Cadeia de suprimentos da energia solar está mais obscura em meio a preocupações com direitos humanos


Indústria global está cortando alguns laços com a China, mas sua exposição ao trabalho forçado continua alta, e as empresas estão menos transparentes, segundo um novo relatório

Por Ana Swanson e Ivan Penn

As cadeias de suprimentos globais para painéis solares começaram a se afastar da forte dependência da China, em parte devido a uma recente proibição de produtos fabricados em Xinjiang, região onde o governo americano e as Nações Unidas acusam a China de cometer violações contra os direitos humanos, incluindo trabalhos forçados.

Mas um novo relatório de especialistas em direitos humanos e da indústria de energia solar descobriu que a grande maioria dos painéis solares fabricados em todo o mundo continua tendo uma exposição considerável à China e a Xinjiang.

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O relatório, divulgado há duas semanas, também criticou a indústria de energia solar por estar se tornando menos transparente em relação à origem de seus produtos. Isso tem tornado mais difícil para os compradores verificar se os painéis solares adquiridos para fornecer energia a casas e redes elétricas foram feitos sem trabalho forçado.

A análise foi feita por Alan Crawford, analista da indústria de energia solar, e Laura T. Murphy, professora de direitos humanos e escravidão contemporânea na Universidade Sheffield Hallam, na Inglaterra, em conjunto com pesquisadores que optaram por permanecer anônimos devido ao medo de retaliação do governo chinês.

O Modern Slavery and Human Rights Policy and Evidence Center, consórcio de seis organizações acadêmicas com sede em Londres, forneceu os recursos financeiros para o projeto.

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A indústria de energia solar tem sido alvo de críticas severas nos últimos anos por suas ligações com Xinjiang, fornecedora importante de silício policristalino, o material a partir do qual os painéis solares são feitos. A região produz aproximadamente um terço do silício policristalino mundial e do silício de grau metalúrgico, o material a partir do qual o silício policristalino é feito.

Como consequência, muitas empresas prometeram examinar minuciosamente suas cadeias de suprimentos e várias criaram fábricas nos Estados Unidos ou no sudeste asiático para abastecer os mercados ocidentais.

Energia solar é uma das principais apostas para a transição energética Foto: Felipe Rau / Estadão
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A Associação das Indústrias de Energia Solar (SEIA, na sigla em inglês), a maior associação comercial do setor, tem pedido às empresas para mudar de fornecedores e cortar os laços com Xinjiang. Mais de 340 empresas assinaram um pacto para manter suas cadeias de suprimentos livres de trabalho forçado.

No entanto, o relatório constatou que as principais empresas globais continuam com chances de ter uma grande exposição a Xinjiang e, possivelmente, ao trabalho forçado, suscitando dúvidas em relação às mudanças. O relatório classificou os cinco maiores fabricantes de materiais para energia solar do mundo – todos com sede na China – como tendo uma possível exposição “alta” ou “muito alta” à Xinjiang.

Algumas empresas chinesas, como a Longi Solar e a JA Solar, têm ligações evidentes com fornecedores operando em Xinjiang, segundo o relatório. Mas até mesmo dentro de cadeias de suprimentos “limpas” criadas para atender aos EUA ou à Europa, muitas empresas ainda parecem estar adquirindo matérias-primas de fornecedores com exposição a Xinjiang, disse Laura.

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Em muitos casos, de acordo com as informações divulgadas pelas empresas publicamente, elas não estão comprando materiais suficientes fora de Xinjiang para atingir suas metas de produção, indicando que talvez estejam recorrendo a fornecedores desconhecidos. Em outros casos, as empresas enviaram para Laura informações sobre suas cadeias de suprimentos que eram diretamente contraditórias.

“Faltam informações em todas as etapas”, disse ela.

A predominância da China na indústria de energia solar tem sido um desafio para os EUA e outros países, que estão correndo para instalar painéis solares para mitigar o impacto das mudanças climáticas. A China controla pelo menos 80% da produção global em cada etapa da cadeia de suprimentos.

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O governo chinês nega a presença de trabalho forçado nos programas de empregos operados por ele em Xinjiang, que transfere grupos de moradores locais para minas e fábricas. Mas especialistas em direitos humanos dizem que aqueles que se recusam a participar de tais programas podem ser presos ou enfrentar outras punições. Uma lei dos EUA que entrou em vigor em junho do ano passado, a Lei de Prevenção do Trabalho Forçado Uigur, afirma que qualquer produto com materiais de Xinjiang é feito com trabalho forçado até que se prove o contrário.

Desde então, os funcionários da alfândega dos EUA detiveram o equivalente a US$ 1,64 bilhão em produtos importados, incluindo um volume não especificado de painéis solares, para verificar o cumprimento da lei. As empresas de materiais para energia solar dizem que as apreensões provocaram atrasos generalizados nas instalações nos EUA, colocando em risco a transição energética do país.

O governo Biden anunciou que tinha adicionado quatro empresas chinesas, assim como várias de suas subsidiárias, à lista de fabricantes proibidos de enviar produtos para os EUA devido à sua participação no acolhimento, recrutamento ou transporte de trabalho forçado ou de pessoas de grupos perseguidos de Xinjiang. As empresas fornecem produtos para os setores automotivo, de vestuário, de alimentos, de eletrônicos e outros.

