‘Alguns países usam o meio ambiente para criar barreiras comerciais’, diz CEO da Embraer


Francisco Gomes Neto diz que G-20 precisa tratar desse tema; países devem fazer revisão de barreiras comerciais adotadas nos últimos três anos e unificar os critérios de sustentabilidade do comércio

Por Beatriz Bulla
Foto: Divulgação/Embraer
Entrevista comFrancisco Gomes NetoCEO da Embraer

Se, de um lado, o avanço das preocupações de consumidores e empresas com a sustentabilidade da cadeia de fornecimento de produtos aumenta a atenção e busca por uma transição verde. De outro, abre espaço para o que os países vêm chamando de protecionismo ambiental. E este é um dos temas da pauta do G-20. “Alguns países usam o meio ambiente para criar barreiras comerciais. Gostaríamos que o G-20 tratasse desse tema”, afirma o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto. Ele liderou a força-tarefa do B-20, braço empresarial do G-20, sobre comércio e investimento.

“A primeira política de ação que definimos é promover regras internacionalmente aceitas para o cálculo da pegada de carbono. Assim, todos usariam a mesma regra, facilitando o entendimento e a ação dos exportadores”, afirma Neto. “Outra questão é que, nos últimos três anos, devido a isso e outros temas, observamos a introdução de várias barreiras comerciais. Portanto, também gostaríamos que o G-20 promovesse uma revisão dessas barreiras implementadas nos últimos anos para avaliar o que pode ser removido”, diz o representante do empresariado.

O B-20 sugere a unificação de critérios para o comércio internacional que considere a pegada de carbono dos produtos. Também defende que a revisão da restrição comercial imposta por países do grupo nos últimos três anos.

continua após a publicidade

Os países do G-20 respondem por 75% do fluxo de comércio global. Uma das discussões presentes no fórum é a conciliação dos parâmetros de sustentabilidade com as diretrizes de comércio. A criação de barreiras ao comércio internacional com base em diferentes parâmetros ambientais, chamado de protecionismo ambiental, têm sido uma preocupação para o setor privado. Até 2022 mais de mil leis climáticas haviam sido aprovadas desde a adoção do Acordo de Paris. No ano passado, por exemplo, o Parlamento Europeu aprovou legislação que impede que produtos oriundos de áreas florestais que foram desmatadas a partir de 1º de janeiro de 2021 sejam vendidos nos 27 países que integram a União Europeia.

O documento do B-20 sobre comércio e investimento foi elaborado em parceria com a consultoria Boston Consulting Group (BCG). “O Brasil traz temas extremamente prioritários para o centro da discussão do G-20, como a promoção do desenvolvimento sustentável; combate à fome; e a reforma dos organismos internacionais e da governança global do comércio. O B-20 Brasil também acerta muito ao propor que as forças-tarefas desenvolvam recomendações alinhadas aos temas prioritários do G-20. No caso, por exemplo, da força-tarefa de Comércio e Investimento, trabalhamos com os temas como a reforma da OMC; a promoção de cadeias de valor mais sustentáveis; a promoção da segurança alimentar por meio da garantia do livre comércio de alimentos”, afirma Masao Ukon, diretor-executivo e sócio do BCG.

continua após a publicidade

Seu navegador não suporta esse video.

Em entrevista ao Estadão, Francisco Gomes Neto fala sobre recomendações do setor privado aos governos para destravar comércio

O Estadão publica, desde o último dia 14, uma série de entrevistas com os CEOs e executivos brasileiros que estiveram à frente das oito forças-tarefa do B-20. Eles abordam a situação do Brasil ante os demais países, em cada uma das áreas analisadas, e como enfrentar os principais desafios econômicos contemporâneos. Também falam de como tem sido a recepção do governo Lula às propostas encaminhadas pelo setor privado.

continua após a publicidade

Leia abaixo a entrevista:

Qual é o tema dentro da área designada de comércio e investimento que você acredita ser o mais relevante ou urgente para ser discutido este ano em termos de desafio contemporâneo para esses países?

Esse processo todo buscou ser mais simples e focar no que consideramos mais relevante como sugestão para o G-20. Chegamos a três recomendações.

continua após a publicidade

Talvez me arrisque a dizer que, se tivesse de escolher um, escolheria a sustentabilidade da cadeia de valor. O que isso significa? É sobre o que vemos hoje no mundo, onde alguns países usam o meio ambiente para criar barreiras comerciais. Gostaríamos que o G-20 tratasse desse tema.

Cada recomendação foi acompanhada de duas políticas de ação que sugerimos. No caso das cadeias de valor impactadas por regulação ambiental, há situações em que, por exemplo, queimadas na Amazônia geram restrições na importação de produtos do Brasil.

A primeira política de ação que definimos é promover regras internacionalmente aceitas para o cálculo da pegada de carbono. Assim, todos usariam a mesma regra, facilitando o entendimento e a ação dos exportadores.

continua após a publicidade
Até 2022 mais de mil leis climáticas haviam sido aprovadas desde a adoção do Acordo de Paris. No ano passado, por exemplo, o Parlamento Europeu aprovou legislação que impede que produtos oriundos de áreas florestais que foram desmatadas a partir de 1º de janeiro de 2021 sejam vendidos nos 27 países que integram a União Europeia. FOTO - DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Outra questão é que, nos últimos três anos, devido a isso e outros temas, observamos a introdução de várias barreiras comerciais. Portanto, também gostaríamos que o G-20 promovesse uma revisão dessas barreiras implementadas nos últimos anos para avaliar o que pode ser removido.

