Continuamos a crescer mais que qualquer banco, diz CEO do Nubank


“Termos feito o IPO na segunda semana de dezembro talvez tenha sido uma das melhores decisões da nossa história”, afirma David Vélez

Por Matheus Piovesana e Altamiro Silva Junior
Atualização:
Foto: Alex Silva/ Estadão
Entrevista comDavid VélezPresidente do Nubank

Um ano depois de abrir o capital na bolsa, o Nubank resolveu fazer seu primeiro grande patrocínio: a Copa do Mundo. E como em muitos jogos no Catar, marcou seu gol aos 45 minutos do segundo tempo. O banco digital estreou na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) em dezembro de 2021 e, pouco depois, o mercado de ofertas de ações se fechou e o famoso sino nunca mais tocou para uma empresa brasileira.

Com a vitória, porém, o Nubank ganhou mais do que os tradicionais três pontos. “O banco não precisava levantar tanto capital, mas o mercado estava tão atrativo que decidimos levantar muito mais do que precisávamos”, disse ao Estadão/Broadcast o CEO da fintech, David Vélez. É dinheiro suficiente, segundo ele, para capitalizar as novas operações, crescer onde o Nu já está e eventualmente fazer aquisições.

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Tal como pode acontecer com os craques no futebol, Vélez afirma que as empresas de tecnologia foram de heroínas a vilãs do mercado de uma hora para outra, no primeiro trimestre do ano. Isso não significa que o jogo virou a favor dos bancos, segundo ele. “O Nubank continua oferecendo o melhor produto e por isso continuamos a crescer mais do que qualquer outro banco”, afirmou.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

O que te surpreendeu nesse primeiro ano como empresa aberta?

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O fato de termos feito o IPO na segunda semana de dezembro talvez tenha sido uma das melhores decisões da nossa história. Se não tivéssemos levantado US$ 2,8 bilhões e ainda fôssemos uma empresa privada, a conversa seria completamente diferente. Estaríamos tentando levantar US$ 1 bilhão, US$ 2 bilhões em um mercado muito mais desafiador, com poucos investidores. Fizemos o IPO no último minuto do segundo tempo.

Depois, o mercado praticamente fechou...

Lembro que estávamos no roadshow [reuniões com investidores] e muitos perguntavam porque não adiar a oferta. Decidimos não deixar para 2022. Foi uma combinação de sorte e conhecimento, mas com certeza foi uma decisão muito boa.

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David Vélez durante IPO do Nubank na Bolsa de Valores de Nova York, em dezembro de 2021 Foto: Brendan McDermid / Reuters

Como companhia aberta, qual foi o principal aprendizado nesse primeiro ano?

Após o IPO, o mundo mudou completamente, de um momento de euforia do mercado, de muito interesse em empresas de tecnologia, para a Guerra da Ucrânia, inflação e juros altos, e você vai de herói a vilão de um momento a outro. No primeiro trimestre, foi difícil entender o que acontecia, especialmente quando vimos o preço da nossa ação cair rapidamente. O maior aprendizado foi entender o que podemos controlar e o que não podemos e focar 100% da energia no que controlamos. O foco foi direcionado à execução. Batemos todos os números dos analistas.

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Diz-se muito que o jogo virou a favor dos bancos tradicionais. Qual é a sua avaliação sobre essa interpretação?

Discordo. Qual é a vantagem das fintechs? Primeiro, capacidade de fazer o melhor produto do mercado. Quando começamos, há nove anos, havia cinco bancos no Brasil que controlavam 95% do segmento. Contribuímos muito para a desconcentração. Em um mercado com mais alternativas, quem oferece o melhor produto ao melhor custo ganha. O Nubank continua oferecendo o melhor produto e, por isso, continuamos a crescer mais do que qualquer outro banco. Esse ambiente macroeconômico mais adverso não tem mudado os fatores fundamentais e seculares que têm contribuído com o nosso crescimento.

Vocês captaram US$ 2,8 bilhões e usaram pouco até agora. Qual é a perspectiva de uso desse recurso?

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O banco não precisava levantar tanto capital, mas o mercado estava tão atrativo que decidimos levantar muito mais do que precisávamos. Levantamos US$ 2,8 bilhões, tínhamos US$ 1 bilhão em caixa e estávamos bem perto da rentabilidade no Brasil. No Brasil, durante o ano, precisamos capitalizar mais por requerimento de capital [do Banco Central] e parte do recurso [do IPO] vai para o crescimento do México e da Colômbia. Para levar esses dois países ao breakeven [equilíbrio financeiro], vai requerer muito menos tempo [do que no Brasil]. Temos essa reserva para potenciais aquisições, oportunidades orgânicas ou acelerar o crescimento em outras verticais.

