‘Galípolo escolheu o lado dos números, não foi o do governo nem o do mercado’, diz Ázara, do UBS BB


Economista-chefe do banco de investimentos aposta que Banco Central voltará a cortar a Selic na reunião de dezembro

Por Alvaro Gribel
Atualização:
Foto: Dilvulgação/UBS
Entrevista comAlexandre de ÁzaraEconomista-chefe do banco de investimentos UBS BB

BRASÍLIA – Assim como grande parte do mercado financeiro, o economista-chefe do banco de investimentos UBS BB, Alexandre de Ázara, ficou aliviado após a decisão do Copom que manteve os juros em 10,5% ao ano. Ele entende que o resultado unânime entre os nove diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) foi crucial para a recuperação da credibilidade do Banco Central, mas defende que a decisão foi estritamente técnica.

Sobre os votos dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em especial o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, que é o mais cotado para assumir a presidência do Banco no ano que vem, Ázara avalia que ele “ouviu os dados”.

“Galípolo escolheu o lado dos números. Não foi para agradar ao mercado nem ao governo. Sem dúvida nenhuma, como um ativo, ele saiu valorizado”, afirmou em entrevista ao Estadão.

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Apesar de defender a parada nos juros em 10,5%, Ázara tem uma projeção mais otimista para o IPCA este ano. Ele projeta que a inflação oficial chegará em dezembro em 3,3%, contra estimativa de 3,96% do Boletim Focus e de 4% do Banco Central.

“Como a minha projeção é mais baixa, entendo que, em dezembro, o Banco Central já voltará a cortar a taxa Selic”, aposta. A seguir, os principais pontos da entrevista.

Qual a sua avaliação sobre o resultado do Copom?

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Muito boa. Terá capacidade de acalmar as expectativas e os mercados, de dar mais tranquilidade. Pelos dados do próprio Estadão/Broadcast, um terço do mercado apostava que não seria unânime. Os diretores foram maduros e sérios em entregar a unanimidade. A união dentro do Copom mostra que eles estão olhando para o mesmo cenário.

O que o comunicado sinalizou sobre os próximos passos da política monetária?

Aposto em corte de juros já em dezembro, porque acredito que a inflação será mais baixa do que prevê o próprio BC e o mercado. O BC usou uma expressão que achei bem adequada, que foi “interromper”. Isso pode ser interpretado como definitivo ou temporário. Ele não usou nem parada nem pausa. Há uma ambiguidade no bom sentido, que encaixa as duas possibilidades. Dá flexibilidade ao Copom. Não cravou que parou em definitivo, nem que é uma pausa.

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O controle das expectativas de inflação é o ponto mais importante para a volta dos cortes?

É fundamental. Em tese, agora as expectativas de inflação deveriam parar de subir. Acho que, mais para frente, elas podem começar a cair. Se o meu cenário de inflação estiver certo, a inflação será mais baixa do que o previsto pelo mercado – e isso também vai se refletir nas expectativas. Uma coisa boa que pode acontecer e não depende do Copom é esse anúncio da revisão de cortes de gastos pela Fazenda.

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Que avaliação faz dos quatro diretores indicados pelo presidente Lula?

Muita gente falava que o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, iria agir como o Alexandre Tombini (presidente do Banco Central do governo Dilma Rousseff), mas não agiu. Muita gente falava que os quatro não poderiam parar de cortar os juros porque iriam perder a chance de uma possível indicação para a presidência do Banco Central. Acho que não vão perder, mas ao contrário: mostraram seriedade e responsabilidade.

Especificamente sobre Galípolo, que é o mais cotado para assumir o BC, qual a sua avaliação? Ele era o diretor mais pressionado...

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Acho que os dados diziam que ele deveria votar pela parada. E ele ouviu os dados. As expectativas estavam subindo, e isso iria sair do controle se nada fosse feito. Ele e o Comitê juntos tomaram a melhor decisão. Ele escolheu o lado dos números. Não foi para agradar ao mercado nem ao governo. Sem dúvida nenhuma, visto como um ativo, Galípolo saiu valorizado.

Dá para dizer que o BC superou o racha da última reunião?

Acho que começou a superar esse ruído, deu um passo nessa direção. Não ultrapassou ainda; na próxima reunião, tendo nova unanimidade, com zero, acho que consegue.

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Qual seriam os efeitos de uma decisão dividida?