Esse é um ponto importante. A segunda recomendação é manter os acordos de livre comércio existentes e promover novos. Das três recomendações, se perguntassem qual mexeria mais o ponteiro, essa seria a escolha.

continua após a publicidade

Esse tema da transição e sustentabilidade foi discutido com outros líderes de forças-tarefas e passa por quase todas as áreas, não apenas pela força-tarefa de transição energética. O Brasil é visto como um player importante nesse assunto. O Brasil tem feito frente às oportunidades?

O Brasil é um campeão em energias limpas. Comparado com o resto do mundo, a geração de energia elétrica no Brasil é majoritariamente limpa. Nesse aspecto, o Brasil está muito à frente de muitos outros países.

Recentemente, houve a sanção da lei do combustível do futuro, com anúncios de investimentos focados no biometano, gás biometano e SAF para aviação. O Brasil tem a oportunidade de ser um protagonista mundial nesse processo de transição energética, e estamos avançando, embora ainda haja desafios pela frente.

Por exemplo, precisamos de investimentos para produzir SAF em grande escala e com preço competitivo. A oportunidade está aí, e a Embraer está apoiando essa iniciativa.

Alguns países, como os Estados Unidos e a Europa, têm capacidade de investimento muito maior para atrair esses investimentos, incluindo combustíveis do futuro. Como o Brasil consegue contornar essa diferença na capacidade de investimento para produzir SAF e entrar nesse jogo?

Precisamos ser criativos. A parceria público-privada é um caminho, assim como parcerias estratégicas com grupos internacionais para conseguir recursos. O evento recente foi um passo importante e trouxe muita relevância ao tema.

Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer Foto: Divulgação/Embraer

Voltando para as discussões do B-20, você sentiu algum desafio ao chegar nessa recomendação, especialmente em relação às duas políticas de ação sobre sustentabilidade? Houve resistência?

Foi mais tranquilo do que esperava. Na minha força-tarefa, havia nove co-chairs de diferentes países. Desde o início, trouxemos quatro princípios para definir as recomendações: alinhamento com o G-20 e edições anteriores, simplicidade, pragmatismo e métricas para medir o avanço.

Essas diretrizes foram bem aceitas pelo grupo. Recebemos 360 sugestões, mas conseguimos chegar às três recomendações e às duas políticas de ação para cada uma. Começamos em janeiro e terminamos em abril, e a divulgação começou em maio. Fiquei feliz com o resultado, pois foi até mais fácil do que esperava.

O G-20 discute os principais desafios econômicos contemporâneos. Você acredita que a sustentabilidade é a questão mais importante. Mas, não só em comércio e investimento, quais temas você gostaria de ver avanços concretos nesta edição?

Vou usar o exemplo da Embraer. A Embraer é um caso de sucesso da indústria brasileira, competindo com empresas muito maiores internacionalmente. O sucesso se deve muito à atuação internacional da empresa, que se tornou mais competitiva e resiliente.

A padronização é importante, como a da pegada de carbono. Na aviação, temos padrões de segurança que garantem competitividade. Aplicar isso a outros segmentos pode melhorar o comércio e, consequentemente, a qualidade de vida e distribuição de riqueza.

Qual é o desafio para o Brasil em relação a isso, tanto no G-20 quanto internamente?

O Brasil busca resgatar a importância da indústria, com um programa da nova indústria que visa gerar empregos de alta qualidade. O Brasil está procurando um caminho para crescer e tornar a indústria mais relevante, aumentando as exportações. Há desafios pela frente, mas a transição energética é uma oportunidade fantástica para o Brasil, e vamos aproveitar isso.

Se, de um lado, o avanço das preocupações de consumidores e empresas com a sustentabilidade da cadeia de fornecimento de produtos aumenta a atenção e busca por uma transição verde. De outro, abre espaço para o que os países vêm chamando de protecionismo ambiental. E este é um dos temas da pauta do G-20. “Alguns países usam o meio ambiente para criar barreiras comerciais. Gostaríamos que o G-20 tratasse desse tema”, afirma o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto. Ele liderou a força-tarefa do B-20, braço empresarial do G-20, sobre comércio e investimento.

“A primeira política de ação que definimos é promover regras internacionalmente aceitas para o cálculo da pegada de carbono. Assim, todos usariam a mesma regra, facilitando o entendimento e a ação dos exportadores”, afirma Neto. “Outra questão é que, nos últimos três anos, devido a isso e outros temas, observamos a introdução de várias barreiras comerciais. Portanto, também gostaríamos que o G-20 promovesse uma revisão dessas barreiras implementadas nos últimos anos para avaliar o que pode ser removido”, diz o representante do empresariado.

O B-20 sugere a unificação de critérios para o comércio internacional que considere a pegada de carbono dos produtos. Também defende que a revisão da restrição comercial imposta por países do grupo nos últimos três anos.

Os países do G-20 respondem por 75% do fluxo de comércio global. Uma das discussões presentes no fórum é a conciliação dos parâmetros de sustentabilidade com as diretrizes de comércio. A criação de barreiras ao comércio internacional com base em diferentes parâmetros ambientais, chamado de protecionismo ambiental, têm sido uma preocupação para o setor privado. Até 2022 mais de mil leis climáticas haviam sido aprovadas desde a adoção do Acordo de Paris. No ano passado, por exemplo, o Parlamento Europeu aprovou legislação que impede que produtos oriundos de áreas florestais que foram desmatadas a partir de 1º de janeiro de 2021 sejam vendidos nos 27 países que integram a União Europeia.

