Expectativa de IPCA só muda com clareza de novo comando do BC, diz economista do Barclays


Segundo Roberto Secemski, incerteza sobre novo presidente do Banco Central tem mantido projeções de inflação acima do centro da meta

Por Cícero Cotrim
Foto: Barclays
Entrevista comRoberto SecemskiEconomista do Barclays

As expectativas de inflação do mercado vão continuar desancoradas pelo menos até que haja clareza sobre quem será o próximo presidente do Banco Central, afirma o economista para Brasil do Barclays, Roberto Secemski. A incerteza sobre o nome que substituirá Roberto Campos Neto no comando da instituição a partir de 2025 tem mantido as projeções rigidamente acima do centro da meta, ele diz.

“Até que haja clareza em relação ao novo comando do BC, as expectativas de 2025 em diante não devem se mexer significativamente, mesmo que haja uma melhora no cenário para 2024″, afirma. Nesta entrevista ao Estadão/Broadcast, ele também fala sobre as expectativas para a política monetária após a mudança no forward guidance (projeções) do Copom e sobre a importância de controlar a inflação de serviços.

Leia os principais trechos da conversa abaixo.

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O Barclays manteve a projeção de mais dois cortes de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic. Na sua avaliação, a chance de um corte menor em junho aumentou?

É verdade que a probabilidade de um corte menor em junho aumentou. Em primeiro lugar, porque o BC já não se sente confortável em comunicar a intenção de manter o ritmo na reunião de junho, porque retirou o plural do forward guidance. Em segundo, o fato de alguns membros do Copom terem sinalizado que considerariam a possibilidade de desacelerar o ritmo também pesa. E, na margem, os números de atividade e inflação, inclusive de serviços, estão indicando cautela. Isso resulta num aumento da probabilidade, na margem, de que o movimento de junho seja de um corte de 0,25 ponto. Mas não vejo essa chance como predominante.

Por quê?

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No fundo, o que o Copom sugeriu na comunicação é que ele precisa seguir vigilante quando olha para a performance do mercado de trabalho, especificamente os salários; para a inflação, e mais especificamente os serviços subjacentes; e para a atividade econômica, especialmente os indicadores de consumo. São esses indicadores que vão dizer, ao longo dos próximos três meses, se uma eventual desaceleração do ritmo de cortes se justifica. Trocando em miúdos, o efeito da mudança no forward guidance é deixar a porta aberta para reagir à evolução dos dados.

O economista do Barclays para o Brasil, Roberto Secemski. Foto: Barclays

O BC manteve a projeção de IPCA em 3,2% - acima do centro da meta, de 3% - até 2026. Isso sugere que a trajetória da taxa Selic no boletim Focus está baixa demais?

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Esse é um dos motivos pelos quais eu mantenho a projeção de Selic terminal em 9,5%, acima do Focus, há algum tempo. Esse exercício do BC tem mostrado consistentemente que, com a Selic do Focus, a projeção de inflação de médio e longo prazo deles não converge, sugerindo que os juros deveriam ficar um pouco acima do que o Focus tem hoje. Vejo como uma sinalização que aumenta o conforto com a minha projeção.

O ritmo dos cortes faz diferença?

Um ritmo menor pode, talvez, permitir que o BC vá um pouco mais longe - digamos, diminuir a Selic a 9,25% ou 9% -, na medida em que o Fed confirme as expectativas e embarque num ciclo de desaperto monetário. Obviamente isso não se dá de forma mecânica, mas, na medida em que haja um começo do desaperto nos Estados Unidos e que isso se traduza em condições financeiras melhores para mercados emergentes, com uma possível ajuda à taxa de câmbio, poderia abrir a porta para continuar os cortes nesse ritmo menor, de 0,25 ponto. Nesse sentido, existe a possibilidade de ir mais devagar para poder chegar mais longe.

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Como o mercado de trabalho ainda forte pode afetar a condução da política monetária?