Imediatamente, eu subiria minhas expectativas de inflação para 2024 e 2025. O mercado passaria a ter certeza de que o Copom seria dovish (leniente com a inflação) em excesso, perderia a confiança na diretoria que vai ficar a partir do ano que vem. Seria uma demonstração de que todos olhando para os mesmos dados a decisão seria diferente – o que seria muito estranho. A decisão anterior foi dividida porque havia uma visão diferente sobre o forward guidance (indicação futura). Agora não tem mais forward guidance, todos votaram iguais. Foram coerentes.

Por que o sr. está mais otimista com a inflação?

Estou com 3,3% no final do ano; o Focus está em 3,96% e o Banco Central, em 4%. Aposto que a inflação de bens será menor, e também haverá uma inflação de alimentos menor, em relação ao consenso.

Campos Neto contribuiu para aumentar os ruídos ao jantar com o governador Tarcísio?

Acredito que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gostou, mas prefiro não comentar.

Como avalia a reação do governo e também do PT em relação à interrupção dos cortes?

Os políticos deveriam ficar felizes, porque é isso que vai permitir os cortes lá na frente. Do contrário, não haveria queda, mas alta dos juros. Eles podem não entender isso, mas foi a melhor decisão.

BRASÍLIA – Assim como grande parte do mercado financeiro, o economista-chefe do banco de investimentos UBS BB, Alexandre de Ázara, ficou aliviado após a decisão do Copom que manteve os juros em 10,5% ao ano. Ele entende que o resultado unânime entre os nove diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) foi crucial para a recuperação da credibilidade do Banco Central, mas defende que a decisão foi estritamente técnica.

Sobre os votos dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em especial o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, que é o mais cotado para assumir a presidência do Banco no ano que vem, Ázara avalia que ele “ouviu os dados”.

“Galípolo escolheu o lado dos números. Não foi para agradar ao mercado nem ao governo. Sem dúvida nenhuma, como um ativo, ele saiu valorizado”, afirmou em entrevista ao Estadão.

Apesar de defender a parada nos juros em 10,5%, Ázara tem uma projeção mais otimista para o IPCA este ano. Ele projeta que a inflação oficial chegará em dezembro em 3,3%, contra estimativa de 3,96% do Boletim Focus e de 4% do Banco Central.

“Como a minha projeção é mais baixa, entendo que, em dezembro, o Banco Central já voltará a cortar a taxa Selic”, aposta. A seguir, os principais pontos da entrevista.

Qual a sua avaliação sobre o resultado do Copom?

Muito boa. Terá capacidade de acalmar as expectativas e os mercados, de dar mais tranquilidade. Pelos dados do próprio Estadão/Broadcast, um terço do mercado apostava que não seria unânime. Os diretores foram maduros e sérios em entregar a unanimidade. A união dentro do Copom mostra que eles estão olhando para o mesmo cenário.

O que o comunicado sinalizou sobre os próximos passos da política monetária?

Aposto em corte de juros já em dezembro, porque acredito que a inflação será mais baixa do que prevê o próprio BC e o mercado. O BC usou uma expressão que achei bem adequada, que foi “interromper”. Isso pode ser interpretado como definitivo ou temporário. Ele não usou nem parada nem pausa. Há uma ambiguidade no bom sentido, que encaixa as duas possibilidades. Dá flexibilidade ao Copom. Não cravou que parou em definitivo, nem que é uma pausa.

O controle das expectativas de inflação é o ponto mais importante para a volta dos cortes?

É fundamental. Em tese, agora as expectativas de inflação deveriam parar de subir. Acho que, mais para frente, elas podem começar a cair. Se o meu cenário de inflação estiver certo, a inflação será mais baixa do que o previsto pelo mercado – e isso também vai se refletir nas expectativas. Uma coisa boa que pode acontecer e não depende do Copom é esse anúncio da revisão de cortes de gastos pela Fazenda.

Que avaliação faz dos quatro diretores indicados pelo presidente Lula?

Muita gente falava que o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, iria agir como o Alexandre Tombini (presidente do Banco Central do governo Dilma Rousseff), mas não agiu. Muita gente falava que os quatro não poderiam parar de cortar os juros porque iriam perder a chance de uma possível indicação para a presidência do Banco Central. Acho que não vão perder, mas ao contrário: mostraram seriedade e responsabilidade.