O documento do B-20 sobre comércio e investimento foi elaborado em parceria com a consultoria Boston Consulting Group (BCG). “O Brasil traz temas extremamente prioritários para o centro da discussão do G-20, como a promoção do desenvolvimento sustentável; combate à fome; e a reforma dos organismos internacionais e da governança global do comércio. O B-20 Brasil também acerta muito ao propor que as forças-tarefas desenvolvam recomendações alinhadas aos temas prioritários do G-20. No caso, por exemplo, da força-tarefa de Comércio e Investimento, trabalhamos com os temas como a reforma da OMC; a promoção de cadeias de valor mais sustentáveis; a promoção da segurança alimentar por meio da garantia do livre comércio de alimentos”, afirma Masao Ukon, diretor-executivo e sócio do BCG.

Seu navegador não suporta esse video.

Em entrevista ao Estadão, Francisco Gomes Neto fala sobre recomendações do setor privado aos governos para destravar comércio

O Estadão publica, desde o último dia 14, uma série de entrevistas com os CEOs e executivos brasileiros que estiveram à frente das oito forças-tarefa do B-20. Eles abordam a situação do Brasil ante os demais países, em cada uma das áreas analisadas, e como enfrentar os principais desafios econômicos contemporâneos. Também falam de como tem sido a recepção do governo Lula às propostas encaminhadas pelo setor privado.

Leia abaixo a entrevista:

Qual é o tema dentro da área designada de comércio e investimento que você acredita ser o mais relevante ou urgente para ser discutido este ano em termos de desafio contemporâneo para esses países?

Esse processo todo buscou ser mais simples e focar no que consideramos mais relevante como sugestão para o G-20. Chegamos a três recomendações.

Talvez me arrisque a dizer que, se tivesse de escolher um, escolheria a sustentabilidade da cadeia de valor. O que isso significa? É sobre o que vemos hoje no mundo, onde alguns países usam o meio ambiente para criar barreiras comerciais. Gostaríamos que o G-20 tratasse desse tema.

Cada recomendação foi acompanhada de duas políticas de ação que sugerimos. No caso das cadeias de valor impactadas por regulação ambiental, há situações em que, por exemplo, queimadas na Amazônia geram restrições na importação de produtos do Brasil.

A primeira política de ação que definimos é promover regras internacionalmente aceitas para o cálculo da pegada de carbono. Assim, todos usariam a mesma regra, facilitando o entendimento e a ação dos exportadores.

Até 2022 mais de mil leis climáticas haviam sido aprovadas desde a adoção do Acordo de Paris. No ano passado, por exemplo, o Parlamento Europeu aprovou legislação que impede que produtos oriundos de áreas florestais que foram desmatadas a partir de 1º de janeiro de 2021 sejam vendidos nos 27 países que integram a União Europeia. FOTO - DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Outra questão é que, nos últimos três anos, devido a isso e outros temas, observamos a introdução de várias barreiras comerciais. Portanto, também gostaríamos que o G-20 promovesse uma revisão dessas barreiras implementadas nos últimos anos para avaliar o que pode ser removido.

Esse é um ponto importante. A segunda recomendação é manter os acordos de livre comércio existentes e promover novos. Das três recomendações, se perguntassem qual mexeria mais o ponteiro, essa seria a escolha.

Esse tema da transição e sustentabilidade foi discutido com outros líderes de forças-tarefas e passa por quase todas as áreas, não apenas pela força-tarefa de transição energética. O Brasil é visto como um player importante nesse assunto. O Brasil tem feito frente às oportunidades?

O Brasil é um campeão em energias limpas. Comparado com o resto do mundo, a geração de energia elétrica no Brasil é majoritariamente limpa. Nesse aspecto, o Brasil está muito à frente de muitos outros países.

Recentemente, houve a sanção da lei do combustível do futuro, com anúncios de investimentos focados no biometano, gás biometano e SAF para aviação. O Brasil tem a oportunidade de ser um protagonista mundial nesse processo de transição energética, e estamos avançando, embora ainda haja desafios pela frente.

Por exemplo, precisamos de investimentos para produzir SAF em grande escala e com preço competitivo. A oportunidade está aí, e a Embraer está apoiando essa iniciativa.

Alguns países, como os Estados Unidos e a Europa, têm capacidade de investimento muito maior para atrair esses investimentos, incluindo combustíveis do futuro. Como o Brasil consegue contornar essa diferença na capacidade de investimento para produzir SAF e entrar nesse jogo?

Precisamos ser criativos. A parceria público-privada é um caminho, assim como parcerias estratégicas com grupos internacionais para conseguir recursos. O evento recente foi um passo importante e trouxe muita relevância ao tema.

Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer Foto: Divulgação/Embraer

Voltando para as discussões do B-20, você sentiu algum desafio ao chegar nessa recomendação, especialmente em relação às duas políticas de ação sobre sustentabilidade? Houve resistência?

Foi mais tranquilo do que esperava. Na minha força-tarefa, havia nove co-chairs de diferentes países. Desde o início, trouxemos quatro princípios para definir as recomendações: alinhamento com o G-20 e edições anteriores, simplicidade, pragmatismo e métricas para medir o avanço.