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À medida que os projetos de energia solar para a transição energética continuam a crescer, a preocupação é que o número de materiais e equipamentos associados ao trabalho forçado possa aumentar.

Nos próximos dez anos ou mais, a indústria de energia solar projeta que irá realizar regularmente o dobro de instalações dos últimos anos, com um crescimento anual previsto para ficar em média em 11%. No curto prazo, a capacidade de produção nos EUA é suficiente para atender a menos de um terço da demanda nacional, de acordo com a Wood McKenzie, empresa de pesquisa e consultoria do setor de energia.

Em junho, a Walk Free, organização internacional de direitos humanos, divulgou um relatório com a estimativa de que 50 milhões de pessoas em todo o mundo viviam sob condições de trabalho forçado em 2021, um aumento de 10 milhões em comparação com 2016.

A organização atribuiu parte desse aumento a tão necessária, porém rápida expansão das energias renováveis para enfrentar as mudanças climáticas. A organização disse que apoia a transição energética, mas quer impedir o trabalho forçado como uma fonte de produtos.

Um exemplo do novo relatório é a JinkoSolar, empresa chinesa que realizou alguns dos trabalhos mais completos para criar uma cadeia de suprimentos fora da China, inclusive com fábricas no Vietnã, na Malásia e nos EUA. Entretanto, o relatório constatou que o uso de matérias-primas da China por essas fábricas mantinha a possível exposição da JinkoSolar à Xinjiang num status alto.

Em maio, a Agência de Investigações de Segurança Interna dos EUA, um braço do Departamento de Segurança Interna, fez uma batida na fábrica da JinkoSolar em Jacksonville, na Flórida, e em um escritório em São Francisco. A investigação parece estar relacionada a várias preocupações, entre elas a de que a JinkoSolar mentiu sobre a origem de algumas importações com materiais de Xinjiang e catalogou incorretamente os produtos, levando a uma tributação incorreta, disse uma fonte a par do inquérito.

Um porta-voz da Agência de Investigações de Segurança Interna se recusou a comentar o caso e fez referência a uma investigação em curso.

Imagem de satélite capturada em 2018 mostra local em que mesquita foi destruída na província de Kiraya, em Xinjiang Foto: Airbus Defence and Space / AFP

A JinkoSolar disse em um comunicado que, com base nas informações disponíveis para a empresa, qualquer especulação de que a investigação estava ligada ao trabalho forçado era “improcedente” e que tinha um compromisso de longa data com a transparência e com o cumprimento da lei dos EUA.

A empresa também chamou de “infundadas” as alegações de que tinha exposição alta a Xinjiang. Ela disse que estava confiante no rastreamento de sua cadeia de suprimentos, que os produtos para o mercado americano eram fabricados apenas com silício policristalino americano e alemão e que os funcionários da alfândega dos EUA já verificaram e liberaram produtos JinkoSolar.

O novo relatório também suscitou dúvidas em relação à cadeia de suprimentos da Hanwha Qcells, empresa sul-coreana que se tornou um dos maiores produtores de painéis solares fabricados nos EUA. Em janeiro, a Qcells anunciou uma expansão de US$ 2,5 bilhões de suas operações na Geórgia, o que a tornaria a única empresa a produzir todos os seus componentes – lingotes, pastilhas, células e painéis finalizados – no país.

Apesar do aumento da presença da Qcells nos EUA, o relatório concluiu que a possível exposição da empresa a Xinjiang era muito alta, pois ela recorre a fornecedores não revelados na China para a grande maioria de seus produtos.

O relatório também disse que uma empresa chinesa, a Meike Solar Technology, que adquire matéria-prima de Xinjiang, declarou a Qcells como um de seus maiores clientes no primeiro semestre de 2022, embora a Qcells tenha dito que cortou o relacionamento com a empresa em 2021.

“A Qcell adotou um código de conduta que proíbe o trabalho forçado na fabricação dos produtos em nossa cadeia de suprimentos e rescindimos contratos se os fornecedores descumprem isso”, disse a empresa em um comunicado. Como parte de sua estratégia de defesa contra produtos oriundos de trabalho forçado, a Qcells disse que faz o levantamento para rastrear as origens dos produtos e auditorias para verificar e garantir que seus fornecedores sigam seu código de conduta. A empresa disse que nenhum de seus produtos na América do Norte tinha sido retido por funcionários da alfândega.

Em uma declaração para os pesquisadores, a Longi disse que sempre age de acordo com as leis e a ética vigentes nas jurisdições onde opera e que o silício policristalino de Xinjiang era usado nos painéis solares vendidos na China.

A JA Solar não respondeu aos pedidos de posicionamento enviados pelos pesquisadores e pelo New York Times. Tanto a LONGI como a JA Solar estão planejando construir fábricas nos EUA.

Os créditos fiscais e outros incentivos à energia limpa oferecidos pela Lei de Redução da Inflação de 2022 têm estimulado novos investimentos no país. A First Solar, fabricante com sede nos EUA, anunciou planos de investir até US$1,1 bilhão na construção de uma nova fábrica no país em um local ainda não definido.

No entanto, Michael Carr, diretor-executivo da Solar Energy Manufacturers for America, que representa os fabricantes de materiais para energia solar com sede nos EUA, disse que o país está tão atrasado em relação à China na fabricação de produtos para a energia solar que uma enorme quantidade de trabalho, capital e conhecimento técnico seria necessária para alcançá-la.