Especificamente sobre Galípolo, que é o mais cotado para assumir o BC, qual a sua avaliação? Ele era o diretor mais pressionado...

Acho que os dados diziam que ele deveria votar pela parada. E ele ouviu os dados. As expectativas estavam subindo, e isso iria sair do controle se nada fosse feito. Ele e o Comitê juntos tomaram a melhor decisão. Ele escolheu o lado dos números. Não foi para agradar ao mercado nem ao governo. Sem dúvida nenhuma, visto como um ativo, Galípolo saiu valorizado.

Dá para dizer que o BC superou o racha da última reunião?

Acho que começou a superar esse ruído, deu um passo nessa direção. Não ultrapassou ainda; na próxima reunião, tendo nova unanimidade, com zero, acho que consegue.

Qual seriam os efeitos de uma decisão dividida?

Imediatamente, eu subiria minhas expectativas de inflação para 2024 e 2025. O mercado passaria a ter certeza de que o Copom seria dovish (leniente com a inflação) em excesso, perderia a confiança na diretoria que vai ficar a partir do ano que vem. Seria uma demonstração de que todos olhando para os mesmos dados a decisão seria diferente – o que seria muito estranho. A decisão anterior foi dividida porque havia uma visão diferente sobre o forward guidance (indicação futura). Agora não tem mais forward guidance, todos votaram iguais. Foram coerentes.

Por que o sr. está mais otimista com a inflação?

Estou com 3,3% no final do ano; o Focus está em 3,96% e o Banco Central, em 4%. Aposto que a inflação de bens será menor, e também haverá uma inflação de alimentos menor, em relação ao consenso.

Campos Neto contribuiu para aumentar os ruídos ao jantar com o governador Tarcísio?

Acredito que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gostou, mas prefiro não comentar.

Como avalia a reação do governo e também do PT em relação à interrupção dos cortes?

Os políticos deveriam ficar felizes, porque é isso que vai permitir os cortes lá na frente. Do contrário, não haveria queda, mas alta dos juros. Eles podem não entender isso, mas foi a melhor decisão.

BRASÍLIA – Assim como grande parte do mercado financeiro, o economista-chefe do banco de investimentos UBS BB, Alexandre de Ázara, ficou aliviado após a decisão do Copom que manteve os juros em 10,5% ao ano. Ele entende que o resultado unânime entre os nove diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) foi crucial para a recuperação da credibilidade do Banco Central, mas defende que a decisão foi estritamente técnica.

Sobre os votos dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em especial o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, que é o mais cotado para assumir a presidência do Banco no ano que vem, Ázara avalia que ele “ouviu os dados”.

“Galípolo escolheu o lado dos números. Não foi para agradar ao mercado nem ao governo. Sem dúvida nenhuma, como um ativo, ele saiu valorizado”, afirmou em entrevista ao Estadão.

Apesar de defender a parada nos juros em 10,5%, Ázara tem uma projeção mais otimista para o IPCA este ano. Ele projeta que a inflação oficial chegará em dezembro em 3,3%, contra estimativa de 3,96% do Boletim Focus e de 4% do Banco Central.

“Como a minha projeção é mais baixa, entendo que, em dezembro, o Banco Central já voltará a cortar a taxa Selic”, aposta. A seguir, os principais pontos da entrevista.

Qual a sua avaliação sobre o resultado do Copom?

Muito boa. Terá capacidade de acalmar as expectativas e os mercados, de dar mais tranquilidade. Pelos dados do próprio Estadão/Broadcast, um terço do mercado apostava que não seria unânime. Os diretores foram maduros e sérios em entregar a unanimidade. A união dentro do Copom mostra que eles estão olhando para o mesmo cenário.

O que o comunicado sinalizou sobre os próximos passos da política monetária?

Aposto em corte de juros já em dezembro, porque acredito que a inflação será mais baixa do que prevê o próprio BC e o mercado. O BC usou uma expressão que achei bem adequada, que foi “interromper”. Isso pode ser interpretado como definitivo ou temporário. Ele não usou nem parada nem pausa. Há uma ambiguidade no bom sentido, que encaixa as duas possibilidades. Dá flexibilidade ao Copom. Não cravou que parou em definitivo, nem que é uma pausa.

O controle das expectativas de inflação é o ponto mais importante para a volta dos cortes?