Há ativos a preços atrativos no mercado para comprar?

Ainda falta um pouquinho. Em empresas de capital aberto, os valuations [avaliações do valor] têm refletido esse novo mundo. Em empresas de capital fechado ainda não: muitas não levantaram capital porque o valuation caiu, levantaram muito no ano passado e vão tentar passar o maior tempo possível sem captar. Nossa preferência ainda é crescer organicamente. Temos mais de 40% da população adulta brasileira como cliente, mas participações de mercado pequenas nos produtos. Se o Nu só tentar aumentar a fatia até a proporcional aos clientes, poderíamos multiplicar várias vezes o tamanho da empresa.

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Ainda há uma divisão clara na visão de analistas sobre o banco. Por que isso continua? Como se resolve?

Tem um grupo muito mais otimista de analistas que têm um viés de entender a tese de longo prazo. Eles pensam que se continuarmos executando assim, daqui a três ou quatro anos... Achamos que a maior empresa financeira da América Latina vai ser uma empresa de tecnologia e estamos na ponta. Dada a posição de mercado do Nubank e o modelo de negócio, com um custo até 20 vezes menor que os bancos tradicionais, o potencial de valor é muito maior. E tem um grupo mais focado no curto prazo, que olha a rentabilidade do trimestre, como vai ser 2023. Também existe uma divergência porque somos uma empresa muito jovem e não damos projeções porque preferimos manter muita flexibilidade em execução. Vai levar um tempo até uma convergência.

Nubank é um dos maiores bancos digitais do Brasil Foto: Paulo Whitaker / Reuters

Nesse último ano, o Nubank mudou a remuneração da conta, propôs uma mudança nos BDRs e na remuneração variável. Parece que vocês mexeram nas engrenagens em busca de eficiência. Como essas decisões foram tomadas? Tem espaço para mais?

Em um momento mais desafiador, em um mercado que pede rentabilidade maior no curto prazo, é importante provar que conseguimos executar o modelo de negócios. Existe uma pressão para olhar as alavancas em busca de eficiência. Muitas das decisões que tomamos têm contribuído para executarmos positivamente esse ano. Tem muito mais oportunidade. Não estamos executando um modelo que visa otimizar o lucro do trimestre seguinte. Esse mercado de US$ 1 trilhão na América Latina vai ser reinventado nos próximos anos. Há a oportunidade de criar novas empresas que vão ser os maiores players de serviços financeiros. Não vamos sacrificar essa oportunidade pensando no curto prazo.

O que o Nubank prepara de novos produtos para 2023?

Vemos uma grande oportunidade em produtos de crédito como o consignado [com desconto em folha] e em empréstimo com investimentos como garantia. É um mercado de mais de R$ 400 bilhões no Brasil, onde temos uma base de clientes grande e conseguimos dar crédito com menor risco. É uma oportunidade óbvia e estamos testando internamente o crédito consignado.

E a estratégia voltada à alta renda?

Temos uma base com 5 milhões de clientes das classes A e B, o que surpreende porque o mercado nos vê mais como banco de renda média e baixa. Ainda não conseguimos dar o produto certo para o cliente de alta renda seja porque faltam atributos ou porque o limite é muito baixo no cartão de crédito.

O Nubank foi surpreendido com a alta da inadimplência?

Já esperávamos porque a inadimplência estava muito baixa há um ano. Em um ambiente com menos liquidez no sistema, quando os auxílios do governo parassem, era esperada uma normalização. Decidimos parar um pouco o crescimento do crédito, especialmente do empréstimo pessoal. O mercado precifica uma crise de inadimplência no Nubank que nunca aconteceu.

Até onde vai o aumento da inadimplência?

É provável que continue por alguns trimestres. O importante é que o sistema financeiro brasileiro conhece como navegar e executar em um ambiente de inadimplência maior. Isso significa que o sistema consegue e nós conseguimos, aumentar margens. Hoje, operamos com margens maiores. Aumentamos juros e os custos de captação baixaram.

Como está sendo a experiência de patrocinar a Copa do Mundo?

Foi a primeira experiência, não temos histórico de investir em marketing. Temos crescido muito no boca a boca. Era um momento legal para esse movimento, considerando nossa marca e a base de clientes que temos. Tem sido muito interessante ver a quantidade de pessoas que entram em contato falando que viram o Nubank na Copa.