Essas diretrizes foram bem aceitas pelo grupo. Recebemos 360 sugestões, mas conseguimos chegar às três recomendações e às duas políticas de ação para cada uma. Começamos em janeiro e terminamos em abril, e a divulgação começou em maio. Fiquei feliz com o resultado, pois foi até mais fácil do que esperava.

O G-20 discute os principais desafios econômicos contemporâneos. Você acredita que a sustentabilidade é a questão mais importante. Mas, não só em comércio e investimento, quais temas você gostaria de ver avanços concretos nesta edição?

Vou usar o exemplo da Embraer. A Embraer é um caso de sucesso da indústria brasileira, competindo com empresas muito maiores internacionalmente. O sucesso se deve muito à atuação internacional da empresa, que se tornou mais competitiva e resiliente.

A padronização é importante, como a da pegada de carbono. Na aviação, temos padrões de segurança que garantem competitividade. Aplicar isso a outros segmentos pode melhorar o comércio e, consequentemente, a qualidade de vida e distribuição de riqueza.

Qual é o desafio para o Brasil em relação a isso, tanto no G-20 quanto internamente?

O Brasil busca resgatar a importância da indústria, com um programa da nova indústria que visa gerar empregos de alta qualidade. O Brasil está procurando um caminho para crescer e tornar a indústria mais relevante, aumentando as exportações. Há desafios pela frente, mas a transição energética é uma oportunidade fantástica para o Brasil, e vamos aproveitar isso.

Se, de um lado, o avanço das preocupações de consumidores e empresas com a sustentabilidade da cadeia de fornecimento de produtos aumenta a atenção e busca por uma transição verde. De outro, abre espaço para o que os países vêm chamando de protecionismo ambiental. E este é um dos temas da pauta do G-20. “Alguns países usam o meio ambiente para criar barreiras comerciais. Gostaríamos que o G-20 tratasse desse tema”, afirma o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto. Ele liderou a força-tarefa do B-20, braço empresarial do G-20, sobre comércio e investimento.

“A primeira política de ação que definimos é promover regras internacionalmente aceitas para o cálculo da pegada de carbono. Assim, todos usariam a mesma regra, facilitando o entendimento e a ação dos exportadores”, afirma Neto. “Outra questão é que, nos últimos três anos, devido a isso e outros temas, observamos a introdução de várias barreiras comerciais. Portanto, também gostaríamos que o G-20 promovesse uma revisão dessas barreiras implementadas nos últimos anos para avaliar o que pode ser removido”, diz o representante do empresariado.

O B-20 sugere a unificação de critérios para o comércio internacional que considere a pegada de carbono dos produtos. Também defende que a revisão da restrição comercial imposta por países do grupo nos últimos três anos.

Os países do G-20 respondem por 75% do fluxo de comércio global. Uma das discussões presentes no fórum é a conciliação dos parâmetros de sustentabilidade com as diretrizes de comércio. A criação de barreiras ao comércio internacional com base em diferentes parâmetros ambientais, chamado de protecionismo ambiental, têm sido uma preocupação para o setor privado. Até 2022 mais de mil leis climáticas haviam sido aprovadas desde a adoção do Acordo de Paris. No ano passado, por exemplo, o Parlamento Europeu aprovou legislação que impede que produtos oriundos de áreas florestais que foram desmatadas a partir de 1º de janeiro de 2021 sejam vendidos nos 27 países que integram a União Europeia.

O documento do B-20 sobre comércio e investimento foi elaborado em parceria com a consultoria Boston Consulting Group (BCG). “O Brasil traz temas extremamente prioritários para o centro da discussão do G-20, como a promoção do desenvolvimento sustentável; combate à fome; e a reforma dos organismos internacionais e da governança global do comércio. O B-20 Brasil também acerta muito ao propor que as forças-tarefas desenvolvam recomendações alinhadas aos temas prioritários do G-20. No caso, por exemplo, da força-tarefa de Comércio e Investimento, trabalhamos com os temas como a reforma da OMC; a promoção de cadeias de valor mais sustentáveis; a promoção da segurança alimentar por meio da garantia do livre comércio de alimentos”, afirma Masao Ukon, diretor-executivo e sócio do BCG.

Seu navegador não suporta esse video.

Em entrevista ao Estadão, Francisco Gomes Neto fala sobre recomendações do setor privado aos governos para destravar comércio

O Estadão publica, desde o último dia 14, uma série de entrevistas com os CEOs e executivos brasileiros que estiveram à frente das oito forças-tarefa do B-20. Eles abordam a situação do Brasil ante os demais países, em cada uma das áreas analisadas, e como enfrentar os principais desafios econômicos contemporâneos. Também falam de como tem sido a recepção do governo Lula às propostas encaminhadas pelo setor privado.

Leia abaixo a entrevista:

Qual é o tema dentro da área designada de comércio e investimento que você acredita ser o mais relevante ou urgente para ser discutido este ano em termos de desafio contemporâneo para esses países?

Esse processo todo buscou ser mais simples e focar no que consideramos mais relevante como sugestão para o G-20. Chegamos a três recomendações.

Talvez me arrisque a dizer que, se tivesse de escolher um, escolheria a sustentabilidade da cadeia de valor. O que isso significa? É sobre o que vemos hoje no mundo, onde alguns países usam o meio ambiente para criar barreiras comerciais. Gostaríamos que o G-20 tratasse desse tema.

Cada recomendação foi acompanhada de duas políticas de ação que sugerimos. No caso das cadeias de valor impactadas por regulação ambiental, há situações em que, por exemplo, queimadas na Amazônia geram restrições na importação de produtos do Brasil.