A magnitude de aumento real dos rendimentos e da massa salarial está claramente acima do crescimento da produtividade do trabalho no Brasil, seja por causa da alta real do salário mínimo, seja porque talvez o ritmo de criação de empregos continue acima do que seria compatível com um nível estrutural. E é fato que a taxa de participação continua bem abaixo do pré-pandemia. Ou seja, você tem menos gente disponível para ser contratada e segue contratando com bastante ímpeto. A combinação desses fatores sugere uma potencial pressão inflacionária à frente.

De que forma?

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Os serviços intensivos em trabalho aceleraram pelo quarto mês seguido no IPCA-15 de março, saindo de 5% em novembro para 6,6%, na média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada. Esse componente tem um peso relativamente pequeno na cesta do IPCA, mas ilustra a preocupação. Nos últimos meses, a ajuda para a desinflação tem vindo dos bens industriais, como reflexo da queda dos preços de commodities e da desinflação na China. E esse componente tende a ser mais cíclico, enquanto a parte de serviços tende a ser mais inercial.

O perigo é que a inflação de serviços fique persistentemente mais alta?

Entre 2011 e 2016, tanto os serviços quanto o núcleo de serviços rodavam consistentemente entre 8% e 10% ao ano e a única coisa que quebrou essa dinâmica foi a pior recessão da história, que fez a taxa de desemprego dobrar. Agora, os números têm sugerido uma exaustão na desinflação de serviços subjacentes, com estabilização em torno de 5%. Se isso acontecer, a inércia deve deixar esse grupo nessa faixa. Para chegar à meta de inflação, de 3%, isso implicaria que a inflação de alimentação, bens industriais e preços administrados precisa ficar em torno de 2,5%. É daí que vem a preocupação do BC: fazer um pouso do IPCA, mas de forma que não sobrecarregue o trabalho de todos os outros componentes da inflação.

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Qual é a sua expectativa para a inflação? Ela deve convergir para a meta no futuro próximo?

Tenho um IPCA de 3,7% em 2024, mas com uma inflação mais próxima de 4% para a média dos núcleos e próxima de 5% para os serviços subjacentes. Isso é um pouso em nível alto. E a resposta curta é que eu não vejo convergência do IPCA para a meta: em 2025, eu tenho uma inflação de 3,5%, mas é um número muito sujeito às incertezas, diante da distância daqui até lá.

E as expectativas do mercado? Podem convergir para a meta?

Ainda que ocorra uma desaceleração da inflação no segundo trimestre, com consequente melhora da projeção para 2024, eu não vejo uma transmissão desse movimento na mesma magnitude para as expectativas de 2025. Isso porque a grande questão para o mercado, hoje, é saber quem será o próximo presidente do Banco Central. Isso certamente terá um impacto relevante com relação à credibilidade que o mercado associa a perseguição da meta pelo novo BC. Ou seja: até que haja clareza em relação ao novo comando do BC, as expectativas de 2025 em diante não devem se mexer significativamente, mesmo que haja uma melhora no cenário para 2024.

As expectativas de inflação do mercado vão continuar desancoradas pelo menos até que haja clareza sobre quem será o próximo presidente do Banco Central, afirma o economista para Brasil do Barclays, Roberto Secemski. A incerteza sobre o nome que substituirá Roberto Campos Neto no comando da instituição a partir de 2025 tem mantido as projeções rigidamente acima do centro da meta, ele diz.

“Até que haja clareza em relação ao novo comando do BC, as expectativas de 2025 em diante não devem se mexer significativamente, mesmo que haja uma melhora no cenário para 2024″, afirma. Nesta entrevista ao Estadão/Broadcast, ele também fala sobre as expectativas para a política monetária após a mudança no forward guidance (projeções) do Copom e sobre a importância de controlar a inflação de serviços.

Leia os principais trechos da conversa abaixo.

O Barclays manteve a projeção de mais dois cortes de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic. Na sua avaliação, a chance de um corte menor em junho aumentou?