“É difícil ter certeza – e alguns talvez digam ser impossível saber – da fonte do silício policristalino até existir uma oferta doméstica de pastilhas de silício e uma alternativa à China”, disse Carr.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

As cadeias de suprimentos globais para painéis solares começaram a se afastar da forte dependência da China, em parte devido a uma recente proibição de produtos fabricados em Xinjiang, região onde o governo americano e as Nações Unidas acusam a China de cometer violações contra os direitos humanos, incluindo trabalhos forçados.

Mas um novo relatório de especialistas em direitos humanos e da indústria de energia solar descobriu que a grande maioria dos painéis solares fabricados em todo o mundo continua tendo uma exposição considerável à China e a Xinjiang.

O relatório, divulgado há duas semanas, também criticou a indústria de energia solar por estar se tornando menos transparente em relação à origem de seus produtos. Isso tem tornado mais difícil para os compradores verificar se os painéis solares adquiridos para fornecer energia a casas e redes elétricas foram feitos sem trabalho forçado.

A análise foi feita por Alan Crawford, analista da indústria de energia solar, e Laura T. Murphy, professora de direitos humanos e escravidão contemporânea na Universidade Sheffield Hallam, na Inglaterra, em conjunto com pesquisadores que optaram por permanecer anônimos devido ao medo de retaliação do governo chinês.

O Modern Slavery and Human Rights Policy and Evidence Center, consórcio de seis organizações acadêmicas com sede em Londres, forneceu os recursos financeiros para o projeto.

A indústria de energia solar tem sido alvo de críticas severas nos últimos anos por suas ligações com Xinjiang, fornecedora importante de silício policristalino, o material a partir do qual os painéis solares são feitos. A região produz aproximadamente um terço do silício policristalino mundial e do silício de grau metalúrgico, o material a partir do qual o silício policristalino é feito.

Como consequência, muitas empresas prometeram examinar minuciosamente suas cadeias de suprimentos e várias criaram fábricas nos Estados Unidos ou no sudeste asiático para abastecer os mercados ocidentais.

Energia solar é uma das principais apostas para a transição energética Foto: Felipe Rau / Estadão

A Associação das Indústrias de Energia Solar (SEIA, na sigla em inglês), a maior associação comercial do setor, tem pedido às empresas para mudar de fornecedores e cortar os laços com Xinjiang. Mais de 340 empresas assinaram um pacto para manter suas cadeias de suprimentos livres de trabalho forçado.

No entanto, o relatório constatou que as principais empresas globais continuam com chances de ter uma grande exposição a Xinjiang e, possivelmente, ao trabalho forçado, suscitando dúvidas em relação às mudanças. O relatório classificou os cinco maiores fabricantes de materiais para energia solar do mundo – todos com sede na China – como tendo uma possível exposição “alta” ou “muito alta” à Xinjiang.

Algumas empresas chinesas, como a Longi Solar e a JA Solar, têm ligações evidentes com fornecedores operando em Xinjiang, segundo o relatório. Mas até mesmo dentro de cadeias de suprimentos “limpas” criadas para atender aos EUA ou à Europa, muitas empresas ainda parecem estar adquirindo matérias-primas de fornecedores com exposição a Xinjiang, disse Laura.

Em muitos casos, de acordo com as informações divulgadas pelas empresas publicamente, elas não estão comprando materiais suficientes fora de Xinjiang para atingir suas metas de produção, indicando que talvez estejam recorrendo a fornecedores desconhecidos. Em outros casos, as empresas enviaram para Laura informações sobre suas cadeias de suprimentos que eram diretamente contraditórias.

“Faltam informações em todas as etapas”, disse ela.

A predominância da China na indústria de energia solar tem sido um desafio para os EUA e outros países, que estão correndo para instalar painéis solares para mitigar o impacto das mudanças climáticas. A China controla pelo menos 80% da produção global em cada etapa da cadeia de suprimentos.

O governo chinês nega a presença de trabalho forçado nos programas de empregos operados por ele em Xinjiang, que transfere grupos de moradores locais para minas e fábricas. Mas especialistas em direitos humanos dizem que aqueles que se recusam a participar de tais programas podem ser presos ou enfrentar outras punições. Uma lei dos EUA que entrou em vigor em junho do ano passado, a Lei de Prevenção do Trabalho Forçado Uigur, afirma que qualquer produto com materiais de Xinjiang é feito com trabalho forçado até que se prove o contrário.

Desde então, os funcionários da alfândega dos EUA detiveram o equivalente a US$ 1,64 bilhão em produtos importados, incluindo um volume não especificado de painéis solares, para verificar o cumprimento da lei. As empresas de materiais para energia solar dizem que as apreensões provocaram atrasos generalizados nas instalações nos EUA, colocando em risco a transição energética do país.

O governo Biden anunciou que tinha adicionado quatro empresas chinesas, assim como várias de suas subsidiárias, à lista de fabricantes proibidos de enviar produtos para os EUA devido à sua participação no acolhimento, recrutamento ou transporte de trabalho forçado ou de pessoas de grupos perseguidos de Xinjiang. As empresas fornecem produtos para os setores automotivo, de vestuário, de alimentos, de eletrônicos e outros.

À medida que os projetos de energia solar para a transição energética continuam a crescer, a preocupação é que o número de materiais e equipamentos associados ao trabalho forçado possa aumentar.