Um ano depois de abrir o capital na bolsa, o Nubank resolveu fazer seu primeiro grande patrocínio: a Copa do Mundo. E como em muitos jogos no Catar, marcou seu gol aos 45 minutos do segundo tempo. O banco digital estreou na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) em dezembro de 2021 e, pouco depois, o mercado de ofertas de ações se fechou e o famoso sino nunca mais tocou para uma empresa brasileira.

Com a vitória, porém, o Nubank ganhou mais do que os tradicionais três pontos. “O banco não precisava levantar tanto capital, mas o mercado estava tão atrativo que decidimos levantar muito mais do que precisávamos”, disse ao Estadão/Broadcast o CEO da fintech, David Vélez. É dinheiro suficiente, segundo ele, para capitalizar as novas operações, crescer onde o Nu já está e eventualmente fazer aquisições.

Tal como pode acontecer com os craques no futebol, Vélez afirma que as empresas de tecnologia foram de heroínas a vilãs do mercado de uma hora para outra, no primeiro trimestre do ano. Isso não significa que o jogo virou a favor dos bancos, segundo ele. “O Nubank continua oferecendo o melhor produto e por isso continuamos a crescer mais do que qualquer outro banco”, afirmou.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

O que te surpreendeu nesse primeiro ano como empresa aberta?

O fato de termos feito o IPO na segunda semana de dezembro talvez tenha sido uma das melhores decisões da nossa história. Se não tivéssemos levantado US$ 2,8 bilhões e ainda fôssemos uma empresa privada, a conversa seria completamente diferente. Estaríamos tentando levantar US$ 1 bilhão, US$ 2 bilhões em um mercado muito mais desafiador, com poucos investidores. Fizemos o IPO no último minuto do segundo tempo.

Depois, o mercado praticamente fechou...

Lembro que estávamos no roadshow [reuniões com investidores] e muitos perguntavam porque não adiar a oferta. Decidimos não deixar para 2022. Foi uma combinação de sorte e conhecimento, mas com certeza foi uma decisão muito boa.

David Vélez durante IPO do Nubank na Bolsa de Valores de Nova York, em dezembro de 2021 Foto: Brendan McDermid / Reuters

Como companhia aberta, qual foi o principal aprendizado nesse primeiro ano?

Após o IPO, o mundo mudou completamente, de um momento de euforia do mercado, de muito interesse em empresas de tecnologia, para a Guerra da Ucrânia, inflação e juros altos, e você vai de herói a vilão de um momento a outro. No primeiro trimestre, foi difícil entender o que acontecia, especialmente quando vimos o preço da nossa ação cair rapidamente. O maior aprendizado foi entender o que podemos controlar e o que não podemos e focar 100% da energia no que controlamos. O foco foi direcionado à execução. Batemos todos os números dos analistas.

Diz-se muito que o jogo virou a favor dos bancos tradicionais. Qual é a sua avaliação sobre essa interpretação?

Discordo. Qual é a vantagem das fintechs? Primeiro, capacidade de fazer o melhor produto do mercado. Quando começamos, há nove anos, havia cinco bancos no Brasil que controlavam 95% do segmento. Contribuímos muito para a desconcentração. Em um mercado com mais alternativas, quem oferece o melhor produto ao melhor custo ganha. O Nubank continua oferecendo o melhor produto e, por isso, continuamos a crescer mais do que qualquer outro banco. Esse ambiente macroeconômico mais adverso não tem mudado os fatores fundamentais e seculares que têm contribuído com o nosso crescimento.

Vocês captaram US$ 2,8 bilhões e usaram pouco até agora. Qual é a perspectiva de uso desse recurso?

O banco não precisava levantar tanto capital, mas o mercado estava tão atrativo que decidimos levantar muito mais do que precisávamos. Levantamos US$ 2,8 bilhões, tínhamos US$ 1 bilhão em caixa e estávamos bem perto da rentabilidade no Brasil. No Brasil, durante o ano, precisamos capitalizar mais por requerimento de capital [do Banco Central] e parte do recurso [do IPO] vai para o crescimento do México e da Colômbia. Para levar esses dois países ao breakeven [equilíbrio financeiro], vai requerer muito menos tempo [do que no Brasil]. Temos essa reserva para potenciais aquisições, oportunidades orgânicas ou acelerar o crescimento em outras verticais.

