operar por falta de matéria-prima, fragilizando ainda mais sua retomada. O Grupo Pacífico Sul, indústria têxtil de Blumenau fabricante de roupas, enviou comunicado a seus representantes alertando que encerrará as vendas para entrega este ano no próximo dia 20. A Marisol Malhas informou que suspendeu as vendas de todas as linhas de produtos até segunda ordem, assim como a fabricante de elásticos Zanotti.

A situação remete a dificuldades ainda maiores além daquelas que o setor de vestuário foi exposto, aumentando o fardo para a recuperação de receitas, uma vez que o desabastecimento na cadeia torna os custos ainda mais altos do que já vinham por conta da valorização do dólar. "A cadeia de algodão aumentou preço, as fiações não produziram fios e a situação desandou", disse uma fonte. "O impacto é no atraso da coleção vendida, perda de venda, prejuízo ao franqueado e risco de ter seu produto trocado nas multimarcas", acrescentou.

Com escassez de insumos e alta do dólar, setor de vestuário terá uma retomada difícil pela frente. Foto: Hélvio Romero/Estadão
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Segundo ele, como também a indústria chinesa de tecidos está com sua produção comprometida, para agilizar a importação, alguns fabricantes estão trazendo mercadorias de avião, o que tem um custo mais elevado do que o transporte marítimo.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel, vê tensão na indústria, uma vez que os preços sobem e os produtos faltam pelo fato de que todos estão buscando produtos ao mesmo tempo. Mas considera que este é um reflexo natural e um problema conjuntural ao fato de que boa parte da indústria brasileira esteve parada por entre 90 a 100 dias. "Não é possível religar a economia como uma lâmpada de abajur", diz ele, lembrando que antes de ter sido decretada a pandemia do novo coronavírus não havia desabastecimento.

"Entendemos que será necessário uns 90 dias para regularizar fluxo da cadeia de produção e distribuição", previu. Pimentel acrescenta ainda que a indústria têxtil e de confecção é de concorrência perfeita, o que regula preços e segura historicamente a inflação do ramo. Ainda assim, os preços têm sido influenciados por um fator que vai além da produção que ficou parada: o problema está na desvalorização do real.

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Ele diz que 70% da indústria têxtil está atrelada a moedas estrangeiras. "O algodão é dolarizado, as máquinas são dolarizadas. Mais de 70% das máquinas são importadas. Produtos químicos da produção também são. Isso causa um reequilíbrio dos preços relativos, que mais a frente vão se reacomodar", afirma.

Pimentel diz ainda que o aumento surpreendente da demanda interna, motivada pelo auxílio emergencial, também contribuiu para o desabastecimento pontual. "No entanto, quando se observa um país que vai terminar o ano mais pobre e uma alta taxa de desemprego, a tendência é de um reequilíbrio não só das atividades produtivas, mas também da demanda", afirma.

Negociação

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Lojistas de São Paulo já sentem os efeitos na pele. "O setor têxtil vem sentindo várias intempéries relacionadas à alta do dólar e falta de insumos, com tendência a piorar ao longo do ano se a equipe econômica não providenciar um apoio mais incisivo às áreas produtivas e geradoras de emprego", afirmou ao Estadão/Broadcast o vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Samir Nakhle Khoury.

Muitas companhias do setor de vestuário já operavam no limite financeiro, rolando dívidas e renegociando com bancos e fornecedores para evitar um processo de recuperação judicial. Donas de grandes marcas do segmento de "vestuário de luxo", como Restoque, Inbrands e Valdac estão sentadas há meses na mesa de negociações. A Restoque, dona da Le Lis Blanc e Richards, já passa por uma renegociação extrajudicial.

Já bastante afetado pelo isolamento social com a pandemia, que eliminou três meses de vendas, o setor de vestuário não consegue agora operar por falta de matéria-prima, fragilizando ainda mais sua retomada. O Grupo Pacífico Sul, indústria têxtil de Blumenau fabricante de roupas, enviou comunicado a seus representantes alertando que encerrará as vendas para entrega este ano no próximo dia 20. A Marisol Malhas informou que suspendeu as vendas de todas as linhas de produtos até segunda ordem, assim como a fabricante de elásticos Zanotti.

A situação remete a dificuldades ainda maiores além daquelas que o setor de vestuário foi exposto, aumentando o fardo para a recuperação de receitas, uma vez que o desabastecimento na cadeia torna os custos ainda mais altos do que já vinham por conta da valorização do dólar. "A cadeia de algodão aumentou preço, as fiações não produziram fios e a situação desandou", disse uma fonte. "O impacto é no atraso da coleção vendida, perda de venda, prejuízo ao franqueado e risco de ter seu produto trocado nas multimarcas", acrescentou.

Com escassez de insumos e alta do dólar, setor de vestuário terá uma retomada difícil pela frente. Foto: Hélvio Romero/Estadão

Segundo ele, como também a indústria chinesa de tecidos está com sua produção comprometida, para agilizar a importação, alguns fabricantes estão trazendo mercadorias de avião, o que tem um custo mais elevado do que o transporte marítimo.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel, vê tensão na indústria, uma vez que os preços sobem e os produtos faltam pelo fato de que todos estão buscando produtos ao mesmo tempo. Mas considera que este é um reflexo natural e um problema conjuntural ao fato de que boa parte da indústria brasileira esteve parada por entre 90 a 100 dias. "Não é possível religar a economia como uma lâmpada de abajur", diz ele, lembrando que antes de ter sido decretada a pandemia do novo coronavírus não havia desabastecimento.