É verdade que a probabilidade de um corte menor em junho aumentou. Em primeiro lugar, porque o BC já não se sente confortável em comunicar a intenção de manter o ritmo na reunião de junho, porque retirou o plural do forward guidance. Em segundo, o fato de alguns membros do Copom terem sinalizado que considerariam a possibilidade de desacelerar o ritmo também pesa. E, na margem, os números de atividade e inflação, inclusive de serviços, estão indicando cautela. Isso resulta num aumento da probabilidade, na margem, de que o movimento de junho seja de um corte de 0,25 ponto. Mas não vejo essa chance como predominante.

Por quê?

No fundo, o que o Copom sugeriu na comunicação é que ele precisa seguir vigilante quando olha para a performance do mercado de trabalho, especificamente os salários; para a inflação, e mais especificamente os serviços subjacentes; e para a atividade econômica, especialmente os indicadores de consumo. São esses indicadores que vão dizer, ao longo dos próximos três meses, se uma eventual desaceleração do ritmo de cortes se justifica. Trocando em miúdos, o efeito da mudança no forward guidance é deixar a porta aberta para reagir à evolução dos dados.

O economista do Barclays para o Brasil, Roberto Secemski. Foto: Barclays

O BC manteve a projeção de IPCA em 3,2% - acima do centro da meta, de 3% - até 2026. Isso sugere que a trajetória da taxa Selic no boletim Focus está baixa demais?

Esse é um dos motivos pelos quais eu mantenho a projeção de Selic terminal em 9,5%, acima do Focus, há algum tempo. Esse exercício do BC tem mostrado consistentemente que, com a Selic do Focus, a projeção de inflação de médio e longo prazo deles não converge, sugerindo que os juros deveriam ficar um pouco acima do que o Focus tem hoje. Vejo como uma sinalização que aumenta o conforto com a minha projeção.

O ritmo dos cortes faz diferença?

Um ritmo menor pode, talvez, permitir que o BC vá um pouco mais longe - digamos, diminuir a Selic a 9,25% ou 9% -, na medida em que o Fed confirme as expectativas e embarque num ciclo de desaperto monetário. Obviamente isso não se dá de forma mecânica, mas, na medida em que haja um começo do desaperto nos Estados Unidos e que isso se traduza em condições financeiras melhores para mercados emergentes, com uma possível ajuda à taxa de câmbio, poderia abrir a porta para continuar os cortes nesse ritmo menor, de 0,25 ponto. Nesse sentido, existe a possibilidade de ir mais devagar para poder chegar mais longe.

Como o mercado de trabalho ainda forte pode afetar a condução da política monetária?

A magnitude de aumento real dos rendimentos e da massa salarial está claramente acima do crescimento da produtividade do trabalho no Brasil, seja por causa da alta real do salário mínimo, seja porque talvez o ritmo de criação de empregos continue acima do que seria compatível com um nível estrutural. E é fato que a taxa de participação continua bem abaixo do pré-pandemia. Ou seja, você tem menos gente disponível para ser contratada e segue contratando com bastante ímpeto. A combinação desses fatores sugere uma potencial pressão inflacionária à frente.

De que forma?

Os serviços intensivos em trabalho aceleraram pelo quarto mês seguido no IPCA-15 de março, saindo de 5% em novembro para 6,6%, na média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada. Esse componente tem um peso relativamente pequeno na cesta do IPCA, mas ilustra a preocupação. Nos últimos meses, a ajuda para a desinflação tem vindo dos bens industriais, como reflexo da queda dos preços de commodities e da desinflação na China. E esse componente tende a ser mais cíclico, enquanto a parte de serviços tende a ser mais inercial.

O perigo é que a inflação de serviços fique persistentemente mais alta?

Entre 2011 e 2016, tanto os serviços quanto o núcleo de serviços rodavam consistentemente entre 8% e 10% ao ano e a única coisa que quebrou essa dinâmica foi a pior recessão da história, que fez a taxa de desemprego dobrar. Agora, os números têm sugerido uma exaustão na desinflação de serviços subjacentes, com estabilização em torno de 5%. Se isso acontecer, a inércia deve deixar esse grupo nessa faixa. Para chegar à meta de inflação, de 3%, isso implicaria que a inflação de alimentação, bens industriais e preços administrados precisa ficar em torno de 2,5%. É daí que vem a preocupação do BC: fazer um pouso do IPCA, mas de forma que não sobrecarregue o trabalho de todos os outros componentes da inflação.