Nos próximos dez anos ou mais, a indústria de energia solar projeta que irá realizar regularmente o dobro de instalações dos últimos anos, com um crescimento anual previsto para ficar em média em 11%. No curto prazo, a capacidade de produção nos EUA é suficiente para atender a menos de um terço da demanda nacional, de acordo com a Wood McKenzie, empresa de pesquisa e consultoria do setor de energia.

Em junho, a Walk Free, organização internacional de direitos humanos, divulgou um relatório com a estimativa de que 50 milhões de pessoas em todo o mundo viviam sob condições de trabalho forçado em 2021, um aumento de 10 milhões em comparação com 2016.

A organização atribuiu parte desse aumento a tão necessária, porém rápida expansão das energias renováveis para enfrentar as mudanças climáticas. A organização disse que apoia a transição energética, mas quer impedir o trabalho forçado como uma fonte de produtos.

Um exemplo do novo relatório é a JinkoSolar, empresa chinesa que realizou alguns dos trabalhos mais completos para criar uma cadeia de suprimentos fora da China, inclusive com fábricas no Vietnã, na Malásia e nos EUA. Entretanto, o relatório constatou que o uso de matérias-primas da China por essas fábricas mantinha a possível exposição da JinkoSolar à Xinjiang num status alto.

Em maio, a Agência de Investigações de Segurança Interna dos EUA, um braço do Departamento de Segurança Interna, fez uma batida na fábrica da JinkoSolar em Jacksonville, na Flórida, e em um escritório em São Francisco. A investigação parece estar relacionada a várias preocupações, entre elas a de que a JinkoSolar mentiu sobre a origem de algumas importações com materiais de Xinjiang e catalogou incorretamente os produtos, levando a uma tributação incorreta, disse uma fonte a par do inquérito.

Um porta-voz da Agência de Investigações de Segurança Interna se recusou a comentar o caso e fez referência a uma investigação em curso.

Imagem de satélite capturada em 2018 mostra local em que mesquita foi destruída na província de Kiraya, em Xinjiang Foto: Airbus Defence and Space / AFP

A JinkoSolar disse em um comunicado que, com base nas informações disponíveis para a empresa, qualquer especulação de que a investigação estava ligada ao trabalho forçado era “improcedente” e que tinha um compromisso de longa data com a transparência e com o cumprimento da lei dos EUA.

A empresa também chamou de “infundadas” as alegações de que tinha exposição alta a Xinjiang. Ela disse que estava confiante no rastreamento de sua cadeia de suprimentos, que os produtos para o mercado americano eram fabricados apenas com silício policristalino americano e alemão e que os funcionários da alfândega dos EUA já verificaram e liberaram produtos JinkoSolar.

O novo relatório também suscitou dúvidas em relação à cadeia de suprimentos da Hanwha Qcells, empresa sul-coreana que se tornou um dos maiores produtores de painéis solares fabricados nos EUA. Em janeiro, a Qcells anunciou uma expansão de US$ 2,5 bilhões de suas operações na Geórgia, o que a tornaria a única empresa a produzir todos os seus componentes – lingotes, pastilhas, células e painéis finalizados – no país.

Apesar do aumento da presença da Qcells nos EUA, o relatório concluiu que a possível exposição da empresa a Xinjiang era muito alta, pois ela recorre a fornecedores não revelados na China para a grande maioria de seus produtos.

O relatório também disse que uma empresa chinesa, a Meike Solar Technology, que adquire matéria-prima de Xinjiang, declarou a Qcells como um de seus maiores clientes no primeiro semestre de 2022, embora a Qcells tenha dito que cortou o relacionamento com a empresa em 2021.

“A Qcell adotou um código de conduta que proíbe o trabalho forçado na fabricação dos produtos em nossa cadeia de suprimentos e rescindimos contratos se os fornecedores descumprem isso”, disse a empresa em um comunicado. Como parte de sua estratégia de defesa contra produtos oriundos de trabalho forçado, a Qcells disse que faz o levantamento para rastrear as origens dos produtos e auditorias para verificar e garantir que seus fornecedores sigam seu código de conduta. A empresa disse que nenhum de seus produtos na América do Norte tinha sido retido por funcionários da alfândega.

Em uma declaração para os pesquisadores, a Longi disse que sempre age de acordo com as leis e a ética vigentes nas jurisdições onde opera e que o silício policristalino de Xinjiang era usado nos painéis solares vendidos na China.

A JA Solar não respondeu aos pedidos de posicionamento enviados pelos pesquisadores e pelo New York Times. Tanto a LONGI como a JA Solar estão planejando construir fábricas nos EUA.

Os créditos fiscais e outros incentivos à energia limpa oferecidos pela Lei de Redução da Inflação de 2022 têm estimulado novos investimentos no país. A First Solar, fabricante com sede nos EUA, anunciou planos de investir até US$1,1 bilhão na construção de uma nova fábrica no país em um local ainda não definido.

No entanto, Michael Carr, diretor-executivo da Solar Energy Manufacturers for America, que representa os fabricantes de materiais para energia solar com sede nos EUA, disse que o país está tão atrasado em relação à China na fabricação de produtos para a energia solar que uma enorme quantidade de trabalho, capital e conhecimento técnico seria necessária para alcançá-la.