É fundamental. Em tese, agora as expectativas de inflação deveriam parar de subir. Acho que, mais para frente, elas podem começar a cair. Se o meu cenário de inflação estiver certo, a inflação será mais baixa do que o previsto pelo mercado – e isso também vai se refletir nas expectativas. Uma coisa boa que pode acontecer e não depende do Copom é esse anúncio da revisão de cortes de gastos pela Fazenda.

Que avaliação faz dos quatro diretores indicados pelo presidente Lula?

Muita gente falava que o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, iria agir como o Alexandre Tombini (presidente do Banco Central do governo Dilma Rousseff), mas não agiu. Muita gente falava que os quatro não poderiam parar de cortar os juros porque iriam perder a chance de uma possível indicação para a presidência do Banco Central. Acho que não vão perder, mas ao contrário: mostraram seriedade e responsabilidade.

Especificamente sobre Galípolo, que é o mais cotado para assumir o BC, qual a sua avaliação? Ele era o diretor mais pressionado...

Acho que os dados diziam que ele deveria votar pela parada. E ele ouviu os dados. As expectativas estavam subindo, e isso iria sair do controle se nada fosse feito. Ele e o Comitê juntos tomaram a melhor decisão. Ele escolheu o lado dos números. Não foi para agradar ao mercado nem ao governo. Sem dúvida nenhuma, visto como um ativo, Galípolo saiu valorizado.

Dá para dizer que o BC superou o racha da última reunião?

Acho que começou a superar esse ruído, deu um passo nessa direção. Não ultrapassou ainda; na próxima reunião, tendo nova unanimidade, com zero, acho que consegue.

Qual seriam os efeitos de uma decisão dividida?

Imediatamente, eu subiria minhas expectativas de inflação para 2024 e 2025. O mercado passaria a ter certeza de que o Copom seria dovish (leniente com a inflação) em excesso, perderia a confiança na diretoria que vai ficar a partir do ano que vem. Seria uma demonstração de que todos olhando para os mesmos dados a decisão seria diferente – o que seria muito estranho. A decisão anterior foi dividida porque havia uma visão diferente sobre o forward guidance (indicação futura). Agora não tem mais forward guidance, todos votaram iguais. Foram coerentes.

Por que o sr. está mais otimista com a inflação?

Estou com 3,3% no final do ano; o Focus está em 3,96% e o Banco Central, em 4%. Aposto que a inflação de bens será menor, e também haverá uma inflação de alimentos menor, em relação ao consenso.

Campos Neto contribuiu para aumentar os ruídos ao jantar com o governador Tarcísio?

Acredito que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gostou, mas prefiro não comentar.

Como avalia a reação do governo e também do PT em relação à interrupção dos cortes?

Os políticos deveriam ficar felizes, porque é isso que vai permitir os cortes lá na frente. Do contrário, não haveria queda, mas alta dos juros. Eles podem não entender isso, mas foi a melhor decisão.

BRASÍLIA – Assim como grande parte do mercado financeiro, o economista-chefe do banco de investimentos UBS BB, Alexandre de Ázara, ficou aliviado após a decisão do Copom que manteve os juros em 10,5% ao ano. Ele entende que o resultado unânime entre os nove diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) foi crucial para a recuperação da credibilidade do Banco Central, mas defende que a decisão foi estritamente técnica.

Sobre os votos dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em especial o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, que é o mais cotado para assumir a presidência do Banco no ano que vem, Ázara avalia que ele “ouviu os dados”.

“Galípolo escolheu o lado dos números. Não foi para agradar ao mercado nem ao governo. Sem dúvida nenhuma, como um ativo, ele saiu valorizado”, afirmou em entrevista ao Estadão.

Apesar de defender a parada nos juros em 10,5%, Ázara tem uma projeção mais otimista para o IPCA este ano. Ele projeta que a inflação oficial chegará em dezembro em 3,3%, contra estimativa de 3,96% do Boletim Focus e de 4% do Banco Central.

“Como a minha projeção é mais baixa, entendo que, em dezembro, o Banco Central já voltará a cortar a taxa Selic”, aposta. A seguir, os principais pontos da entrevista.

Qual a sua avaliação sobre o resultado do Copom?

Muito boa. Terá capacidade de acalmar as expectativas e os mercados, de dar mais tranquilidade. Pelos dados do próprio Estadão/Broadcast, um terço do mercado apostava que não seria unânime. Os diretores foram maduros e sérios em entregar a unanimidade. A união dentro do Copom mostra que eles estão olhando para o mesmo cenário.