Qual é a sua expectativa para a inflação? Ela deve convergir para a meta no futuro próximo?

Tenho um IPCA de 3,7% em 2024, mas com uma inflação mais próxima de 4% para a média dos núcleos e próxima de 5% para os serviços subjacentes. Isso é um pouso em nível alto. E a resposta curta é que eu não vejo convergência do IPCA para a meta: em 2025, eu tenho uma inflação de 3,5%, mas é um número muito sujeito às incertezas, diante da distância daqui até lá.

E as expectativas do mercado? Podem convergir para a meta?

Ainda que ocorra uma desaceleração da inflação no segundo trimestre, com consequente melhora da projeção para 2024, eu não vejo uma transmissão desse movimento na mesma magnitude para as expectativas de 2025. Isso porque a grande questão para o mercado, hoje, é saber quem será o próximo presidente do Banco Central. Isso certamente terá um impacto relevante com relação à credibilidade que o mercado associa a perseguição da meta pelo novo BC. Ou seja: até que haja clareza em relação ao novo comando do BC, as expectativas de 2025 em diante não devem se mexer significativamente, mesmo que haja uma melhora no cenário para 2024.

As expectativas de inflação do mercado vão continuar desancoradas pelo menos até que haja clareza sobre quem será o próximo presidente do Banco Central, afirma o economista para Brasil do Barclays, Roberto Secemski. A incerteza sobre o nome que substituirá Roberto Campos Neto no comando da instituição a partir de 2025 tem mantido as projeções rigidamente acima do centro da meta, ele diz.

“Até que haja clareza em relação ao novo comando do BC, as expectativas de 2025 em diante não devem se mexer significativamente, mesmo que haja uma melhora no cenário para 2024″, afirma. Nesta entrevista ao Estadão/Broadcast, ele também fala sobre as expectativas para a política monetária após a mudança no forward guidance (projeções) do Copom e sobre a importância de controlar a inflação de serviços.

Leia os principais trechos da conversa abaixo.

O Barclays manteve a projeção de mais dois cortes de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic. Na sua avaliação, a chance de um corte menor em junho aumentou?

É verdade que a probabilidade de um corte menor em junho aumentou. Em primeiro lugar, porque o BC já não se sente confortável em comunicar a intenção de manter o ritmo na reunião de junho, porque retirou o plural do forward guidance. Em segundo, o fato de alguns membros do Copom terem sinalizado que considerariam a possibilidade de desacelerar o ritmo também pesa. E, na margem, os números de atividade e inflação, inclusive de serviços, estão indicando cautela. Isso resulta num aumento da probabilidade, na margem, de que o movimento de junho seja de um corte de 0,25 ponto. Mas não vejo essa chance como predominante.

Por quê?

No fundo, o que o Copom sugeriu na comunicação é que ele precisa seguir vigilante quando olha para a performance do mercado de trabalho, especificamente os salários; para a inflação, e mais especificamente os serviços subjacentes; e para a atividade econômica, especialmente os indicadores de consumo. São esses indicadores que vão dizer, ao longo dos próximos três meses, se uma eventual desaceleração do ritmo de cortes se justifica. Trocando em miúdos, o efeito da mudança no forward guidance é deixar a porta aberta para reagir à evolução dos dados.

O economista do Barclays para o Brasil, Roberto Secemski. Foto: Barclays

O BC manteve a projeção de IPCA em 3,2% - acima do centro da meta, de 3% - até 2026. Isso sugere que a trajetória da taxa Selic no boletim Focus está baixa demais?

Esse é um dos motivos pelos quais eu mantenho a projeção de Selic terminal em 9,5%, acima do Focus, há algum tempo. Esse exercício do BC tem mostrado consistentemente que, com a Selic do Focus, a projeção de inflação de médio e longo prazo deles não converge, sugerindo que os juros deveriam ficar um pouco acima do que o Focus tem hoje. Vejo como uma sinalização que aumenta o conforto com a minha projeção.