“É difícil ter certeza – e alguns talvez digam ser impossível saber – da fonte do silício policristalino até existir uma oferta doméstica de pastilhas de silício e uma alternativa à China”, disse Carr.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

As cadeias de suprimentos globais para painéis solares começaram a se afastar da forte dependência da China, em parte devido a uma recente proibição de produtos fabricados em Xinjiang, região onde o governo americano e as Nações Unidas acusam a China de cometer violações contra os direitos humanos, incluindo trabalhos forçados.

Mas um novo relatório de especialistas em direitos humanos e da indústria de energia solar descobriu que a grande maioria dos painéis solares fabricados em todo o mundo continua tendo uma exposição considerável à China e a Xinjiang.

O relatório, divulgado há duas semanas, também criticou a indústria de energia solar por estar se tornando menos transparente em relação à origem de seus produtos. Isso tem tornado mais difícil para os compradores verificar se os painéis solares adquiridos para fornecer energia a casas e redes elétricas foram feitos sem trabalho forçado.

A análise foi feita por Alan Crawford, analista da indústria de energia solar, e Laura T. Murphy, professora de direitos humanos e escravidão contemporânea na Universidade Sheffield Hallam, na Inglaterra, em conjunto com pesquisadores que optaram por permanecer anônimos devido ao medo de retaliação do governo chinês.

O Modern Slavery and Human Rights Policy and Evidence Center, consórcio de seis organizações acadêmicas com sede em Londres, forneceu os recursos financeiros para o projeto.

A indústria de energia solar tem sido alvo de críticas severas nos últimos anos por suas ligações com Xinjiang, fornecedora importante de silício policristalino, o material a partir do qual os painéis solares são feitos. A região produz aproximadamente um terço do silício policristalino mundial e do silício de grau metalúrgico, o material a partir do qual o silício policristalino é feito.

Como consequência, muitas empresas prometeram examinar minuciosamente suas cadeias de suprimentos e várias criaram fábricas nos Estados Unidos ou no sudeste asiático para abastecer os mercados ocidentais.

Energia solar é uma das principais apostas para a transição energética Foto: Felipe Rau / Estadão

A Associação das Indústrias de Energia Solar (SEIA, na sigla em inglês), a maior associação comercial do setor, tem pedido às empresas para mudar de fornecedores e cortar os laços com Xinjiang. Mais de 340 empresas assinaram um pacto para manter suas cadeias de suprimentos livres de trabalho forçado.

No entanto, o relatório constatou que as principais empresas globais continuam com chances de ter uma grande exposição a Xinjiang e, possivelmente, ao trabalho forçado, suscitando dúvidas em relação às mudanças. O relatório classificou os cinco maiores fabricantes de materiais para energia solar do mundo – todos com sede na China – como tendo uma possível exposição “alta” ou “muito alta” à Xinjiang.

Algumas empresas chinesas, como a Longi Solar e a JA Solar, têm ligações evidentes com fornecedores operando em Xinjiang, segundo o relatório. Mas até mesmo dentro de cadeias de suprimentos “limpas” criadas para atender aos EUA ou à Europa, muitas empresas ainda parecem estar adquirindo matérias-primas de fornecedores com exposição a Xinjiang, disse Laura.

Em muitos casos, de acordo com as informações divulgadas pelas empresas publicamente, elas não estão comprando materiais suficientes fora de Xinjiang para atingir suas metas de produção, indicando que talvez estejam recorrendo a fornecedores desconhecidos. Em outros casos, as empresas enviaram para Laura informações sobre suas cadeias de suprimentos que eram diretamente contraditórias.

“Faltam informações em todas as etapas”, disse ela.

A predominância da China na indústria de energia solar tem sido um desafio para os EUA e outros países, que estão correndo para instalar painéis solares para mitigar o impacto das mudanças climáticas. A China controla pelo menos 80% da produção global em cada etapa da cadeia de suprimentos.

O governo chinês nega a presença de trabalho forçado nos programas de empregos operados por ele em Xinjiang, que transfere grupos de moradores locais para minas e fábricas. Mas especialistas em direitos humanos dizem que aqueles que se recusam a participar de tais programas podem ser presos ou enfrentar outras punições. Uma lei dos EUA que entrou em vigor em junho do ano passado, a Lei de Prevenção do Trabalho Forçado Uigur, afirma que qualquer produto com materiais de Xinjiang é feito com trabalho forçado até que se prove o contrário.

Desde então, os funcionários da alfândega dos EUA detiveram o equivalente a US$ 1,64 bilhão em produtos importados, incluindo um volume não especificado de painéis solares, para verificar o cumprimento da lei. As empresas de materiais para energia solar dizem que as apreensões provocaram atrasos generalizados nas instalações nos EUA, colocando em risco a transição energética do país.

O governo Biden anunciou que tinha adicionado quatro empresas chinesas, assim como várias de suas subsidiárias, à lista de fabricantes proibidos de enviar produtos para os EUA devido à sua participação no acolhimento, recrutamento ou transporte de trabalho forçado ou de pessoas de grupos perseguidos de Xinjiang. As empresas fornecem produtos para os setores automotivo, de vestuário, de alimentos, de eletrônicos e outros.

À medida que os projetos de energia solar para a transição energética continuam a crescer, a preocupação é que o número de materiais e equipamentos associados ao trabalho forçado possa aumentar.

