O último reajuste da Petrobras nos preços dos combustíveis vendidos às distribuidoras ocorreu há mais de um mês. Para a gasolina, a última mudança foi em 2 de setembro, quando caiu 7%; para o óleo diesel, em 20 de setembro, com uma queda de 5,85%. Desde então, o preço do petróleo subiu no mercado internacional, mas a estatal não repassou esse aumento. Ainda assim, o levantamento semanal da Agência Nacional do Petróleo (ANP) indicou aumentos constantes na média dos valores cobrados aos consumidores nos postos nesse período.
A situação pode ser explicada por dois fatores: o aumento no preço do etanol anidro, que compõe 27% da gasolina vendida nos postos no Brasil e o próprio aumento no valor internacional do petróleo. Embora a Petrobras tenha permitido que uma certa defasagem entre os preços praticados no Brasil e no exterior se formasse - cerca de 2% para a gasolina e 4% para o diesel, de acordo com cálculo mais recente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) -, ainda há reflexos.
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Esses reflexos surgem porque a Petrobras não é a única empresa fornecedora. Há a refinaria privada de Mataripe, na Bahia, que normalmente tem preços um pouco acima da Petrobras e reajusta semanalmente os valores que pratica. Embora as subidas afetem mais os mercados baiano e sergipano, ainda ajudam na subida da média nacional. Além disso, há os próprios importadores - o Brasil importa cerca de 6% da gasolina que utiliza e 25% do diesel - que são obrigados a seguir as cotações das bolsas de valores internacionais.
Em relação ao etanol, o preço subiu 16,1% desde setembro. A alta do biocombustível tem sido causada pela valorização do açúcar, que concorre com a produção de etanol, e pelo atraso da safra deste ano.
De acordo com dados da Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), o litro do etanol anidro passou de R$ 2,83 em 11 de setembro para R$ 3,29 em 11 de novembro. Nos postos, o etanol hidratado também tem sentido a pressão, passando de R$ 3,37 em setembro para R$ 3,79 na semana passada, alta de 12,5%, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Demanda alta
“A gasolina que a gente usa é a C, e não a A, cujo preço é controlado pela Petrobras nas refinarias e que leva 27% de álcool anidro para ser vendida aos postos. Houve uma valorização dos produtos da cana-de-açúcar, e essa valorização está chegando no álcool anidro, o que por sua vez aumenta o preço da gasolina”, explica o coordenador adjunto do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz, que considera a alta uma questão sazonal.
Segundo ele, o aumento registrado pela gasolina tem sido “discreto”, se comparado à queda que o combustível teve nos últimos meses por conta da redução de impostos. O preço médio da gasolina ultrapassou os R$ 5 por litro na semana passada, segundo a ANP, patamar que não era registrado desde a segunda semana de setembro deste ano. Em relação aos preços anteriores à alta do etanol, o preço da gasolina subiu 4,3% desde meados de setembro até a semana passada.
Na última segunda-feira, 14, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea) informou, em relatório, que a demanda pelo etanol anidro continua aquecida, devido ao aumento de consumo da gasolina, o que não afetou o etanol hidratado.
“Inclusive, em um cenário de proximidade do encerramento da safra 2022/23 no Centro-Sul e de foco das usinas na entrega de produto via contrato de ano-safra, algumas distribuidoras estudam adquirir novas quantidades do anidro no mercado spot paulista”, afirmou o Cepea.
“As usinas passam a gerenciar o estoque de produção daqui até março, então no fim de ano normalmente vemos reajustes, então o aumento acaba refletindo na gasolina. Os biocombustíveis também sofreram uma influência do aumento de custos agrícolas nesse último ano. Embora as usinas nem sempre consigam repassar, no momento de entressafra podemos ver uma tentativa de reverter um pouco isso”, explica o professor Carlos Eduardo Vian, da Esalq/USP.
Futuro
De acordo com o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), James Thorp Neto, a maior preocupação do setor no momento é a provável alta em relação ao preço dos combustíveis que deve ocorrer a partir de 1º de janeiro, quando termina o prazo para a vigência da redução dos impostos Cide e PIS-Cofins sobre os combustíveis, que ajudou a elevar as vendas dos postos de abastecimento.
“Estamos com uma grande expectativa do que vai ocorrer em relação à questão da carga tributária. Os impostos foram zerados e poderá ter um impacto nas vendas a partir de 1º de janeiro. Ainda não sabemos como vai ser”, afirma.
O economista e pesquisador Edmar Almeida, do Instituto de Energia da PUC-RJ, concorda que a recente alta da gasolina é puxada pelo encarecimento do etanol anidro, de natureza sazonal, mas que também é uma reação à escalada das cotações internacionais do combustível, que baliza a política de preços dos agentes privados no mercado.
“No caso do etanol, estamos em um momento de entressafra e a demanda de etanol continua alta. É normal o preço subir nesse período. Faz parte do script essa variação do preço no fechamento da safra”, diz Almeida. “Mas esse preço também evolui de acordo com o mercado internacional, principalmente as refinarias totalmente privadas. O mercado nacional segue de perto o preço de importação. Esse preço tinha caído muito até outubro, mas voltou a subir, principalmente nos últimos dias”, continua o especialista.
“Estes dois fatores – outros ofertantes e preço do etanol anidro – fazem com que, mesmo a Petrobras não reajustando o preço dos combustíveis, haja mudança, que nestes últimos dois meses foram aumentos, no preço final”, arremata o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social do Petróleo.