A primeira política de ação que definimos é promover regras internacionalmente aceitas para o cálculo da pegada de carbono. Assim, todos usariam a mesma regra, facilitando o entendimento e a ação dos exportadores.

Até 2022 mais de mil leis climáticas haviam sido aprovadas desde a adoção do Acordo de Paris. No ano passado, por exemplo, o Parlamento Europeu aprovou legislação que impede que produtos oriundos de áreas florestais que foram desmatadas a partir de 1º de janeiro de 2021 sejam vendidos nos 27 países que integram a União Europeia. FOTO - DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Outra questão é que, nos últimos três anos, devido a isso e outros temas, observamos a introdução de várias barreiras comerciais. Portanto, também gostaríamos que o G-20 promovesse uma revisão dessas barreiras implementadas nos últimos anos para avaliar o que pode ser removido.

Esse é um ponto importante. A segunda recomendação é manter os acordos de livre comércio existentes e promover novos. Das três recomendações, se perguntassem qual mexeria mais o ponteiro, essa seria a escolha.

Esse tema da transição e sustentabilidade foi discutido com outros líderes de forças-tarefas e passa por quase todas as áreas, não apenas pela força-tarefa de transição energética. O Brasil é visto como um player importante nesse assunto. O Brasil tem feito frente às oportunidades?

O Brasil é um campeão em energias limpas. Comparado com o resto do mundo, a geração de energia elétrica no Brasil é majoritariamente limpa. Nesse aspecto, o Brasil está muito à frente de muitos outros países.

Recentemente, houve a sanção da lei do combustível do futuro, com anúncios de investimentos focados no biometano, gás biometano e SAF para aviação. O Brasil tem a oportunidade de ser um protagonista mundial nesse processo de transição energética, e estamos avançando, embora ainda haja desafios pela frente.

Por exemplo, precisamos de investimentos para produzir SAF em grande escala e com preço competitivo. A oportunidade está aí, e a Embraer está apoiando essa iniciativa.

Alguns países, como os Estados Unidos e a Europa, têm capacidade de investimento muito maior para atrair esses investimentos, incluindo combustíveis do futuro. Como o Brasil consegue contornar essa diferença na capacidade de investimento para produzir SAF e entrar nesse jogo?

Precisamos ser criativos. A parceria público-privada é um caminho, assim como parcerias estratégicas com grupos internacionais para conseguir recursos. O evento recente foi um passo importante e trouxe muita relevância ao tema.

Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer Foto: Divulgação/Embraer

Voltando para as discussões do B-20, você sentiu algum desafio ao chegar nessa recomendação, especialmente em relação às duas políticas de ação sobre sustentabilidade? Houve resistência?

Foi mais tranquilo do que esperava. Na minha força-tarefa, havia nove co-chairs de diferentes países. Desde o início, trouxemos quatro princípios para definir as recomendações: alinhamento com o G-20 e edições anteriores, simplicidade, pragmatismo e métricas para medir o avanço.

Essas diretrizes foram bem aceitas pelo grupo. Recebemos 360 sugestões, mas conseguimos chegar às três recomendações e às duas políticas de ação para cada uma. Começamos em janeiro e terminamos em abril, e a divulgação começou em maio. Fiquei feliz com o resultado, pois foi até mais fácil do que esperava.

O G-20 discute os principais desafios econômicos contemporâneos. Você acredita que a sustentabilidade é a questão mais importante. Mas, não só em comércio e investimento, quais temas você gostaria de ver avanços concretos nesta edição?

Vou usar o exemplo da Embraer. A Embraer é um caso de sucesso da indústria brasileira, competindo com empresas muito maiores internacionalmente. O sucesso se deve muito à atuação internacional da empresa, que se tornou mais competitiva e resiliente.

A padronização é importante, como a da pegada de carbono. Na aviação, temos padrões de segurança que garantem competitividade. Aplicar isso a outros segmentos pode melhorar o comércio e, consequentemente, a qualidade de vida e distribuição de riqueza.

Qual é o desafio para o Brasil em relação a isso, tanto no G-20 quanto internamente?

O Brasil busca resgatar a importância da indústria, com um programa da nova indústria que visa gerar empregos de alta qualidade. O Brasil está procurando um caminho para crescer e tornar a indústria mais relevante, aumentando as exportações. Há desafios pela frente, mas a transição energética é uma oportunidade fantástica para o Brasil, e vamos aproveitar isso.

Se, de um lado, o avanço das preocupações de consumidores e empresas com a sustentabilidade da cadeia de fornecimento de produtos aumenta a atenção e busca por uma transição verde. De outro, abre espaço para o que os países vêm chamando de protecionismo ambiental. E este é um dos temas da pauta do G-20. “Alguns países usam o meio ambiente para criar barreiras comerciais. Gostaríamos que o G-20 tratasse desse tema”, afirma o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto. Ele liderou a força-tarefa do B-20, braço empresarial do G-20, sobre comércio e investimento.

“A primeira política de ação que definimos é promover regras internacionalmente aceitas para o cálculo da pegada de carbono. Assim, todos usariam a mesma regra, facilitando o entendimento e a ação dos exportadores”, afirma Neto. “Outra questão é que, nos últimos três anos, devido a isso e outros temas, observamos a introdução de várias barreiras comerciais. Portanto, também gostaríamos que o G-20 promovesse uma revisão dessas barreiras implementadas nos últimos anos para avaliar o que pode ser removido”, diz o representante do empresariado.