Nos próximos dez anos ou mais, a indústria de energia solar projeta que irá realizar regularmente o dobro de instalações dos últimos anos, com um crescimento anual previsto para ficar em média em 11%. No curto prazo, a capacidade de produção nos EUA é suficiente para atender a menos de um terço da demanda nacional, de acordo com a Wood McKenzie, empresa de pesquisa e consultoria do setor de energia.

Em junho, a Walk Free, organização internacional de direitos humanos, divulgou um relatório com a estimativa de que 50 milhões de pessoas em todo o mundo viviam sob condições de trabalho forçado em 2021, um aumento de 10 milhões em comparação com 2016.

A organização atribuiu parte desse aumento a tão necessária, porém rápida expansão das energias renováveis para enfrentar as mudanças climáticas. A organização disse que apoia a transição energética, mas quer impedir o trabalho forçado como uma fonte de produtos.

Um exemplo do novo relatório é a JinkoSolar, empresa chinesa que realizou alguns dos trabalhos mais completos para criar uma cadeia de suprimentos fora da China, inclusive com fábricas no Vietnã, na Malásia e nos EUA. Entretanto, o relatório constatou que o uso de matérias-primas da China por essas fábricas mantinha a possível exposição da JinkoSolar à Xinjiang num status alto.

Em maio, a Agência de Investigações de Segurança Interna dos EUA, um braço do Departamento de Segurança Interna, fez uma batida na fábrica da JinkoSolar em Jacksonville, na Flórida, e em um escritório em São Francisco. A investigação parece estar relacionada a várias preocupações, entre elas a de que a JinkoSolar mentiu sobre a origem de algumas importações com materiais de Xinjiang e catalogou incorretamente os produtos, levando a uma tributação incorreta, disse uma fonte a par do inquérito.

Um porta-voz da Agência de Investigações de Segurança Interna se recusou a comentar o caso e fez referência a uma investigação em curso.

Imagem de satélite capturada em 2018 mostra local em que mesquita foi destruída na província de Kiraya, em Xinjiang Foto: Airbus Defence and Space / AFP

A JinkoSolar disse em um comunicado que, com base nas informações disponíveis para a empresa, qualquer especulação de que a investigação estava ligada ao trabalho forçado era “improcedente” e que tinha um compromisso de longa data com a transparência e com o cumprimento da lei dos EUA.

A empresa também chamou de “infundadas” as alegações de que tinha exposição alta a Xinjiang. Ela disse que estava confiante no rastreamento de sua cadeia de suprimentos, que os produtos para o mercado americano eram fabricados apenas com silício policristalino americano e alemão e que os funcionários da alfândega dos EUA já verificaram e liberaram produtos JinkoSolar.

O novo relatório também suscitou dúvidas em relação à cadeia de suprimentos da Hanwha Qcells, empresa sul-coreana que se tornou um dos maiores produtores de painéis solares fabricados nos EUA. Em janeiro, a Qcells anunciou uma expansão de US$ 2,5 bilhões de suas operações na Geórgia, o que a tornaria a única empresa a produzir todos os seus componentes – lingotes, pastilhas, células e painéis finalizados – no país.

Apesar do aumento da presença da Qcells nos EUA, o relatório concluiu que a possível exposição da empresa a Xinjiang era muito alta, pois ela recorre a fornecedores não revelados na China para a grande maioria de seus produtos.

O relatório também disse que uma empresa chinesa, a Meike Solar Technology, que adquire matéria-prima de Xinjiang, declarou a Qcells como um de seus maiores clientes no primeiro semestre de 2022, embora a Qcells tenha dito que cortou o relacionamento com a empresa em 2021.

“A Qcell adotou um código de conduta que proíbe o trabalho forçado na fabricação dos produtos em nossa cadeia de suprimentos e rescindimos contratos se os fornecedores descumprem isso”, disse a empresa em um comunicado. Como parte de sua estratégia de defesa contra produtos oriundos de trabalho forçado, a Qcells disse que faz o levantamento para rastrear as origens dos produtos e auditorias para verificar e garantir que seus fornecedores sigam seu código de conduta. A empresa disse que nenhum de seus produtos na América do Norte tinha sido retido por funcionários da alfândega.

Em uma declaração para os pesquisadores, a Longi disse que sempre age de acordo com as leis e a ética vigentes nas jurisdições onde opera e que o silício policristalino de Xinjiang era usado nos painéis solares vendidos na China.

A JA Solar não respondeu aos pedidos de posicionamento enviados pelos pesquisadores e pelo New York Times. Tanto a LONGI como a JA Solar estão planejando construir fábricas nos EUA.

Os créditos fiscais e outros incentivos à energia limpa oferecidos pela Lei de Redução da Inflação de 2022 têm estimulado novos investimentos no país. A First Solar, fabricante com sede nos EUA, anunciou planos de investir até US$1,1 bilhão na construção de uma nova fábrica no país em um local ainda não definido.

No entanto, Michael Carr, diretor-executivo da Solar Energy Manufacturers for America, que representa os fabricantes de materiais para energia solar com sede nos EUA, disse que o país está tão atrasado em relação à China na fabricação de produtos para a energia solar que uma enorme quantidade de trabalho, capital e conhecimento técnico seria necessária para alcançá-la.

