Ex-secretário especial do Tesouro e Orçamento e atual CEO da Bradesco Asset, Bruno Funchal avalia que o pacote de contenção de gastos do governo está na direção correta, mas deve ficar aquém dos R$ 70 bilhões anunciados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Na nossa visão, talvez não chegue em R$ 70 bilhões. Talvez chegue em algo em torno de R$ 40 bilhões”, calcula.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele diz que há dificuldade na tramitação. “O problema é que tem de passar PEC, tem de passar projeto de lei. É muito difícil essa tramitação.” Funchal considera que uma parte desses recursos já tinha sido anunciada em alguma medida, dentro do combate à fraude em benefícios. “O pacote talvez não seja tão forte quanto está sendo anunciado. Talvez a expectativa esteja superestimada”. Ainda segundo ele, o pacote não ataca despesas obrigatórias.
Para Funchal, no entanto, muito do estresse do mercado financeiro desde quarta-feira, 27, está relacionado ao anúncio do reajuste da tabela do Imposto de Renda - isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil, com aumento na tributação para os salários acima de R$ 50 mil como compensação. “A peculiaridade é que a isenção tem um custo elevado, algo em torno de R$ 40 a 45 bilhões. A contrapartida é ‘ok’, mas sabemos que na tramitação há muita dificuldade de criar imposto e há um incentivo ao Congresso querer também conceder alguma coisa. Então, ficou muito desbalanceado esse risco.”
“O risco está muito mais para uma redução de receita por causa do ajuste da tabela do IR que para algo neutro. Sendo que esses R$ 40 bilhões podem ser mais que R$ 40 bilhões, se houver outros ajustes. Por exemplo, se mantiver a ‘escadinha’ do Imposto de Renda e não usar a metodologia que o governo propôs, esse custo pode ser maior. Então, acho que isso acabou contaminando o anúncio do pacote fiscal”, analisou.
De acordo com o ex-secretário do Tesouro, os investidores que apostam no Brasil estão começando a vender ativos, o que provoca elevação das taxas de juros futuros e da cotação do dólar, acima de R$ 6,00. “Isso é reflexo de como o pacote foi percebido. Foi percebido como um risco.”
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Ainda na visão de Funchal, o pacote fiscal só saiu por causa do reajuste da tabela do IR. Então, não dá para desvincular as discussões e, olhando o todo, o que fica é mais incerteza. “Ou seja, você espera algo numa direção e vem em outra. Nessa direção, acaba ficando mais difícil o combate à inflação, já que é uma política que talvez não contenha gastos ou que possa até colocar mais renda na mão da população no curto prazo. Isso vai pressionar o Banco Central. A curva de juros já precifica aumentos de juros relevantes nas próximas reuniões.”