Há ativos a preços atrativos no mercado para comprar?

Ainda falta um pouquinho. Em empresas de capital aberto, os valuations [avaliações do valor] têm refletido esse novo mundo. Em empresas de capital fechado ainda não: muitas não levantaram capital porque o valuation caiu, levantaram muito no ano passado e vão tentar passar o maior tempo possível sem captar. Nossa preferência ainda é crescer organicamente. Temos mais de 40% da população adulta brasileira como cliente, mas participações de mercado pequenas nos produtos. Se o Nu só tentar aumentar a fatia até a proporcional aos clientes, poderíamos multiplicar várias vezes o tamanho da empresa.

Ainda há uma divisão clara na visão de analistas sobre o banco. Por que isso continua? Como se resolve?

Tem um grupo muito mais otimista de analistas que têm um viés de entender a tese de longo prazo. Eles pensam que se continuarmos executando assim, daqui a três ou quatro anos... Achamos que a maior empresa financeira da América Latina vai ser uma empresa de tecnologia e estamos na ponta. Dada a posição de mercado do Nubank e o modelo de negócio, com um custo até 20 vezes menor que os bancos tradicionais, o potencial de valor é muito maior. E tem um grupo mais focado no curto prazo, que olha a rentabilidade do trimestre, como vai ser 2023. Também existe uma divergência porque somos uma empresa muito jovem e não damos projeções porque preferimos manter muita flexibilidade em execução. Vai levar um tempo até uma convergência.

Nubank é um dos maiores bancos digitais do Brasil Foto: Paulo Whitaker / Reuters

Nesse último ano, o Nubank mudou a remuneração da conta, propôs uma mudança nos BDRs e na remuneração variável. Parece que vocês mexeram nas engrenagens em busca de eficiência. Como essas decisões foram tomadas? Tem espaço para mais?

Em um momento mais desafiador, em um mercado que pede rentabilidade maior no curto prazo, é importante provar que conseguimos executar o modelo de negócios. Existe uma pressão para olhar as alavancas em busca de eficiência. Muitas das decisões que tomamos têm contribuído para executarmos positivamente esse ano. Tem muito mais oportunidade. Não estamos executando um modelo que visa otimizar o lucro do trimestre seguinte. Esse mercado de US$ 1 trilhão na América Latina vai ser reinventado nos próximos anos. Há a oportunidade de criar novas empresas que vão ser os maiores players de serviços financeiros. Não vamos sacrificar essa oportunidade pensando no curto prazo.

O que o Nubank prepara de novos produtos para 2023?

Vemos uma grande oportunidade em produtos de crédito como o consignado [com desconto em folha] e em empréstimo com investimentos como garantia. É um mercado de mais de R$ 400 bilhões no Brasil, onde temos uma base de clientes grande e conseguimos dar crédito com menor risco. É uma oportunidade óbvia e estamos testando internamente o crédito consignado.

E a estratégia voltada à alta renda?

Temos uma base com 5 milhões de clientes das classes A e B, o que surpreende porque o mercado nos vê mais como banco de renda média e baixa. Ainda não conseguimos dar o produto certo para o cliente de alta renda seja porque faltam atributos ou porque o limite é muito baixo no cartão de crédito.

O Nubank foi surpreendido com a alta da inadimplência?

Já esperávamos porque a inadimplência estava muito baixa há um ano. Em um ambiente com menos liquidez no sistema, quando os auxílios do governo parassem, era esperada uma normalização. Decidimos parar um pouco o crescimento do crédito, especialmente do empréstimo pessoal. O mercado precifica uma crise de inadimplência no Nubank que nunca aconteceu.

Até onde vai o aumento da inadimplência?

É provável que continue por alguns trimestres. O importante é que o sistema financeiro brasileiro conhece como navegar e executar em um ambiente de inadimplência maior. Isso significa que o sistema consegue e nós conseguimos, aumentar margens. Hoje, operamos com margens maiores. Aumentamos juros e os custos de captação baixaram.

Como está sendo a experiência de patrocinar a Copa do Mundo?

Foi a primeira experiência, não temos histórico de investir em marketing. Temos crescido muito no boca a boca. Era um momento legal para esse movimento, considerando nossa marca e a base de clientes que temos. Tem sido muito interessante ver a quantidade de pessoas que entram em contato falando que viram o Nubank na Copa.