O B-20 sugere a unificação de critérios para o comércio internacional que considere a pegada de carbono dos produtos. Também defende que a revisão da restrição comercial imposta por países do grupo nos últimos três anos.

Os países do G-20 respondem por 75% do fluxo de comércio global. Uma das discussões presentes no fórum é a conciliação dos parâmetros de sustentabilidade com as diretrizes de comércio. A criação de barreiras ao comércio internacional com base em diferentes parâmetros ambientais, chamado de protecionismo ambiental, têm sido uma preocupação para o setor privado. Até 2022 mais de mil leis climáticas haviam sido aprovadas desde a adoção do Acordo de Paris. No ano passado, por exemplo, o Parlamento Europeu aprovou legislação que impede que produtos oriundos de áreas florestais que foram desmatadas a partir de 1º de janeiro de 2021 sejam vendidos nos 27 países que integram a União Europeia.

O documento do B-20 sobre comércio e investimento foi elaborado em parceria com a consultoria Boston Consulting Group (BCG). “O Brasil traz temas extremamente prioritários para o centro da discussão do G-20, como a promoção do desenvolvimento sustentável; combate à fome; e a reforma dos organismos internacionais e da governança global do comércio. O B-20 Brasil também acerta muito ao propor que as forças-tarefas desenvolvam recomendações alinhadas aos temas prioritários do G-20. No caso, por exemplo, da força-tarefa de Comércio e Investimento, trabalhamos com os temas como a reforma da OMC; a promoção de cadeias de valor mais sustentáveis; a promoção da segurança alimentar por meio da garantia do livre comércio de alimentos”, afirma Masao Ukon, diretor-executivo e sócio do BCG.

Seu navegador não suporta esse video.

Em entrevista ao Estadão, Francisco Gomes Neto fala sobre recomendações do setor privado aos governos para destravar comércio

O Estadão publica, desde o último dia 14, uma série de entrevistas com os CEOs e executivos brasileiros que estiveram à frente das oito forças-tarefa do B-20. Eles abordam a situação do Brasil ante os demais países, em cada uma das áreas analisadas, e como enfrentar os principais desafios econômicos contemporâneos. Também falam de como tem sido a recepção do governo Lula às propostas encaminhadas pelo setor privado.

Leia abaixo a entrevista:

Qual é o tema dentro da área designada de comércio e investimento que você acredita ser o mais relevante ou urgente para ser discutido este ano em termos de desafio contemporâneo para esses países?

Esse processo todo buscou ser mais simples e focar no que consideramos mais relevante como sugestão para o G-20. Chegamos a três recomendações.

Talvez me arrisque a dizer que, se tivesse de escolher um, escolheria a sustentabilidade da cadeia de valor. O que isso significa? É sobre o que vemos hoje no mundo, onde alguns países usam o meio ambiente para criar barreiras comerciais. Gostaríamos que o G-20 tratasse desse tema.

Cada recomendação foi acompanhada de duas políticas de ação que sugerimos. No caso das cadeias de valor impactadas por regulação ambiental, há situações em que, por exemplo, queimadas na Amazônia geram restrições na importação de produtos do Brasil.

A primeira política de ação que definimos é promover regras internacionalmente aceitas para o cálculo da pegada de carbono. Assim, todos usariam a mesma regra, facilitando o entendimento e a ação dos exportadores.

Até 2022 mais de mil leis climáticas haviam sido aprovadas desde a adoção do Acordo de Paris. No ano passado, por exemplo, o Parlamento Europeu aprovou legislação que impede que produtos oriundos de áreas florestais que foram desmatadas a partir de 1º de janeiro de 2021 sejam vendidos nos 27 países que integram a União Europeia. FOTO - DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Outra questão é que, nos últimos três anos, devido a isso e outros temas, observamos a introdução de várias barreiras comerciais. Portanto, também gostaríamos que o G-20 promovesse uma revisão dessas barreiras implementadas nos últimos anos para avaliar o que pode ser removido.

Esse é um ponto importante. A segunda recomendação é manter os acordos de livre comércio existentes e promover novos. Das três recomendações, se perguntassem qual mexeria mais o ponteiro, essa seria a escolha.

Esse tema da transição e sustentabilidade foi discutido com outros líderes de forças-tarefas e passa por quase todas as áreas, não apenas pela força-tarefa de transição energética. O Brasil é visto como um player importante nesse assunto. O Brasil tem feito frente às oportunidades?

O Brasil é um campeão em energias limpas. Comparado com o resto do mundo, a geração de energia elétrica no Brasil é majoritariamente limpa. Nesse aspecto, o Brasil está muito à frente de muitos outros países.

Recentemente, houve a sanção da lei do combustível do futuro, com anúncios de investimentos focados no biometano, gás biometano e SAF para aviação. O Brasil tem a oportunidade de ser um protagonista mundial nesse processo de transição energética, e estamos avançando, embora ainda haja desafios pela frente.

Por exemplo, precisamos de investimentos para produzir SAF em grande escala e com preço competitivo. A oportunidade está aí, e a Embraer está apoiando essa iniciativa.

Alguns países, como os Estados Unidos e a Europa, têm capacidade de investimento muito maior para atrair esses investimentos, incluindo combustíveis do futuro. Como o Brasil consegue contornar essa diferença na capacidade de investimento para produzir SAF e entrar nesse jogo?

Precisamos ser criativos. A parceria público-privada é um caminho, assim como parcerias estratégicas com grupos internacionais para conseguir recursos. O evento recente foi um passo importante e trouxe muita relevância ao tema.

Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer Foto: Divulgação/Embraer

Voltando para as discussões do B-20, você sentiu algum desafio ao chegar nessa recomendação, especialmente em relação às duas políticas de ação sobre sustentabilidade? Houve resistência?

Foi mais tranquilo do que esperava. Na minha força-tarefa, havia nove co-chairs de diferentes países. Desde o início, trouxemos quatro princípios para definir as recomendações: alinhamento com o G-20 e edições anteriores, simplicidade, pragmatismo e métricas para medir o avanço.

Essas diretrizes foram bem aceitas pelo grupo. Recebemos 360 sugestões, mas conseguimos chegar às três recomendações e às duas políticas de ação para cada uma. Começamos em janeiro e terminamos em abril, e a divulgação começou em maio. Fiquei feliz com o resultado, pois foi até mais fácil do que esperava.

O G-20 discute os principais desafios econômicos contemporâneos. Você acredita que a sustentabilidade é a questão mais importante. Mas, não só em comércio e investimento, quais temas você gostaria de ver avanços concretos nesta edição?

Vou usar o exemplo da Embraer. A Embraer é um caso de sucesso da indústria brasileira, competindo com empresas muito maiores internacionalmente. O sucesso se deve muito à atuação internacional da empresa, que se tornou mais competitiva e resiliente.

A padronização é importante, como a da pegada de carbono. Na aviação, temos padrões de segurança que garantem competitividade. Aplicar isso a outros segmentos pode melhorar o comércio e, consequentemente, a qualidade de vida e distribuição de riqueza.

Qual é o desafio para o Brasil em relação a isso, tanto no G-20 quanto internamente?

O Brasil busca resgatar a importância da indústria, com um programa da nova indústria que visa gerar empregos de alta qualidade. O Brasil está procurando um caminho para crescer e tornar a indústria mais relevante, aumentando as exportações. Há desafios pela frente, mas a transição energética é uma oportunidade fantástica para o Brasil, e vamos aproveitar isso.

Se, de um lado, o avanço das preocupações de consumidores e empresas com a sustentabilidade da cadeia de fornecimento de produtos aumenta a atenção e busca por uma transição verde. De outro, abre espaço para o que os países vêm chamando de protecionismo ambiental. E este é um dos temas da pauta do G-20. “Alguns países usam o meio ambiente para criar barreiras comerciais. Gostaríamos que o G-20 tratasse desse tema”, afirma o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto. Ele liderou a força-tarefa do B-20, braço empresarial do G-20, sobre comércio e investimento.

“A primeira política de ação que definimos é promover regras internacionalmente aceitas para o cálculo da pegada de carbono. Assim, todos usariam a mesma regra, facilitando o entendimento e a ação dos exportadores”, afirma Neto. “Outra questão é que, nos últimos três anos, devido a isso e outros temas, observamos a introdução de várias barreiras comerciais. Portanto, também gostaríamos que o G-20 promovesse uma revisão dessas barreiras implementadas nos últimos anos para avaliar o que pode ser removido”, diz o representante do empresariado.

O B-20 sugere a unificação de critérios para o comércio internacional que considere a pegada de carbono dos produtos. Também defende que a revisão da restrição comercial imposta por países do grupo nos últimos três anos.

Os países do G-20 respondem por 75% do fluxo de comércio global. Uma das discussões presentes no fórum é a conciliação dos parâmetros de sustentabilidade com as diretrizes de comércio. A criação de barreiras ao comércio internacional com base em diferentes parâmetros ambientais, chamado de protecionismo ambiental, têm sido uma preocupação para o setor privado. Até 2022 mais de mil leis climáticas haviam sido aprovadas desde a adoção do Acordo de Paris. No ano passado, por exemplo, o Parlamento Europeu aprovou legislação que impede que produtos oriundos de áreas florestais que foram desmatadas a partir de 1º de janeiro de 2021 sejam vendidos nos 27 países que integram a União Europeia.

O documento do B-20 sobre comércio e investimento foi elaborado em parceria com a consultoria Boston Consulting Group (BCG). “O Brasil traz temas extremamente prioritários para o centro da discussão do G-20, como a promoção do desenvolvimento sustentável; combate à fome; e a reforma dos organismos internacionais e da governança global do comércio. O B-20 Brasil também acerta muito ao propor que as forças-tarefas desenvolvam recomendações alinhadas aos temas prioritários do G-20. No caso, por exemplo, da força-tarefa de Comércio e Investimento, trabalhamos com os temas como a reforma da OMC; a promoção de cadeias de valor mais sustentáveis; a promoção da segurança alimentar por meio da garantia do livre comércio de alimentos”, afirma Masao Ukon, diretor-executivo e sócio do BCG.

Seu navegador não suporta esse video.

Em entrevista ao Estadão, Francisco Gomes Neto fala sobre recomendações do setor privado aos governos para destravar comércio

O Estadão publica, desde o último dia 14, uma série de entrevistas com os CEOs e executivos brasileiros que estiveram à frente das oito forças-tarefa do B-20. Eles abordam a situação do Brasil ante os demais países, em cada uma das áreas analisadas, e como enfrentar os principais desafios econômicos contemporâneos. Também falam de como tem sido a recepção do governo Lula às propostas encaminhadas pelo setor privado.

Leia abaixo a entrevista:

Qual é o tema dentro da área designada de comércio e investimento que você acredita ser o mais relevante ou urgente para ser discutido este ano em termos de desafio contemporâneo para esses países?