O que o comunicado sinalizou sobre os próximos passos da política monetária?

Aposto em corte de juros já em dezembro, porque acredito que a inflação será mais baixa do que prevê o próprio BC e o mercado. O BC usou uma expressão que achei bem adequada, que foi “interromper”. Isso pode ser interpretado como definitivo ou temporário. Ele não usou nem parada nem pausa. Há uma ambiguidade no bom sentido, que encaixa as duas possibilidades. Dá flexibilidade ao Copom. Não cravou que parou em definitivo, nem que é uma pausa.

O controle das expectativas de inflação é o ponto mais importante para a volta dos cortes?

É fundamental. Em tese, agora as expectativas de inflação deveriam parar de subir. Acho que, mais para frente, elas podem começar a cair. Se o meu cenário de inflação estiver certo, a inflação será mais baixa do que o previsto pelo mercado – e isso também vai se refletir nas expectativas. Uma coisa boa que pode acontecer e não depende do Copom é esse anúncio da revisão de cortes de gastos pela Fazenda.

Que avaliação faz dos quatro diretores indicados pelo presidente Lula?

Muita gente falava que o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, iria agir como o Alexandre Tombini (presidente do Banco Central do governo Dilma Rousseff), mas não agiu. Muita gente falava que os quatro não poderiam parar de cortar os juros porque iriam perder a chance de uma possível indicação para a presidência do Banco Central. Acho que não vão perder, mas ao contrário: mostraram seriedade e responsabilidade.

Especificamente sobre Galípolo, que é o mais cotado para assumir o BC, qual a sua avaliação? Ele era o diretor mais pressionado...

Acho que os dados diziam que ele deveria votar pela parada. E ele ouviu os dados. As expectativas estavam subindo, e isso iria sair do controle se nada fosse feito. Ele e o Comitê juntos tomaram a melhor decisão. Ele escolheu o lado dos números. Não foi para agradar ao mercado nem ao governo. Sem dúvida nenhuma, visto como um ativo, Galípolo saiu valorizado.

Dá para dizer que o BC superou o racha da última reunião?

Acho que começou a superar esse ruído, deu um passo nessa direção. Não ultrapassou ainda; na próxima reunião, tendo nova unanimidade, com zero, acho que consegue.

Qual seriam os efeitos de uma decisão dividida?

Imediatamente, eu subiria minhas expectativas de inflação para 2024 e 2025. O mercado passaria a ter certeza de que o Copom seria dovish (leniente com a inflação) em excesso, perderia a confiança na diretoria que vai ficar a partir do ano que vem. Seria uma demonstração de que todos olhando para os mesmos dados a decisão seria diferente – o que seria muito estranho. A decisão anterior foi dividida porque havia uma visão diferente sobre o forward guidance (indicação futura). Agora não tem mais forward guidance, todos votaram iguais. Foram coerentes.

Por que o sr. está mais otimista com a inflação?

Estou com 3,3% no final do ano; o Focus está em 3,96% e o Banco Central, em 4%. Aposto que a inflação de bens será menor, e também haverá uma inflação de alimentos menor, em relação ao consenso.

Campos Neto contribuiu para aumentar os ruídos ao jantar com o governador Tarcísio?

Acredito que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gostou, mas prefiro não comentar.

Como avalia a reação do governo e também do PT em relação à interrupção dos cortes?

Os políticos deveriam ficar felizes, porque é isso que vai permitir os cortes lá na frente. Do contrário, não haveria queda, mas alta dos juros. Eles podem não entender isso, mas foi a melhor decisão.

BRASÍLIA – Assim como grande parte do mercado financeiro, o economista-chefe do banco de investimentos UBS BB, Alexandre de Ázara, ficou aliviado após a decisão do Copom que manteve os juros em 10,5% ao ano. Ele entende que o resultado unânime entre os nove diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) foi crucial para a recuperação da credibilidade do Banco Central, mas defende que a decisão foi estritamente técnica.

Sobre os votos dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em especial o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, que é o mais cotado para assumir a presidência do Banco no ano que vem, Ázara avalia que ele “ouviu os dados”.

“Galípolo escolheu o lado dos números. Não foi para agradar ao mercado nem ao governo. Sem dúvida nenhuma, como um ativo, ele saiu valorizado”, afirmou em entrevista ao Estadão.