Um ano depois de abrir o capital na bolsa, o Nubank resolveu fazer seu primeiro grande patrocínio: a Copa do Mundo. E como em muitos jogos no Catar, marcou seu gol aos 45 minutos do segundo tempo. O banco digital estreou na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) em dezembro de 2021 e, pouco depois, o mercado de ofertas de ações se fechou e o famoso sino nunca mais tocou para uma empresa brasileira.

Com a vitória, porém, o Nubank ganhou mais do que os tradicionais três pontos. “O banco não precisava levantar tanto capital, mas o mercado estava tão atrativo que decidimos levantar muito mais do que precisávamos”, disse ao Estadão/Broadcast o CEO da fintech, David Vélez. É dinheiro suficiente, segundo ele, para capitalizar as novas operações, crescer onde o Nu já está e eventualmente fazer aquisições.

Tal como pode acontecer com os craques no futebol, Vélez afirma que as empresas de tecnologia foram de heroínas a vilãs do mercado de uma hora para outra, no primeiro trimestre do ano. Isso não significa que o jogo virou a favor dos bancos, segundo ele. “O Nubank continua oferecendo o melhor produto e por isso continuamos a crescer mais do que qualquer outro banco”, afirmou.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

O que te surpreendeu nesse primeiro ano como empresa aberta?

O fato de termos feito o IPO na segunda semana de dezembro talvez tenha sido uma das melhores decisões da nossa história. Se não tivéssemos levantado US$ 2,8 bilhões e ainda fôssemos uma empresa privada, a conversa seria completamente diferente. Estaríamos tentando levantar US$ 1 bilhão, US$ 2 bilhões em um mercado muito mais desafiador, com poucos investidores. Fizemos o IPO no último minuto do segundo tempo.

Depois, o mercado praticamente fechou...

Lembro que estávamos no roadshow [reuniões com investidores] e muitos perguntavam porque não adiar a oferta. Decidimos não deixar para 2022. Foi uma combinação de sorte e conhecimento, mas com certeza foi uma decisão muito boa.

David Vélez durante IPO do Nubank na Bolsa de Valores de Nova York, em dezembro de 2021 Foto: Brendan McDermid / Reuters

Como companhia aberta, qual foi o principal aprendizado nesse primeiro ano?

Após o IPO, o mundo mudou completamente, de um momento de euforia do mercado, de muito interesse em empresas de tecnologia, para a Guerra da Ucrânia, inflação e juros altos, e você vai de herói a vilão de um momento a outro. No primeiro trimestre, foi difícil entender o que acontecia, especialmente quando vimos o preço da nossa ação cair rapidamente. O maior aprendizado foi entender o que podemos controlar e o que não podemos e focar 100% da energia no que controlamos. O foco foi direcionado à execução. Batemos todos os números dos analistas.

Diz-se muito que o jogo virou a favor dos bancos tradicionais. Qual é a sua avaliação sobre essa interpretação?

Discordo. Qual é a vantagem das fintechs? Primeiro, capacidade de fazer o melhor produto do mercado. Quando começamos, há nove anos, havia cinco bancos no Brasil que controlavam 95% do segmento. Contribuímos muito para a desconcentração. Em um mercado com mais alternativas, quem oferece o melhor produto ao melhor custo ganha. O Nubank continua oferecendo o melhor produto e, por isso, continuamos a crescer mais do que qualquer outro banco. Esse ambiente macroeconômico mais adverso não tem mudado os fatores fundamentais e seculares que têm contribuído com o nosso crescimento.

Vocês captaram US$ 2,8 bilhões e usaram pouco até agora. Qual é a perspectiva de uso desse recurso?

O banco não precisava levantar tanto capital, mas o mercado estava tão atrativo que decidimos levantar muito mais do que precisávamos. Levantamos US$ 2,8 bilhões, tínhamos US$ 1 bilhão em caixa e estávamos bem perto da rentabilidade no Brasil. No Brasil, durante o ano, precisamos capitalizar mais por requerimento de capital [do Banco Central] e parte do recurso [do IPO] vai para o crescimento do México e da Colômbia. Para levar esses dois países ao breakeven [equilíbrio financeiro], vai requerer muito menos tempo [do que no Brasil]. Temos essa reserva para potenciais aquisições, oportunidades orgânicas ou acelerar o crescimento em outras verticais.

Há ativos a preços atrativos no mercado para comprar?