“É difícil ter certeza – e alguns talvez digam ser impossível saber – da fonte do silício policristalino até existir uma oferta doméstica de pastilhas de silício e uma alternativa à China”, disse Carr.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

As cadeias de suprimentos globais para painéis solares começaram a se afastar da forte dependência da China, em parte devido a uma recente proibição de produtos fabricados em Xinjiang, região onde o governo americano e as Nações Unidas acusam a China de cometer violações contra os direitos humanos, incluindo trabalhos forçados.

Mas um novo relatório de especialistas em direitos humanos e da indústria de energia solar descobriu que a grande maioria dos painéis solares fabricados em todo o mundo continua tendo uma exposição considerável à China e a Xinjiang.

O relatório, divulgado há duas semanas, também criticou a indústria de energia solar por estar se tornando menos transparente em relação à origem de seus produtos. Isso tem tornado mais difícil para os compradores verificar se os painéis solares adquiridos para fornecer energia a casas e redes elétricas foram feitos sem trabalho forçado.

A análise foi feita por Alan Crawford, analista da indústria de energia solar, e Laura T. Murphy, professora de direitos humanos e escravidão contemporânea na Universidade Sheffield Hallam, na Inglaterra, em conjunto com pesquisadores que optaram por permanecer anônimos devido ao medo de retaliação do governo chinês.

O Modern Slavery and Human Rights Policy and Evidence Center, consórcio de seis organizações acadêmicas com sede em Londres, forneceu os recursos financeiros para o projeto.

A indústria de energia solar tem sido alvo de críticas severas nos últimos anos por suas ligações com Xinjiang, fornecedora importante de silício policristalino, o material a partir do qual os painéis solares são feitos. A região produz aproximadamente um terço do silício policristalino mundial e do silício de grau metalúrgico, o material a partir do qual o silício policristalino é feito.

Como consequência, muitas empresas prometeram examinar minuciosamente suas cadeias de suprimentos e várias criaram fábricas nos Estados Unidos ou no sudeste asiático para abastecer os mercados ocidentais.

Energia solar é uma das principais apostas para a transição energética Foto: Felipe Rau / Estadão

A Associação das Indústrias de Energia Solar (SEIA, na sigla em inglês), a maior associação comercial do setor, tem pedido às empresas para mudar de fornecedores e cortar os laços com Xinjiang. Mais de 340 empresas assinaram um pacto para manter suas cadeias de suprimentos livres de trabalho forçado.

No entanto, o relatório constatou que as principais empresas globais continuam com chances de ter uma grande exposição a Xinjiang e, possivelmente, ao trabalho forçado, suscitando dúvidas em relação às mudanças. O relatório classificou os cinco maiores fabricantes de materiais para energia solar do mundo – todos com sede na China – como tendo uma possível exposição “alta” ou “muito alta” à Xinjiang.

Algumas empresas chinesas, como a Longi Solar e a JA Solar, têm ligações evidentes com fornecedores operando em Xinjiang, segundo o relatório. Mas até mesmo dentro de cadeias de suprimentos “limpas” criadas para atender aos EUA ou à Europa, muitas empresas ainda parecem estar adquirindo matérias-primas de fornecedores com exposição a Xinjiang, disse Laura.

Em muitos casos, de acordo com as informações divulgadas pelas empresas publicamente, elas não estão comprando materiais suficientes fora de Xinjiang para atingir suas metas de produção, indicando que talvez estejam recorrendo a fornecedores desconhecidos. Em outros casos, as empresas enviaram para Laura informações sobre suas cadeias de suprimentos que eram diretamente contraditórias.

“Faltam informações em todas as etapas”, disse ela.

A predominância da China na indústria de energia solar tem sido um desafio para os EUA e outros países, que estão correndo para instalar painéis solares para mitigar o impacto das mudanças climáticas. A China controla pelo menos 80% da produção global em cada etapa da cadeia de suprimentos.

O governo chinês nega a presença de trabalho forçado nos programas de empregos operados por ele em Xinjiang, que transfere grupos de moradores locais para minas e fábricas. Mas especialistas em direitos humanos dizem que aqueles que se recusam a participar de tais programas podem ser presos ou enfrentar outras punições. Uma lei dos EUA que entrou em vigor em junho do ano passado, a Lei de Prevenção do Trabalho Forçado Uigur, afirma que qualquer produto com materiais de Xinjiang é feito com trabalho forçado até que se prove o contrário.

Desde então, os funcionários da alfândega dos EUA detiveram o equivalente a US$ 1,64 bilhão em produtos importados, incluindo um volume não especificado de painéis solares, para verificar o cumprimento da lei. As empresas de materiais para energia solar dizem que as apreensões provocaram atrasos generalizados nas instalações nos EUA, colocando em risco a transição energética do país.

O governo Biden anunciou que tinha adicionado quatro empresas chinesas, assim como várias de suas subsidiárias, à lista de fabricantes proibidos de enviar produtos para os EUA devido à sua participação no acolhimento, recrutamento ou transporte de trabalho forçado ou de pessoas de grupos perseguidos de Xinjiang. As empresas fornecem produtos para os setores automotivo, de vestuário, de alimentos, de eletrônicos e outros.

À medida que os projetos de energia solar para a transição energética continuam a crescer, a preocupação é que o número de materiais e equipamentos associados ao trabalho forçado possa aumentar.