Esse processo todo buscou ser mais simples e focar no que consideramos mais relevante como sugestão para o G-20. Chegamos a três recomendações.

Talvez me arrisque a dizer que, se tivesse de escolher um, escolheria a sustentabilidade da cadeia de valor. O que isso significa? É sobre o que vemos hoje no mundo, onde alguns países usam o meio ambiente para criar barreiras comerciais. Gostaríamos que o G-20 tratasse desse tema.

Cada recomendação foi acompanhada de duas políticas de ação que sugerimos. No caso das cadeias de valor impactadas por regulação ambiental, há situações em que, por exemplo, queimadas na Amazônia geram restrições na importação de produtos do Brasil.

A primeira política de ação que definimos é promover regras internacionalmente aceitas para o cálculo da pegada de carbono. Assim, todos usariam a mesma regra, facilitando o entendimento e a ação dos exportadores.

Até 2022 mais de mil leis climáticas haviam sido aprovadas desde a adoção do Acordo de Paris. No ano passado, por exemplo, o Parlamento Europeu aprovou legislação que impede que produtos oriundos de áreas florestais que foram desmatadas a partir de 1º de janeiro de 2021 sejam vendidos nos 27 países que integram a União Europeia. FOTO - DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Outra questão é que, nos últimos três anos, devido a isso e outros temas, observamos a introdução de várias barreiras comerciais. Portanto, também gostaríamos que o G-20 promovesse uma revisão dessas barreiras implementadas nos últimos anos para avaliar o que pode ser removido.

Esse é um ponto importante. A segunda recomendação é manter os acordos de livre comércio existentes e promover novos. Das três recomendações, se perguntassem qual mexeria mais o ponteiro, essa seria a escolha.

Esse tema da transição e sustentabilidade foi discutido com outros líderes de forças-tarefas e passa por quase todas as áreas, não apenas pela força-tarefa de transição energética. O Brasil é visto como um player importante nesse assunto. O Brasil tem feito frente às oportunidades?

O Brasil é um campeão em energias limpas. Comparado com o resto do mundo, a geração de energia elétrica no Brasil é majoritariamente limpa. Nesse aspecto, o Brasil está muito à frente de muitos outros países.

Recentemente, houve a sanção da lei do combustível do futuro, com anúncios de investimentos focados no biometano, gás biometano e SAF para aviação. O Brasil tem a oportunidade de ser um protagonista mundial nesse processo de transição energética, e estamos avançando, embora ainda haja desafios pela frente.

Por exemplo, precisamos de investimentos para produzir SAF em grande escala e com preço competitivo. A oportunidade está aí, e a Embraer está apoiando essa iniciativa.

Alguns países, como os Estados Unidos e a Europa, têm capacidade de investimento muito maior para atrair esses investimentos, incluindo combustíveis do futuro. Como o Brasil consegue contornar essa diferença na capacidade de investimento para produzir SAF e entrar nesse jogo?

Precisamos ser criativos. A parceria público-privada é um caminho, assim como parcerias estratégicas com grupos internacionais para conseguir recursos. O evento recente foi um passo importante e trouxe muita relevância ao tema.

Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer Foto: Divulgação/Embraer

Voltando para as discussões do B-20, você sentiu algum desafio ao chegar nessa recomendação, especialmente em relação às duas políticas de ação sobre sustentabilidade? Houve resistência?

Foi mais tranquilo do que esperava. Na minha força-tarefa, havia nove co-chairs de diferentes países. Desde o início, trouxemos quatro princípios para definir as recomendações: alinhamento com o G-20 e edições anteriores, simplicidade, pragmatismo e métricas para medir o avanço.

Essas diretrizes foram bem aceitas pelo grupo. Recebemos 360 sugestões, mas conseguimos chegar às três recomendações e às duas políticas de ação para cada uma. Começamos em janeiro e terminamos em abril, e a divulgação começou em maio. Fiquei feliz com o resultado, pois foi até mais fácil do que esperava.

O G-20 discute os principais desafios econômicos contemporâneos. Você acredita que a sustentabilidade é a questão mais importante. Mas, não só em comércio e investimento, quais temas você gostaria de ver avanços concretos nesta edição?

Vou usar o exemplo da Embraer. A Embraer é um caso de sucesso da indústria brasileira, competindo com empresas muito maiores internacionalmente. O sucesso se deve muito à atuação internacional da empresa, que se tornou mais competitiva e resiliente.

A padronização é importante, como a da pegada de carbono. Na aviação, temos padrões de segurança que garantem competitividade. Aplicar isso a outros segmentos pode melhorar o comércio e, consequentemente, a qualidade de vida e distribuição de riqueza.

Qual é o desafio para o Brasil em relação a isso, tanto no G-20 quanto internamente?

O Brasil busca resgatar a importância da indústria, com um programa da nova indústria que visa gerar empregos de alta qualidade. O Brasil está procurando um caminho para crescer e tornar a indústria mais relevante, aumentando as exportações. Há desafios pela frente, mas a transição energética é uma oportunidade fantástica para o Brasil, e vamos aproveitar isso.

Entrevista por Beatriz Bulla

Repórter que cobre o poder -- economia, política e internacional. Trabalha hoje em São Paulo. Já passou por Brasília e foi correspondente em Washington (EUA). Formada em jornalismo e em direito, foi também pesquisadora visitante na Universidade Columbia, em Nova York.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.