Apesar de defender a parada nos juros em 10,5%, Ázara tem uma projeção mais otimista para o IPCA este ano. Ele projeta que a inflação oficial chegará em dezembro em 3,3%, contra estimativa de 3,96% do Boletim Focus e de 4% do Banco Central.

“Como a minha projeção é mais baixa, entendo que, em dezembro, o Banco Central já voltará a cortar a taxa Selic”, aposta. A seguir, os principais pontos da entrevista.

Qual a sua avaliação sobre o resultado do Copom?

Muito boa. Terá capacidade de acalmar as expectativas e os mercados, de dar mais tranquilidade. Pelos dados do próprio Estadão/Broadcast, um terço do mercado apostava que não seria unânime. Os diretores foram maduros e sérios em entregar a unanimidade. A união dentro do Copom mostra que eles estão olhando para o mesmo cenário.

O que o comunicado sinalizou sobre os próximos passos da política monetária?

Aposto em corte de juros já em dezembro, porque acredito que a inflação será mais baixa do que prevê o próprio BC e o mercado. O BC usou uma expressão que achei bem adequada, que foi “interromper”. Isso pode ser interpretado como definitivo ou temporário. Ele não usou nem parada nem pausa. Há uma ambiguidade no bom sentido, que encaixa as duas possibilidades. Dá flexibilidade ao Copom. Não cravou que parou em definitivo, nem que é uma pausa.

O controle das expectativas de inflação é o ponto mais importante para a volta dos cortes?

É fundamental. Em tese, agora as expectativas de inflação deveriam parar de subir. Acho que, mais para frente, elas podem começar a cair. Se o meu cenário de inflação estiver certo, a inflação será mais baixa do que o previsto pelo mercado – e isso também vai se refletir nas expectativas. Uma coisa boa que pode acontecer e não depende do Copom é esse anúncio da revisão de cortes de gastos pela Fazenda.

Que avaliação faz dos quatro diretores indicados pelo presidente Lula?

Muita gente falava que o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, iria agir como o Alexandre Tombini (presidente do Banco Central do governo Dilma Rousseff), mas não agiu. Muita gente falava que os quatro não poderiam parar de cortar os juros porque iriam perder a chance de uma possível indicação para a presidência do Banco Central. Acho que não vão perder, mas ao contrário: mostraram seriedade e responsabilidade.

Especificamente sobre Galípolo, que é o mais cotado para assumir o BC, qual a sua avaliação? Ele era o diretor mais pressionado...

Acho que os dados diziam que ele deveria votar pela parada. E ele ouviu os dados. As expectativas estavam subindo, e isso iria sair do controle se nada fosse feito. Ele e o Comitê juntos tomaram a melhor decisão. Ele escolheu o lado dos números. Não foi para agradar ao mercado nem ao governo. Sem dúvida nenhuma, visto como um ativo, Galípolo saiu valorizado.

Dá para dizer que o BC superou o racha da última reunião?

Acho que começou a superar esse ruído, deu um passo nessa direção. Não ultrapassou ainda; na próxima reunião, tendo nova unanimidade, com zero, acho que consegue.

Qual seriam os efeitos de uma decisão dividida?

Imediatamente, eu subiria minhas expectativas de inflação para 2024 e 2025. O mercado passaria a ter certeza de que o Copom seria dovish (leniente com a inflação) em excesso, perderia a confiança na diretoria que vai ficar a partir do ano que vem. Seria uma demonstração de que todos olhando para os mesmos dados a decisão seria diferente – o que seria muito estranho. A decisão anterior foi dividida porque havia uma visão diferente sobre o forward guidance (indicação futura). Agora não tem mais forward guidance, todos votaram iguais. Foram coerentes.

Por que o sr. está mais otimista com a inflação?

Estou com 3,3% no final do ano; o Focus está em 3,96% e o Banco Central, em 4%. Aposto que a inflação de bens será menor, e também haverá uma inflação de alimentos menor, em relação ao consenso.

Campos Neto contribuiu para aumentar os ruídos ao jantar com o governador Tarcísio?

Acredito que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gostou, mas prefiro não comentar.

Como avalia a reação do governo e também do PT em relação à interrupção dos cortes?

Os políticos deveriam ficar felizes, porque é isso que vai permitir os cortes lá na frente. Do contrário, não haveria queda, mas alta dos juros. Eles podem não entender isso, mas foi a melhor decisão.

Entrevista por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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