Nos próximos dez anos ou mais, a indústria de energia solar projeta que irá realizar regularmente o dobro de instalações dos últimos anos, com um crescimento anual previsto para ficar em média em 11%. No curto prazo, a capacidade de produção nos EUA é suficiente para atender a menos de um terço da demanda nacional, de acordo com a Wood McKenzie, empresa de pesquisa e consultoria do setor de energia.

Em junho, a Walk Free, organização internacional de direitos humanos, divulgou um relatório com a estimativa de que 50 milhões de pessoas em todo o mundo viviam sob condições de trabalho forçado em 2021, um aumento de 10 milhões em comparação com 2016.

A organização atribuiu parte desse aumento a tão necessária, porém rápida expansão das energias renováveis para enfrentar as mudanças climáticas. A organização disse que apoia a transição energética, mas quer impedir o trabalho forçado como uma fonte de produtos.

Um exemplo do novo relatório é a JinkoSolar, empresa chinesa que realizou alguns dos trabalhos mais completos para criar uma cadeia de suprimentos fora da China, inclusive com fábricas no Vietnã, na Malásia e nos EUA. Entretanto, o relatório constatou que o uso de matérias-primas da China por essas fábricas mantinha a possível exposição da JinkoSolar à Xinjiang num status alto.

Em maio, a Agência de Investigações de Segurança Interna dos EUA, um braço do Departamento de Segurança Interna, fez uma batida na fábrica da JinkoSolar em Jacksonville, na Flórida, e em um escritório em São Francisco. A investigação parece estar relacionada a várias preocupações, entre elas a de que a JinkoSolar mentiu sobre a origem de algumas importações com materiais de Xinjiang e catalogou incorretamente os produtos, levando a uma tributação incorreta, disse uma fonte a par do inquérito.

Um porta-voz da Agência de Investigações de Segurança Interna se recusou a comentar o caso e fez referência a uma investigação em curso.

Imagem de satélite capturada em 2018 mostra local em que mesquita foi destruída na província de Kiraya, em Xinjiang Foto: Airbus Defence and Space / AFP

A JinkoSolar disse em um comunicado que, com base nas informações disponíveis para a empresa, qualquer especulação de que a investigação estava ligada ao trabalho forçado era “improcedente” e que tinha um compromisso de longa data com a transparência e com o cumprimento da lei dos EUA.

A empresa também chamou de “infundadas” as alegações de que tinha exposição alta a Xinjiang. Ela disse que estava confiante no rastreamento de sua cadeia de suprimentos, que os produtos para o mercado americano eram fabricados apenas com silício policristalino americano e alemão e que os funcionários da alfândega dos EUA já verificaram e liberaram produtos JinkoSolar.

O novo relatório também suscitou dúvidas em relação à cadeia de suprimentos da Hanwha Qcells, empresa sul-coreana que se tornou um dos maiores produtores de painéis solares fabricados nos EUA. Em janeiro, a Qcells anunciou uma expansão de US$ 2,5 bilhões de suas operações na Geórgia, o que a tornaria a única empresa a produzir todos os seus componentes – lingotes, pastilhas, células e painéis finalizados – no país.

Apesar do aumento da presença da Qcells nos EUA, o relatório concluiu que a possível exposição da empresa a Xinjiang era muito alta, pois ela recorre a fornecedores não revelados na China para a grande maioria de seus produtos.

O relatório também disse que uma empresa chinesa, a Meike Solar Technology, que adquire matéria-prima de Xinjiang, declarou a Qcells como um de seus maiores clientes no primeiro semestre de 2022, embora a Qcells tenha dito que cortou o relacionamento com a empresa em 2021.

“A Qcell adotou um código de conduta que proíbe o trabalho forçado na fabricação dos produtos em nossa cadeia de suprimentos e rescindimos contratos se os fornecedores descumprem isso”, disse a empresa em um comunicado. Como parte de sua estratégia de defesa contra produtos oriundos de trabalho forçado, a Qcells disse que faz o levantamento para rastrear as origens dos produtos e auditorias para verificar e garantir que seus fornecedores sigam seu código de conduta. A empresa disse que nenhum de seus produtos na América do Norte tinha sido retido por funcionários da alfândega.

Em uma declaração para os pesquisadores, a Longi disse que sempre age de acordo com as leis e a ética vigentes nas jurisdições onde opera e que o silício policristalino de Xinjiang era usado nos painéis solares vendidos na China.

A JA Solar não respondeu aos pedidos de posicionamento enviados pelos pesquisadores e pelo New York Times. Tanto a LONGI como a JA Solar estão planejando construir fábricas nos EUA.

Os créditos fiscais e outros incentivos à energia limpa oferecidos pela Lei de Redução da Inflação de 2022 têm estimulado novos investimentos no país. A First Solar, fabricante com sede nos EUA, anunciou planos de investir até US$1,1 bilhão na construção de uma nova fábrica no país em um local ainda não definido.

No entanto, Michael Carr, diretor-executivo da Solar Energy Manufacturers for America, que representa os fabricantes de materiais para energia solar com sede nos EUA, disse que o país está tão atrasado em relação à China na fabricação de produtos para a energia solar que uma enorme quantidade de trabalho, capital e conhecimento técnico seria necessária para alcançá-la.

“É difícil ter certeza – e alguns talvez digam ser impossível saber – da fonte do silício policristalino até existir uma oferta doméstica de pastilhas de silício e uma alternativa à China”, disse Carr.

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