Ainda falta um pouquinho. Em empresas de capital aberto, os valuations [avaliações do valor] têm refletido esse novo mundo. Em empresas de capital fechado ainda não: muitas não levantaram capital porque o valuation caiu, levantaram muito no ano passado e vão tentar passar o maior tempo possível sem captar. Nossa preferência ainda é crescer organicamente. Temos mais de 40% da população adulta brasileira como cliente, mas participações de mercado pequenas nos produtos. Se o Nu só tentar aumentar a fatia até a proporcional aos clientes, poderíamos multiplicar várias vezes o tamanho da empresa.

Ainda há uma divisão clara na visão de analistas sobre o banco. Por que isso continua? Como se resolve?

Tem um grupo muito mais otimista de analistas que têm um viés de entender a tese de longo prazo. Eles pensam que se continuarmos executando assim, daqui a três ou quatro anos... Achamos que a maior empresa financeira da América Latina vai ser uma empresa de tecnologia e estamos na ponta. Dada a posição de mercado do Nubank e o modelo de negócio, com um custo até 20 vezes menor que os bancos tradicionais, o potencial de valor é muito maior. E tem um grupo mais focado no curto prazo, que olha a rentabilidade do trimestre, como vai ser 2023. Também existe uma divergência porque somos uma empresa muito jovem e não damos projeções porque preferimos manter muita flexibilidade em execução. Vai levar um tempo até uma convergência.

Nubank é um dos maiores bancos digitais do Brasil Foto: Paulo Whitaker / Reuters

Nesse último ano, o Nubank mudou a remuneração da conta, propôs uma mudança nos BDRs e na remuneração variável. Parece que vocês mexeram nas engrenagens em busca de eficiência. Como essas decisões foram tomadas? Tem espaço para mais?

Em um momento mais desafiador, em um mercado que pede rentabilidade maior no curto prazo, é importante provar que conseguimos executar o modelo de negócios. Existe uma pressão para olhar as alavancas em busca de eficiência. Muitas das decisões que tomamos têm contribuído para executarmos positivamente esse ano. Tem muito mais oportunidade. Não estamos executando um modelo que visa otimizar o lucro do trimestre seguinte. Esse mercado de US$ 1 trilhão na América Latina vai ser reinventado nos próximos anos. Há a oportunidade de criar novas empresas que vão ser os maiores players de serviços financeiros. Não vamos sacrificar essa oportunidade pensando no curto prazo.

O que o Nubank prepara de novos produtos para 2023?

Vemos uma grande oportunidade em produtos de crédito como o consignado [com desconto em folha] e em empréstimo com investimentos como garantia. É um mercado de mais de R$ 400 bilhões no Brasil, onde temos uma base de clientes grande e conseguimos dar crédito com menor risco. É uma oportunidade óbvia e estamos testando internamente o crédito consignado.

E a estratégia voltada à alta renda?

Temos uma base com 5 milhões de clientes das classes A e B, o que surpreende porque o mercado nos vê mais como banco de renda média e baixa. Ainda não conseguimos dar o produto certo para o cliente de alta renda seja porque faltam atributos ou porque o limite é muito baixo no cartão de crédito.

O Nubank foi surpreendido com a alta da inadimplência?

Já esperávamos porque a inadimplência estava muito baixa há um ano. Em um ambiente com menos liquidez no sistema, quando os auxílios do governo parassem, era esperada uma normalização. Decidimos parar um pouco o crescimento do crédito, especialmente do empréstimo pessoal. O mercado precifica uma crise de inadimplência no Nubank que nunca aconteceu.

Até onde vai o aumento da inadimplência?

É provável que continue por alguns trimestres. O importante é que o sistema financeiro brasileiro conhece como navegar e executar em um ambiente de inadimplência maior. Isso significa que o sistema consegue e nós conseguimos, aumentar margens. Hoje, operamos com margens maiores. Aumentamos juros e os custos de captação baixaram.

Como está sendo a experiência de patrocinar a Copa do Mundo?

Foi a primeira experiência, não temos histórico de investir em marketing. Temos crescido muito no boca a boca. Era um momento legal para esse movimento, considerando nossa marca e a base de clientes que temos. Tem sido muito interessante ver a quantidade de pessoas que entram em contato falando que viram o Nubank na Copa.

Um ano depois de abrir o capital na bolsa, o Nubank resolveu fazer seu primeiro grande patrocínio: a Copa do Mundo. E como em muitos jogos no Catar, marcou seu gol aos 45 minutos do segundo tempo. O banco digital estreou na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) em dezembro de 2021 e, pouco depois, o mercado de ofertas de ações se fechou e o famoso sino nunca mais tocou para uma empresa brasileira.