O ritmo dos cortes faz diferença?

Um ritmo menor pode, talvez, permitir que o BC vá um pouco mais longe - digamos, diminuir a Selic a 9,25% ou 9% -, na medida em que o Fed confirme as expectativas e embarque num ciclo de desaperto monetário. Obviamente isso não se dá de forma mecânica, mas, na medida em que haja um começo do desaperto nos Estados Unidos e que isso se traduza em condições financeiras melhores para mercados emergentes, com uma possível ajuda à taxa de câmbio, poderia abrir a porta para continuar os cortes nesse ritmo menor, de 0,25 ponto. Nesse sentido, existe a possibilidade de ir mais devagar para poder chegar mais longe.

Como o mercado de trabalho ainda forte pode afetar a condução da política monetária?

A magnitude de aumento real dos rendimentos e da massa salarial está claramente acima do crescimento da produtividade do trabalho no Brasil, seja por causa da alta real do salário mínimo, seja porque talvez o ritmo de criação de empregos continue acima do que seria compatível com um nível estrutural. E é fato que a taxa de participação continua bem abaixo do pré-pandemia. Ou seja, você tem menos gente disponível para ser contratada e segue contratando com bastante ímpeto. A combinação desses fatores sugere uma potencial pressão inflacionária à frente.

De que forma?

Os serviços intensivos em trabalho aceleraram pelo quarto mês seguido no IPCA-15 de março, saindo de 5% em novembro para 6,6%, na média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada. Esse componente tem um peso relativamente pequeno na cesta do IPCA, mas ilustra a preocupação. Nos últimos meses, a ajuda para a desinflação tem vindo dos bens industriais, como reflexo da queda dos preços de commodities e da desinflação na China. E esse componente tende a ser mais cíclico, enquanto a parte de serviços tende a ser mais inercial.

O perigo é que a inflação de serviços fique persistentemente mais alta?

Entre 2011 e 2016, tanto os serviços quanto o núcleo de serviços rodavam consistentemente entre 8% e 10% ao ano e a única coisa que quebrou essa dinâmica foi a pior recessão da história, que fez a taxa de desemprego dobrar. Agora, os números têm sugerido uma exaustão na desinflação de serviços subjacentes, com estabilização em torno de 5%. Se isso acontecer, a inércia deve deixar esse grupo nessa faixa. Para chegar à meta de inflação, de 3%, isso implicaria que a inflação de alimentação, bens industriais e preços administrados precisa ficar em torno de 2,5%. É daí que vem a preocupação do BC: fazer um pouso do IPCA, mas de forma que não sobrecarregue o trabalho de todos os outros componentes da inflação.

Qual é a sua expectativa para a inflação? Ela deve convergir para a meta no futuro próximo?

Tenho um IPCA de 3,7% em 2024, mas com uma inflação mais próxima de 4% para a média dos núcleos e próxima de 5% para os serviços subjacentes. Isso é um pouso em nível alto. E a resposta curta é que eu não vejo convergência do IPCA para a meta: em 2025, eu tenho uma inflação de 3,5%, mas é um número muito sujeito às incertezas, diante da distância daqui até lá.

E as expectativas do mercado? Podem convergir para a meta?

Ainda que ocorra uma desaceleração da inflação no segundo trimestre, com consequente melhora da projeção para 2024, eu não vejo uma transmissão desse movimento na mesma magnitude para as expectativas de 2025. Isso porque a grande questão para o mercado, hoje, é saber quem será o próximo presidente do Banco Central. Isso certamente terá um impacto relevante com relação à credibilidade que o mercado associa a perseguição da meta pelo novo BC. Ou seja: até que haja clareza em relação ao novo comando do BC, as expectativas de 2025 em diante não devem se mexer significativamente, mesmo que haja uma melhora no cenário para 2024.

Entrevista por Cícero Cotrim

Cícero Cotrim é repórter do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.

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