"Entendemos que será necessário uns 90 dias para regularizar fluxo da cadeia de produção e distribuição", previu. Pimentel acrescenta ainda que a indústria têxtil e de confecção é de concorrência perfeita, o que regula preços e segura historicamente a inflação do ramo. Ainda assim, os preços têm sido influenciados por um fator que vai além da produção que ficou parada: o problema está na desvalorização do real.

Ele diz que 70% da indústria têxtil está atrelada a moedas estrangeiras. "O algodão é dolarizado, as máquinas são dolarizadas. Mais de 70% das máquinas são importadas. Produtos químicos da produção também são. Isso causa um reequilíbrio dos preços relativos, que mais a frente vão se reacomodar", afirma.

Pimentel diz ainda que o aumento surpreendente da demanda interna, motivada pelo auxílio emergencial, também contribuiu para o desabastecimento pontual. "No entanto, quando se observa um país que vai terminar o ano mais pobre e uma alta taxa de desemprego, a tendência é de um reequilíbrio não só das atividades produtivas, mas também da demanda", afirma.

Negociação

Lojistas de São Paulo já sentem os efeitos na pele. "O setor têxtil vem sentindo várias intempéries relacionadas à alta do dólar e falta de insumos, com tendência a piorar ao longo do ano se a equipe econômica não providenciar um apoio mais incisivo às áreas produtivas e geradoras de emprego", afirmou ao Estadão/Broadcast o vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Samir Nakhle Khoury.

Muitas companhias do setor de vestuário já operavam no limite financeiro, rolando dívidas e renegociando com bancos e fornecedores para evitar um processo de recuperação judicial. Donas de grandes marcas do segmento de "vestuário de luxo", como Restoque, Inbrands e Valdac estão sentadas há meses na mesa de negociações. A Restoque, dona da Le Lis Blanc e Richards, já passa por uma renegociação extrajudicial.

Já bastante afetado pelo isolamento social com a pandemia, que eliminou três meses de vendas, o setor de vestuário não consegue agora operar por falta de matéria-prima, fragilizando ainda mais sua retomada. O Grupo Pacífico Sul, indústria têxtil de Blumenau fabricante de roupas, enviou comunicado a seus representantes alertando que encerrará as vendas para entrega este ano no próximo dia 20. A Marisol Malhas informou que suspendeu as vendas de todas as linhas de produtos até segunda ordem, assim como a fabricante de elásticos Zanotti.

A situação remete a dificuldades ainda maiores além daquelas que o setor de vestuário foi exposto, aumentando o fardo para a recuperação de receitas, uma vez que o desabastecimento na cadeia torna os custos ainda mais altos do que já vinham por conta da valorização do dólar. "A cadeia de algodão aumentou preço, as fiações não produziram fios e a situação desandou", disse uma fonte. "O impacto é no atraso da coleção vendida, perda de venda, prejuízo ao franqueado e risco de ter seu produto trocado nas multimarcas", acrescentou.

Com escassez de insumos e alta do dólar, setor de vestuário terá uma retomada difícil pela frente. Foto: Hélvio Romero/Estadão

Segundo ele, como também a indústria chinesa de tecidos está com sua produção comprometida, para agilizar a importação, alguns fabricantes estão trazendo mercadorias de avião, o que tem um custo mais elevado do que o transporte marítimo.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel, vê tensão na indústria, uma vez que os preços sobem e os produtos faltam pelo fato de que todos estão buscando produtos ao mesmo tempo. Mas considera que este é um reflexo natural e um problema conjuntural ao fato de que boa parte da indústria brasileira esteve parada por entre 90 a 100 dias. "Não é possível religar a economia como uma lâmpada de abajur", diz ele, lembrando que antes de ter sido decretada a pandemia do novo coronavírus não havia desabastecimento.

"Entendemos que será necessário uns 90 dias para regularizar fluxo da cadeia de produção e distribuição", previu. Pimentel acrescenta ainda que a indústria têxtil e de confecção é de concorrência perfeita, o que regula preços e segura historicamente a inflação do ramo. Ainda assim, os preços têm sido influenciados por um fator que vai além da produção que ficou parada: o problema está na desvalorização do real.

Ele diz que 70% da indústria têxtil está atrelada a moedas estrangeiras. "O algodão é dolarizado, as máquinas são dolarizadas. Mais de 70% das máquinas são importadas. Produtos químicos da produção também são. Isso causa um reequilíbrio dos preços relativos, que mais a frente vão se reacomodar", afirma.

Pimentel diz ainda que o aumento surpreendente da demanda interna, motivada pelo auxílio emergencial, também contribuiu para o desabastecimento pontual. "No entanto, quando se observa um país que vai terminar o ano mais pobre e uma alta taxa de desemprego, a tendência é de um reequilíbrio não só das atividades produtivas, mas também da demanda", afirma.

Negociação

Lojistas de São Paulo já sentem os efeitos na pele. "O setor têxtil vem sentindo várias intempéries relacionadas à alta do dólar e falta de insumos, com tendência a piorar ao longo do ano se a equipe econômica não providenciar um apoio mais incisivo às áreas produtivas e geradoras de emprego", afirmou ao Estadão/Broadcast o vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Samir Nakhle Khoury.

Muitas companhias do setor de vestuário já operavam no limite financeiro, rolando dívidas e renegociando com bancos e fornecedores para evitar um processo de recuperação judicial. Donas de grandes marcas do segmento de "vestuário de luxo", como Restoque, Inbrands e Valdac estão sentadas há meses na mesa de negociações. A Restoque, dona da Le Lis Blanc e Richards, já passa por uma renegociação extrajudicial.

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