Com a vitória, porém, o Nubank ganhou mais do que os tradicionais três pontos. “O banco não precisava levantar tanto capital, mas o mercado estava tão atrativo que decidimos levantar muito mais do que precisávamos”, disse ao Estadão/Broadcast o CEO da fintech, David Vélez. É dinheiro suficiente, segundo ele, para capitalizar as novas operações, crescer onde o Nu já está e eventualmente fazer aquisições.

Tal como pode acontecer com os craques no futebol, Vélez afirma que as empresas de tecnologia foram de heroínas a vilãs do mercado de uma hora para outra, no primeiro trimestre do ano. Isso não significa que o jogo virou a favor dos bancos, segundo ele. “O Nubank continua oferecendo o melhor produto e por isso continuamos a crescer mais do que qualquer outro banco”, afirmou.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

O que te surpreendeu nesse primeiro ano como empresa aberta?

O fato de termos feito o IPO na segunda semana de dezembro talvez tenha sido uma das melhores decisões da nossa história. Se não tivéssemos levantado US$ 2,8 bilhões e ainda fôssemos uma empresa privada, a conversa seria completamente diferente. Estaríamos tentando levantar US$ 1 bilhão, US$ 2 bilhões em um mercado muito mais desafiador, com poucos investidores. Fizemos o IPO no último minuto do segundo tempo.

Depois, o mercado praticamente fechou...

Lembro que estávamos no roadshow [reuniões com investidores] e muitos perguntavam porque não adiar a oferta. Decidimos não deixar para 2022. Foi uma combinação de sorte e conhecimento, mas com certeza foi uma decisão muito boa.

David Vélez durante IPO do Nubank na Bolsa de Valores de Nova York, em dezembro de 2021 Foto: Brendan McDermid / Reuters

Como companhia aberta, qual foi o principal aprendizado nesse primeiro ano?

Após o IPO, o mundo mudou completamente, de um momento de euforia do mercado, de muito interesse em empresas de tecnologia, para a Guerra da Ucrânia, inflação e juros altos, e você vai de herói a vilão de um momento a outro. No primeiro trimestre, foi difícil entender o que acontecia, especialmente quando vimos o preço da nossa ação cair rapidamente. O maior aprendizado foi entender o que podemos controlar e o que não podemos e focar 100% da energia no que controlamos. O foco foi direcionado à execução. Batemos todos os números dos analistas.

Diz-se muito que o jogo virou a favor dos bancos tradicionais. Qual é a sua avaliação sobre essa interpretação?

Discordo. Qual é a vantagem das fintechs? Primeiro, capacidade de fazer o melhor produto do mercado. Quando começamos, há nove anos, havia cinco bancos no Brasil que controlavam 95% do segmento. Contribuímos muito para a desconcentração. Em um mercado com mais alternativas, quem oferece o melhor produto ao melhor custo ganha. O Nubank continua oferecendo o melhor produto e, por isso, continuamos a crescer mais do que qualquer outro banco. Esse ambiente macroeconômico mais adverso não tem mudado os fatores fundamentais e seculares que têm contribuído com o nosso crescimento.

Vocês captaram US$ 2,8 bilhões e usaram pouco até agora. Qual é a perspectiva de uso desse recurso?

O banco não precisava levantar tanto capital, mas o mercado estava tão atrativo que decidimos levantar muito mais do que precisávamos. Levantamos US$ 2,8 bilhões, tínhamos US$ 1 bilhão em caixa e estávamos bem perto da rentabilidade no Brasil. No Brasil, durante o ano, precisamos capitalizar mais por requerimento de capital [do Banco Central] e parte do recurso [do IPO] vai para o crescimento do México e da Colômbia. Para levar esses dois países ao breakeven [equilíbrio financeiro], vai requerer muito menos tempo [do que no Brasil]. Temos essa reserva para potenciais aquisições, oportunidades orgânicas ou acelerar o crescimento em outras verticais.

Há ativos a preços atrativos no mercado para comprar?

Ainda falta um pouquinho. Em empresas de capital aberto, os valuations [avaliações do valor] têm refletido esse novo mundo. Em empresas de capital fechado ainda não: muitas não levantaram capital porque o valuation caiu, levantaram muito no ano passado e vão tentar passar o maior tempo possível sem captar. Nossa preferência ainda é crescer organicamente. Temos mais de 40% da população adulta brasileira como cliente, mas participações de mercado pequenas nos produtos. Se o Nu só tentar aumentar a fatia até a proporcional aos clientes, poderíamos multiplicar várias vezes o tamanho da empresa.

