O boicote do Carrefour à carne do Mercosul seria mais uma ação de marketing do que uma medida concreta capaz de afetar as exportações brasileiras, segundo o experiente observador das relações comerciais internacionais Welber Barral. Ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e PhD em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP), o consultor acredita que essa manifestação terá pouco efeito prático no curto prazo e pode ser esquecida no futuro.
Por meio de comunicado, o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, se comprometeu a não vender mais carnes procedentes do Mercosul. A decisão teria vindo, segundo ele, após ouvir o “desânimo e a indignação” de agricultores franceses, que são contra a proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. “Se o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul for fechado, eu duvido que o Carrefour não compre dos países daqui. Em dois anos, ninguém mais vai se lembrar dessa declaração dele”, afirmou Barral, ao Estadão.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
O que está por trás desse episódio envolvendo o boicote à compra de carnes do Mercosul pelo Carrefour na França?
Existe uma chance não muito grande de o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul ser fechado ou, ao menos, avançar ainda este ano. Essa é a expectativa, pelo menos, dos países do Mercosul. E existe uma resistência dos agricultores franceses a que isso aconteça.
Mas por que o Carrefour acabou entrando nessa briga?
No meu ponto de vista, essa é uma ação publicitária do Carrefour, para agradar ao cliente na França. Se o acordo comercial não é fechado com o Mercosul, ele já não iria fazer as compras de carne mesmo. Mas, como disse antes que não faria as compras, vai agradar ao público na França. Mas, se o acordo for fechado, eu duvido que ele não compre dos países daqui. Em dois anos, ninguém mais vai se lembrar dessa declaração dele.
Então, ela não teria nenhum efeito prático?
Não. Mesmo que o acordo avance, precisará, para ser aprovado, passar pelos congressos dos países e pelo Parlamento Europeu, o que vai levar de três a cinco anos. Na melhor das hipóteses, ele é assinado este ano, e depois tem de cumprir toda essa tramitação. Até lá, muita coisa vai acontecer.
Essa resistência, no entanto, pode prejudicar as exportações do Brasil pelo bloco europeu, com mais países seguindo o exemplo do Carrefour?
Hoje, as vendas do Mercosul para a Europa são muito pequenas, até porque os limites de cotas não permitem mais negócios. O acordo vai ampliar o limite das cotas. Agora, não haverá nenhum impacto.
A resistência ao acordo vem principalmente da França. Por que é tão difícil para os políticos franceses desagradarem aos agricultores do país?
A França é o maior país agrícola da Europa, e a sua agricultura é muito subsidiada. Ela não tem competitividade para concorrer contra a produção do Mercosul.
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O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, declarou que os produtores brasileiro deveriam, em represália, deixar de vender carnes para o Carrefour no Brasil. Isso pode acontecer?
O ministro está fazendo o que tem de fazer, que é defender o Brasil. Mas esse tipo de retaliação é muito difícil. É muito complexo coordenar isso com milhares de produtores. E seria até inconstitucional se o governo proibisse o Carrefour de comprar carne brasileira.