Ainda há uma divisão clara na visão de analistas sobre o banco. Por que isso continua? Como se resolve?

Tem um grupo muito mais otimista de analistas que têm um viés de entender a tese de longo prazo. Eles pensam que se continuarmos executando assim, daqui a três ou quatro anos... Achamos que a maior empresa financeira da América Latina vai ser uma empresa de tecnologia e estamos na ponta. Dada a posição de mercado do Nubank e o modelo de negócio, com um custo até 20 vezes menor que os bancos tradicionais, o potencial de valor é muito maior. E tem um grupo mais focado no curto prazo, que olha a rentabilidade do trimestre, como vai ser 2023. Também existe uma divergência porque somos uma empresa muito jovem e não damos projeções porque preferimos manter muita flexibilidade em execução. Vai levar um tempo até uma convergência.

Nubank é um dos maiores bancos digitais do Brasil Foto: Paulo Whitaker / Reuters

Nesse último ano, o Nubank mudou a remuneração da conta, propôs uma mudança nos BDRs e na remuneração variável. Parece que vocês mexeram nas engrenagens em busca de eficiência. Como essas decisões foram tomadas? Tem espaço para mais?

Em um momento mais desafiador, em um mercado que pede rentabilidade maior no curto prazo, é importante provar que conseguimos executar o modelo de negócios. Existe uma pressão para olhar as alavancas em busca de eficiência. Muitas das decisões que tomamos têm contribuído para executarmos positivamente esse ano. Tem muito mais oportunidade. Não estamos executando um modelo que visa otimizar o lucro do trimestre seguinte. Esse mercado de US$ 1 trilhão na América Latina vai ser reinventado nos próximos anos. Há a oportunidade de criar novas empresas que vão ser os maiores players de serviços financeiros. Não vamos sacrificar essa oportunidade pensando no curto prazo.

O que o Nubank prepara de novos produtos para 2023?

Vemos uma grande oportunidade em produtos de crédito como o consignado [com desconto em folha] e em empréstimo com investimentos como garantia. É um mercado de mais de R$ 400 bilhões no Brasil, onde temos uma base de clientes grande e conseguimos dar crédito com menor risco. É uma oportunidade óbvia e estamos testando internamente o crédito consignado.

E a estratégia voltada à alta renda?

Temos uma base com 5 milhões de clientes das classes A e B, o que surpreende porque o mercado nos vê mais como banco de renda média e baixa. Ainda não conseguimos dar o produto certo para o cliente de alta renda seja porque faltam atributos ou porque o limite é muito baixo no cartão de crédito.

O Nubank foi surpreendido com a alta da inadimplência?

Já esperávamos porque a inadimplência estava muito baixa há um ano. Em um ambiente com menos liquidez no sistema, quando os auxílios do governo parassem, era esperada uma normalização. Decidimos parar um pouco o crescimento do crédito, especialmente do empréstimo pessoal. O mercado precifica uma crise de inadimplência no Nubank que nunca aconteceu.

Até onde vai o aumento da inadimplência?

É provável que continue por alguns trimestres. O importante é que o sistema financeiro brasileiro conhece como navegar e executar em um ambiente de inadimplência maior. Isso significa que o sistema consegue e nós conseguimos, aumentar margens. Hoje, operamos com margens maiores. Aumentamos juros e os custos de captação baixaram.

Como está sendo a experiência de patrocinar a Copa do Mundo?

Foi a primeira experiência, não temos histórico de investir em marketing. Temos crescido muito no boca a boca. Era um momento legal para esse movimento, considerando nossa marca e a base de clientes que temos. Tem sido muito interessante ver a quantidade de pessoas que entram em contato falando que viram o Nubank na Copa.

Entrevista por Matheus Piovesana

Matheus Piovesana é repórter do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Responsável por cobrir bancos, pagamentos e seguros, é formado em jornalismo pela UFPR, tem especialização em jornalismo econômico pela FGV-SP e cursa MBA em Mercado Financeiro e de Capitais no Mackenzie. Ganhador de dois Prêmios Abecip de Jornalismo.

Altamiro Silva Junior

Altamiro Silva Junior é repórter especial do Broadcast. Responsável pela cobertura de negócios e bancos de investimento, é formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com mestrado em Economia pela mesma universidade. Foi correspondente da Agência Estado em Nova York por quatro anos e seis meses, entre 2012 e 2017.

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